Cartas de Amor para a Pessoa Amada
"Chorar é Lindo" -
Eu sinto muito por aqueles
que são frios demais,
calculistas demais,
vazios demais.
Os que se autodenominam:
bem resolvidos.
Estão sempre muito seguros
de si mesmos e tão inseguros com o outro.
Negam sentimentos, evitam profundidades, delicadezas.
Não se permitem chorar,
errar, ter medo,
dúvidas...
Sentem-se superiores, intocáveis - donos de tudo.
Eu parto do nada: sou
pequeno e infinito.
Não sei bem
qual o proposito,
qual a graça
da vida.
Mas, entregar-se
intensamente as coisas
- as paixões -
que cativam-nos é,
a meu ver, o essencial.
Sofremos em busca de
alegrias, de sorrisos.
Mas, como bem disse o poeta
das coisas simples:
Chorar é lindo!
O que algumas pessoas esperam de você?
Não esperam nada!
Por isso te humilham,olham a sua aparência e não a sua essência...
Mal sabem elas que a qualquer momento,Deus pode mudar a sua trajetória de vida e te colocar em uma posição elevada,porque as promessas de Deus para um servo fiel são de exaltação.
Repetidas e Limitadas -
A quantidade de pessoas
repetidas e limitadas
que eu encontro por aí,
é absurda.
É tão difícil cruzar uma alma
elevada, profunda, especial
quanto aceitar essa
realidade.
Uma vez ou outra (no calor do encontro),
eu pensoque encontrei,
mas não.
É só mais uma pessoa
legal,
com alguma coisa
legal.
Ainda assim,
cópia da cópia da cópia
(claro, com suas particularidades).
E não importa se são magras,
bem-sucedidas, atléticas,
baixas, gordas, amarelas,
fortes, diplomadas.
Se julgam-se espertas,
inteligentes, superiores,
felizes.
Se frequentam igrejas
ou não;
academias ou não;
baladas ou
não.
E não importa o quanto são
justas e honestas e
solidárias.
O quanto amam coisas
como:
animais e crianças e flores
ou o quanto adoram praticar esportes
e ouvir música...
não importa.
Superficialidade e mediocridadejuntas,
em estado funcional,
denunciam: trata-se de uma
pessoa "normal"
(fora os defeitos e
virtudes).
E no fim,
são todas iguais.
Assim sendo,
nada mais de especial
acontece.
Os Cães Presos -
A liberdade é algo,
humanamente, muito mais
interior.
As prisões também.
Os cães presos costumam
ser mais agressivos
que os soltos.
Os cães presos
são as pessoas amarguradas,
feridas, ressentidas,
que vivem acorrentadas em submundos,
prisões interiores (frias e
solitárias),
construidas à base de desejos
e sentimentos reprimidos
(rejeitados);
De histórias e planos,
drasticamente, interrompidos;
De confiança e sonhos, cruelmente, destruídos por pessoas (antes,
seus mundos),
irresponsavelmente livres
e inconsequentes - perigosas
demais para estarem soltas
para laços e afetos
verdadeiros.
Não Me Deixa Te Esquecer Completamente -
Olha,
tenta fazer o que for preciso
paraque eu caia na real e,
de alguma maneira,
te esqueça.
(Me mostra o quanto fica
bem sem mim,
o quanto é capaz de sorrir
com outras pessoas...
Sei lá,
posa ao lado do seu novo
amor).
Mas não exagera
muito!
Deixa sempre alguns dedos
seus encostados em
minha pele;
Deixa alguma pétala caída
em algum caminho por onde
eu possa passar;
Distraída,
finge esquecer alguma
coisa sua aqui em casa,
para que possa voltar;
Sem querer...
deixa um pouquinho
do seu cheiro em algum
objeto meu;
Permita que o brilho da lua,
vez ou outra,
entre pela fresta da
minha janela,
numa madrugada qualquer;
Timidamente,
de vez em quando,
canta, baixinho,
algo da
gente...
Mas não me deixa te
esquecer completamente.
Foi o Tempo que nos
apresentou quando tudo
parecia impossível de
acontecer.
E enquanto houver vida,
haverá tempo para o
impossível acontecer de
novo,
e talvez então, bem maior,
mais seguro emuito
maisbonito.
Namorados -
Definitivamente,
é a palavra mais bonita
que eu encontro.
Observem a escrita, a forma,
o som...
NAMORADOS.
Além do que, dentro dela
há a palavra Amor.
Pra mim, ela traz a essencial
dúvida de quando se é
adolescente,
aprendiz.
