Coleção pessoal de afabiom
Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava, tanto mais claramente compreendia onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da vida. Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo (...).
O dinheiro não era nada, o poder não era nada. Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.
A beleza não era nada. Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza.
Também a saúde não contava tanto assim. Cada um tem a saúde que sente.
Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer.
A felicidade é amor, só isto.
Feliz é quem sabe amar. Feliz é quem pode amar muito.
Mas amar e desejar não é a mesma coisa.
O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.
O amor não quer possuir.
O amor quer somente amar.
A fim de se adaptarem nestas organizações, os indivíduos viram-se, eles mesmos, forçados a se desindividualizarem-se, renegaram a sua diversidade nativa, e se conformaram com um modelo padronizado, fizeram o máximo, em suma, para se tornar autômatos.
(Admirável Mundo Novo)
A nossa sociedade ocidental contemporânea, apesar do seu progresso material, intelectual e político, dirige-se cada vez menos para a saúde mental, e tende a sabotar a segurança interior, a felicidade, a razão e a capacidade de amor no ser humano; tende a transformá-lo num autômato que paga o seu fracasso com as doenças mentais cada vez mais frequentes e desespero oculto sob um delírio pelo trabalho e pelo chamado prazer.
(Admirável Mundo Novo)
Já não compramos laranjas, compramos vitalidade, já não compramos um automóvel, compramos prestígio. (...) Com um dentifrício, por exemplo, adquirimos, não um mero antisséptico ou um produto de higiene, mas sim a libertação do medo de sermos sexualmente repulsivos. Com o vodka ou o whisky não adquirimos um veneno protoplásmico que, em pequenas doses, pode afetar o sistema nervoso de maneira psicologicamente valiosa; estamos adquirindo amizade e boa camaradagem... (...) Com o best-seller do mês adquirimos cultura, a inveja dos vizinhos menos ilustrados e a admiração dos que são intelectuais.
A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão.
A organização é indispensável, porque a liberdade só surge e tem sentido dentro de uma comunidade auto-regulamentada de indivíduos que colaboram livremente. Porém, mesmo que indispensável, a organização pode também ser fatal. A organização em excesso transforma em autômatos homens e mulheres, reprime o espírito criador e elimina a própria possibilidade de liberdade. Como sempre, o único caminho seguro está no meio termo, entre o excesso do laissez-faire, num dos topos da escala, e o controle total, no outro extremo.
(Admirável Mundo Novo)
Nas mais altas religiões de todo o mundo, a salvação e a iluminação são paras os indivíduos. O reino dos céus está no íntimo de uma pessoa, não dentro da demência coletiva de uma multidão. Cristo prometeu estar presente onde dois ou três se encontrassem reunidos. Nada disse sobre a sua presença onde milhares de pessoas se envenenam umas às outras com o tóxico gregário.
(Admirável Mundo Novo)
'Pensai', escreve o sr. Clyde Miller, admirado, 'pensai no que pode apresentar de lucros para a vossa firma se conseguirdes aliciar um milhão, ou dez milhões de crianças, que se tornarão adultos treinados para a aquisição dos vossos produtos, como os soldados são antecipadamente treinados para avançar quando ouvem as palavras-estímulo: Em frente, marche!'
(Admirável Mundo Novo)
- Mas eu gosto dos inconvenientes.
- Nós, não. Preferimos fazer as coisas confortavelmente.
- Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o perigo
autêntico, quero a liberdade, quero a bondade. Quero o pecado.
Em cada um de nós há um segredo, uma paisagem interior com planícies invioláveis, vales de silêncio e paraísos secretos.