Carta para a Pessoa Amada

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É Por Medo -

É por medo da rejeição
tantas vezes
provada.

É por medo da vergonha
tantas vezes
sentida.

É por medo
que a gente deixar de dizer
o quanto tem
saudade;
o quanto
pensa;
o quanto sente
falta.

E são por esses mesmos
motivos
que a gente assiste - sangrando -
um (possível) grande amor
indo embora.

Inserida por SilvioFagno

Tão Perdido e Confuso Quanto Ele -

Eu olho um adolescente e
penso:
ele ainda tem chance - tem tempo.

Pode optar por algo
seguro como
estudar,
arrumar um emprego
e formar uma família.

Eu já estou no meio dos trinta,
não tenho diploma
algum,
estou desempregado,
sem nenhuma
perspectiva,
e destruíram, covardemente,
meu sonho de
família.

E o mais assustador:
eu me sinto tão perdido
e
confuso quanto
ele.

Inserida por SilvioFagno

Aquelas Noites -

Ainda lembro
aquelas noites quando ainda
éramos nós
e,
de tão cheia,
a cama faltava espaço
e só eu não conseguia
dormir.
Mas,
ainda assim,
olhando vocês ali,
meu coração respirava
aliviado.

Agora
a cama até sobra espaço
e, ironicamente,
meu peito está apertado
e,
de novo,
só eu não consigo
dormir.

Inserida por SilvioFagno

Onde Eu Tanto Quis Estar -

Eu sei,
agora é só questão de tempo
até que ela anuncie um novo
romance,
antes de outros que,
possivelmente, ainda
virão.

Sim,
provavelmente nem será,
de fato,
o seu grande amor ou o seu
último romance.

Mas eles serão, por um
tempo,
somente um do outro
(imagina-se).

Trocarão mensagens antes
de dormir e ao
acordar;
passearão de mãos dadas em
shoppings e praças e
festas;
assistirão filmes e
séries e ouvirão
músicas no modo aleatório ou
não,
boas ou não,
dividindo um pote de chocolate
e
fones de ouvido já gastos,
num sofá na sala a meia
luz, sob um cobertor
macio nos dias
mais frios.

Contudo,
haverá esforço e
cuidados de um mais do que
do outro e, ainda
assim:
beijos, abraços e carícias
serão deles para
eles.

E eu estarei aqui,
assim: distante, mais
distante ainda.

Só.

A observar e lembrar e pensar:
olha só que cara de
sorte - está exatamente
onde eu tanto quis
estar.

Inserida por SilvioFagno

Gente Grande é Mesmo Idiota -

Ontem,
enquanto brincávamos no
quarto,
meu filho e eu,
lembrei de certas
coisas corrosivas que, hora ou
outra,
ainda me alfinetam o peito,
me tiram a calma.

E então,
junto àquelas lembranças,
eu fiz aquele som com a
boca, que denuncia
alguma insatisfação, algum
lamento ou incômodo.

Meu filho,
que agora está com quatro
anos e meio,
ouvindo aquele estalo
me questionou:

"o que foi, pai?"
"Nada". Eu o respondi.
"E por que essa cara feia,
então?!" Ele outra vez.

Eu,
sem graça,
pensei:
gente grande é mesmo
muito idiota - desperdiça o pouco
tempo que lhe resta,
sofrendo por coisas e pessoas
estúpidas.

Inserida por SilvioFagno

O Cinza é a Minha Cor Preferida -

Eu esqueci,
durante alguns segundos,
esta tristeza profunda
que bagunça minha morada
interna.

Nestes poucos segundos de
desatenção, eu respirei livre,
sem dor, sem angústia.

Neste breve estar de leveza,
eu não fiz quase
nada.

Serviu apenas
para lembrar-me que, apesar
de muito difícil,
hora ou outra, sem muita explicação,
a vida nos traz traços de felicidade
em pequenas e raras porções de paz e tranquilidade.

Aproveite para aprender:
há uma saída, ainda que a gente morra
no final.

Sim,
meu universo já voltou
ao normal.

Inserida por SilvioFagno

O Último Não, Será o Meu -

Eu estava errado quando
na primeira oportunidade de
deixá-la eu não a deixei.
Havia chance... (?!)

