valdenir de lima oliveira
A Resposta De Um Silêncio
O silêncio me ensinou
Ter respostas pra tudo
Desde o milênio que passou
À essa geração sem estudo
Não se constrói uma nação
Só com braços no ar
E pernas no chão
É preciso que haja
Um pouco mais de cintura
Se quiser alcançar
E chegar à sua altura
É preciso que haja
Um pouco mais de perdão
E sobretudo
Um pouco mais de doçura
Liberdade é fundamental
Pois é ela quem faz
O nosso corpo dançar
E esconder a nossa loucura
É preciso que saiba
Que todo mundo é igual
E sobretudo que haja
Um pouco mais de compaixão
Pois é ela quem traz esse amor
Que invade o seu coração
Como a notícia que dar no jornal
E a beleza que traz uma flor.
A Vida E A Morte
Porque a vida
É mais curta
Que a morte?
Se as duas chegaram
Juntas no mundo
Uma mostrando
Que viver é uma sorte
E a outra querendo
Provar que é mais forte
Por quê a vida
É mais curta
Que a morte?
Se as duas chegaram
Juntas no mundo
Uma te furta
Quando vai embora
Deixando por dentro
Um profundo corte
Por quê a morte
É mais certa que a vida?
E se viver é uma sorte
Ela tem andado meio destraida
Porque a estrada já nasceu torta
E a vida uma grande iludida
Por quê a morte
É mais certa que a vida?
E se viver é uma sorte
Por quê existe a despedida?
Se o amor já nasceu pobre
E o coração uma grande ferida
Mais cedo
Ou mais tarde
A sua alma descobre
E não precisa estar despida
Nem ser ela assim tão nobre.
Felizes Para Sempre
Nos eramos todos felizes
Felizes até não saber
E tudo o que tinha á sua volta
Achava tudo tão pouco
Mas um dia a vida fez tudo perder
Foi quando começou a sua revolta
E agora se comporta como louco
E até a sua alma
Já quer vender
Felizes para sempre
A gente já nasce assim
Mas nunca fica contente
E nunca agradece o teu sim
Viver é felicidade
E isso já basta pra mim
Vaidade é pura loucura
De quem procura outro fim
Felicidade a gente faz
E não espera alguém trazer
Pois todo mundo é capaz
De inventar o próprio prazer
Felicidade é a nossa herança
Por tudo que se vive,
Que se pede, que se alcança
Tá na luta da manhã
Que sobrevive na lembrança
Tá na gruta
Tá na aba
E nos olhos da criança
E quando tudo acaba
Felicidade ainda tá lá
No espaço do recruta
E no compasso dessa dança
Felicidade tá veia
Tá na ceia,tá no sangue
Ela tá no corpo da sereia
E quando vem
É sempre em gangue
Felicidade tá no ar
Dançando salsa e merengue
Felicidade quer também
Qualquer um sem perrengues
É quer alguém
Que também saiba amar
Felicidade é qualquer coisa
Basta só a gente acreditar
E tudo que é ruim
Cabe a gente transformar
Em sonhos bons e tão reais
É só a gente permitir
Dias melhores e legais
Por aqui vão surgirem
Basta você se decidir
E abraçar todos que vierem
Como se chegassem hoje
E amanhã fossem partir.
Grão
Tudo é um grão
A vida, o amor
E o dragão
Do pão ja nem se fala
Pois pra comprar sempre me falta
No bolso algum tostão
Tudo é um grão
A paz, a flor e a compaixão
O medo que aflora
E com o tempo vem o perdão
Aqui agora é assim
Quase tudo vai embora
Até o ladrão
Que entrou no seu jardim
Pra roubar essas amoras
E saiu bem devagar
Porque tudo estava no fim
Tudo é um grão
Até a chuva quando cai
E molha bem esse chão
Pela porta a gente sai
E entra alguém no coração
É quando se conhece o amor
E não sabemos mais o que fazer
Se a gente fica
Ou se a gente vai
E fica assim dividido
Entre a razão e o prazer
O tempo é um grão
Que garoa no telhado
Quando a gente corre pra estação
E não ver ninguém do seu lado
E quase morre de tédio
Tão louco e desesperado
Com medo de perder a ilusão
Quando tudo estiver acabado
E até na farmácia
Não tiver mais remédio
Pra curar a tua solidão
Quando estiver apaixonado.
