Coleção pessoal de alanisc

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AS OITO BEXIGAS: Todas sorriram na última foto. Sorriram sem saber que seria a última juntas. Ontem uma delas partiu sem aviso e sobrou a pele murcha, vazia; pálida semelhança com a que sorriu na última foto.
Agora elas velam. Com o tempo outras também partirão e a imagem da festa sobrará no retrato, ou na memória das que forem por último. Depois o retrato se perderá e ninguém mais falará sobre as oito bexigas da festa.
O que sobrou vai decompor, outras virão e terão o mesmo fim, como sempre acontece.
Ontem, quando uma delas partiu, rompeu a pele vermelha e voltou a ser sopro de menino. Libertou-se da embalagem festiva e ganhou ares, voltou a ser fôlego, enamorou-se do vento, voou.
Sobraram sete bexigas e elas choram suspensas no ar.

...o cientista fará cálculos, o poeta textos, o músico vai compor e nenhum deles saberá que estão falando sobre a mesma coisa, o infinito, o que também se projeta no mar, se estende no céu, no que chamamos de amor, tudo uma coisa só, manifestando-se na linguagem de quem diz.

Aprendi a voar no que faço. Nos meus textos, na rádio, nos livros, nos vídeos. É um jeito de estar no céu, mas com palavras, De sair do chão, do lugar comum, das superficialidades do dia a dia e subir além das nuvens. Ir ao céu possível e abrir as janelinhas. Sobre as camadas de nuvens não há tempestades, o céu é limpo, há liberdade.

Os discursos que ouço de maneira geral em relação ao amor são dogmáticos e comerciais. Na religião, em muitos casos, vejo exploração de algo que não deveria ser; tanto as ocidentais quanto as orientais. Sacerdotes, monges, meditadores enriquecendo com suas “técnicas” e palestas. Mesmo a tal “Nova era”. Sinto ali muito mais um mercado (livros,workshop, palestras, etc… ) do que uma proposta humana. Sinceramente não vejo evolução nisso, nas mudanças de códigos ou de linguagens. Não acho que basta. Para mim evolução se projeta em humanidade, gentileza, inclusão não dogmática, natural que se estende no trato, na abertura, na intimidade, na consciência que não há maiores ou menores. Há pontos de vistas diferentes e, ao lidarmos com eles, exercitarmos nossa humanidade em simplicidade e amor. Perdoe se não é o que pensa, mas esse é o tipo de evolução que creio.

Ouvir melhor é fundamental para pensar melhor, para discernir quantas desimportâncias nos distraem, nos expõe às armadilhas como um inseto preso na teia de aranha. Perdeu o espaço, o movimento, a liberdade.

Dificilmente buscamos a solução dos nossos problemas. Solucioná-los dói, implica em reconhecimento de responsabilidades, em assumirmos desconstruções que nem sempre estamos dispostos a arcar. Queremos culpados que nos aliviem e façam catarses, queremos demônios que assumam nossos lugares e nos redimam se ser quem somos.

Se não estivéssemos tão focados em nosso ego, tão preocupados com nossos desejos, tão fixados em ilusões, tão presos ao passado, ao futuro, tão distantes do presente, se simplesmente estivéssemos atentos ao universo, ao maravilhoso universo de vozes, movimentos, encaixes, sutilezas que nos apontam o caminho, estaríamos muito mais descansados e confiantes.
Andaríamos em paz independentemente dos cenários, certos de que o mundo de fora sempre responde ao mundo de dentro. Não é a angustia que produz paz, nem a inquietude geradora de descanso. É o contrário. É um coração em paz, uma mente tranquila, o caminhar consciente que aplaina o caminho e interfere no cenário turbulento. De dentro para fora, sempre.

"Às vezes nossas almas se parecem com dias chuvosos e almejam serem ouvidas..."

Amor é uma coisa, apego é outra. No primeiro caso, a base é a liberdade. No segundo, o sufocamento, o auto engano.
Quem ama enxerga. Discerne a hora de ir, voltar, dizer, calar. Amar implica em ser sábio, paciente para maturação dos processos. É preciso ter calma para entender o tempo de cada coisa. É preciso ter calma e enxergar-se.

