Cartas de Amor para a Pessoa Amada
Uma Fotografia —
Era só uma fotografia,
e eu fiquei ali, irreversivelmente
parado, fitando-a.
Uma simples foto como,
aparentemente tantas outras,
mas que, a mim, trazia o Ônus:
Um cálido meio sorriso,
olhos pontiagudos e anoitecidos,
de um amor utópico, contínuo,
antigo. — jamais começado,
tampouco esquecido.
Aos Sete –
Quando estou diante do meu filho,
acontece algo que, talvez, o Tempo
e outros deuses, não o concebam
muito bem. — até mesmo eles.
Como uma sensação, como um desejo,
e mais, como uma evolução, diante
do meu filho, eu costumo inverter
a ordem, aparentemente
natural da vida:
Eu quero ser como ele.
"Um Detalhe" –
Todo mundo anda meio quebrado.
Cada um com sua parte solta — suas angústias, seus medos, suas dores.
E sinto que, quase sempre, é só
"um detalhe".
Um simples e transformador "detalhe",
por todos os outros ignorado.
É um desemprego, um pai ausente,
um sentimento não correspondido.
"Um detalhe" que faria toda a diferença.
Não para resolver todos os problemas,
mas para fortalecer-nos contra
todos eles.
É preciso ânimo, é preciso força,
é preciso luz — uma luz sábia, quente,
acolhedora —, mas os sensores
de luminosidade, às vezes
falham em alguns
dias cinzas.
Um Novo Eu –
Deixarei de escrever até que encontre
novos nomes,
novos motivos, novos
rumos — um novo sentido, uma
nova vontade, uma nova inspiração.
Até lá,
queimarei cartas,
rasgarei fotos, apagarei
versos.
Até lá,
jogarei fora poemas,
presentes, canções.
Até lá,
esquecerei olhos, vozes,
gestos, gostos, manias, cheiro,
sorrisos.
Matarei lembranças, desejos, sonhos.
E quem sabe assim, um novo
eu apareça.
Ainda que reduzido, um pouco
mais leve de alma.
Ainda que esquecido, um pouco mais consciente da vida.
Ainda que sozinho,
um pouco mais perto de
si próprio. — com novos motivos
para escrever à vida, e sobre
ela novos temas, talvez
novas cores, novos
sonhos.
*Ser humano*
Ser que se importa, pensa, crê
Empático, simpático ou diz ser
Que ama com e sem porquê
Odeia apenas por querer
Ser que vê e finge que não vê
Gosta de quem lhe desgosta
E que adora ver
Ver e saber história dos outros
Apenas por curiosidade em conhecer
Ah meu bem, porque isso
Humano gosta de fazer
Procurar, descobrir, conversar
Pra encontrar
Algo que nem sempre sabe o quê
Mas gosta de saber
Ser que sorri por estar perto de um você
Você amigo, pai, irmão, namorado
Amor que há de amar
Doa o que doer
Ser que abraça e briga
Que pode ou não
Tentar te compreender
Ser que não é perfeito
Egoísta, egocêntrico, ego
Alter ego
Mas ser que também
Se esforça pra enxergar outro ser
Ser que não vê ser suficiente
Mas que é mais do que outro alguém Imaginou que merecia ter
Pessoa que nem sempre sabe como ser
Mas que é todo dia
Possibilidade, mudança
História que Deus criou
E acaba ou não por florescer
Nasceu _hermano_
De tudo, de todos, de cada ser
Mas que na correria do mundo
Triste de se dizer...
Acaba por se perder
Na jornada da vida, temos três tipos de companhia:
As efêmeras, pessoas que cruzam a estrada, provocando pausa na rota.
As transitórias, que escolhem rotas opostas, atrasando o nosso curso.
E, as efetivas, que estarão contigo no sol, na chuva, na neblina,
nas subidas, descidas, curvas, buracos e pedras no caminho.
Estranha Culpa —
Cedo:
é no primeiro abrir de olhos
que eu sinto a maior das angústias.
Tem sido assim: cedo.
O dia amanhece, e eu continuo turvo,
sombrio, acuado, com medo de
sair de baixo do cobertor.
Que agonia, que angústia essa sensação
de vazio, de abandono, de desperdício...
este peso, esta culpa, meu Deus! — esta estranha culpa.
Mas os deuses ou o diabo (não sei),
parecem se divertir com
tudo isso.
