Victor Hugo
O olho do homem é feito de modo que se lhe vê por ele a virtude. A nossa pupila diz que quantidade de homens há dentro de nós.
A perda das forças não esgota a vontade. Crer é apenas a segunda potência; a primeira é querer, as montanhas proverbiais que a fé transporta nada valem ao lado do que a vontade produz.
As suas reflexões não eram pensamentos, o seu sono não era repouso. De dia não era um homem, de noite não era um homem adormecido.
É esse o efeito das existências esvaziadas, a vida é a viagem, a idéia é o itinerário. Sem itinerário, pára-se. Perdido o alvo, morre a força.
Mas a sua alegria apagava-se dia-a-dia, e cobria-se de poeira, como a asa de uma borboleta que um alfinete atravessou.
A lua batia nas árvores, algumas nuvens erravam por entre as estrelas pálidas, o mar falava às coisas da sombra, a meia voz, a cidade dormia, do horizonte subia uma neblina, a melancolia era profunda.
O homem, carnívoro, também é coveiro. A nossa existência é feita de morte. Tal é a lei terrífica. Somos sepulcro.
Vivamos, seja.
Mas façamos com que a morte nos seja progresso. Aspiremos aos mundos menos tenebrosos. Sigamos a consciência que nos leva para lá.
Desejo que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a desejar.
Myriel teve que resignar-se à sorte de todas as pessoas que chegam a uma cidade pequena, onde é maior o número de bocas que falam do que cabeças que pensam.