E veio a segunda, a quinta,
a décima-quarta e eu
continuei errando.

Me transformei em uma
máquina de colecionar
derrotas e mais
derrotas.
Logo
eu era a própria derrota.
Fui ao inferno, vi o diabo de ser
humano de perto,
mais de perto ainda, algumas
outras vezes.
(Perdido, eu só era mais um
entre tantos).

Mas eu estava certo quando,
certa vez,
com lágrimas de sangue nos
olhos e um coração de
calos endurecidos,
me virei para ela e em claro
e grave som disse-lhe:

Não!

E o último não, será o
meu.

Inserida por SilvioFagno

Distância -

É sempre muito,
muito complicado quando
amamos alguém que
está longe.

Longe o suficiente para sentirmo-nos
inúteis, impotentes diante
da sinuosa e fria
distância.

É um troço meio esquisito:
é a coisa amada lá - longe -
e os sentimentos
explodindo cá - dentro.

Um aperto sem toque;
um sentir sem cheiro;
uma saudade sem
tamanho.

Fecho, abro os olhos
e tudo é deserto,
vazio, distante.
Tudo, menos o teu
nome.

Esse...
ah, esse é segredo!

Inserida por SilvioFagno

Não Há Escapatória -

Eu entendo:
não há escapatória.

Não posso estar muito
longe do cinza das
tempestades,
da névoa da melancolia,
do abismo da rejeição - da tristeza.
A maior parte da minha poesia
morreria.

Assim como não posso viver
totalmente
mergulhado nesse
caos,
nessa escuridão sombria,
sem um pouco de luz quente,
gestos leves, alegria
genuína.
Minha cabeça explodiria.
Morreria, então,
o poeta.

Eu sei parte dos motivos
e escolhas
e consequências.

E,
independentemente
da cor do dia,
do estado meteorológico,
mental, físico,
tudo que eu preciso é
escrever,
somente escrever.

Nada além de
escrever.

Inserida por SilvioFagno

Tortura Sentimental -

Não acredito mais
na conquista sentimental
do outro
através de uma longa
insistência.

Não.

A grande maioria das pessoas
hoje,
faz disso um jogo, e desse
jogo
alimento para inflar seus
egos cebosos e
gordurosos.

Essas pessoas nunca dizem
um "não" categórico.

Elas costumam colocar certos
limites,
fazer certas restrições,
mas estão sempre deixando
cair migalhas de reciprocidade,
aproveitando-se do nobre sentimento
do outro,
para mantê-lo por perto (acorrentado, rastejando),
aprisionado a esse caos psicológico,
a essa condição humilhante
em que se perde paz, dignidade,
tempo - vida.

E tudo isso,
para alimentar desejos egocêntricos,
gostos superficiais,
vaidades fúteis,
através de uma maldosa, dolorosa
e traumatizante tortura
sentimental.

Não há,
certamente,
uma verdade absoluta
para isso,
mas:
ou tudo acontece
de maneira natural (claro, com todos os esforços e entraves naturais das relações interpessoais),
ou,
naturalmente, não
acontece.

(Não como deveria
acontecer).

Inserida por SilvioFagno

Correndo -

Às vezes,
eu fico olhando adolescentes
à toa, se divertindo como
jovens que são
e acho graça da maneira como fazem as coisas.

É tudo tão tosco e bobo e
besta,
e nada é tão sério e tudo
tão necessário.

E então,
me percebo rindo
e logo me sinto velho, triste
e bobo e besta,
e agora tudo é tão sério
e nada mais tão
necessário.

(Contaram-nos a história
errada?).

Inserida por SilvioFagno

Desabafo Inútil –

Sem cerimônia,
fui expulso do “Paraíso”
de escolhas e consequências.

Então,
me vi na necessidade
de uma releitura da vida,
para novos rumos,
novos sentidos, novos caminhos,
mas agora,
através de uma outra perspectiva,
um novo momento,
um novo olhar:
dúbio.

Com novos personagens à volta,
cama e cômodos diferentes,
vozes diferentes,
cheiros e sons diferentes.

Um outro endereço,
na mesma rua, em direção ao
nada
eu fui e voltei
e não mais voltei para casa
ou nunca fui.
Acúmulos de expectativas
e decepções
tão inerentes a
mim.

