Coleção pessoal de adetunedradio
Mas o que quer dizer este poema? - perguntou-me alarmada a boa senhora.
E o que quer dizer uma nuvem? - respondi triunfante.
Uma nuvem - disse ela - umas vezes quer dizer chuva, outras vezes bom tempo...
Os golpes contra a democracia só podem vingar se o processo político-eleitoral estiver desmoralizado e as instituições combalidas.
Amor é um menino doidinho e malcriado que, quando alguém intenta refreá-lo, chora, escarapela, esperneia, escabuja, morde, belisca e incomoda mais que solto e livre; prudente é facilitar-lhe o que deseja, para que ele disso se desgoste; soltá-lo no prado, para que não corra; limpar-lhe o caminho para que não passe; acabar com as dificuldades e oposições, para que ele durma e muitas vezes morra.
– Eu te amo – sussurra ele com raiva ao meu pescoço. – É a pior dor da minha vida, mas é o que eu sinto. Então não se atreva a dizer que eu não sinto. Nunca mais fala isso!
- Você está com medo? – Cal faz a pergunta bem baixinho, como se fosse algo que ele estivesse pensando, mas não tivesse a intenção de dizer.
- Estou com medo de dormir.
- E não acordar?
- É.
Os olhos dele brilham.
- Mas você sabe que não vai ser hoje à noite, né? Quero dizer, você será capaz de saber, né?
- Não vai ser hoje à noite.
- Não sou bom o suficiente. Queria saber fazer alguma coisa maior, alguma coisa assustadora.
- Pode me serrar ao meio, se quiser.
Ele sorri, mas quase na mesma hora começa a chorar, primeiro sem fazer barulho, depois com grandes soluços engasgados. Até onde sei, é apenas a segunda vez que ele chora, então talvez precise fazer isso. Ambos agimos como se ele não tivesse controle sobre aquilo, como se fosse uma hemorragia nasal que nada tivesse a ver com seus sentimentos. Puxo-o para perto e o abraço. Ele soluça no meu ombro, e suas lágrimas penetram meu pijama. Tenho vontade de lambê-las. Suas lágrimas reais, tão reais.
- Eu te amo, Cal.
É fácil. Mesmo que isso o faça chorar dez vezes mais, fico muito contente por ter ousado.
O amor é um anzol que, quando se engole, agadanha-se logo no coração da gente, donde, se não é com jeito, o maldito rasga, esburaca e se aprofunda.
Ora, o tal bichinho chamado amor é capaz de amoldar seus escolhidos a todas as circunstâncias e de obrigá-los a fazer quanta parvoíce há nesse mundo. O amor faz o velho criança, o sábio doido, o rei humilde cativo; faz mesmo, às vezes, com que o feio pareça bonito e o grão de areia um gigante.
Assim como o grito tem o eco, a flor o aroma e a dor o gemido, tem o amor o suspiro; ah! O amor é um demoninho que não pede pra entrar no coração da gente e, hóspede quase sempre importuno por pior trato que se lhe dê, não desconfia, não se despede, vai-se colocando e deixando ficar, sem vergonha nenhuma, faz-se dono da casa alheia, toma conta de todas as ações, leva o seu domínio muito cedo aos olhos, e às vezes dá tais saltos no coração que chega a ir encarapitar-se no juízo; então, adeus minhas encomendas!...
Ora, todos sabem que os amantes têm um prazer indizível em matraquerar os ouvidos dos que os atendem com uma história muito comprida e mil vezes repetida que, reduzindo-se à expressão mais simples, ficaria em zero ou, quando muito, nos seguintes termos: “eu olhei e ela olhou”; eu lhe disse “pode ser, não pode ser".
Quando se ama deveras e se está com o objeto do amor, não se recorda, não se deseja, não se quer mais nada!...
(A Moreninha)
Amor?... Amor não é efeito, nem causa, nem princípio, nem fim, e é tudo isso ao mesmo tempo; é uma coisa que... sim... finalmente, para encurtar razões, amor é o diabo.
Nas lágrimas de amor há, como na saudade, uma doce amargura, que é veneno que não mata, por vir sempre temperado com o reativo da esperança, a moça julgou dever separar da dor, que a fazia chorar amargores, a esperança que no pranto lhe adicionava a doçira, e, tendo de exprimir a doçura, Ahy cantou.
Como se ele fosse a inércia da matéria, que conserva impressão, mas que não a guarda senão o tempo que é gasto para um novo agente modificá-la.
Eu vejo uma senhora bela: amo-a, não porque ela é senhora... mas porque é bela; logo, eu amo a beleza. Ora, esse atributo mão foi exclusivamente dado a uma senhora, e quando o encontro em outra, fora injustiça que eu desprezasse nesta aquilo que eu tanto amei na primeira.
Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz.
De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim.