Tiago landeira
Sombra de mim
Esta terça que vibra entre minha razão e emoção me torna um espectador da minha vida a ponto de admirar-me.
Me constituo sem alcance de qualquer perfeição, julgando qualquer atitude equivocada. Existindo dentro de mim sem respirar como se o meu ser isento do racional, fosse um estado de descanso.
Me vivo para a surpresa e perdido ou obstinado, sem diferença, tenho um tema pra seguir no presente que no sonho ou na dor se apresenta. E mesmo coagido, amedrontado pela ansiedade de cada dia em ser julgado; triunfar incrédulo por não esperar por quem a mim preze ou pelo momento de ser exaltado.
Ao que merece minha concentração, meu tempo empregado e minha causa que pode até ser ao nada comparada, justifico meu ritmo e devoção sem ter de explicar qualquer parte desse particular tesouro.
O lugar que me eleva para além da falta de qualquer outro ganho ou qualquer perda é como um lar. Chego lá quando me sento e nem imagino. Onde posso sentir o cheiro do céu. Chego lá quando penso que não posso abandonar as últimas palavras reunidas sem capricho. Quando a importância do descanso não é maior que a da reflexão.
Vou até lá quando me vivo e me amo considerando que só tenho isso. Quando faço o caminho de volta que me levou a queda. Retorno para o íntimo. Para o absurdo milagre de insistente felicidade que arde.
Questiono a mim cobrando argumentos. Não é de graça ou sem preço que se obtém alguma felicidade e não concebo amanhecer com tanta estando rodeado de despropósito, perdido ou obstinado por alguma falsidade. Sem qualquer falsidade.
Erro, critérios, vaidade. Banal e carne, a vida completa com os dois lados da moeda. Escrever por odiar, amar para morrer, jogar contra o irmão. Errar, errar, errar... E ter perdão.
Para o divino, acredito ser a minha melhor e suficiente oferta. Eu acredito. Eu erro.
Por sobre o fio
O fio entre duas pontas. O nó no meio. O coração.
A ponta. Oito vezes distante. O canto.
De lá pra lá elas dizem sobre o amor constrangido.
Se ocultado na sombra dos sorrisos; Se escondido atrás do olhar brilhante.
Dor e dor
Sentir frio. Não tocar segundo a mão.
Taça cheia. Rolha retirada com parafuso.
Rudeza penetrante na doçura.
Quarto dilatado em desconforto.
Descortina-se a quinta. Sem lua; um céu em prantos.
A sesta, após o prato raso que oferecia amor. Alimento sem cheiro.
Dias e dias a pão.
Sem temas; sentidas palavras ainda desejo ter na vida impensada para dois.
Ou tentar sem calor; Sentir paz.
Testa
Não mexa no meu rosto menino... Vai riscar.
Cinza de testa com a mão é pra nunca se apagar.
Cega do olho na hora de acordar.
E de resto, se presta com o tempo tentar, olhar pro teto de instante em instante que de tonta cai e coloca outra cor naquele mesmo lugar
Fogo (resumo da obra)
Azul. Amarelo.
A luz se faz de todas as cores
Todas as cores fazem o dia
Amanhece fogo
Nasce o dia
O fogo e o dia...
Palavra quando alma
O Nome.
Existir são palavras.
Instante, cena, ação. Associação.
De observar, se captura.
Qualquer algo arranca uma impressão.
Faz linguagem. Mais toque, mais sentido.
Minhas sombras no entendimento. Palavras alcançadas do dia.
Se não escrever não me construo n’alguma parte. É tão profundo aqui dentro que não ouço o gotejar.
É vital dar um nome pra algum sentido que chegou. Explicar, entender, captar, colher, comer, sonhar.
É vital. O momento de sentir transitar todas as sugestões dentro de si.
E sinto o poder do tempo não me tocar quando estou cá comigo.
Mesa posta, eu vim e sentei. É pra isso que existo agora.
Eu apenas alma como a palavra apenas significa.
Dia
No tempo chega cada dia.
O pão de cada dia, na manhã daquele dia.
Todo dia espera outro dia. A loucura de cada dia.
Na fartura de horas, tem o segundo a mesma espera cada dia.
Morre o dia por todos os motivos de se morrer de cada dia.
O passado é hoje o que foi um dia. E hoje é mais uma vez novo dia.
Olhos apagados
Está escuro aqui.
Está escuro e silencioso.
Medo nas mãos; nos dedos. Receio de tocar.
Faz-se um barulho cego.
Sob o domínio de fobias, abre-se a porta do imaginário.
Vendo o que não se apresenta, o escuro é uma fera de garras recolhidas.
Uma massa negra de ouvir gritar de dentro a própria voz:
- Condenada, não morre a alma.
