Umbelina Marçal Gadêlha (Umbelarte)

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⁠Canto da dor

Quando a dor é muita
o medo desaparece,
e o caminho que se mostra
diante do perigo, o abismo,
passa-nos despercebido.
Quando a dor é muita
sufoca por dentro e por fora,
e o sentimento que banha o âmago
é uma amarga desesperança.
Quando a dor é muita,
a música mais ouvida é um soluço
não reprimido, é um gemido aflito
gritando forte no coração ferido.
Quando a dor é muita,
sangra o coração
e o espírito aflito
se angustia.
Quando a dor é muita
aniquila a alma enferma,
anula a razão e a fantasia,
ceifa a essência da vida.

Umbelina Marçal Gadêlha

⁠Abandona-te em mim

Abandona-te em mim ousadamente
e me confidencies os segredos ocultos
que ocupam a tua mente.
Rasga as tuas fantasias, os teus desejos,
os teus sonhos impudicos, mais atrevidos,
de palmilhar as minhas curvas sedutoras,
de contornar a minha exibida geografia.
Preenche-me todos os hiatos,
envolve-me em teus braços.
Que eu seja só tua, e que sejas só meu.
Lambuza-te na doce ternura
de irrestritos afagos e afetos.
E para sempre dentro de ti
me conserves vivendo para ti,
e que para sempre vivas para mim.

Umbelina Marçal Gadêlha

⁠Anseio

Sabe o que eu anseio agora?
Encontrar alguém
Que não me diga nada
Não me pergunte nada também
Alguém que me ofereça colo
Para eu verter todo o desencanto.
Sabe o que eu mais desejo agora?
Esconder-me de mim no interior
Do meu universo particular
Para se eu quiser chorar
Chorar até me cansar
Ou quem sabe eu possa
Simplesmente divagar.


Umbelina Marçal Gadêlha

⁠Achismo

Achei, em plena adolescência,
que vivia a maturidade integral!
Achei que adolescente eu sempre seria.
Achei que a idade jamais chegaria,
e, se chegasse, não me afetaria.
Achei que nunca me apaixonaria!
Achei que ninguém, jamais me enganaria,
e, se o fizesse, eu morreria...
Achei que, se fosse traída, o traidor eu mataria,
ou pagar-lhe-ia na mesma moeda.
Achei que a autoconfiança não mais recuperaria.
Achei que o amor não se transformaria.
Achei que professora eu não seria.
Achei que louca não seria em escrever poesia!
Achei que havia encontrado as respostas certas.
Achei que a vida não mais me surpreenderia.
Achei que não deveria ter achado tanto.
Acho agora que achei demais,
mas continuo a procurar
o que ainda não achei

Umbelina Marçal Gadêlha

⁠Alma terna flutuante

Abnegadamente eu mergulhei
plena de convicções,
às profundezas da minha alma
para mostrar as minhas cristalinas emoções.
Eu me rendi candidamente, despi o âmago,
o mais profundo do meu ser, e revelei
a minha alma original de forma integral.
Intrepidamente fui mais além e desnudei-me
do meu intelecto e mostrei avesso do avesso.
E após despir meu adverso, foram-se os mistérios.
Desfez-se o encanto e não me consenti verter
nenhum pranto para o meu próprio espanto.

Umbelina Marçal Gadêlha

⁠Canto do silêncio

Quando percebi em teus olhos
a tua cruel indiferença,
meu coração soluçou.
Balbuciou gemido de intensa dor
e a amargura me dominou.
Fraquejei diante da tua frieza,
do teu silêncio, da tua crueza,
da tua indiferença, da tua ferocidade,
do teu desamor, da tua maldade
do teu infindável torpor.
.
Senti o medo abrigando-se
em meu íntimo e naveguei
por mares escurecidos
mergulhada na aflição da incerteza.
Tantas perguntas sem respostas!
Por que finges que me ouves
Se não me escutas?
Por que me olhas
se não me vês?
Por que silencias
quando devias falar?