Um novo dia nasceu (turvo),
poeticamente cinzento e
dolorosamente ensolarado,
com cicatrizes e possibilidades,
velhas novidades, novos ciclos
de amizade,
encontro e reencontros e
desencontros e
perdas.
Alguns raros sorrisos – quase
uma volta à adolescência – um
filme em dias frios,
cobertas e pele e um moleque
inquieto – dono de tudo ali – sonho
e realidade para novas,
velhas lágrimas.

O real e o desejável;
o medo e a experiência;
a sorte e o hiato;
a saudade e a necessidade
do seguir em frente... a poesia e o
vazio.
Entendo: não volta mais!

Não pude fazer escolhas,
simplesmente, fiquei de fora
delas.
Não aceitei, nunca aceitarei
(hei de me adaptar), mas o
que ainda restou de mim
– inútil poeta –
são restos essenciais de
batalhas que,
enfim,
venci, derrotado.

Inserida por SilvioFagno

A Lua -

Hoje cedo
lembrei aquele teu riso fácil
e olhar adolescente de quase
meio-dia.

Lembrei de coisas
que nem pensei que faziam falta
como: a tua falta de jeito ao derrubar
coisas.

Lembrei teu espaço rebelde,
teus traços e passos
e trejeitos - jeito moleque.
Manias - tão tuas - que nem sei
se existem em outras.

Agora,
neste exato momento,
estou em total silêncio
buscando algo da tua fala.
(...)
Em vão.

Por favor, pequena:
não me chames como tu chamas
a todos os outros.
Tu sabes, né?!

Ah!
Mas quando foi que tudo escureceu,
afinal?
Sim,
eu amo a noite,
mas não esta - sem teu canto,
sem teu colo, teu encanto,
tua luz.

Se,
ao menos, como antes,
me restasse a lua.

Ah, a lua...
no céu da tua boca.

Amanheças aqui!

Inserida por SilvioFagno

*Ser humano*

Ser que se importa, pensa, crê
Empático, simpático ou diz ser
Que ama com e sem porquê
Odeia apenas por querer
Ser que vê e finge que não vê

Gosta de quem lhe desgosta
E que adora ver
Ver e saber história dos outros
Apenas por curiosidade em conhecer

Ah meu bem, porque isso
Humano gosta de fazer
Procurar, descobrir, conversar
Pra encontrar
Algo que nem sempre sabe o quê
Mas gosta de saber

Ser que sorri por estar perto de um você
Você amigo, pai, irmão, namorado
Amor que há de amar
Doa o que doer

Ser que abraça e briga
Que pode ou não
Tentar te compreender

Ser que não é perfeito
Egoísta, egocêntrico, ego
Alter ego
Mas ser que também
Se esforça pra enxergar outro ser

Ser que não vê ser suficiente
Mas que é mais do que outro alguém Imaginou que merecia ter

Pessoa que nem sempre sabe como ser
Mas que é todo dia
Possibilidade, mudança
História que Deus criou
E acaba ou não por florescer

Nasceu _hermano_
De tudo, de todos, de cada ser
Mas que na correria do mundo
Triste de se dizer...
Acaba por se perder

Inserida por Deixaacontecer

Eu tenho uma poesia para bordar

em fios de algodão colorido.

Escrevo com a liberdade que só

a poesia concede, e nenhuma arte

se [atreve...

Poeticamente posso escrever ainda

o quê nem sequer foi vivido,

- e mesmo assim ter muita história

para [contar

Acabei de chegar na Paraíba para

visitar dois amigos: Ariano e Solano.

Porque na Paraíba tudo rima,

até a dor vira poesia.

E no fundo todo brasileiro também

é [paraibano.

Quem abriu primeiro a porta

foi o Seu Marinheiro que logo disse:

"- Temos visão privilegiada do

nosso jardim para o Rio Sanhauá."

E o respondi:

"- Frei Pedro Gonçalves me contou

que o pôr-do-sol mais belo visto do

Rio Sanhauá no Brasil outro igual não há."

Três crianças acenaram da sacada

desejando a minha feliz estadia,

escutei os nomes entre as risadas:

Cícero, Cassio e Vital.