Caos
Correr, correr, correr o que? A multidão. Cantar os hinos. Caçar Promoções. Saúde pública distribui vacinas em larga escala. Maratona. Qualquer lugar tem tudo. Tem gente. Tem mundo. Pressa de sair. Se afastar dos olhos. Nunca dos olhares. Pressão.
Correr, correr, correr o que? A mão única. Os olhos no asfalto.
O grafite no papel, antes de dar as costas, com um aviso. A deus sempre.
Para deus todo o mundo, os restos mortais e o sacrifício. Adeus!
Correr, correr, correr o que? De saída pro mundo dentro d’uma bolsa. Levar quase nada. Mandamentos práticos de suporte pro caso de não saber sobre a própria vida. Suporte o mundo. Leveza é mais um peso.
Correr, correr, correr o que? A corrente. Carrega a própria âncora o navio. Vai livre e seguido.
Em elos fluidos transita a liberdade enfileirada. Passa boa parte dela por entre poucas e incontáveis passadas. E a consciência livre determina qual será o próximo passo. Livre e seguido.
Não cabe a mim correr o que caminho.
Confesso
A foto, o som, uma particular luminosidade, me desviam em suas qualidades. Assim eu sou bobo. E creio em Deus e no sol.
O pensamento me fala de outro tempo, outro espaço. Por vezes não entendo e se pertencer a mim, também às vezes parece não pertencer; como se em buscas próprias trouxesse coisas de fora, alheias a minhas ordens, de maneiras invisíveis.
Nele guardo o passo dado e a esperança. Guardo a mim e me encontro lá sozinho quando me chamo.
Enquanto vou, minha busca chega e correndo logo à frente estão minhas intenções.
A minha cautela tem freqüência errática, igual vôo de borboleta; anda trêmula de braços dados com a dúvida que balança meu equilíbrio.
Minha maldade sem forças pra resistir, vive de persistência.
Meu desejo de às vezes não estar aqui pode ser o meu mais profundo, mas sempre que olho pra ele, sinto meus pés pisando no raso.
Escrevo e gosto de palavras, saber dizê-las, entendê-las mesmo que dentro de minha própria sanidade. Falam sempre de perto como se tivessem do lado. Me sinto acompanhado.
Assim nascem meus fracassos: acredito poder mudar o mundo. Me vejo destacado e essencial. Eu, o primeiro convencido. E único. Assim falo por minhas ideias. Precisam sair e só saem se ditas. É inquietação.
De compreensão ao alcance; polidas e prontas para serem absorvidas; me contam que em minhas medidas tem algo que pode caber no mundo.
Me defendo achando graça e coleciono mais um fracasso até que eu veja em alguém qualquer delas e já sou muito mais feliz que triste.
Minha cara não muda se perco. Eu disfarço.
Minha cara muda quando saio do pensamento e esqueço do brilho, da cor e das palavras.
Se não me encontro, poderia ser qualquer coisa. Até ser triste.
E tristeza é ruim como preguiça de levantar, indisposição de explicar. Uma doença que deixa de cama, mas que em poucos dias vai passar. Como impaciência.
Sou bobo; outro dia inútil; outro dia, inofensivo e feio; outros sou falso, ou chato. Sou vários. Todos os dias sou eu. Mesmo os que sou menos eu. Nestes, com um “mas” e algo mais, me ressuscito e volto pra perto de mim, culpando meu coração por desmentir quem sou justo quando me pensava sabendo.
Página em branco
Me vejo sentado em frente a um piano maravilhoso que me faz companhia calado.
De repente eu sou essa janela imensa ao seu lado.
Se tiver frio lá fora, olho pra dentro e me aqueço na sala morna.
Se perceber o jardim vivo e ensolarado, me volto pra fora, vejo o verde, respiro o ar fresco e me alegro.
Vou esquecer meus passos, relaxar e não procurar pela hora que dei o primeiro choro, a hora que abri o olho, a hora que sorri primeiro. Com o que foi? Onde foi? Não interessa mais... Meu riso não tem mais aquele mesmo motivo.
Hoje falo e escrevo e por causa de tudo isso meu deus se transforma aqui dentro de casa.
Amanheço feliz tantas vezes que poderia dividir com meu pai. Partir a laranja, tirar uns gomos e, enquanto comemos, conversamos.
São tantas portas e janela que tem no outro.
Cada uma que se abre traz vento; sentir isso desperta qualquer coisa. De calafrios a qualquer cheiro.
Dá pra saber se está ou não chovendo, se tem ondas, se ainda é dia, sentir frio... E daí é julgada alguma realidade, e existe um mundo pra isso e você está nele, e você sabe o que está sentindo, e isso é brilhante e você pode estar enganado quando mais uma vez percebe que amanheceu feliz.