Umbelina Marçal Gadêlha

⁠Amor frustrado

E de repente você está amando
Um amor ardente, ousado, desenfreado.
Um amor enternecedor, escancarado.
Um amor marcante, amor pertinaz,
que seduz e apraz uma alma vilanaz.
Ardorosa paixão, enlouquecida, vívida,
Sôfrega, lasciva, vibrante, alucinante.
Você vive uma efusiva paixão esfuziante
E espantada percebe que os arroubos
que lhe devoram por dentro e por fora
são falsos assomos, escombros de um amor
que feneceu antes da hora, foi abortado.
Seu sentimento foi desprezado.
Ironicamente o amor pereceu
antes do raiar da aurora.


Umbelina Marçal Gadelha

⁠Cicatrizes


Parada diante de ti percebo-me estática.
Percebo-me petrificada, estou apática.
O sereno silêncio macula a minha memória
as ondas de pensamento rememoram
a minha história concebida por estesia.
A crua paixão me arrebatou
deixou-me obtusa, vulnerabilizada.
Buscar alento nos sonhos não materializados
Abastecer-me das palavras já não articuladas
Deixou-me miseravelmente indesejada.
Enquanto a alma adejava em sonhos
O amor envelheceu, caducou entre
as tantas noites mal dormidas,
as noites de inquietante espera,
o amor feneceu e jamais ressuscito
O tempo passou, mas não afugentou
os sinais de dor mascarados, as cicatrizes.
E por trás do indecifrável teorema do amor,
uma voz reconhecida me suplica
e a deslembrada esperança responde.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠Dentro de mim


Dentro de mim
Mora em mim uma menina
que revive com alegria
o frescor, a ousadia
e também a nostalgia
pela mocidade que findou.
Em mim mora uma moleca
sapeca que se esconde
que disfarça com astúcia
a imaturidade, apesar da idade
a abundante ingenuidade.
Dentro de mim mora uma senhora
que chora sua dor, seu dissabor
pelo que já lutou, mas não ganhou.
Já chorou, já pensou em desistir ,
mas lutou e segue em frente
seja lá para onde for.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠Dilaceração

Quando o espírito se dilacera para caber no mundo, dói a alma.
E quando a alma se aflige, as espadas laceram o seu coração.
Em sua face transparecem os vestígios de dor e prostração.
Por dentro as marcas da existência destorçam-lhe. Amargura-lhe
uma dor cruel, uma dor estranha, uma dor desmedida que se prefigura.
É uma dor que perdura porque veio para permanecer.
É anseio, é dor, é aflição, é tristeza... É martírio que faz desvanecer.
De onde vem tão profunda agonia que chamam de depressão?
Há algum remédio que a cure ou não?
Se para a dor da alma, o analgésico é o tempo
Que se esclareça ao sofrimento que o entorpecedor
chegou para sepultar a sua dor. Só que não.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠E se...

E se eu fosse o teu ninho
Tu serias meu abrigo
Seríamos um do outro porto,
refúgio seguro.
E se eu fosse música
Serias a partitura
de uma melódica canção
tocada no concerto do coração
na harmonia ritmada da vida.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠Entorpecer


E vieste melhor que nos sonhos
resplandecente, esplêndido
deslumbrantemente sedutor.
Seria delírio ou simples querer
de um breve entorpecer?
Mas quando desadormeci
o encantamento se quebrou
e o deus vertiginosamente
se dispersou. Nem sobejos ficou.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠Entrelinhas


Tu leste nas entrelinhas
as palavras que eram só minhas.
Porém, não basta apenas as ler,
é necessário as entender.
Jamais penses em falar
daquilo que não conheces,
pois, sou um livro complexo
pouco útil a quem não o sabe ler.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠Esta noite


Abrace-me bem apertado.
Um abraço apaixonado.
Esta noite não te autorizo partir. Te ordeno a ficar.
Se me deixares mais uma vez, tu vais me quebrar.
Esta noite, abrace-me, e apenas seduza-me.
Sussurre ao meu ouvido palavras impuras.
Faça-me juras de amor eterno mesmo que mentirosas.
Esta noite quero saber do teu imenso amor
Quero eternizar cada momento dentro de mim e dentro de ti
quero ser a tua febre, quero o fogo e a paixão a te consumir.
Quero sentir que sou para sempre a tua amante desejada e amada.
E amanhã quando raiar o dia, quando eu vir que partistes
quero pensar que foi apenas um sonho e que não voltarás a me atraiçoar.
Mas se queres saber, de ti, outra noite não vou mendigar
Admito que careço de me valorizar. Estimo se ficar,
Mas se partires, não olhes para trás. Até nunca mais.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠Estesia


Entre suaves acordes musicais, escondo-me exausta
da lida da vida, recostada sobre almofadas macias.
Acariciada pelo zéfiro da madrugada luto contra a sonolência
que me esgalha e a monotonia que me abate tacitamente.
Tento fugir das mesmices, reinventando tangentes,
fugindo aos padrões, às normais e às secantes banais,
esculpindo as minhas mais íntimas emoções.
Refugio-me de mim, de tudo e de todos, enquanto o lápis
traça e retraça, estraçalha a minh’ alma abstrata
fazendo surgir diversos temas, oblíquos poemas.
Sinto florescer o ardente desejo de varrer o sofrimento
que me seca e estesia pronunciando um novo acento
uma nova leitura, uma vida nova brotando no âmago.
Por alguns instantes absolutos perco-me
nas vibrações sonoras e não sinto o passar das horas.
Sinto reinar o silêncio superno que vem povoar o afã
O ímpeto estoura um bramido e punge a veia poética e o elã.
Enquanto mergulho nas palavras e escondo-me
entre pontos e vírgulas, acende-se uma luz
à minha volta que transfigura integralmente o meu ser.
e nesse acentuado instante, inicia-se
a minha existência cromática e vertiginosa.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠Fascinação


Um olhar encontra por acaso um mirar
e dissimuladamente acontece a fascinação
que excita o enfeitiçado a suspirar.
O olhar panorâmico, com o seu brilho reluzente,
rompe o silêncio repousante de alguém extasiado
e o olhar embevecido fica logo enamorado.
No peito, pulsando desajeitado,
encontra-se um coração eletrizado
como se fosse um adolescente seduzido,
mas que se trata de um ser apaixonado
pelas chamas da paixão abduzido
do estado da razão foi desviado.


Umbelina Marçal Gadelha

⁠Inexplicável


Eu, de mim mesma estrangeirada,
sigo em busca de veículos para expressar
os meus profundos sentimentos,
os meus simples e tolos pensamentos.
Reações adversas experimento revelando
cismarenta inquietação e genuína contradição.
Sigo em frente cada vez mais estrangeirada.
De tudo e dos outros, vou sempre desparceirada.
Ambivalentes sensações permeiam
a minha mente insana e a chicoteiam
com bisonha imaginação embevecida.
A minha alma é incauta, é mais que plácida,
é vulnerável, e impoluta tangencia
a incógnita que se evidencia.


Umbelina Marçal Gadelha

⁠Inquietação


Eu não sei de onde vem
tanta energia,
tanta inquietação.
A vida agitada te apraz.
O perigo te satisfaz.
Não consigo entender
o que tanto te tortura?
Se há noite, haverá dia
Se a noite é escura e fria,
o calor aquecerá à luz do dia.
Se há choro, haverá alegria.
São as variantes da vida
Que fazem magia.
O brilho no teu olhar evidencia
a intensa chama, o frescor,
a abundante seiva, a flama,
a insensatez da juventude
que explode e expande-se
dentro de ti e te suplicia
em várias nuanças.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠O que guardastes?


