Vera Medeiros
Tenho admirado os pequenos pássaros...
Parado para debulhar o milho...
E pensado...
Se é esse mesmo o alimento que devo lhe oferecer.
Eles são singelos, e... vorazes.
Aprisionar uma alma...
É como prender o vento numa gaiola.
Ela foge pelas arestas...
Encontra-se com as faces...
E liberta-se por palmear a si própria.[Vera Medeiros]
Preciso dormir...
O sono não anda querendo me agradar.
Parece que está com medo de me acalentar...
Necessidade...verdade.
É um fato ...
Um dia resolvi trabalhar. Tinha 22 anos.
E Deus me ofereceu de presente a APAE.
Foi neste ambiente que percebi a importância da vida.
O sol que eu via todas as manhãs a caminho de casa já não era o mesmo.
E cá com os meus botões na mente apertando um e outro...pensava.
O que é que eu estou fazendo aqui?
Alguns detalhes eu anotei, outros eu deletei.
Eu tinha ao meu lado... seis almas.
Uma delas era o eixo.
A outra se aquecia no meu ventre.
As outras começo a descrevê-las agora... personagens desse conto.
Dara era uma dama como insinua seu nome, tinha o cabelo cacheado com uma leveza... jogado no ombro...esbelta... Epilética .
Laura tem a pele morena, cabelos negros, olhos negros como a noite... sem movimentos nas pernas... e a mente ambulante, cadeirante.
Simone um sorriso constante no rosto... a marca da paralisia na mente...e no braço.
Marcelo um menino de um metro e oitenta, cabelo liso... jogado ao vento e as unhas sempre ao relento...quando eu perguntava porque estavam sujas suas unhas, ele logo se escondia no olhar falando...minha vó não tem mais essa habilidade e nem eu. Eu fazia o papel da avó e ele ia embora feliz.
Depois de algum tempo estiveram comigo...
O Elvis que não falava, mas me olhava intensamente... eram só sinais...muitos gestos.
A Adrieli ... sem o olhar...nem sinais...nem gestos, só vozes.
E tive vivendo ao lado... bem não era bem ao lado... ele estava na minha lista nominal, e não frequentava meu cotidiano...entre aspas. A educadora dele mendigava orientações junto a mim para supri-lo nas suas necessidades em casa, na casa dele, ele tem o direito... não tem poros... a alma respira... o corpo não.
Em tempo... dependentes químicos, gays, lésbicas vem caminhando ao meu lado.
Não vejo diferença... São seres humanos. Tem suas necessidades...
É Só um fato. Quero conta-lo sempre.
Poema: Força
Esse tempo que espero...Espero por muito tempo.
Ando querendo que o tempo não seja por muito tempo.
O tempo que me envolve... É o tempo que me consome.
O mesmo que me enlaça... Embaraça-me... Transforma-me.
O tempo tem muito tempo...
Ando sem paciência.O tempo não tem o peso.
O tempo tem a força estridente.Ele me leva em redemoinho.
Em redemoinho cadente.O tempo é um monstro reluzente.
Que entra pelo meu corpo.Desliza por minha pele...
Deixando rastro nos dentes.Esse tempo que espero...
Espero por muito tempo.E quando ele aborda meu ente.
Escondo atrás da lente.Meus olhos o vê veemente.
O tempo é persistente...Enlouquece-me... Impressiona-me...
Aperta-me... Reprime-me... Aborrece-me.
O tempo faz de mim o regresso.E me apertando eu sinto...
O seu caminhar é lento.Passeia aqui por dentro sem querer menosprezar.
Aos meus órgãos quer mostrar seu acalento em tempo.O tempo é sagaz...
Malicioso... Impertinente.
O tempo quer descobrir-me...
O beijo que lhe darei apagará sua mente.
E já era... o tempo presente...
Começa um novo tempo.
Poetar é...mendigar.
No mundo das letras...
Ler com os olhos a pobreza...a soberba.
Passear pela vida com destreza...ser contundente.
É viajar pela imaginação...além de tudo...
Quero balançar no vento... da vida ...
