Walysson Carvalho
RELÓGIO DE BOLSO
O tempo é uma dádiva.
Ninguém o vê quando passa.
O passado é uma lembrança,
O presente é o que somos.
E o futuro, ah, o futuro...
O futuro é tudo.
O futuro e o passado se unem
Pela corrente de um presente de aniversário.
Porque eles não existem agora, só no dia—
São promessas descabidas, são mentiras,
Pois ninguém sabe a hora de ir embora.
O presente é uma bênção líquida,
Que o tempo nos entrega de presente.
Somos todos gratos,
Por isso paramos por instantes...
Depende de mim mudar quem fui,
Depende de mim pensar quem sou.
Mas qual é a graça em mudar? Em pensar?
Os astros são legítimos, mas estão longe.
A lua reflete a luz, mas não se vê de dia.
À noite, o mar não aparece—
Então por que parecia?
O tempo... só o sentimos
Quando não temos mais.
FIQUEI SORRINDO À TOA
Te amei tanto, e você não mereceu.
Pensei em você, te dei o céu.
E já sonhei com lua de mel,
Já transformei a dor em papel
E queimei, me humilhei, te amei,
Te Sofri e adorei.
Só pra dizer o que não se diz,
Pra te guardar em um conto feliz
Dessas suas palavras, que cortam as asas
Deste seu destino sem mim
Quando fui ver, era meio-dia,
E eu já se ria...
Quando parei, eu notei:
Tudo que vivi foi longe.
Não retornei, só chorei,
E quando vi passar, levei.
Quando o "não" gritou pra mim,
Estranhei, disse que sim.
Falei baixinho: "Não era assim?"
Me agarrei na tua pele,
No teu porta-retrato.
Fiquei exausto, no seu quarto
Sem carinho, sem nada
Fiquei sorrindo à toa..
Debruço
Quando notaste minhas lágrimas derramadas,
E em teu peito debruçou-se a saudade,
E meu leitor perdoou mentiras.
Não direi o que fazer.
Quando ouvires minha voz
Sem que eu esteja,
Saiba que parti para longe, além,
Mas não te esqueci.
E atenderei, atormentarei e julgarei
O anjo claro que deixaste.
E ele foi dizer ao meu Senhor
O que dizer deste amor
Que não passou, só cresceu,
E nem mesmo o tempo envelheceu.
Cantiga antiga de amor
Só em pensar que sem você não vivo,
Fico louco, imaginando o que acontece.
Sem você, envelheço a cada instante,
Sinto a falta do seu abraço,
Esqueço do céu azul
E me perco nos seus olhos,
Da cor das montanhas do sul.
Lembro bem... e sinto falta de você.
Só em pensar que um dia posso te perder,
Ao te reencontrar, não vou sonhar,
Nem imaginar, nem recordar.
Sem sentir seu cheiro,
Sem tocar seus cabelos,
Sem o tom rosa da sua pele,
Esquecendo do sabor da sua boca,
Estremecendo meu ser.
Só em pensar em um adeus,
Meu peito arde,
Se renova, se revoga,
E volta a arder.
E assim escrevo,
E me perco ao lembrar
Do nosso amor, ao chorar.
E ao invés de apenas emocionar,
Amo mais você.
Um barco com 7 velas
Ontem se via um barquinho,
um barquinho com sete velas.
E nele eu sempre revia
minhas poesias e novelas.
Um dia, o barquinho afundou,
e nesse dia o sol não brilhou.
Mas ainda estava claro...
Claro, o dia raiou.
O barquinho branco era pequeno
para carregar as sete velas.
Nele, eu costumava acender
outras chamas para iluminar o dia.
O barquinho, a cada dia,
navegava sozinho no escuro.
Por setenta anos à deriva,
parado, mas com destino,
viajava em seus lindos encantos.