Ancestral
Chegou veloz como o vento
Assim meio que de repente
Atracou na garupa do passado
E disse, toca pra teu presente
Ele tinha a cara de assustado
E também de um homem valente
Chegou assustando a primavera
E os olhos triste daquela boneca
Deixando de lado
Toda e qualquer quimera
Atracado á minha soneca
É quando tudo parece um fardo
E o meu canto já se encerra
Chegou como nunca se viu
E partiu como nunca chegou
Atracado á meu paladar macio
E o seu corpo não me agasalhou
Chegou como uma barata tonta
Como se estivesse no cio
Por capricho ela só apronta
E o seu olhar logo me abandonou
Chegou,
Como a imensidade do mar
E foi embora na velocidade
De um vôo
Atracado á intensidade do ar
E por ruindade
Aqui nos deixou
Chegou como se quisesse mais
E rezou como se estivesse em paz
Cantou quando queria xingar
E se enfezou
Quando quis se vingar
Chegou pelas beiradas
Assim como quem vem só espiar
Fingindo não querer nada
Mas o seu olhar é de arrepiar
Sua boca parece uma escada
Onde a minha já quer se atracar.
Dom
Todo mundo
Tem um dom
E sempre da voz
Pra aquele que não tem som
Todo mundo
Tem um dom
E há de pintar
Essa vida de verde
Em vez de marrom
Todo mundo
Tem um dom
E isso não é nada comum
Não é estranho
E nem pra ter medo
Pois ele é só mais um
Á apontar o dedo
Mas no fundo também
Acha isso tão bom
Todo mundo
Tem um dom
E com ele há de ir mais além
Destacando-se na multidão
Feito uma mulher
Que se encantou por alguém
Quando ela chega
Te acenando a mão
E com a boca pintada de batom.
Caminhos Da Escola
Escondam a coca-cola
Da boca desse menino
E mostrem pra ele
O caminho da escola
Se ele não quiser
Passar a vida inteira
No sinal pedindo esmola
Leia o jornal pra esse menino
Pra que ele entende
A verdade profana da rua
Fale pra ele desse cruel destino
E que amanhã
Essa mesma manchete
Também pode ser sua
Dê pra esse menino
Lápis e papel
Antes que o destino
Vem e te faça réu
No breu malino
Desse aranha céu
Mostre pra esse menino
Que esse mundo tá cheio
De homem mal
E se te pegam na rua
Em vez de estar
A brincar no recreio
Já é chamado de marginal
E o que te acontece depois
Eu até receio.
O Seu Corpo Moreno
Eu não sei qual é a sua
Mas eu me assumo
Ser todo seu
O seu corpo é o meu consumo
E quando estar perto do meu
Ele logo se insinua
Esse seu corpo moreno
Que é tão esplêndido
E todo esbelto
E também nada pequeno
Eu vejo quando estar despido
E imagino ter você
De uma vez por completo
Quando eu te vi sair do banho
Numa tarde bem gelada
Aqui dentro de mim
Alguma coisa veio á lanho
Eu queria ser aquela água
Que pingava do seu corpo
E deixava os seus cabelos
Com aquela camiseta
Que vestia toda molhada.
Eu E Você
Vamos misturar
A nossa loucura
Pra ver quanto tempo
A gente se atura
Vamos misturar
Os nossos pecados
Como quem mistura o recado
Na boca de qualquer criatura
Vamos misturar
Os nossos olhares
Pra ver quem mais longe
Consegue enxergar
A beleza que faz o céu
E a certeza que traz o mel
Pra aquela nossa doçura
Lembrar de um beijo seu
Quero ver uma flor no jardim
E nada de dor nessa vida
E que o amor não seja esse fel
Cruel feito armadura
Quando tudo chega no fim
E aflora a nossa candura
Troca o não pelo sim
Declarando sua despedida.