Estamos no inverno, mas hoje
é um dia de sol e, enquanto
eu ia até o carro,
deparei-me com um beija-flor
morto, próximo
ao meio-fio.
Já na rua, ao virar à direita, espantei-me
com um cão desfigurado, arrastando
as patas traseiras, tentando (com
todo esforço do mundo,
coitado), alcançar a sombra
debaixo de um carro.
Não sei o que aconteceu,
mas a culpa está
em mim;
O perturbador silêncio do pequeno corpo
do beija-flor, ali no chão — estático —
está em mim;
A dor angustiante daquele cão-quebrado,
arrastando-se miseravelmente,
está em mim. — por quê?
Desperdiçados —
Eu posso sentir...
sim,
pela janela, aqui do
alto,
de olhos fechados,
com um dos braços para
fora,
tentando achar os tímidos
pingos de chuva,
eu posso sentir os dias frios
sendo desperdiçados.
É como se esses dias
tivessem uma quantidade
limite em minha vida
(e claro, tem),
e esse limite estivesse
por se esgotar.
Eu sinto,
tristemente eu sinto.
Eu sinto como uma perda
irreparável estar triste e
desanimado e
solitário
nestes dias cinza
de chuva e
frio que,
antes,
eu amava estar.
Hoje — tarde — dói-me tanto
assisti-los (inerte),
morrendo.
Eu sempre me dei bem
com a solidão,
até me sentir realmente
só.
As Estranhezas das Pessoas —
As particularidades, as peculiaridades
— as estranhezas das pessoas —
soam, quase sempre, como
um convite ao confronto,
ao embate — à guerra.
Quando, na verdade dali (por essência
e poesia), deveriam nascer flores,
erguer-se jardins.
A verdade das coisas da Vida,
antes de ser boa ou má
(sendo a essência do ser),
tem grande força e deve
prevalecer.
Quando começou essa fase?
Quantas horas de TV você assistiu sobre o assunto do momento?
Quantas páginas de livros você leu?
Quantos cursos online você fez?
Quantas anotações importantes?
Quantos minutos de meditação você fez?
Para quantos parentes e amigos ligou perguntando se estão bem?
Essa "fase" irá passar e virão outras milhares de fases em sua vida. Independente da fase, use seu tempo para de tornar, a cada dia, uma pessoa melhor.
Aquilo que você pensa você se torna.
Pela influência imponente de uma imagem estática de cores sóbrias e formas esplêndidas, minha imaginação poética começa a atuar prontamente, passeando por um cenário frio, muito detalhado, de nuvens numerosas no céu, águas numa grande quietude, algumas árvores desfolhadas e uma beldade aparentando estar solitária, mas penso que na verdade, ela está sozinha de propósito para dizer sem palavras que gostaria de estar acompanhada de alguém específico, aquele que conversa intensamente com a sua alma.
Neste lugar tranquilo de um dia nublado, é possível observar apenas uma parte da luz do Sol como se ele estivesse mais seletivo, ciente de que o seu valor é inestimável, então, esteja numa fase que não pretende compartilhar com todos a essencialidade do seu forte esplendor, o qual é apreciado por poucos, principalmente, no seu ápice, um calor notável à semelhança de um amor grandioso, um coração bastante emotivo , porém, sensato, talvez, cansado de ser mal compreendido.
A quietação da qual as águas de lá desfrutam é muito rara, uma menção a um semblante de quem está em paz por ter encontrado algum ponto de quilíbrio, a conquista árdua por terem enfrentado as pedras desagradáveis que foram surgindo, numa demonstração de resiliência, abraçando a valorosa solitude, sem pressa, deixando a vida fluir no seu fluxo contínuo, agindo na hora certa, paciência e atitudes coordenadas, conduta instável, momentânea, entretanto, altamente, necessária, uma bênção tamanha por uma compreensão equilibrada.
É de conhecimento de muitos que uma escolha exige uma renúncia semelhante quando uma pessoa precisa escolher onde e com quem quer estar e daquilo que deve ficar longe, portanto, quanto a ausência de folhas em cada árvore, quiçá seja o fruto de suas escolhas, daquelas que são inevitáveis, por conseguinte, abriram mão de algo que não tem mais a relevância de outrora para que pudessem alcançar a maturidade, considerando que a firmeza delas foi mantida, não perderam suas raízes, continuam admiráveis, naturalmente, vívidas.