Aceitação
Eu simplesmente aceito
Eu não vou contra tudo
Eu simplesmente aprovo
Eu não contra o mundo
Posso reclamar, reencarnar, posso ficar morto
Posso continuar exposto, mas algo eu tenho
Tenho medo do nosso amor
E amo ter coragem de amar
Quando o sol reflete em sua pele
E o dourado cria cor, meu amor
É com certeza que falto morrer de beleza
O sol que bate em sua pele nunca envelhece
Falta a flor de tudo, de Deus e do mundo
Pra nos cobrir, haja paciência coberta
Uma pessoa não descoberta
Pra não perder o perdão
Quando maldoso seu nome
Falo que tudo encontre
O que é melhor em sua vida
Peço que seja assim, seja minha princesinha
Quando você falta a mim, peço que seja sim
O que sair de sua boca, olhas nos mesmos olhos que olhas
E julga, e que pouco me nota
Eu sou assim, sem louco fim
Saudade
Hoje é 21 de março
E a cidade entoava, em tom maior,
Os acordes de um futuro promissor.
Recorda os dias de luz? Ah, que saudade!
As ruas ressoavam igualdade,
Era como se a vida soubesse esperar.
Nossas promessas eram bem firmadas,
Nem notávamos o tempo em caladas,
Palavras que se perdiam pelo chão.
A mesma saudade era tão serena,
E além, despontava, na pequena
Janela, um horizonte de inspiração,
Um coração sem medo.
Meu amigo, ainda há uma esperança,
É preciso resgatar a confiança
E cantar para nunca se esquecer.
Junção
Ah, o coração é a junção
Do perdão e do pecado
Ah, sigo feliz, sem fazer parte
De um terno associado
Mas sigo assim, sem nenhum fim
(Arruinado, mas encantado)
Sim, digo que sim, sem nenhum rim
Mesmo assim, sigo acordado
A felicidade é a complexidade de perder
É preciso passar pra sobreviver
Vi a mensagem e a notícia no meu rádio
No anoitecer descobri quem estava errado
Já que a felicidade é uma homenagem
De Deus pra nós
E a sinceridade é a mocidade
Dos super-heróis
Que coexistem em nós,
Sem ter um “nôs” na cabeça.
A finalidade
Que minhas poesias
Lhe façam chorar um dia.
Que minhas poesias
O façam sentir faltas minhas.
Que essas letras
O contentem ao sentir saudade.
Que saiba: o que sinto é tão grande,
Que me prende em casa,
E não me deixaste sair
E voltar a ser quem era antes.
Prefiro então partir
A tempo de voltar.
Depois de te sentir,
Te encontro na certeza,
No motivo real da incerteza.
Onde nada aconteceu,
Apenas seguirei — com o rei,
O poeta e eu.
Marabá
Veja o amanhecer do sol,
Eu sigo assim, tão só,
Sem estar com você.
Sinto a incerteza acostumada a avisos concretos,
Que fala a verdade e gagueja, já que é gaga.
Quando o vento passa, o vento leva.
Leva tudo, todo o meu amor,
Leva, simples, uma flor.
Uma vila que encontraste,
Uma cidade pequena que amaste,
Um Pará — açaí, praças...
Quase passei de tanto ir,
E não te vi.
Marabá, encontraste minha vida?
Encontraste tua filha?
Marabá, encontraste meu amor?
Porque saiba: existe em ti
O que falta em mim.
Maléfico
Ah, maléfico coração,
Que sente amor onde não tem...
Que passa a emoção,
Sem vaivém.
Ah, estratégia do amar...
Gostaste, talvez, do mar,
E estranhaste o teu olhar?
Flor de um jardim só meu,
O que foi que eu te fiz,
Pra não me amar?
Covardia é me querer
Só como um simples amigo...
Mas não vou encarnar,
Encarar ou cantar —
Pra dizer o que sinto,
Eu escrevo...
E quando morro,
Ressuscito.
Volta
Volta de novo, meu amor,
Quero, de novo, te convencer
E te chamar pra dançar
Num bar, e, de novo, te conhecer.