As vezes silencioso...as vezes barulhento.
E que sempre anuncia a chegada de um novo tempo.
Alimento
Quero me alimentar da vida...
Ver... o sol brilhar todos os dias.
A chuva cair com som de maresia.
Sentir o som em suas dimensões.
E dançar no ritmo dessa melodia.
Quero me alimentar da vida...
Sentir o cheiro de uma flor.
Voar como um passarinho.
Ter olhares de uma condor.
Quero me alimentar da vida...
Sentir o gosto de um beijo.
O calor de um abraço.
O toque de uma mão.
Sentir as batidas do coração.
E não morrer na solidão.
Quero me alimentar da vida...
Brincar como uma criança doce.
Que tem sonhos a revelias.
Rindo da poesia.
Quero me alimentar da vida...
Ter sede todos os dias.
Acreditar na cura das feridas.
Que estão abertas, expostas a luz do dia.
Quero me alimentar da vida...
De a vida me alimentar.
Alimentar-me eu quero.
Quero me alimentar.
A vida alimentar-me.
Eu quero.
Parar para admirar...
O cego que não admira.
A luta de formigas esguias.
Pessoas que se acham pequenas.
Na correria do dia a dia.
Parar para admirar...
Um louco homem tentando.
Convencer-se dos seus direitos.
De amar outro homem.
Um bicho em fúria humana.
Parar para admirar...
O surdo que não ouve a melodia.
Que agora pouco eu dançava...
O som que embala os meus dias.
A diferença no rosto.
De um ser que quer ser.
Parar para admirar...
A mulher em seu dia de glória.
Em dias de alegrias.
Com a força na palma da mão.
Junto o pulsar do coração.
Quero parar para admirar...
Os bichos que vivem.
Cada qual na sua espécie.
Embelezando nosso planeta.
Pedindo socorro às vezes.
Por falta de delicadeza.
Quero parar para admirar... a vida.
A vida...não é perfeita. É curta.
E sentir dor é sinal de estamos vivos...pulsantes.
Só o tempo...sempre o tempo ...só o tempo pode nos acalentar.
São os ventos da vida ... que sentimos passar sobre a pele em sopro.
Às vezes em estado de calmaria... e às vezes levando tudo.
Até a alma...
E o vento é um elemento da natureza. Ele sempre volta.
E dependendo da estação sentimos frio.
Hoje é verão...mas sinto um vento frio ... de doer a alma.
"Que a felicidade...Seja a busca mais instigante do ser humano.
Que para tê-la ele possa se curvar aos fatos tristes com sabedoria.
Que ele aceite amar sem preconceito...
Que a música dançada por ele nesta vida, seja o som paulatino da evolução espiritual.
Que ele enxergue a possibilidade de ser mais forte ao lado de outro ser.
Que possa fazer algo para elevar o outro.
E que depois de fazer-se multidão, acolha a alma negra.
Não me refiro a cor, mas a necessidade daquelas almas que buscam a felicidade mesmo estando na escuridão do ter ou não ter".
Poema: A natureza fala
Há que se passar algum tempo na vida...
Para que possamos entender as mudanças.
Mudanças que tenham que partir de nós mesmos.
Aniquilar em nós a mania de achar que a natureza aguenta nossa hipocrisia.
Novas gerações chegando, o futuro a frente de crianças que já nascem de olhos abertos.
E nós? E nós? E nós? E nós? E nós? E nós...
Fechando os olhos.
Insensível é o ser humano às vezes ou sempre?
De repente não enxergamos o óbvio, é mais cômodo não ver.
Porque ver nos incomoda e ao mesmo tempo nos provoca.
E mudanças nascem de provocações.
Então... Silenciar
Silenciar para o lixo.
Para a árvore que implora aos homens um pouco de terra.
Então... Silenciar
Para o pássaro que busca nas águas o mergulho constante disfarçando o calor iminente.
Então... Silenciar
Para o vento que com bravura vem levando a nossa alma, tentando nos despertar.
Então... Silenciar
Para a formiga que trabalha enlouquecidamente tentando organizar o seu tempo.
