Coleção pessoal de AilaSampaio
Não sei sentir pela metade. Se amo, minha alma, meu corpo e todos os meus órgãos amam na mesma intensidade. Se desamo, da mesma forma, todo o organismo obedece ao comando e apaga os registros.
A felicidade genuína não depende de porquês, quandos nem ondes. É gratuita e à toa como flor que nasce em monturo.
Ando medrosa pra recomeços. O coração, quando se deixa arranhar por botes traiçoeiros, leva tempo pra voltar a acreditar que nem tudo é armadilha.
Basta uma palavra tua para que a manhã nasça em mim como barcos que chegam à praia depois de tumultuada noite de pescaria.
Amar é deixar-se habitar sem perder espaço; destraçar metas, refazer planos, desarrumar certezas. É reconstruir-se com menos paredes e mais janelas, sem derrubar o teto.
Chega de pretéritos imperfeitos ou de futuros do subjuntivo. Agora só conjugo o verbo amar no presente do indicativo!
Tu plantaste o deserto em minha alma e agora queres colher flores? Soterraste a minha esperança de primavera e agora ressurges no outono, para que eu veja que mudaste? Posso até ver, mas jamais volto a enxergar quem um dia jogou areia nos meus olhos.
Nunca se desiste totalmente de um amor a quem se disse adeus racionalmente. Fica, em algum compartimento da alma, um desejo de ter tomado a decisão errada; fica no coração uma sala desocupada e silenciosa onde se vela um morto que não pode ser enterrado.
Teu nome... basta ouvi-lo, e meu olhar abre as janelas da manhã para que se faça dia corpo adentro e abram-se clareiras em meu coração escurecido de saudade.
No céu em que me perdi contigo já não há anjos nem vida eterna. Que fazer se permitimos que nos expulsassem do paraíso? Se nosso 'para sempre' desabou nuvens abaixo e se afogou no mar revolto das tuas inseguranças? Resta-me abandonar o barco antes que se afogue a última lembrança boa que guardo de ti.
Não quero amor a conta-gota nem felicidade emprestada. Quero a transitividade do verbo amar com todos os seus complementos.
Do livro DE OLHOS ENTREABERTOS
Amores verdadeiros não acabam, nunca vão embora, apenas diminuem a voltagem, se aquietam e mudam para outro compartimento da nossa casa-coração!
Do livro DE OLHOS ENTREABERTOS
O amor é como o barulho do vento... ecoa despreocupado se vão ou não escutá-lo. Existe naturalmente, como o espetáculo da aurora, que acontece independente dos olhares que o admiram ou, alheios a ela, ainda dormem.
Que o meu amor caiba no teu abraço sem sobra ou falta de espaço. Que me vistas com teu corpo e nele amanheças como um dia ensolorado após uma noite de chuva.