Valter da Rosa Borges

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Um vazio pulsante é o que somos,
vivendo na ilusão da solidez.
Matéria são vazios que colidem.
As formas são momentos do vazio.
Tudo é mudança.
Mas, o que dirige
a universal mudança do vazio?

Os mistérios são alucinógenos.
A mística é a embriaguês
de quem provou o infinito.

Inserida por rosaborges

Apegar-se ao conhecimento é o mesmo que se apegar às coisas.
Todo apego, seja de que natureza for, é uma prisão.
Quem não é livre do que sabe, não pode aprender sempre.
Sábio não é aquele que se imobiliza no seu vasto saber, mas aquele que é capaz de renunciar a tudo o que sabe para saber mais.

Quem procura sempre agradar, esquece de se agradar.

Fatos se tornam sonhos
e sonhos se tornam fatos.

Qual deles é o real?

O fato que já passou?
O sonho que ainda é sonho?

Saudade há que dura um corpo:
é chaga para toda a vida.
Sangra quando lembrada
e nunca mais cicatriza.

Pensar além das galáxias
e das fronteiras atômicas,
é o nosso único modo
de ser também infinito.

Inserida por rosaborges

A consciência sustenta
o corpo, o tempo e o espaço.
O que sustenta a consciência?

Inserida por rosaborges

Onde o sonho não é possível,
começa o território do vazio,
o oco do ser, o chão do nada,
a despercepção e a desmemória.

Inserida por rosaborges

O presente nunca é puro:
há sempre as nódoas do passado.

O tempo é a eternidade
que se perdeu de si mesma.

Não existe sedativo
para uma dor cultivada
que não morreu quando devia.

O tempo nem sempre apaga
as nódoas do já vivido,
principalmente o sofrido
e as fundas marcas do amado.

Nem o ácido do tempo
dissolve a dura saudade
em que o amor se tornou.

Tudo não pára de viver,
tudo não pára de morrer.
Eis a imortalidade!

Não há explicação para a alegria,
nem nos interessa explicá-la.
Porém, a doença, o sofrimento,
a velhice e a morte inevitável
nos fazem pensar que a vida
tem alguma explicação.

O esquecimento é maior que a morte,
porque termina o que a morte começou.

Um dia, volveremos ao infinito.
Onde estaremos? E o que seremos?
O nada do infinito não responde,
pois não há ninguém para escutar.

De tudo somos possuídos:
coisas, pessoas e idéias.
Mas só a morte nos possui de vez.

Quem morre, não sonha mais:
agora é sonho dos outros.

O vento sabe todos os caminhos,
mas não deixa seus rastros nas areias.

O espaço do passado
cresce a cada instante
pelos aluviões do presente;
Mas o espaço do presente
é sempre o mesmo.

Inserida por rosaborges

O passado tem muitas portas
e, nele, nos perdemos muitas vezes,
sem encontrar a porta do presente.

O passado cresce como musgo
nas paredes do presente,
até que não haja paredes
livres para o presente.
Até que não haja presente
e nem existam paredes.

O máximo de liberdade
ocorre na solidão.
A liberdade menor
é partilhada com os outros.
Mas, sem eles, de que serve
a máxima liberdade
estéril da solidão?