Subserviência
O que a gente faz
O que a gente pensa
Quando o sonho traz
E a gente dispensa
E o que fazer depois
Pra durmir em paz
Quando o arrependimento chegar
E sem pedir licença
Se acomodar entre nos dois
O que a gente vai cantar
Quando a missa começar
Se até o padre foi se embora
Porque cansou de comungar
Ele pegou logo a sua estrada
E foi tentar sorte em outro lugar
Porque cansou
De casar aos outros
E não lhe sobrava nem risadas
O que a gente faz
Ou deixa de viver
É problema de quem nasce
E um dia tem que morrer
Talvez você
É que não conhece o seu lugar
Pois esquece no fogo o seu doce
E do meu vem se lambuzar.
Televisão
A televisão sempre veta
O que os olhos
Da gente quer ver
Porque está sempre alerta
E toda verdade tenta esconder
A televisão sempre teima
Com a verdade nunca mostrar
Todos os papéis ela queima
E os rastros tenta apagar
A televisão sempre deixa
Você imaginar o que quiser
E enquanto ninguém se queixar
Há de aceitar o que vier
E assim pra sempre vai ser
Se você nada disser
A televisão sempre se enjoa
Quando eu não faço o jogo dela
Ai é que a mentira quer voar
E arrancar o couro da goela
A televisão sempre deixa
Uma voz calada em algum lugar
Com tantas perguntas
Sem respostas
Bailando soltas no ar
Tantas propostas
Vivendo ali juntas
Num faz de conta
Ou deixa pra lá
A televisão me envergonha
E logo eu já passo mal
Ela tira a alegria de quem sonha
E acha tudo muito normal
No final só ela quem ganha
E acha que ninguém é igual.
Uns Braços
Há uns braços
Querendo mais
Que alguns abraços
Pedindo corda em vez de laço
Pra atracar um coração
Que vive agora em pedaços
Há uns braços remando
Sempre contra a maré
E uma boca implorando
O beijo daquela mulher
Há um delírio no seu olhar
Se alimentando com as mãos
Em vez de colher
Há um colírio tentando cegar
Os olhos dessa ilusão
E tudo que é sonho da gente
Tentando pra sempre tolher
Há uns braços
Querendo tocar o céu
E se lambuzar no seu peito de mel
Mas muitas vezes parece de aço
E quer abusar de mim
Um gosto estranho de fel
Há uns braços
Decretando o meu fim
Sentado num banco á direita
Julgado como se fosse um réu
Trocando o não pelo sim
Á me condenar nessa seita
E deixando perdido ao léu.
Acaso
No acaso não me cabe
Apontar o dedo ou julgar
Pois quem veio pode voltar cedo
Mas também pode ficar
Pois o acaso nunca sabe
Quem veio pra lutar
E se não luta é porque acha feio
Ou talvez porque morre de medo
E pra não derrubar
Ele pisa logo no freio
Evitando deixar no chão
Tudo aquilo que o arreio
Um dia não conseguiu segurar
Quando veio correndo
E não segurou o rojão
Tremendo feito vara verde
E quase pifou o coração
O acaso me persegue
E eu finjo que não percebo
Pois a vida é um reggae
E o que ela der eu recebo
Porque assim como a vida
É sagrada
É sacramentado á ela
Também o ocaso.
Os Olhos Da Cigana
Minha vida é uma ciranda
Sempre escrava de quem manda
Me crava no peito uma espada
Aqueles olhos da cigana
Pois de boba não tem nada
E aquela boca não me engana
Minha vida é uma ciranda
E sempre estar na corda bamba
Sempre escrava de quem manda
E quando eu pulo nesse fogo
É como parte de um jogo
No lugar que não tem samba
Minha vida é uma ciranda
Uma cidade enfurecida
Me dar voz de prisão
E faz eu beber formicida
Sempre escrava de quem manda
Esses olhos da cigana
Que são como duas espadas
No meu pobre coração.
