Webert Gomes
Observo, reparo e analiso os seres da minha espécie, tal como o faço ao analisar as minúcias de uma formiguinha. E o efeito é apavorante. Simplesmente porque me vejo no outro.
Minha noiva é a Solidão. Amo-a tal como um casal em intimidade conjugal entre quatro paredes. Ninguém mais pode entrar.
Preciso urgentemente de mim mesmo quando não há ninguém por perto. Ou não há sustento para a minha solidão.
Eu converso comigo o tempo todo. Talvez por isso precise tanto do silêncio oportuno. Pra me ouvir, e às vezes me calar.
Aprendi a ouvir do silêncio dos outros e a captar na mudez o mais nobre dos sentimentos: o amor contido.
Se me ofereces um corpo suculento, porém sem recheio, é provável que eu passe fome. A massa só enfeita. Mas o recheio é que sustenta.
Estou deixando a comodidade do casulo pela insegurança do mundo. Mas se não fizer isso, jamais aprenderei a voar.
Não se ocupe em procurar-me quando eu não estiver aqui. Preciso refugiar-me para onde não há mapa. Onde minha solidão possa ser admitida.
A solidão me toma à mão e me leva a passear. Eu sequer a pedi, sequer a chamei. Mesmo rodeado de trocentas pessoas, é com ela que faço o meu ilustre jantar.
O que está por trás da porta pode assustar a quem por ela não quer entrar. Por isso às vezes me fecho: para não assombrar àquele cujo interesse não passa da minha porta de entrada.
A vida é um amontoado de coisas sem nome. Inclusive eu - não me chamo vírgula, sou aspas com um ponto de interrogação em reticências.
Tudo na vida é um caminho para se seguir com outra pessoa. Mesmo que outrem seja só o outro "eu" de mim mesmo que ainda não deflagrei.