Pois assim,
mantém-se uma certa
malícia com alguma
ingenuidade.
Ela carrega algo de saudade,
de recordação, de nostalgia.
Traduz a poesia de uma
fotografia antiga.
E,
ao mesmo
tempo,
é de onde se sonha
um futuro a dois
para mais.
Traz o compromisso onde
nada é tão sério
e tudo tão necessário.
(Porque depois,
tudo torna-se tão sério
e nada mais, equivocadamente,
tão necessário).
Ela é o que encontramos
nos intervalos do
colégio e nas séries de TV
no sofá de casa.
Ela tem o encanto dos fins
de tarde dos sábados e
das viagens com os
amigos.
A dois,
é como caminhar de mãos
dadas até um jardim
secreto,
cheio de sonhos e
fantasias,
com muitas flores,
alguns animais mitológicos
e uma bela cachoeira.
Ok! Ok! Ok!
Te assusto, né?!
Pareço romântico demais,
sentimental demais,
sonhador demais?
Ora, certamente
porquesou!
Há,
de certo modo,
um jardim assim dentro
de mim.
E
sair,
definitivamente
desse jardim
édesbotar.
É Isto -
A vida,
quase sempre,
é isto:
algo comum - um
cumprimento, um banho,
uma dúvida.
Uma troca de mensagens,
de roupa, de calçada.
Uma olhada no relógio,
no espelho, na tela.
Um beijo, uma lágrima,
uma despedida.
Uma vontade, uma saudade,
um esquecimento.
E o que se nota
é,
ironicamente,
sempre o que mais
nos falta
ou
o que sobra do que a
gente complica.
Tudo que é calmo,
tranquilo,
sereno...
perde a graça, esfria,
desinteressa.
Porque a vida,
me parece,
é isto:
o barulho das coisas
caladas;
a presença do que
está ausente;
a saudade do que não
foi vivido...
A vida é, então:
desordem, drama, descontentamento.
É Tão Fácil Escrever -
Saiba que não há
aqui,
com isto de:
"é tão fácil escrever",
um descaso ou desdenhe
com a escrita.
E sim,
um louvor, uma devoção
entusiasmada com o
sentimento.
Digo,
distribuir palavras
no branco do papel,
ainda imaculado.
Despejar metáforas,
anáforas, ironias,
afim de alimentar desejos;
afim de iluminar sonhos;
afim de enxuguar lágrimas
ou chorá-las mais e
mais em versos:
celebrar!
Ganho, com isto,
coragem para confessar
aqui um caso,
quase um romance
com os advérbios.
Indubitavelmente eles
me acolhem,
me protegem,
me apontam para novos
sentidos, para novos rumos,
para novas direções.
É difícil viver num mundo
onde precisamos,
a todo custo, a todo
momento,
explicar, justificar
adjetivos.
(Que as interjeições não
me ouçam sobre os
advérbios: as quero
também).
Mas, neste
"caos-linguístico-poético",
difinitivamente,
não sou criatividade
em Pessoa
nem tenho a fineza
do corte preciso de
um Machado
nem mesmo a essência
disfarçada de Pássaro
Azul ou Corvo,
encoberta por uma
melancolia crônica
de escritores (genialmente
malditos), do
submundo.
(São as dúvidas que me
dominam e por elas
eu também escrevo).
Em certos dias,
tudo flui de maneira
orgânica, natural.
(Quase não procuro,
com tanto esforço,
as palavras, os
encontros).
Agora mesmo elas me
acham e eu não
tenho muito a
escolher,
a não ser sê-las.
Mas há dias que eu
perco a fala,
a ideia,
o pensamento.
Há dias em que sou
esquecido pelos deuses
ou pelo diabo,
não sei.
Há dias tão vazios,
ocos,
que nem a Poesia
me alcança.
Dias em que eu fico
por dizer, entalado,
sufocado...
pois, difícil mesmo,
extremamente complicado é,
com tanta coisa
por gritar:
calar-se - silenciar,
emudecer.
16/12 -
Ora,
por que haveria de ser
diferente?
Apenas deite
e durma.
Amanhã será só mais um dia
a menos como todos
os outros.
O sol nascerá a leste;
A vista da janela
ainda será a
mesma;
O tempo se desenrolará
na mesma velocidade
de todos os outros
dias.
Então,
arrumarei a cama e
os cabelos como
em todos os
outros;
Escovarei os dentes
e mijarei como em
todos os outros;
Prepararei o café e os
ovos e os pães (se houver
pão), como em todos
os outros dias.
Ao fim da tarde
sentirei fome e sede
e saudade como
em todos os
outros.