Menino De Rua
Cai a fruta
No pé do moleque
Ele todo assustado
Já corre pra gruta
E lá faz seu ninho
Com medo que seu vizinho
Seja algum recruta
E te obriga depois
Á cobrir o cheque
Ganha a rua
O menino sem dono
Vivendo de migalhas
Muitas vezes crua
Em total e cruel abandono
Morando em barracos
Cobertos de palhas
Hoje menino bom
Amanhã é marginal
Porque camuflaram o seu dom
E não trataram ele por igual
A sociedade escondeu
As oportunidades
E só mostraram á ele
O caos nos becos
Das grandes cidades
O menino já nasce assustado
Com medo do seu futuro
Ser o mesmo daquele
Que por aqui tem passado
Tão cheio de rupturas
Que por vezes tem marcado
A vida e o destino
De muitas criaturas.
Mudança
Será que foi eu quem me perdi nessa mudança ou foi a sua mudança quem me perdeu?
Será que eu estava dormindo
Ou foi o sonho quem morreu
Eu só sei que eu vi tudo partindo
Quando aquela multidão desceu
Tinha muita gente cantando
E muita gente fingindo
O menino já vinha chorando
E a mudança estava tinindo
Será que foi eu
Quem ficou para trás
Ou foi o sol quem se escondeu
Eu só sei que roubaram
A minha paz
E tudo o que a gente viveu
Será que foi eu
Quem esperava demais
Ou foi o claro da manhã
Que dessa vez escureceu
Eu só sei que nunca mais
Eles foram os mesmos
E a ninguém mais ele obedeceu
Escondeu de mim o cais
E aquela bala de hortelã
Será que foi o destino
Com cara de gente grande
Pensou que a gente era menino
Dizendo olha pra frente e ande
Eu só sei que foi bagunça
Muita luta saiu fumaça
Ali eu conheci sua dança
Mas hoje por você eu perdi a graça
Pelo tamanho da muamba
E o teor da desgraça
Mudança esquisita
Pra quem esperava ser diferente
Se não houvesse os parasitas
Pra impedir que meu barco
Remasse sempre pra frente
Mas nem sempre é o que se quer
Tem sempre uma moda
Uma linha torta e aflita
Nessa mudança marota
De quem come a soda
Palita os dentes
E depois arrota.
Cortesia
Não quero te ver triste assim
Tristeza assim não combina
Não quero que seja teu fim
Acabar tão triste, menina,
Eu quero te ver sorrir
Eu quero te ver correr
Não quero que façam por mim
O que eu não consegui por você,
Mas me leva na tua gandaia
E me deixa apagar teu facho
Me dá um nó em tua saia
E me leve no teu requebrar,
E quando você sai
E eu não te acho
Não sei o que será de mim
Seu riso corta como uma navalha
E sua boca fala como um arlequim
Não quero te ver tão louca
De louco já basta eu
Não quero te ver tão rouca
De tanto me chamar de seu,
E quando eu beijar a sua boca
Já pode vir buscar o que é teu
Antes que eu saio de touca
Antes que eu viro um ateu
Menina linda de lança
Prazer o meu nome é confiança
Se eu te pego de jeito eu te laço
E no seu dedo
Eu coloco uma aliança,
Depois eu te aperto
Com o meu abraço
E pra sempre
Vai ficar na lembrança,
Porque é tão forte
O nosso passado
É um elo feito de aço
E por sorte
Me tem amarrado.
Quando Você Foi Embora
Alguém está chegando
E pelo jeito veio pra ficar
Um canto já vem celebrando
Com uma maneira
Diferente de olhar,
Alguém está chegando
Como há muito tempo devia estar
A vida inteira eu passei sonhando
Cheguei até sair à procurar,
Mas o vento me trouxe você
E a água fez questão de levar
Pra longe o bem querer
Onde eu não posso ir buscar,
Agora a noite
Se tornou mais intensa
E o dia não quer mais raiar,
Quando você chegou
E foi embora
Em mim nada restou
Só o olhar de quem chora,
Quem me fazia tão bem
Agora pra sempre foi embora
Um outro dia já vem
E eu já não sei o que fazer agora,
Você era minha paz
O meu sinal de alerta
Mostrava que era capaz
E agora a saudade aperta.
Sina
A estrada era longa
E parecia nunca chegar
Os olhos distantes
Eram aqueles faróis
Que a noite carregava
Como se o dia nunca fosse raiar,
E o vento era como os pneus
A correr macio no asfalto
É como se a brisa nunca existisse
E só o barulho pudesse escutar,
E assim entrei na madrugada
Correndo sem sair do lugar
Olhando ao meu lado
Quem sofria em disparada
E os meus olhos com sono
Já queriam fechar,
Como se perdessem o trono
E quisessem repousar.