Olha no fundo dos meus olhos
E vê a tristeza que eu sinto.
Olha... não digo, eu não minto:
Eu sei que só amo você.
Mas, quando eu penso em te perder,
Meus olhos se enchem de lágrimas,
E quase não durmo
De tanto pensar em você.
Veja o céu azul,
Demonstre o amor por mim.
Veja a luz branca do mar,
Sonhe — e demonstre o amor.
E sonhe com uma flor
Que um dia entregaste a mim.
Mina da praia
Mina da praia, mina de amor
Vais chorar por mim?
Mina que conheci ali,
Já sente o que senti?
Tão claro quanto preto e branco,
O nosso amor se encontrou,
Entre linhas, entre artes,
Nossas emoções se formam,
Meta ventus, lista e mar...
Meu amor, vou sempre te amar.
Mina que conheci na praia,
Copacabana, Santos, bar,
Mina que nunca mais vi,
Espero que esse amor
Não venha a se acabar.
E ao escurecer do dia,
Estrelinhas vão me dizer
Que entre mar e almirante estarão
Somente por você...
Senhor do Astro
Sempre que o sol
Vier tentar apagar
As minhas lembranças
Da noite
Quando eu esquecer,
Peço que me faça recordar
Das coisas boas e amargas
Que desconheço
Realize de uma vez
Aquilo que idealizei
E torne-me menos dor
Mas sonhe, sonhe por mim
Quando notar, tenha apenas a mim
Quando a luz sumir, escape do laço
Vier iluminar, e me perder de novo
Na flor da pele, senhor do astro
Meu Mundo
Se meu mundo fosse você
Talvez minha solidão aumentaria,
Talvez não.
Se meu mundo fosse você,
Eu dormiria tarde,
Talvez não.
Se meu mundo fosse você,
Eu ficaria triste,
Talvez não.
Se só você fosse meu mundo,
Eu ficaria imundo,
Ou talvez não.
Se você fosse meu mundo,
Eu esqueceria quem sou
Só pra adivinhar quem és,
Só pra ter o mínimo de noção.
Pra te amar, mesmo na solidão,
Deixaria minha identidade
E viveria com felicidade,
Tendo você como meu mundo.
Composição
Não importa a dor,
Quando passa,
Não sentimos mais nada,
A não ser tudo.
Quando olhamos para trás,
Vivemos há anos atrás.
Não somos os mesmos.
Não chores mais, irmão,
Que a solidão deixou passar.
Agora, não sigas a estrada.
Veja o clarão no céu azul,
Veja o sorriso de uma criança,
E veja o anoitecer na terra
Que eu mesmo criei.
E veja o anoitecer na terra
Que eu mesmo criei.
Sem o Reflexo do Sol
Esperei, aguardando noites,
Esperando você... pra me dizer nada.
Por que não me responde mais?
Me ver só te traz paz?
Quero ficar sozinho, com medo.
Não sou um homem de abraços,
De beijos e agarros —
Sou um homem de amar profundamente, amor.
As flores que entreguei, não fui eu.
Nem foram mandadas por mim.
Foram tuas…
Mas quais as propostas
Que o tempo ainda tem pra gente?
Quanto mais o tempo passa,
Mais percebo que te amo.
Uma linda garota, eu não vi…
Floreci meus sentimentos
Em minutos desperdiçados.
Com qual lógica? Não me ama mais?
Se me amou, fale a verdade.
A lua sempre apaga
Sem o reflexo do sol…
E assim, vale a lealdade.
Juro
Vem de mim, perdido coração,
Merece uma bela explicação
Para seu filho segurado.
Sua mãe era pagã,
Seu pai, ateu,
E seus irmãos estão bem.
Seu avô era injusto,
Sua avó era amiga,
Não sabe demais
Das coisas.
Sua família, antiga,
Do tempo de Adão,
E Eva é a paixão.
A cor do céu era
Prata pura e sermão.
Jurou a própria morte,
Jurado a morrer de solidão.