Ao fim do dia
estarei aqui sozinho,
assim, como estou:
no escuro do quarto,
deitado na cama,
como há sete dias,
como ontem,
como agora e em
todos os outros.
Vamos,
apenas deite e
durma. — amanhã será só
mais um hoje a
menos.
Golpe Baixo –
E de repente você pensa
em quantas coisas conseguiu fazer
esta semana:
De quantos oportunistas conseguiu desvencilhar-se;
Quanta gente idiota, mesquinha
e mau-caráter conseguiu
evitar, entre ir ao supermercado pela
manhã e tentar entender o porquê
de tanta coragem antes de
dormir à noite.
E, naturalmente, há algo
a ser comemorado.
De certo modo, você tem
sido forte:
tem conseguido controlar alguns
desejos impulsivos, algumas paranóias,
alguns medos.
E tudo isso, por enquanto, tem segurado-o.
E isso é bom, ainda que passe. — e passa.
Mas quando você acha que,
finalmente, está começando a dominar
o adversário, a luta — o jogo —
de repente, num simples descuido,
acontece o golpe fatal.
E lá está você, outra vez, nocauteado, dominado, vencido.
Golpe baixo, às vezes,
é algo te fazer lembrar
dois belos olhos castanhos
e uma boca carnuda
mordendo você.
Por Eles -
Eu sempre vou amar os jovens,
os adolescentes.
Claro,
falo do verdadeiro espírito
dessa fase da vida — a liberdade,
a espontaneidade, os sonhos,
a urgência.
Alguns traços de rebeldia,
a malícia com um certo ar de ingenuidade,
a vivacidade, tudo isso que (por muitas vezes,
em conjunto ou não), extrapolam alguns limites, mas, ainda assim (envolto de algum traço de poesia), é uma necessidade
à alma — à vida.
Naturalmente, hora ou
outra,
também vou odiá-los,
mas,
logo em seguida,
perdoá-los.
Eles estão no lugar onde a vida mais entorta,
mais destoa, mais balança.
Ainda que, sob a benção da distração, não percebam a real de tudo isso.
Eles não sabem bem o que são,
nem mesmo sabem o porquê
de não saber o que são.
Mas eles precisam saber, urgentemente precisam saber e ser o que ainda desconhecem.
A vida cobra decisões de gente grande,
e eles ainda não o são.
Ser criança ou ser adulto é, de certo
modo, mais confortável:
Ou se vive num sonho
fantasioso, relativamente
ainda seguro,
ou numa realidade
palpável. — se não a ideal,
o mais próximo da
mais provável.
Ser jovem, adolescente
é viver tudo ao mesmo
tempo.
Uma mistura — agredoce — uma doce maldição poética,
e sem tempo (ainda que
tenham tanto), para maiores entendimentos.
E isso confunde, sufoca,
dá medo.
(E digo jovem, adolescente,
não somente falando
de idade).
Algumas adolescências
beiram os trinta, os quarenta anos...
Mas penso que todo ser
humano com alguma coisa
especial,
independentemente
da idade,
carrega algo jovem, algo adolescente
no espírito.
Acho que é, também,
por eles e por isso
que eu escrevo.
Sigo —
Sigo com uma enorme angústia em
formade mágoas e decepções.
Mas sigo.
E sigo,
simplesmente
porque é o que me resta.
Não direi-lhe mais nada, nem cobrarei nada.
Nem a deixarei mais me ver chorar.
Apenas seguirei... como um rio
calmo e esquecido que aparenta estar secando, mas ainda em fluxo.
Ainda.
E espero que um dia melhore;
Espero que um dia aceite;
Espero que um dia passe.
Espero... mas, por ora, não a
espero mais.
À Altura —
Gente fria me assusta, me desestimula,
me põe pra baixo.
Meus dedos querem dedos
e pele quentes.
Meus olhos querem olhos
admirados, devotos, sonhadores.
Meu coração, meu íntimo,
meu sentimento anseia,
implora por algo vivo, intenso,
desmedido — recíproco.
Nada menos.
Vai acabar logo (a gente
sabe),
vai acabar logo — não
há escapatória.
Então,
o que estamos fazendo,
afinal?
O que realmente importa?
Há um fluxo sanguíneo,
e neurônios, e sentimentos
vivos justificando vida.
E enquanto vivo, não suporto
gente fria demais, gente distante
demais, gente rasa (demais).
Toquem um cadáver!
Digo,
toquem um cadáver e entenderão
a necessidade de uma resposta
à altura do seu sentimento.
De Coração -
Morrendo como todo
mundo,
sentindo como
poucos.