É Tudo Que Eu Vejo
Eu vi tanta gente crescendo
E tanta gente morrendo
Vi tanto rio secando
E tanto peixe correndo,
Vi tanta água se acabando
E tanta multidão apressada
Algumas lutando por quase nada
E outras por tão pouco
Levando quase tudo,
Vi mistério gritar como surdo
E tanta promessa
Ser feita no escuro,
Vi tanta lógica perdida no fundo
E tantos rabiscos tortos
Na parede do muro,
Vi tanta bestage
E tantos outros corpos
Fazendo parte
Da mesma estalagem
Eu vi midingo correndo
Sem ter pra onde ir
E tanta coisa ele querendo
Sem saber como conseguir,
Por exemplo um pão
Pra ele estar comendo
E uma cama pra ele dormir
Tudo isso eu vejo
Todo dia com frequência
Lhe falta carinho,
Um abraço e um beijo
Lhe falta ternura
E pra quem te olha a decência,
Pra uma só criatura
Que já padece pedindo clemência
Eu já vi de tudo nessa vida
Coisas até que os meus olhos
Não queriam enxergar,
Tanta coisa estranha
Num só lugar
Todo dia me apanha
E me leva
A outra maneira de pensar,
Porque os meus olhos
Já não querem ver mais
Tanta treva
E tantas formas de penar,
Tanta loucura que só nos leva
Para trás
Nos deixando perdidos na relva
Naquele abandonar,
De quem diz adeus
E até nunca mais.
O Que Há De Melhor Em Você
O que dirá essa gente
Quando a enchente passar
O que fará a semente
Se você não regar,
O teimoso vai ser
O que você atiçar
Seja do bem
E pague pra ver
Atice em você
O que há de melhor,
Ninguém vai te amaldiçoar
Se você crê
No que faz
E a cada dia faz por querer
Ou gostar,
Irreverente é quem faz
Tudo isso por viver
Ou amar,
O resto aos poucos acontece
Basta você querer
E no sonho acreditar.
Por Você
É por você
Que eu pergo a noção do tempo
É por você
Que eu canto
sem direção no vento,
É por você
Que eu olho e a poesia invento
Qualquer forma de pensar
Até mesmo juramento
É por você
Que eu corro aonde quer que vá
É por você
Que eu mudo todas as coisas de lugar,
Mudo os meus cabelos
Minha maneira de olhar
Mudo o que se muda por dentro
Mas o que eu sinto
Continua como estar,
Mudo o meu nome
E também o sobrenome
Mudo meu telefone
Mas meu coração
Continua a te chamar
Por você eu quase não canto
Quase não olho a vida como ela é
Por você eu rezo pro santo
Pra me colocar nos pés
Daquela mulher,
Por você eu quase não janto
Só juntando o que restou
É coisa que termina em pranto
Lembrar do passado
Que você nem notou
Por você eu vou
E volto de Miami
Nesse carrossel
Que você inventou,
Nos passos que você me leva
Todo dia sem você saber
Viajo como quem vai pro céu
E muita coisa eu tenho pra dizer
Por você
Eu enfrento a tempestade
E mais que o amor pode enfrentar
O caos caótico da cidade
É luta que só tende a aumentar,
Por você eu ainda perco o juízo
Só nunca a mania de acreditar
Faço tudo que for preciso
Porque sonho nenhum
Me dar prejuízo
Por você eu trago a lua
E o sol que te faz brilhar
Faço chuva aqui na rua
Só pra imaginar você se molhar,
Faço mais que a imaginação permite
Coisa que preenche um coração
E ao mesmo tempo aqui dar limite
Por você eu sou a mão
Que acena
E ensina a multidão
O braço que se estende
Quando todos te dizem que não,
Por você ainda corro perigo
Perigo assim de montão
Como se fosse castigo
E não houvesse perdão,
Por você eu ainda embriago
Mesmo com o peito
Cheio de paixão,
É coisa que vem pra dar defeito
Quando tudo circula em vão,
Por você eu sou a favor de tudo
Menos de não viver contigo,
Isso pra mim é o fim do mundo
É coisa que me joga no chão.