Ao meu ver, estes elementos são as representações em alguns aspectos da protagonista desta cena registrada, que está radiante, discreta, olhando tranquilamente, sem a pretensão de ser notada por todo mundo, todavia, aparenta estar olhando e sendo olhada de volta numa troca profunda de olhares incomparável, proveniente de uma reciprocidade genuína, veemente, uma escolha bem feita, que a faz sentir-se segura, alegre, num tom de força e formosura, amando fortemente, postura incessante ou pelo menos, espera profusamente que seja desta maneira tão significante.
Rafaela você e uma garota linda,perfeita e o teu sorriso esse sorriso que roubo o meu coração o teu olhar que roubou a minha atenção você a e garota dos meu sonho eu
não estou mentindo toda vez que vou dormir penso em você para acordar feliz,alegre toda vez que olho para você meu coração bate mais forte e rápido. Não existe palavra
que possa descrever o que sinto por você.Ainda que eu soubesse todas as palavras que significam amor, faltaria muito para dizer o que sinto por você!Mesmo que
o mundo inteiro fique contra você eu estarei ao seu lado,lutarei com toda a minha força mesmo que eu caia levantarei para protegê-la para proteger os meu sentimentos
por você Rafaela.Você pode ignorar tudo que digo mas não pode mudar os meu sentimentos por você tudo o que sinto e por você. Tem uma coisa que me incomoda e não estar ao
seu lado.Fico triste só de pensar que não tenho você para sorrir para mim a sua voz que me deixa calmo mesmo que eu só possa ouvir por 10 segundos eu só quero você e
nada mas neste mundo apenas você Rafaela,Se você souber quem sou eu venha a te mim e me abrace com toda a sua força!<3<3<3
Para ti honesto insosso de verdade!…
Citando erradamente, o Poeta Fernando Pessoa;
Disse: “pedir desculpa é pior que não ter razão”;
Deturpando, a humildade havida em na da Pessoa, boa;
Demonstrando: a burrice que em tal tem, ao ser mamão!
“Não dar desculpas, é melhor que ter razão”, adulteradas;
Citações do poeta, em Álvaro Campos, heterónimo;
Que em nada mais tais são, que as desse esperto: um simples antónimo;
Que em nada mais tais são que: humildades tão desencontradas.
Quem citar a um poeta, sem ter humildade, em si havida;
Arrisca-se a mostrar a toda a gente, que a tal não tem;
Devido a em poesia, o interior dar pra se ver bem;
Daí tão dar pra se ver, a quem tal tem, a em si perdida.
Cuida-te ó pobre insosso, ou tão salgado, em teu mau ser;
Com o que andaste a fazer, a tanta gente inocente;
Devido à linda humildade em ti se encontrar tão ausente;
Devido a pensares que de cá, jamais irás morrer!
Porque esse: pensar que anda a enganar-te;
Como tu, tão o fizeste a tanta gente;
Jamais poder, vai a ti desculpar-te;
Devido ao desculpar em ti ausente!
Tens andado a dar as do Poeta, mas sem razão teres;
Contrariando com as tais, seus pertinentes dizeres;
Por isso, pobre insosso, é por em humildade o seres;
Que a ti, tão te salgaste, com a mentira em teus fazeres.
Acredita também, que ninguém quer: um teu desculpar;
Pois como em tal citaste, não és capaz de a alguém tal dar;
Devido a tão insossa, a verdade em ti, já tão se encontrar;
Por nada mais seres que: um da mentira, tão pobre mar.
Por isso, ó pobre ser, sem humildade pra pedires;
Desculpa a quem quer seja, sempre que a culpa em ti tão vês;
Paga, mas é a quem deves, pela tua malvadez;
Paga, mas é a quem deves, pois já chega de mentires.
Com pena de ti;
Coisas Que Me Interessam -
Faça o que quiser,
como quiser.
Afinal,
ninguém tem
nada a ver.
Mas saiba que, pelo menos
pra mim,
na hora de analisar
uma pessoa,
entre tantas coisas que
me interessam,
eu costumo olhar atentamente
caráter -pois todo o resto
é sempreconsequência
desse.
Certamente Pensam -
"Que cara mais chato,pessimista, resmungão..."
certamente pensam.
A verdade é que eu também
gostaria de poder escrever
aqui
algo belo sobre respeito,
sobre reciprocidade,
sobre admiração...
algo feliz sobre o amor.
