Valter da Rosa Borges
A brincadeira nos devolve
a pureza original.
O paraíso é o lúdico.
A inocência perdida
nos condenou ao trabalho.
Só o ócio primordial
é a redenção do homem
que não soube ficar criança.
O silêncio também é voz.
É aquilo que não foi dito,
porque, se dito, era pouco.
O silêncio não se mede
pela medida da frase.
Excede qualquer semântica.
Não é dicionarizável.
No princípio era o verbo,
mas antes dele o silêncio,
anterior ao princípio.
Será que foi de propósito
que Deus fez a vida
sem propósito?
Foi o homem que inventou
o propósito da vida.
Por isso, não pode entender
que a vida é sem propósito.
E sofre assim sem propósito.
Não somos mais aqueles cujo amor
imaginou a juventude eterna.
Hoje, idosos, os corpos sem calor...
O fogo da paixão agora hiberna.
Somente o amor, essa visão interna
consegue ainda ver todo o esplendor
da convivência cada vez mais terna
em saudades diárias a compor
e recompor, história por história,
as imagens dos dias consumidos
a fim de preservar mútua memória.
Mesmo que restem fatos esquecidos,
no turbilhão da vida transitória,
jamais se perderão, porque vividos.
Tecnologicamente, chegamos ao ponto em que podemos destruir-nos completamente. A natureza não sentirá a nossa falta.
A ética se imporá naturalmente, quando compreendermos que ela é indispensável à sobrevivência da sociedade.