Warley Tomáz
Noite de Outono
A noite passa
e neste princípio de outono
não tenho sono.
Adormecer e conformar-me com o adeus
do ontem que jamais retorna
e vive na lembrança...
Enquanto vivo, acordado,
com um desejo de mistério.
Quero uma razão
e não simplesmente começar o amanhã como hoje
porque estou sedento de novos ares...
E devagar vai pairando sobre mim um clima frio, provocando uma vontade de aquecer-me para aliviar os arrepios noturnos.
Esses lábios
Ah! Esses lábios...
Essa boca rósea,
macia, suave como pétalas de rosas.
Ah! Esses lábios delicados
suspirando um beijo meu
arrancando de minha boca
também desejos meus.
Não me engana a visão turva
do que os olhos podem ver
mas a boca vê e sente
o que olhos não podem ter.
Avante!
Um tempo interminável me circunda,
uma parte de mim se afoga
mergulhado como estou nestas águas
que me forçam sobre o mar da minha vida.
E pelejo braço e perna
na esperança de voltar a superfície;
quando o ar em meus pulmões recupero
ondas salpicantes me açoitam novamente
e me entrego, desfaleço...
Avante, não posso desistir!
Há um mar muito além do horizonte
e o tempo, embora pareça sem fim
findará no seu poente.
Avante!
Humano
Sou um anjo e um animal traduzido em homem.
O que define minha atitude
é o equilíbrio de cada parte
nos sentimentos divinos
e nos extintos selvagens.
Sigo em Passos Lentos
Sigo em passos lentos,
com pouco a dizer
sobre mim.
Recaio em fraqueza,
sem tempo a perder
e resisto.
Sonho minha história
entre dúvidas
mas prossigo.
Voo e
vou.
Universo Jardim
Como é grande o universo
inserido no jardim.
Na flor a borboleta
o néctar sugando.
Uma gatinha, do chão
a borboleta observando.
E dois bichinhos, tão pequenos
em cúpula de amor
pouco se vê.
Aranha vermelha,
no ar, abelha
e pardais pulando.
A enxada o mato capina
enquanto parei observando
meu universo jardim.
O fotógrafo é um poeta que a partir do seu olhar proclama versos eternizados nas imagens de sua arte.
Certa vez, sentindo-me insuportável, perguntei a Deus como Ele me suportava. E Deus me disse: eu te amo!
Ao Primeiro Amor
Amor, primeiro amor.
Que restou dos passos,
espaços que tínhamos
nos mesmos caminhos?
Onde o véu da pureza envolvia nossos corpos
e mesmo nossas almas expressavam inocência.
Aquele olhar silencia as palavras
e por si eram ternas,
repletas de carinho.
Amor. Meu Sol ardente no vale das sombras,
ilumina o caminho que me devolve a ti
pois preciso deste amor
mais que o ar em meus pulmões
muito além do que possa compreender.
Sem Você
Harmoniosa melodia
me faz lembrar você,
dos momentos eternos
agora eternas lembranças.
A voz doce da canção
imprime sua imagem
na imaginação
de um tempo que se foi,
da vontade que restou
e ficou só.
Para sempre...
sem você.
Caminheiro
Na busca ofuscante da mente sã
pouco ou nada se conhece
do que realmente procura.
E até o destino chegar,
outras tantas buscas vêm e mudam
a rota, a dúvida e nada mais
é o que outrora se viu.
E o destino interminável,
tesouro inacabado
do caminheiro caminhante
em calos presos
nas sandálias segue
fiando a linha da vida
trançada a pé.
A saudade não contém apenas a ausência de alguém amado. Também nela está contido o fato de saber que este alguém vai partir.
O tempo e seu tic-tac vicioso
O tempo
e seu tic-tac vicioso.
O vento invisível
em ondas de ar.
O tempo do vento
o vento dos ponteiros
do tempo.
Não param, não esperam.
Seguem simplesmente
rodopiando sem cansar
o tempo e seu tic-tac vicioso
no vento soprado no ar.