Verluci Almeida
AREIAS DO TEMPO
Os minutos fogem rápidos
cúmplices dos segundos
que passam
vertiginosamente.
Minha vida esvai-se
por entre minúsculos grãos
que escoam
vagarosamente
dentro do vidro impenetrável
por onde deslizam
silenciosamente
as areias do tempo.
SONHOS
Em que palco da vida se
perdera a minha linda bailarina
que tão famosa seria?
O mundo inteiro viajaria...
a todos eu encantaria
com minha elegância e magia.
Uma famosa Bailarina eu seria!
A dor suportei!
Cai, errei, levantei, não desanimei!
Retornei, ensaiei, acertei.
Acreditei!
Querer, poder ser, ritmo ter...
Enternecer e o mundo conhecer!
Plumas... paêtes... estrelar...
E brilhar!
Uma famosa Bailarina eu seria!
Arabesque, developeé, sauté,
penchée, grand jetés, pas-de-deux,
em meu dicionário... não mais!
- Por quê?
Sonhos!
Os sonhos me dão...
o que a realidade me tira!
Uma famosa Bailarina eu seria!
Sou dos que acreditam que a felicidade é possível.
Distribua amor, carinho, ternura, delicadezas, afagos.
Faça pequenas gentilezas. Tente fazer deste nosso
mundo, um mundo melhor! Seja LUZ!! Seja PAZ!
(Verluci Almeida)
JANELA
De minha janela
vejo a velha árvore
que chove folhas
amarelo-ouro
quando o vento
abraça seus galhos
enquanto desenho
nuvens azuis
ouvindo o triste
lamento da cigarra.
De minha janela
te procuro nas luas
nas flores do jardim
nos livros, nas canções
nas ondas verdes do mar.
Lembranças soltas
nos poemas que escreveu
no sorriso que deixou
no perfume que ficou
na saudade que restou!
Verluci Almeida
SEMPRE-LUAS
Porque em noites tristes como esta,
tenho vontade de roubar estrelas e
apanhar um ramo florido da macieira
que exala suave e inebriante perfume.
De meu jardim quero as açucenas,
cravos, lírios, violetas, rosas e jasmins.
Delas farei um ramalhete e te ofertarei
acompanhadas por nossa suave canção.
Juntarei às delicadas sempre-vivas
para que haja sempre-sol em teus dias.
Tua musica preferida e brilhantes estrelas
sejam sempre-luas em tuas noites vazias!
Verluci Almeida
LUSCO-FUSCO
Nas últimas luzes do sol
a noite se entrega ao clarão da lua
num céu coalhado de estrelas.
Não sei onde esqueci meus sonhos.
Procuro no álbum de fotografias
os amores felizes que tive
e que no tempo se perderam.
Na cozinha, o suave aroma
do chá de madressilva.
Debruçada à janela,
ouvimos o som de um violão.
- Eu e minha solidão.
Verluci Almeida
MULHERES
Advogada brilhante
médica competente
alegre balconista
exímia pianista,
eficiente empresária
modelo afamada
elegante aeromoça
culta professora
notável escritora,
sorridente bancária.
Entre todas elas fico
com a triste operária,
que mata um leão por dia
pra sustentar a família.
Dois onibus para o trabalho
almoço pronto às 5 da manhã,
roupas para lavar e passar,
casa para limpar e encerar,
o aluguel atrasado, a lista
escolar, água e luz vencidas,
telefone cortado.
- E o marido?
- Cachaça no bar -
Ela, cansada de batalhar.
- E da vida o que lhe resta?
À noite com o ator da novela
sonhar... e ela dorme feliz!
No sonho é a mais bela atriz.
Verluci Almeida
INTERAÇÃO
é mágico o instante
em que o poeta e o leitor
se encontram numa poesia.
neste momento,
compartilham seus sonhos
em uma catarse colorida.
pisam em nuvens azuis
apanham estrelas
catam vagalumes.
com belas flores
pintam um arco-íris no céu.
é pura magia!
Verluci Almeida
VENTO COR-DE-ROSA
Foi um vento
cor-de-rosa
que passou.
Suave canção
que em minha
memória ficou.
Breve história de amor.
Não houve culpados.
Apenas feridos.
Verluci Almeida
ENCENAÇÃO
coloque um pedaço
de poesia na sua janela.
entregue-lhe a entreaberta rosa,
beije-a com imensa ternura.
com seu mais belo sorriso
acarinhe-a suavemente
deixando-a acreditar
que seu amor é somente dela.