Se as vozes que te cercam lhe distanciam de você, deixe de ouvi-las. Se, pelo contrário, lhe remetem a enxergar-se, a essas dê atenção.

Os verdadeiros vínculos não precisam de muitas vozes, muitas afirmações, muito palavrório. São os que, no silêncio, se afirmam e às vezes até na distância, se enobrecem.

Lembre-se: todo nosso mundo exterior, todas as relações, todos os ambientes que nos encarceramos, são reflexos dos carceres da alma, da maneira como estamos por dentro. Ninguém pode de fato lhe aprisionar a mente se não houver concessão de sua parte. Libertando-nos, seremos livres em tudo.

Amadurecer é saber ser você mesmo, sem proteção, sem medo, sem necessidade de corresponder expectativas.

É o desenvolver da capacidade de enxergar vida no simples, no agora, no hoje, vinculando experiências, atrelando-as a sua percepção de vida que se desenvolve em paz, no seu tempo, em consciência.

Amadurecer não se parece com a identificação de esteriótipos, não está ligado ao envelhecimento, a sisudez de rosto ou comportamento. Não tem nada a ver com o tipo de trabalho que você tem, quanto ganha ou o que faz.

Amadurecer é deixar que a vida lhe fale, estar aberta, como uma fruta que se alimenta naturalmente da árvore até que amadureça e se desprenda sem esforço.

Amadurecimento não é decorrência de esforço, mas consequência de quem aprende a abrir mão da necessidade de aprovação, quem perde o medo da vida, quem cresce em confiança pelo simples fato de que um dia resolveu enxergar na simplicidade, nos acontecimentos do dia a dia, as maiores e mais importantes lições.

É quem perde o medo de projetar significado nas experiências e, por isso mesmo, cresce com elas.

Amadurecemos no caminho, enquanto permitimos que o fluxo natural da existência nos mova e, sem medo, aceitamos hoje o desafio de viver. Viva com simplicidade e verdade e o amadurecimento será um processo natural.

Não transforme o sofrimento em tijolos que virarão casa. A casa do sofrimento é blindada, sem frestas, sem entradas de luz. Sofra e construa pontes. Passe por elas, siga adiante e não fique lá.

É inegável que todos nós sofremos influências o tempo todo, ninguém cria nada, mas é bom pensar que o pensamento do outro em mim ganha meus significados, meus cheiros, meus contornos e por isso identidade própria. Mesmo a filosofia moderna não filosofa, apenas repete o que filósofos do passado disseram. E a jaula do pensamento tentando evitar que os próprios criem asas e ganhem o céu. Pensamentos livres são um perigo para os sistemas...

Dores e alegrias, dias bons e maus, gratas e tristes surpresas, quem pode evitar? Melhor que cada experiência seja como uma semente e que cada semente encontre terra boa. Somos a terra e se soubermos acolher as sementes, mesmo as doloridas, adiante, árvores frondosas surgirão.

Espero que antes de encontrar a pessoa certa você se encontre. Para que não a sobrecarregue com a ingrata responsabilidade de te fazer feliz.

Vaidade: veneno que corrói lentamente a alma, nos fazendo acreditar que somos o que de fato não somos. Feliz aquele que olha para dentro, admite suas próprias relatividades e, apesar dos devaneios do coração, caminha como quem nunca está a altura de julgar quem quer que seja. Somos todos seres em constante processo de acabamento.

Felizes os que aprenderam a viver no hoje.
Por pior que as coisas sejam, nada supera a força que temos para suportá-la e superá-la hoje. Passado e futuro são miragens, um só aconteceu no hoje, outro, quando vier, virá no hoje. Vivamos a cada dia sua própria porção porque na verdade isso é tudo o que temos.

Que os “dias pra baixo” falem, que as crises ajudem, que as dificuldades sejam sempre apontamentos para lembrar que somos humanos, que estamos crescendo, que até os dias de dores reservam presentes de amor.