Sonia Schmorantz
Invento ao vento
Vento frio como acorde de violino,
rasga a madrugada de silêncio
arrepiando desalinhadas memórias.
Vento com chuva percorre a rua,
derramando-se sinuosamente,
ondulando cascatas de folhas,
abstrato corpo dançando,
que a noite vai devorando...
Por quem lamenta este vento,
inquieto visitante noturno,
que na janela vem bater?
Vento na pele arrepia,
agita sentimentos como folhas,
então invento o momento, o calor,
invento o prazer, a saudade,
invento palavras, um poema,
e todos os dias para amar você.
Luz
Já tive presssa, mas hoje sigo devagar,
Não me importa mais ser a primeira,
mas a que sempre segue caminhando,
e nada quero da vida, a não ser esta luz
que escreve doces poesias na alma...
A tarde cai e o sol cria mil fulgores
que balançam no vai e vem das águas,
intensa luz como a há no teu olhar.
alimentando de cores esta infinitude.
Chuva de amor
Quando digo em segredo que te quero,
e um sorriso doce me encanta,
sou como o arco-íris na chuva ,
garoa fina que toca a pele,
gota singela a percorrer sem rumo,
como as gotas da chuva na janela.
Meu amor adormece aquecido,
chuva fria fica lá fora,
goteiras fazem serenata,
com o cinza da saudade.
Aqui dentro faz calor,
não existe tempestade,
chuva fria fica na calçada,
aqui dois braços abertos
e um sorriso me esperam.
Com licença,
o amor me chama.
Rio do tempo
A sisudez do tempo não esconde o cansaço,
o desassossego da alma, mas
o lamento das coisas dissolve-se em lembranças,
que ainda guardam a limpidez das águas da infância,
reparando conquistas e derrotas ao redor dos dias.
Memória serena como a dos rios
que seguem eterna viagem para o mar,
mar que também é pura vivência,
sentinela de sonhos,
a guardar os segredos do vento.
Rio e mar são preces a decantar o tempo,
na vigília da memória e das trilhas percorridas,
um ofício íntimo a experimentar maturidades,
que fio por fio vai tecendo um poema de vida.
Não há pranto que aqui se demore,
assim como não há felicidade perene,
mas a vida é assim, esta água cristalina
a escorrer no leito dos rios,
lavando as ruínas deixadas pelo caminho,
espelhando amor de diferentes quimeras.
Agosto
Domingo frio, quase agosto,
Os sinos anunciam a hora da missa,
Embalando as nuvens carregadas,
Que andam vagarosas no céu.
No ar sombrio da tarde
O toque do sino é melodia,
Enquanto a chuva fina
É uma pálida cortina.
Chega o agosto, cheio de frio,
Na rua silente, sem caminhantes,
A voz do sino é um soluço,
Misturado ao silêncio da tarde.
Bradam os ventos contra as pedras,
Revoltam-se as ondas do mar,
O olhar afunda-se para além da janela,
Numa complacente espera sem sentido.
Estaria o sino chorando,
Ou fazendo uma prece?
Procura-se
A aurora desperta pelo azul do mar,
A quietude outonal que rasga o dia,
a vida que ressurge rara após noite escura.
Procura-se
a esperança que saiu voando sem rumo,
uma alma alada como pássaro,
que desapareceu entre o céu e o mar.
Procura-se
sonhos pássaros perdidos na névoa tardia,
ventos leves, leves como o pensamento.
Procura-se
uma chance, uma sorte, uma nova saída,
uma ilha, um pouco de paisagem,
um verso capaz de descrever o instante.
Coisa Estranha Essa Saudade ...
Não se vê, não se toca, mas esta ali...
Sinto saudades dos sonhos,
...Dos planos mais loucos que já fiz...
Sinto saudade do que não existiu,
Mas queria que tivesse existido...
Parece que a saudade mora em mim,
Tanto, que se um dia parar de doer,
Vou então sentir saudade da saudade,
Deste suave sopro andarilho
Que eterniza as ausências....
Meus Poemas
Meus poemas vão sendo largados
na beira das estradas onde passo,
ao luar do sonho, às flores comuns
das estradas desertas, das pedras
esculpidas pelas maresias,
ao campo que se alonga até o mar.
Talvez eu tenha dado os passos certos,
talvez encontre em cada um deles,
a estrada do sonho, os momentos que vivi.
Talvez recupere nas curvas do caminho,
velhos poemas que se perderam na poeira,
em amareladas folhas rasgadas.
Talvez encontre em meio às flores,
os poemas que fiz e não deixei nascer,
poemas imaginados que nunca ganharam corpo,
numa estrada inventada para atravessar o tempo.
Poemas abandonados, poemas espalhados,
na estrada da imaginação, onde ninguém pisa,
poemas passageiros desta longa viagem,
abandonados versos, lembranças escritas,
de quem um dia pretendeu ser poetisa.
Pinheiros
Que magia tem estes velhos pinheiros
ouriçados pelo vento no alto das pedras?
Absortos, voltados para o poente,
agasalham pássaros em galhos ondulantes,
sossegam minha alma em verdes sombras
recortadas no azul de um céu sem fim.
Quanta poesia há no aparente abandono
dos pinheiros agrestes agarrados às pedras,
que em silêncio se elevam às alturas,
seduzidos pela luz mágica do sol?
Mansos pinheiros acenando à estrada,
ouvindo o bramir do mar logo adiante,
faz sentir esta poesia, esta alegria,
do sal que tempera sonhos, emoção,
sentimento vida, universo no coração.