Verluci Almeida
Renda-se!
entre rendas e laços
a musica suave...
teu vinho predileto.
teus dedos em meu corpo,
nele escrevendo o mais belo
poema de amor...
Rendo-me!
Verluci Almeida
Às vezes bastam poucos minutos de escuta atenta,
para melhorar o astral de um amigo e devolver
o sorriso aos seus lábios. (Verluci Almeida)
O POETA E A BORBOLETA
O poeta escreve com a janela aberta.
A borboleta entra pelas venezianas.
Quer observar de perto as filigranas,
Que ele esparrama na página deserta.
Lembranças... fantasias doidivanas,
Suaves e doces sonhos de criança!
Relembra a bela menina de trança,
Que coloria suas horas cotidianas.
Jogos de luz desenhados na folhagem,
Fazem-no esquecer o que ia escrever.
Imagens dela, uma deliciosa miragem!
Fecha os olhos! Sorri... fica sonhando!
O poeta e a borboleta! De enternecer,
É a cena para quem está observando.
Verluci Almeida
261010
De Traças e Lembranças
guardei teus versos
dentro do livro
que se amarelou na estante
anos depois...
quando o procurei
somente as traças sorriram para mim
tuas palavras?
- voaram como pássaros -
nada mais restou daquele imenso amor!
Verluci Almeida
221106
AFINIDADES
[Para a poetisa Florbela Espanca]
Eras a flor... de todas a mais bela!
A poetisa sem sorte e em tua dor,
Viveste toda uma vida sem amor.
Triste e bela, teu nome era Florbela!
Mostraste ao mundo a tua solidão.
Tua mágoa, em lágrimas naufragava,
Teus sonetos, com lirismo encantava.
Só tu sabias como sofria teu coração.
Em tua alma de pássaro encantado,
Vejo muito do que sinto, me espanta
Coisas minhas escritas em tuas linhas.
O amor por ti almejado e sonhado
Em versos declamado me encanta.
- Que afinidades comigo tu tinhas!
Verluci Almeida
080407
PIETÀ
Carinhosamente ela o embala... mas...
Ele já não mais escuta sua cantiga de ninar.
Não vê a lágrima sofrida que cai lentamente.
Não fala e nem sorri ternamente para ela.
Morto...
Alheio ao tempo e ao espaço...
- E ela chora!
Michelângelo retratou no frio mármore
A angústia e a tristeza da Mãe de Deus!
Atônita... ela o segura docemente,
Como para transmitir-lhe seu calor.
Morto...
O Deus-Menino que ela gerou e criou.
- E ela chora!
Verluci Almeida
060407
À FLOR DA PELE
ouvindo este blues
que arranha minh'alma
sinto saudades...
de coisas que não vivi.
abraço meu joelho
e contemplo a lua
enquanto as estrelas
sorriem para mim.
Verluci Almeida
020409
AURORA BOREAL
Não há distância,
nem tempo e nem espaço.
Existindo o verso,
haverá a poesia
neste mundo de magia.
Rimas se casam,
versos se abraçam.
Pela noite...
só estrelas e luares
em ternos olhares,
poetas enamorados!
O vento sussurra palavras,
qual uma linda sinfonia.
E, de seus versos, em cada linha
simbiose perfeita!
O brilho das estrelas,
em seu olhar traz
a luz que falta fazia.
Nada existirá mais...
Somente os dois, poeta e musa
- unidos numa só poesia!
Por entre vales floridos,
sob um límpido e claro céu,
surge no horizonte
tingido por bela aquarela
um enorme arco-íris.
A primavera, ainda tímida
chegando de mansinho,
entre velhos muros, devagarinho,
de alecrim, canela e jasmim
seu cheiro adocicado traz.
...
e a mais bela aurora boreal
no céu dos enamorados se faz!
Verluci Almeida
221108
DESEJO
Fiquei ali
naquela noite fria
pensando em ti...
O vinho,
(talvez o culpado)
despertava em mim
um desejo imenso
de tua presença,
de teu sorriso,
de teus abraços,
enquanto na lareira
o fogo crepitava
e uma lágrima furtiva
de meus olhos deslizava.
Verluci Almeida
020611
SONHO CIGANO
Quem me dera os pés dos ciganos,
e as asas dos pássaros, para ir em busca
da vida que eu quisera viver um dia.