É assim, de coração:
sentir e ignorar os sentimentos
e desejos mais urgentes,
mais intensos, mais
sinceros,
enquanto aprende a suportar
o medo de perder o que
não é seu. — o que nunca
foi seu, nem nunca
será.
E taí um ato inútil de bravura
daqueles que não têm
mais escolha.
Por que Vivo –
Confesso que, às vezes,
é bastante revoltante pensar
que: não importa o que se faça
(de bom ou de ruim),
um dia
— e pode ser hoje mesmo —
sem mais, tudo acabará.
Seremos reduzidos,
fisicamente
a nada.
Sem chance para um novo abraço, uma nova conversa ou
um novo reencontro.
De certo modo,
ainda viveremos enquanto
alguém lembrar–nos.
Mas nada, nada mais será acrescentado de nossa
parte.
Mas sinto que se eu tivesse o amor dela (assim como
sinto que tenho de alguns
outros),
não teria motivos para pensar nisso.
Pois o peso da vida não é lembrar que irei (como todo mundo), morrer.
O peso da vida é esquecer
por que vivo.
Um Alívio –
O Velho Buk tinha razão.
Assim, vos digo:
Algum tipo de paz começa,
quando você começa a
diminuir certas coisas:
Primeiro,
a quantidade de pessoas com
as quis você tem algum tipo
de relação na vida;
Depois,
a importância dessas pessoas;
E por fim,
as expectativas sobre essas
pessoas.
Felicidade? Não, não acredito
em tanto.
Talvez uma espécie de alívio
— algo como um caminho
a algum tipo de paz.
Meu Pai –
Meu pai está sempre
exagerando nas
coisas:
Eu digo-lhe: "Pai,
quando for à rua
traga-me três sardinhas,
daquelas com molho."
Dez minutos depois chega ele
com cinco sardinhas. – e eram
uma e meia da tarde de um
sábado quente de verão.
Já perdi a conta de quantas vezes
eu acordei e percebi que ele já havia descarregado todo o carro,
subido, silenciosamente, as escadas trazendo minhas roupas
e os pães e o que mais havia.
Depois, cuidadosamente, preparado o café (que se não esfriasse, duraria três dias), enquanto, paralelamente, lavava
os pratos e copos e talheres do meu dia anterior ao dia anterior daquele dia.
Meu pai está sempre fazendo coisas a mais para poupar-nos
da coisa maior.
Exagerado, ele sempre diz:
"se não sobrar não deu".
Meu pai sempre foi muito calado
e discreto com as palavras,
mas sempre fez e faz o que pode
e um pouco mais por todos nós,
em gestos simples, nobres e
exagerados de amor.
Digo, MUUUUITO
AMOR!
Cruel –
Não estamos prontos para
a verdade.
Nunca estivemos, nunca
estaremos.
Sapos aparecem quando insetos
aparecem. — é a natureza
das coisas.
Embora o resultado disso (em que insetos são engolidos vivos), possa parecer, um tanto quanto, cruel, é apenas o fluxo natural
das coisas.
O SER HUMANO É CRUEL! — pois tem a consciência dos seus
atos — da dor do outro,
do sofrimento
do outro.
Mente conscientemente; maltrata conscientemente; mata
conscientemente.
Não estamos prontos para
a verdade:
Culpamos a sorte;
Culpamos o destino;
Culpamos a vida — nunca a
nós mesmos.
Culpamos deuses e diabos — nunca, nunca a nós mesmos.
Não estamos prontos para
a verdade.
Nunca estivemos, nunca
estaremos.
Circos Pobres -
As redes sociais são como
circos pobres — de essência.
Com palhaços infelizes, superficiais e sem
muito talento.
Mas quando as cortinas se abrem (ainda que as piadas sejam
repetidas, vãs e, muitas
vezes, levianas),
é preciso divertir a plateia
— também de palhaços —
tão infelizes, medíocres e
superficiais quanto
todos eles.
Traição –
Naquele dia eu morri.
Sim, eu morri.
Mas morri porque
mataram-me.
Eu não queria morrer. — em mim,
havia sonhos, havia desejos,
havia sentimentos.
Mas, naquele dia, mataram
tudo.
— Mataram os dias seguintes,
as semanas seguintes, os meses... aquele ano inteiro e todos os outros dias até este.
Mataram-me e dançaram sobre
meus restos mortais.
Ainda estou no chão
— quase imóvel, fragmentado, esquecido —
mas há um sol nascendo de dentro para fora,
forte como uma criança que cresceu,
mas não desaprendeu sua
melhor brincadeira.