Recostada à janela, enquanto sigo viagem,
os pinheiros me levam para perto do céu,
em algum lugar abre-se uma porta,
acolhendo criaturas e sonhos
na clara ternura do entardecer.
Instantes de felicidade sem motivo,
como poemas sem palavras
que se escreve no ar...
Queria...
Queria falar do meu amor,
dos sonhos que tenho,
da tarde que agora vai,
do sol que se põe e da lua
que começa a surgir.
Queria fechar os olhos,
esquecer o relógio
me perder nas horas,
fugir do tempo e ficar assim,
contando as pétalas de uma flor amarela.
Bem me quer, mal me quer...
Queria falar da chuva que cai,
do vento que varre as folhas do chão,
das ondas encrispadas do mar,
do tempo que brinca com a solidão.
Queria, queria, queria...
Mas fiz-me doçura da pétala,
flor pequena em sua mão,
amor que acontece e se enraiza,
crescendo como flor no coração...
Das Palavras
São difíceis as palavras,
nem sempre espadas,
nem sempre flores,
entrelaçadas são poesia,
disparadas são armas,
tristeza e melancolia.
Ás vezes amor, às vezes inferno,
vêm do fundo da alma,
explícitas ou veladas,
ressoam tristemente bêbadas,
às vezes verão, às vezes inverno.
Penetram clandestinas na alma,
como bordados feito à mão,
fogem quando mais se precisa,
São reais ou mera ilusão.
Palavras de amor não ditas,
são silenciosas reticências,
fugazes e sorrateiras,
levam poemas nas asas, mas
adormecem escondidas na mão...
Chuva de Outono
Cai a chuva da nova estação,
calçadas vazias, molhadas,
carros que passam apressados,
cobrindo o asfalto de reflexos.
São as chuvas de outono,
encharcando a cidade.
Debaixo dos guarda- chuvas
as pessoas andam rápidas,
sombras humanas abraçadas,
enquanto folhas flutuam ao vento
morrendo afogadas no chão.
Por detrás das vidraças olhos
acompanham sombras na névoa,
chuva e outono adentram a janela,
enquanto na rua transeuntes anônimos
correm para algum lugar qualquer.
Cai uma clara chuva de outono,
mudando as vestes, as cores,
numa vontade de não sorrir do céu.
Há um vento varrendo a cidade,
ônubus lotados, trânsito engarrafado,
Aqui dentro, um sentimento a toa,
canta uma melodia abatida,
inquieta chuva, vento, vida...
Minha Ilha
Na ilha o mar é mais azul,
cenário feito por um mago,
uma sonho de águas claras,
onde o vento me diz
que aqui serei feliz....
Ancorada no azul da ilha,
tudo é detalhe, detalhe de amor,
como dois barcos na areia,
secretos amantes fora do mar.
Respirando o outono tropical,
caminho no verde musgo da trilha,
areia fina, mar azul, lua no céu,
e o vento vem me dizer
que aqui existe o amor...
Meu amor é esta ilha,
são os olhos brilhantes
do homem que me ama,
São as ondas do mar,
são os pássaros que esvoaçam,
são as caricias do vento,
esta é minha ilha, meu destino
a ilha do meu amor...
Invenção
Na minha janela espraia-se o Atlântico,
brilham as estrelas do Cruzeiro do Sul,
suspiram flores em suspensos campos verdes,
as árvores balançam ao sabor do vento.
Na minha janela tem o mistério
da noite espessa e uma lua ao acaso
inspirando a poesia,
o cinzento das tardes de outono,
o som das ondas que murmuram preces,
num choro inútil que enche de mágoa a
solidão da praia quase abandonada...
Sobre mim pousam os ventos,
sentimentos dançando ao acaso,
que importa se a noite se cansa
e é lento o dia,
sonhos nascem sem qualquer razão,
a vida é esta grande invenção...
Sementes
Silêncio ecoando na inquietude,
Minha alma procura o equilíbrio
Entre sentimentos de ontem e hoje.
Sentimentos imperfeitos,
Como imperfeita eu sou...
A poesia vem em fragmentos,
Como sementes desconhecidas,
Vividas, sonhadas, escondidas.
Sementes serenas como as lágrimas
Que a noite verte
Ainda que estrelas lhe façam companhia.
Sozinha aqui a pensar,
Não encontro rimas para a poesia,
Assim, só em fragmentos, lanço
Minhas sementes na noite que
Se encolhe dormente na fria madrugada.
Estou infinita e limitada,
Quero minha poesia inteira e
Todos os meus sonhos de volta...
Mulher
sedutora,
perigosa.
É a mulher que sabe seduzir com o corpo.
Pior é a mulher que te mata,
e te conquista com a mente!!
..
E então, você se acha.. superior ou melhor,
não é nada disso!!!!
quando você cobra alguém de seus defeitos.....
você também dá créditos as suas virtudes...
Está se vendo?
Você não é diferente...
você é igual a todo mundo!!
...
Às vezes precisamos desabafar..
Às vezes não podemos contar a ninguém..
E quando quiser desabafar,
fale consigo, seja seu melhor amigo.
Porque não há nada mais tranquilizante do que guardar seus próprios segredos..
...
Me desculpa os heróis.
Eu, particularmente, prefiro os vilões.
Eu acreditava em contos de fadas...
Agora eu acredito na moral da história...