Mas acontece queeunão
sou um exemplopositivo
de alguém queconheceu
o amorenquanto
era-o.
Já Era Tarde -
Apesar de escrever, naturalmente, desde sempre,
gostaria de ter me descoberto
poeta mais cedo:
talvez,
no início da adolescência.
Quem sabe assim teria
escrito coisas mais
leves,
mais lúdicas, mais
positivas.
Quando me descobri
poeta já era
tarde:
O amor havia perdido
a cor, o gosto,
o cheiro.
Minha escrita já estava revidando pancadas,
golpes violentos, covardemente
praticados.
Já andava meio amarga,
nostálgica e quase
sem esperança.
Hoje, inevitavelmente,
aceiteia condição:
Não há cura para quem
nasceu poeta.
Não há nada pior
do que a fofoca
pessoas falando sem saber
o que na mente se entoca
Falam porque ouviram falar
algo que nem conferem
e começam a esparramar
boatos que a outros ferem
Cada um aumenta um ponto
e a história se propaga
de um jeito até maroto
cresce como se fosse praga
Fujam dessas pessoas
que parecem maritacas
nada tem de boas
só línguas afiadas como facas
O Colecionador de Quases —
Há,
pelo menos, uma década,
sou movido por súbitas
e aterrorizantes
emoções. — pontudas velhas conhecidas.
Olho tudo e todos, e todos me parecem tudo, e eu: um quase. — um quase o quê?
Nem isso nem aquilo nem nada. — quase alguma coisa qualquer, apenas com começo, ainda sem registro: acontecendo por acontecer.
O que todos eles veem que eu não vejo?
É tudo um jogo?
Eu não quero jogar!
Eu não sou um nem outro nem nada.
Sou sempre um quase.
Estou, quase sempre, por um
quase... o quê? isto! — qualquer coisa —
mas nem nada sou.
E só. — sozinho comigo (embora
tenha um tanto, um bocado).
Fui até o balcão dos sonhos e pedi um.
Deram-me um sonho, mas era dia,
e eu não tinha sono.
E quando era noite, e eu só
tinha sono e sonhava, matava-o ao acordar: era, de novo, o quase.
E como era sempre mais confortável
(ainda quando pesadelo),
o sonho da noite da hora
que se dorme no sono
da infância, eu sonhava
infantilmente infinito.
O sonho do dia (acordado),
é adulto, é real, desestimulante:
come, bebe, fica doente, sangra, presencia violência, catástrofes, covardia. — é a realidade!
E ela é cruel, é na carne, machuca.
Eu não sei sonha-lá sem que me precipite no vazio, no desânimo.
O realizar-se, o realizar-se me
consome, esgota-me.
Deixe-me com o sonho do sono da noite da minha infância (ainda que perdida).
Deixe-me dormir nela e continuar a sonha-lá e (quase), sê-la, para continuar
quase sendo ou sendo quase...
sei lá o quê — alguma coisa.
É esse medo. Sim, é esse medo.
É esse maldito medo do que o Tempo faz com a gente quando não nos distraímos o suficiente.
Despertos, Ele nos dá a realidade.
Sim, a realidade. Somente a realidade.
Meu Deus!
"Ontem, aqui em casa, pousou uma esperança", mas o gato — faminto — a comeu.
Entre o tudo e o nada,
eu sou só um colecionador
de quases.
Pessoa Especial
A paz que eu sempre procurei
Foi em você que eu encontrei
Alguém que jamais esquecerei
Pois foi a pessoa que eu mais me importei
As vezes você distante
Não muito falante
Sempre me lembrarei
De tudo aquilo que eu conversei
Pois sempre me fez me sentir especial
Aonde sua ausência dói fora do normal
As vezes uma dor aperta no peito
E lágrimas ecoam direto
Pois eu sinto saudade
De forma sincera e de verdade
Mas sei que você sempre se esforça
E logo retorna
Fico aqui sempre a esperar
A hora que minha amiga possa voltar
E se um dia de vez se afastar
E não mais voltar
Ainda peço a Deus a te guiar
E quem sabe um dia você volte a me procurar
Pois eu sempre irei te amar
Não importa o que o tempo revelar
Uma Breve História Sobre Ana –
Naquela manhã chuvosa e fria, de uma quarta-feira de novembro, Ana, para não se atrasar, decidiu sair um pouco mais cedo, devido às condições meteorológicas.