Fiquei admirada

com a empolgação da criançada!...

Porque hoje na Paraíba ainda há

um misto de esperança e desesperança

de um povo que se reinventa debaixo

do sol ou da chuva - e enfrenta a seca

com bravura, e jamais abandona a

ternura...

Na costa bem desenhada e na poesia

tramada com fino algodão, em verdade

voz digo:

"- Paraíba [joia menina], tu moras em meu coração."

Inserida por anna_flavia_schmitt

Confuso e Certo -

Agora é um encontra e vai embora; sem toques, sem gestos: triste.
É um vê, mas não olha; com medo, com pressa: tenso.
Um percebe, mas disfarça; sem lógica, sem graça: falta.
E, assim, o que antes (confuso e incerto), parecia tanta coisa, agora (claro e certo), parece nada.

Inserida por SilvioFagno

SONETO NA PRIMEIRA PESSOA

O nosso eu, está em constante luta
Que eu em mim, agora vai portento?
Se sou quem sou, não sou momento
Pra ser quem sou, no eu tive conduta

Em nada fiz pro eu estar desatento
De fora ou de dentro, da vida recruta
Se não vago, eu, sempre na labuta
Pois, o tempo é eterno ensinamento

Quem é este em mim que o ser imputa
Pois, o diverso é mais que juntamento
É sentimento, num tal zelo sem disputa

Não hei sabê-lo se houver "divisamento"
Afinal, se há partilha há também permuta
E meu eu: é fé e amor num só complemento

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
10 de agosto, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

O que é uma pessoa ‘especial’, nos dias de hoje?
São as com “necessidades especiais”, que requerem cuidados que atendam às suas diferenças, seja visando a sobrevivência em seu cotidiano, ou relativas ao seu desenvolvimento físico e mental. Porém e acima de tudo, é essencial que recebam muito carinho, muito amor e, diante disso, uma família que abriga em seu seio tal pessoa, criança, adulto, idoso, forçosamente as pessoas que compõem essa família, tornam-se muito melhores do que seriam, se não tivessem esse ser ‘especial’.
É essa a maior recompensa que se pode ter: tornar-se melhor, ser também especial no sentido amplo.
Em primeiro lugar, o ‘tornar-se melhor’ significa buscar conhecimentos suficientes para compreender as causas, e os efeitos, daquela pessoa que nasceu ‘especial’, tanto a síndrome acidental quanto qualquer outro fator adquirido no decorrer da existência, consequência de idade ou circunstancial da vida no dia a dia.
Se assim não for entendido, essa família se aniquila, e fracassa.

Inserida por clovisrosa43

O Peso -

O peso da idade é sentido nas costas, ombros, braços, pernas, ossos e articulações doloridas.
Na falta de força e resistência e vitalidade de outrora.
Os restos acumulados de esforços repetitivos, horas extras, noites maldormidas, estresse, e a fragilidade natural do corpo no passar dos anos denunciam: estamos ficando velhos (ainda que tenhamos um espírito jovem).
Mas o verdadeiro peso da idade sente-se mesmo é na consciência: na realidade de todas as decisões e escolhas feitas.

Inserida por SilvioFagno

O Calendário -

Em cima da mesa uma bandeja com ovos, uma cesta com algumas frutas, uma lata de óleo, remédios, pães e biscoitos.
Ainda na mesa à esquerda, uma garrafa de vinho tinto pela metade e uma de café cheia.
No centro facas e garfos e colheres dentro de um prato transparente, ao lado de um copo com água.
À direita um maço de cigarros, uma caixa de fósforos e um calendário na beira, meio que suspenso, quase para fora.
Nos rótulos informações nutricionais, composições químicas e advertências.
De tudo ali, o mais cruel, silencioso e implacável era o Calendário - que tudo conhecia, tudo abraçava, tudo devorava - tão certo e tão simples, no Tempo de ser: passado, presente e futuro.
Princípio, meio e fim.
Sendo apenas uma folha qualquer, numa mesa qualquer, numa tarde qualquer, de um dia qualquer, no cruel e silencioso e implacável Tempo de uma vida cronometrada (regressivamente).

Inserida por SilvioFagno