Ouviria as lendas e valsas eternas
ao som de violinos, enquanto na fogueira
a brasa arderia, entre estrelas brilhando
e um lindo luar nos encantando, eu veria
o meu reflexo no brilho de teu olhar.
Queria tocar valsas eternas ao piano,
adormecer ao cair da tarde nas areias da praia
enquanto o sol desmaiasse no horizonte.
Queria ver as palmeiras dos jardins,
os botões de rosa entreabrindo-se
na bela manhã orvalhada, entre
cravos, lírios, açucenas e jasmins.
Queria com alegria viver lendo poesia
e escrever versos de amor que rimassem
apenas com cor e flor, enquanto a chuva
molhasse as ruas e na calçada a enxurrada
levasse para bem longe os meus barcos de papel.
Queria... Ah! como eu queria!
Verluci Almeida
240305
PELA VIDRAÇA
Chove muito e as gotas d'água
deslizam suavemente pela vidraça.
Pela janela observo a mulher
que caminha lentamente pela rua deserta.
Para onde ela irá assim sem pressa?
Imersa em seus pensamentos
segue em frente e fico a imaginar
o que faz uma mulher caminhar
tão tranquilamente ignorando
a chuva forte que cai.
Seria o término de um romance,
de um belo caso de amor?
E indiferente aos pingos de chuva
que molham sua roupa, seu corpo,
segue levando consigo o seu segredo.
Verluci Almeida
250210
O TREM JÁ VAI PARTIR
(poesia onomatopéica)
Atenção senhores passageiros
Todos ao embarque...
Já vai partir!
Piuí... piuííí... piuííííí.... piuííííííííííííí
Tchac... tchac-tchac... tchac... tchac-tchac!
- Vamos Mamãe, venha Papai!
Já está saindo!
- Peguem as malas... o meu chapéu!
Vovô... apoie-se na bengala!
- Venha Vovó, te ajudo a subir
Me dê tua mão... Vamos!
Piuí... piuííí... piuííííí.... piuííííííííííííí
Tchac... tchac-tchac... tchac... tchac-tchac!
E lá vamos sorrindo felizes
Para São Paulo... passar o Natal
Com toda a família reunida!
Saudade do trem de minha infância
Que nas curvas suaves que fazia,
Embalava meus doces sonhos de menina!
- Saudade!
Verluci Almeida
200408
O VENTO
Havia sobre a cômoda, um espelho
à espera de um lindo rosto chegar!
Havia uma janela que dava para o
jardim onde as flores a encantavam!
Havia um relógio onde a vida ia em
alegre tic-tac ao encontro da morte.
Mas havia pássaros alegremente a
cantar entre as laranjeiras em flor.
- E o vento?
Ah! o vento brincava com seus longos
cabelos e com a cortina se enroscava
dançando ao som de uma suave canção
que vinha de longe, de lugares distantes!
E o vento sussurrava baixinho em seu
ouvido ternas e doces palavras de amor
que ele dizia e ela fechando os olhos
em seus lábios, os lábios dele sentia!
Verluci Almeida
200406
IN MEMORIAN
[Para Nel Meirelles]
Ao soar as horas noturnas,
Assusto-me com o som do carrilhão.
No pêndulo impertubável,
vejo minha existência esvair-se
num ritmo constante, monótono.
Escoam-se os segundos, os minutos.
E eis mais uma madrugada que se anuncia insone.
A lua testemunha o silêncio das cigarras
enquanto lembranças ressurgem
ao som do melancólico blues.
As estrelas sorriem piscando para mim,
talvez para afugentar esta tristeza infinda.
Das árvores, as folhas caíram.
Em revoada, os pássaros partiram.
- Não mais verei teu lindo sorriso!
©Verluci Almeida
211106
ENCRUZILHADA
Da vida estou na encruzilhada.
Fico a me perguntar: quem sou?
- e vendo que o que sou é nada,
queria saber onde meu sonho ficou.
Como encontrá-lo?... Onde errei?
Será que escolhi a estrada errada?
De onde vim, o que sonhei, já nem sei!
- De não o saber, fico sozinha e calada.
Se pudesse ao menos atingir este lugar
onde a gente sonha ser muito feliz enfim,
na Pasárgada de Bandeira tentar chegar!
E dos meus sonhos fico triste a relembrar
vendo que a almejada felicidade existe sim,
- apenas não a colocamos onde deveria estar!
®Verluci Almeida
140606