Assim, precisou cumprir suas tarefas em menos tempo que o habitual.
Então, enquanto caminhava até o ponto de ônibus mais próximo, que ficava a cerca de duzentos metros de sua casa, percebeu, já próximo ao local, que havia esquecido a trava de segurança do botijão de gás aberta.
Meticulosa, às pressas, precisou voltar até sua casa para arrumar o descuido.
Ao chegar em frente à porta, enquanto enfiava a mão esquerda na bolsa à procura das chaves, ouviu, ao fundo, alguém chamando-a pelo nome.
— Dona Ana, bom dia!
Demorei um pouco, por conta desse mau tempo, mas cheguei para consertar aquele vazamento no banheiro.
— Bom dia!
Mas eu solicitei o trabalho de vocês há três dias, meu Senhor.
E alguém havia me dito que viriam naquele mesmo dia que, por sinal, foi este domingo agora e, portanto, eu estava o dia inteiro em casa.
Mas agora?!
Eu estou de saída, preciso trabalhar.
— Mas a gente avisou segunda-feira à tarde pelo número que a senhora entrou em contato,
que viríamos hoje, neste horário.
— Nossa!
Foi o número do meu filho e, provavelmente, ele esqueceu de avisar-me ou não viu a mensagem.
Bom, mas acontece que, neste momento, eu não posso estar em casa, estou indo trabalhar.
— Mas, senhora, como eu vou voltar metade da cidade sem ter feito meu
trabalho? — eu perderei meu dia.
— Então, o senhor quer que eu perca meu dia de trabalho para não perder o seu, é isso?
Desculpa, mas eu não posso sair para trabalhar e deixar uma pessoa que eu não conheço na minha casa.
E já estou me atrasando.
Mais dez minutos e eu perderei o ônibus que me levará a tempo até meu trabalho.
Sem esse, terei de pegar um outro que me atrasará, pelo menos, trinta minutos.
— Entendo, dona Ana.
Mas eu estou há menos de quinze dias nesse emprego, e se eu voltar sem ter feito o serviço, serei, certamente, despedido ao final do mês ou antes mesmo. E eu não posso ficar, outra vez, desempregado.
Pois moro de aluguel e tenho uma esposa e três filhos para sustentar, Senhora.
— Quanto tempo o senhor acha que levará para terminar o serviço?
— Bom, pelo o que a senhora nos passou, acho que não mais que quarenta minutos.
— Quarenta minutos é muito, meu senhor!
E olha lá meu ônibus indo... droga!
Pronto, agora o outro passa em dez minutos e eu não posso perder esse.
— A senhora não tem uma pessoa: um vizinho, um conhecido que possa ficar aqui enquanto eu faço o serviço?
— Neste horário não, meu senhor. — todos estão trabalhando.
Eu moro com meu filho, mas, neste momento, ele está viajando.
Olha, desculpa, meu senhor, se eu esperar mais, perderei o segundo ônibus que passa em menos de dez minutos.
E o terceiro só em quarenta e cinco minutos.
E como sei que o seu local de trabalho fica de um lado da cidade e o meu do outro, o senhor não poderá me dar uma carona.
Portanto, eu preciso ir.
Sinto muito!
Enquanto ela abria a porta e entrava em casa para baixar a trava do botijão e voltar, o quanto antes, até o ponto de ônibus para tentar alcançar o segundo, foi até a janela da sala para fechar as cortinas, quando avistou o senhor em passos lentos, desolado, voltando até seu veículo de trabalho.
E enquanto pensava em si mesma e seu filho, lembrava do conforto que, de certa forma, ainda tinha, mas que parecia faltar àquele homem e sua família.
Então, aos gritos, chamou-o, pedindo que fizesse o seu trabalho, enquanto servia-lhe uma xícara de café com torradas.
Enquanto ela sentava no sofá da sala e pegava seu celular para comunicar ao chefe sua ausência naquele dia, o telejornal local noticiava que, devido às fortes chuvas daquela madrugada, o congestionamento na via que dava acesso ao seu local de trabalho, ultrapassava os setenta quilômetros de lentidão.
E, assim, ela pôde entender que realmente havia feito a escolha certa.
Então, descansou os pés sobre uma almofada cinza, e a mente e o coração em um livro de poesia, ouvindo ao fundo, entre uma martelada e outra, Seu Régis assobiar sua canção favorita.