Ideal
Toda estrada chega
Em algum lugar
Todo pé alcança
Onde quer pisar,
Mas é preciso
Um bucado de intuição
Uma certa locura
Um certo penar,
Vestígio de quem não luta
É o pó que escurece um coração
Como canção esquecida na gruta
Composta pra solidão
Todo estrada chega
Em algum lugar
Todo pé alcança
Onde quer pisar,
Apesar de toda sorte ser cega
E o teu corpo já cansar
Enquanto ela dança,
É sinal que as vezes
A vida escorrega
Por isso é preciso acreditar
Que um dia a gente alcança
Que o medo
É o paradigma de tudo
Quando se faz por prazer
Ou deseja profundo,
Apesar de ainda estar cedo
Muito se tem pra fazer
Apesar das dores do mundo
E também alguns credos
Caminhar sem olhar para trás
Sonhar como nunca jamais
Ideal é a lógica pra seguir
E fė pra se ter muito mais,
Nada do que foi ontem
Hoje será
Os dias nunca foram iguais
Mas nem por isso vão diminuir
Toda estrada
Chega em algum lugar
Todo pé alcança
Onde quer pisar,
Que a luta é vista como escada
Pra quem tem o dom de amar
Pois louco que é louco balança
E o resto é maneira de falar,
Lucidez é pura vaidade
Pra quem tá sem rumo
Procurando alguém pra abraçar
Rodando toda a cidade
E tantas vezes
Perdendo seu prumo,
Vivendo por acreditar
E nunca escondendo a verdade.
Um Sonho Bom
Essa noite eu tive um sonho
Um sonho tão bonito
Sonhava que gente boa e elegante
Pintava o Infinito,
Porque não tinha
Um coração aflito
E amava até os bichos
Como se fossem gente,
Essa noite eu tive um sonho
Que parecia tão real
Coisa boa sempre na frente
Todo mundo era igual,
Não tinha ódio
Não tinha dente
Tudo era tão normal
E só de paixão se queimava
Naquele fogo ardente,
Era coisa da alma
Todo mundo se amavam
E nunca escondia o que sente
Nesse sonho eu conheci a calma
E aprendia a plantar a semente
Pra vida eu batia palma
E fazia o mundo ficar contente.
Os Nossos Dias
Tem dias que a gente se esconde
E dias que a gente apavora
Que o medo é maior que o bonde
Que segue apressado lá fora,
E a vida é tão curta e passageira
E deve ser vivida agora
Tem dias que a gente é contente
E dias que a gente é infeliz,
Que o amor é tão serio e ausente
E viver já está por um triz
Tem dias que a gente é silêncio
E dias que a vontade é gritar
Tem dias que a gente é um milênio
E na vida custa acreditar,
Que o mistério é profundo e bonito
E só em Deus eu tenho fé
E acredito,
Minha luta é sempre de pé
Vou lá no fundo buscar
Tem dias que a gente é segredo
E dias que a gente revela
Que nem toda sombra
Vem do arvoredo
E nem toda paisagem
Se vê da janela
Tem dias que a gente é apressado
E dias que vivemos à esperar
Mas o presente é tão forte
E passado
Que as vezes nos faz duvidar
Tem dias que a gente começa
E outros a gente termina
Porque a vida é só uma promessa
E pra caminhar
Só mesmo uma força divina
É razão que me leva a sonhar
Tem dias que a gente é amigo
E outros é sempre sozinho
É como se a gente
Perdesse um abrigo
E tivesse que refazer essa vida
Trilhando por outro caminho
Tem dias que a gente só lembra
Daquilo que devia esquecer
É coisa que vem pra atormentar
E nos fazer enlouquecer
Tem dias que a gente sorrir
Muitas vezes só pra não chorar
Como uma rosa
Que insiste em florir
Depois de vários dias sem regar
É a vida
E o amor em prosa
Tão atrevida
E dolorosa
Tem dias que se faz comovida
E outras vezes tão perigosa.