Coleção pessoal de Acirdacruzcamargo

21 - 40 do total de 165 pensamentos na coleção de Acirdacruzcamargo

⁠É frequente a repetição, também, da expressão "democracia coroada", para definir o regime. Sem falar nos imoderados elogios ao imperador, cidadão sábio e virtuoso, contra o qual se cometeu a suprema ignomínia de uma deposição apressada
A REPÚBLICA, pág. 11

⁠Na prisão e fora da prisão, em 1964, senti quanto, nas camadas pequeno-burguesas do Brasil, crescera o prestígio da guerrilha, a fascinação por essa saída falsa. Minha posição de divergência, na ocasião, trouxe-me dissabores. Fui acusado de passadista, superado, revisionista...Convenci-me de que o esquerdismo juvenil - que encontrou, a acobertá-lo, alguns adultos ardorosos - só se debilitaria diante das sanções da realidade.
A FÚRIA DE CALIBÃ, pág. 223

⁠⁠Nesse fim apagado, nesse ocaso surpreendente, entretanto, o que ficava evidente, mais uma vez, e agora a um preço demasiado alto, era a ilusão de que a revolução pode ser gerada por ato de vontade, em qualquer circunstância, bastando que essa vontade seja firme. De um foco podem surgir outros e, da soma de todos, uma revolução, seja em Cuba, seja na Bolívia, seja no Brasil. Para dar relevo a esse erro clamoroso, que já sacrificou tantos valores, inclusive uma personalidade como Guevara...

A FÚRIA DE CALIBÃ, pág. 222

⁠Conheci, em Paris (não de perto, nem minuciosamente, porque, para isso, me faltavam tempo e curiosidade, a mentalidade que espoucaria em alguns dirigentes estudantis que se resumiam mais radicais do que Lenin e em alguns teóricos que se presumiam mais lúcidos do que Marx. Certos nomes ficaram conhecidos, em 1968, porque a imprensa em todo o mundo "ocidental e cristão", tratou de popularizá-los. Um desses nomes foi o de Régis Debray, que seria preso na mesma operação que vitimaria Guevara. Paris era o centro de irradiação de uma literatura esquerdista radicalíssima, em parte originada das concepções desses teóricos imaturos, em parte provinda da China
A FÚRIA DE CALIBÃ, pág. 219-220

⁠Pela Constituição de 1824, os escravos não eram considerados brasileiros nem cidadãos; adiante, passaram a ser considerados brasileiros, quando aqui nascidos, mas nunca cidadãos. Nos amplos latifúndios, dispersava-se a classe dos servos, submetidos às condições feudais. Condições feudais que certa faixa da historiografia brasileira nega tenham existido aqui
A REPÚBLICA, pág. 14

⁠A classe dominante era constituída pelos senhores: a Constituição outorgada de 1824 denominava-os de "altos e poderosos". E eles eram assim altos e poderosos, senhores de terras e de escravos e de servos. A medida da riqueza estava no número de escravos e na extensão de terras possuídas"
A REPÚBLICA, pág. 14

⁠Estava nas nossas tradições, realmente, o regime republicano, marcadas pelas rebeliões contra a dominação metropolitana, desde as suas primeiras manifestações...Ela animou os sonhos dos conjurados mineiros e baianos, como os rebelados de 1817. Como marcou os sonhos de todos os que se rebelaram, após a autonomia, nos movimentos provinciais...Para as classes dominantes brasileiras que presidiram o processo da autonomia, entretanto, tratava-se, essencialmente, de preservar os seus privilégios e evitar que a separação da metrópole se aprofundasse em alterações significativas na estrutura estabelecida na fase na fase colonial. Tratava-se, como sempre, de EVITAR UMA REVOLUÇÃO. É por isso, inclusive, que os compêndios "adotados" repetem com capricho que a autonomia, aqui, foi mansa, sem derramamento de sangue, etc.