Por simples curiosidade
O que guardastes de mim?
O tom enérgico?
A amizade? A ternura?
A solidão? A desilusão?
Que pena!
Por que não guardastes o meu amor?
Se foi por ter-me ferido a alma;
se foi por ter-me ouvido sem me escutar;
se foi por ter-me usado, me esnobado,
esqueça, para sempre, esqueça.
Para mim, o que realmente importa,
e encontrar-me muito além
deste mundo vil,
é saber que já não me podes alcançar.
E mesmo que desejasses,
os meus mortais silêncios
não conseguirias ouvir.
São surdos os ouvidos
e mudas as línguas
das paixões vencidas.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠Paquera


Veja só no que dá uma paquera!
Um olhar, um sorriso, um aceno
e, de repente, você mergulha
num mar de quimera.
Um pensamento persistente lhe envolve a mente
E a fixação revela sem segredo a recente expressão.
A emoção oscila e vibra em você intensamente
Evidenciando o frenesi de uma palpitante paixão.
A poesia brota no olhar e afugenta a monotonia
do dia a dia do ser enamorado, por isso, fragilizado.
Mas o coração arrebatado, palpita em sintonia
fantasiando um amor tangível acentuado.


Umbelina Marçal Gadelha

⁠Pousei em você


Pousando em você
labaredas de saudade
crepitam meu peito ofegante.
O coração pulsa descompassado.
Aprofunda-se a noite e logo
Vem a fria alvorada
Enamorado, o coração continua a palpitar
E mesmo em chamas, não consegue esquentar
a solitária madrugada.
Procuro pelo teu peito nu
Ardente, receptivo como és tu
Mas lá não estás, pois flanas
pelas vias noturnas
à procura de novas aventuras.
Em irrevelado desejo
O coração enfeitiçado explode de paixão
gritando silenciosamente o teu nome
Em inaudível voz do trovão.
Espero-te com emoção.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠Querença


Visto máscaras e máscaras tiro
expresso um rosto indefinido.
Fugindo de um olhar perquiridor
um riso esboço, um riso descontente,
um riso debochado, um riso carecente
de apreço, de afeto e de ardor.
E o sorriso é um lampejo de querença
que a fragrante existência exige.
E aí me apertas em teu peito arfante
e me voltas o teu olhar tenaz
buscando o meu olhar fugaz.
Meu frenético olhar se enleia
e reluz o amor que me incendeia
inebriando minha alma sedenta.
Alma saciada, esboça-se um novo riso
agradado, animado, apaixonado.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠Saudade


O tempo não me reservou passagem de volta
E amanheci com saudades.
Saudade de mim,
Saudades de ti,
Saudades de nós.
Saudade alojada longa
Saudade acomodada oblonga.
Saudade do teu beijo
Saudade do cortejo
Saudade de fazer um acordo com a vontade
de acarinhar, de apaixonar, de amar.

Umbelina Marçal Gadelha

⁠Saudade de mim


Hoje senti saudades de mim
Saudade do que já fui
Saudade de não ser sempre sim
Saudades do que seria e não fui
Saudade de ingenuidade
Saudade de reciprocidade
Saudade de acordar sem problemas
Saudade de não me afogar em dilemas
Saudade de adormecer amando
Saudade de amanhecer fantasiando
Saudade de ousar
Saudade de estesiar
Saudades de não me incomodar com a vida
Saudade de ser bonita
Saudades do colo de mãe protetora
Saudade de minha maior defensora
Saudade de me abraçar por dentro e por fora
Saudade de quem o tempo levou embora.


Umbelina Marçal Gadelha

⁠Saudade

Saudade, uma palavra abstrata
no sentir uma dor imensamente concreta,
mas tão abstrata no definir.
É indefinidamente concreto o vazio
que sufoca o peito e afeta a alma.
Saudade é uma adaga que golpeia cortes profundos.
É uma chaga aguda que chega a queimar
como fogo em chamas arder.
Saudade é suspirar, é gemer,
é querer, é temer, é sofrer. É frenesi.
Chega sem ser convidada, apodera-se
do coração e da mente, ilimitadamente.
Saudade é percorrer uma estrada vazia
antes já conhecida de alguém,
sem encontrar o elo perdido na vida.
É chorar a ausência de alguém.
Saudade é uma dor silenciosa,
a dor mais profunda que há,
pois dói sem mostrar a ferida
que amarga escondida dentro do peito
deixando a carcaça à vista, erguida.
Saudade é tudo e é nada.
Saudade é amargar a ausência
de alguém a quem se quer tanto bem.

Umbelina Marçal Gadelha