Para o esquilo, morcego, marmota, ratos e ouriços que andam trocando seu período de hibernação.
Medo.
A geração está nascendo de olhos abertos.
Não é mais como antigamente.
Seus olhos falam. Seus olhos nos interrogam.
_O que você está fazendo?
Poema: Laços
O que tem no seu sorriso?
Quando eu crescer.
Quero aprender a sorrir como você.
O seu sorriso é doce.
O seu sorriso tem...
Poesia.
Segure a minha mão, ampare meu coração.
Leve-me para o mais simples cantinho.
Onde mora a emoção, onde habita uma vida.
Na simbologia do anel, em eclipse anelar.
Luminosidade solar ao redor da lua alinhada com o sol.
Encontro perfeito aos olhos dos astros.
Segure a minha mão, ampare meu coração.
Olho... Radar... Compaixão.
Criança...
Segure a minha mão, ampare meu coração.
Assim como o calor do sol.
Forte. Quente. Bravo. Ardente.
Modo afetuoso de acalentar uma criança.
Ser indefeso, sorriso aberto... Inocente.
Metamorfose, transformação.
A criança brincante... A criança insensata... Arteira... Pobre.
Pobre... Bem pobre... Putrescível.
Ao relento do descaso humano.
Escrava do capitalismo... Da rua em sua imprudência.
Mesmo assim... Leve-me para o mais simples cantinho.
Onde mora a emoção, onde habita uma vida.
A criança...
Poema:O abraço magro..
Abraço magro
Você desespera-me.
Deixa-me a deriva.
E não explica-me.
Procurei no seus braços...
Algo que preenchia-me algum tempo atrás.
Não pude dizer...
Que triste ... Senti-lo assim.
Magro ...sem carne.
De repente um vazio.
No envolver dos braços.
Nossos corpos.
E... um calor.
Fez-me achar seu abraço.
Longos minutos...
Em meio ...os ossos.
A vida...
Se é que viver assim ...seja vida.
E ela respira...reclama.
Essa vida... bizarra.
Insistentemente quer nos desalinhar.
Quer nos desapontar.
Nos desequilibrar.
Longos dias...
É vencer um câncer.
Eternos dias.
É viver assim.
E encontrar no sorriso.
Esperança.
Mendigando mais alguns minutos de vida.
Água cristalina
Um olhar cristalino.
Teus olhos falam.
Seu olhar mostra-me.
O caminho dourado.
Sinto-me abraçada...
Pelos braços dos teus olhos.
De rosto colado.
Em passos folgados...
Ouvindo a chuva agora.
E junto, a vida lá fora.
Escorre água cristalina...
Busca-me... Lá na esquina.
Quero ser mais feminina.
Trago um espelho na alma.
Quero ver-te olhos cristalinos.
Refletidos...
Olhando tranquila...
E já mergulhada no teu olhar.
Galgando no tempo eu estava.
Ao mesmo tempo em que questiona.
Suavemente teu olhar me ampara.
Pobre olhar que fitava...
E dentro das suas lágrimas... Banhava-me.
Banho-me.
Nas suas lágrimas puras.
Fito seu olhar pobre...
Questiono mesmo o tempo.
Estava eu no tempo galgando.
No teu olhar mergulhada.
Tranquila... olhando-te.
Poema: A luz da Lua
Deito-me sobre seu ombro.
Adejo as costas.
Teço elegantemente um olhar pelas curvas.
Desfaço o caminho... Já outras vezes delineado.
Ponho-me a tiracolo. Deslizo... escondendo-me do seu lado.
Friso o seu cabelo embaraçado.
Beijo sua alma... Sua casa.
Percorro por todos os comados.
Clico um botão... Meia luz... Aconchego-me.
Deito-me em seu semblante.
Danço... Os passos cadenciados.
Encontro à vida.
Tem alguém lá atrás sentado na estrada.
Observando... Vire. E mergulho em seus olhos.
Ficarei... Banhando-me.
Em águas terrenas...
A margem do rio... Refletindo.
Lembrando-te que existo... Que sempre volto.