⁠Uma independência submetida aos interesses das classes dominantes internas e da burguesia britânica no exterior. Uma independência relativa, por isso mesmo...O Império foi, essencialmente, a conjugação do latifúndio e do escravismo...Foram, pois, os senhores de terras e de escravos que empresaram a independência"
A REPÚBLICA, pág. 12

⁠Ser monarquista tornou-se, entre nós, não uma opção fundada em razões políticas mas a forma que travestiu o reacionarismo mais empedernido...O que importa, para eles, é a maneira de expressar o descontentamento, a profunda insatisfação com os traços de democracia que surgem entre nós...Para essa mentalidade, que tem raízes coloniais, a atividade política, e particularmente a representação, deveria ser privativa das elites"
A REPÚBLICA, pág. 10

Que⁠ livros importantes estavam aparecendo? Algumas reedições, como a da Contribuição à História das Ideias no Brasil, de Cruz Costa; o Itinerário de Silvio Romero, de Sílvio Rabelo; a Educação como Prática de Liberdade, de Paulo Freire...
A FÚRIA DE CALIBÃ, pág. 206

⁠Aprendi muito, com essa viagem, particularmente na URSS. Os dias passados em Baku foram inesquecíveis; o Congresso surpreendeu-nos em pouco, pela maneira como foi organizado, mas a cidade era fascinante, na sua mistura de influências orientais, ancoradas no passado histórico, e condições modernas, como a da existência do metrô, inaugurado há pouco; e o povo era muito parecido como nosso: MORENO, ALEGRE, HOSPITALEIRO; a festa de despedida foi o maior espetáculo a que já assisti..."
A FÚRIA DE CALIBÃ, pág. 210

⁠A gente gosta, em viagens, dos lugares onde foi bem tratado, onde encontrou amigos, porque a solidão, no estrangeiro, deve ser horrível e não há paisagens que a disfarce"
A FÚRIA DE CALIBÃ - Pág. 209

⁠Nas revistas universitárias, as deficiências eram tão lamentáveis que faziam "pensar serem os trabalhos apresentados redigidos por estudantes que mal terminaram o curso médio"
A FÚRIA DE CALIBÃ - Pág. 206

⁠Nós começamos, na verdade, a morrer quando perdemos aqueles a quem amamos"
A FÚRIA DE CALIBÃ, pág. 193

⁠...quando se estabelece condições de igualdade para coisas desiguais, sempre se está privilegiando o mais forte"
A FÚRIA DE CALIBÃ, pág. 173

⁠Eu não era, não sou, jamais serei neutro, nem permaneci, ou permanecerei, acima das lutas, nem aceito a concepção abstrata de liberdade, mas a concepção historicamente condicionada, aquela que a define como a consciência da necessidade.
A FÚRIA DE CALIBÃ - pág. 192

⁠Essa liberdade é a mesma que dá igualdade de direitos ao milionário e ao mendigo de dormir debaixo das pontes. Mas o milionário prefere dormir em outro lugar e dispensa essa liberdade, que lhe é concedida tão graciosamente.
A FÚRIA DE CALIBÃ - pág. 192"

⁠"...jamais fixei minha posição como independente. Muito ao contrário, ela é uma posição comprometida, vinculada"
A FÚRIA DE CALIBÃ - pág. 191

⁠"Tratava-se, no fim de contas, mais uma vez, do conceito de liberdade, honrado em abstrato, normalmente, pelos intelectuais, no individualismo que os aperta, na solidão do trabalho que executam, no valor desmedido que transferem ao resultado desse trabalho, na vaidade que, por isso mesmo, os atormenta"
A FÚRIA DE CALIBÃ - pág. 190

⁠"Pouco antes de seguir para a França, minha filha deixara com a Civilização um ensaio sobre a situação da mulher na sociedade; não era trabalho perfeito, mas, com todas as suas insuficiências, estava acima do que vinha sendo aparecendo, aqui, no gênero"
A FÚRIA DE CALIBÃ - pág. 181