Quanta loucura forma um homem. Quantos barcos pra alimentar uma mesa.
Sem limite vai tudo andando pra frente. E o mundo mudando em páginas em branco.
Fofoca filosófica.
“Ao que tem de ti em mim, serei atento. E ao que não tem, serei ainda mais atento.”
Refazer os caminhos de longe. “Pergaminhar” os territórios.
Seguir com o olho a costa do outro enquanto vai.
Reparar a vida alheia mostra o quanto estamos vivos.
Veja uma vila em pleno qualquer dia.
Chega o fim da tarde entre os portões que se avizinham.
Girar a voz perto, dentro da roda formada.
- O vestido dela tem as cores do brinco de Estela.
- Julgo o Nino não ser o mesmo como outrora tenha sido.
- Repare que as pessoas juntas são a mesma em tempos diferentes.
Concordam no tocante da conversa e cantam risadas na prosa.
Discorre-se a pauta que, por conta, conta os casos mais que as contas do rosário esquecidas, mas firmemente seguradas entre as mãos, como em pleno qualquer dia...
Vão-se essas pérolas de meu prazer. Raras concepções de momentos.
Simplesmente por eu relaxar e crer que elas retornarão em outros ventos.
Eu secreto
Acorda do nada.
Me cala quando me diz...Quando me digo.
Estrondo; barulho; ruído.
Me ensurdece e surdo escuto essa voz... E me mudo sem fala.
Me reconta pra mim. Me sofre. Me conclui versões.
Me mato por não duvidar.
Árvore sem fruto... Só sombra produz.
Nada me enxerga. Nem olhos brilhantes.
Existe vivo por não existir em outro; por nunca, nem por acaso, terem me dito.
Rio cor de rosa
Meu ritmo espera.
De uma vez chega tua alma em repetições, se vendo passados, repassando passos. Se vendo castigo.
Entre tuas sombras a cor da tua vida se altera e me acelera em teu interior.
Corro sobre teu rastro de manchas. Riacho de rosas.
Um choro desaguando um turbulento rio.
Teu ritmo é luta entre os teus equilíbrios.
Faz de você, ao meio, pura batalha.
Teu ritmo é mudança.
Te reconheces aos poucos sempre que acordas. Mudas.
Descanso é acordar o avesso. Despertar o outro lado de onde te encaras pesadelos.
Sendo descanso mais um desejo de, a si mesmo, não ver.
Vive outro sonho a tua realidade.
Reconhecido por tuas entidades, te ergues lado a lado montando paredes.
Tua prisão. Tuas faces. Tuas vezes.
São loucuras e se mostram você condenado por elas.
Medo, recalque, repressão.
Nem a morte é uma ameaça. O que sou é minha própria ameaça quando decido se amo mais a mim ou o meu apego.
Me enganam todas as falas do ego. Assim vejo nascer o dia.
Caminho revelado entre espinhos.
Vigilância incansável do espelho. Doer um riso que não convence primeiro a mim.
Levar as culpas para o sonho. Ofender a paz nas mãos de alguma ilusão.
E me descubro adormecido perto de um louco com o mesmo nome que o meu.
Eu era sonho. Desconstrução urgente do meu mundo.
Por mim mesmo, só respirava. Todo o resto era você.
Perdido no teu olho existo mudo esperando ouvir resposta.
Tendo a única fonte. Teu rio.
Circo
Nos acordes da sanfona se via as cores da lona do circo...
Todo o lugar era como uma pintura bonita em giz de cera.
Remontava uma afinidade antiga de brincadeira.
Mágica de dia feliz.
Dançava, sendo eu as mesmas cores do acorde da sanfona.
Sorria, e era eu as mesmas cores da lona do circo.
Brincando de fazer pedido de sonho impossível.
Confiante naquelas estrelas estampadas no céu logo acima de mim.
Jeito de ser feliz
.
Tem um jeito de ser feliz nas descobertas, como encontrar numa música um achado fantástico como sentiu um dia o explorador que chegou naquela ilha cansada de ser buscada. Ganhar o mundo por pelo menos 5 minutos.
Tem o jeito de ser feliz acompanhado, como naquela mesa de café da tarde que sua avó se empolga falando da juventude e você acha tão lindo que não quer que nada interrompa ao ponto de lamentar pela tarde ter fim.
O jeito de ser feliz sozinho. Estar com seus botões; se dar bem mesmo depois que o plano A, de ir à praia, foi boicotado pela chuva e já que ficou em casa vai arrumar o quarto ouvindo as músicas que gosta. Quando se percebe está cantando alto com uma ótima disposição gratuita.
Tem o jeito previsível e, por isso aguardado, como o regresso pra casa depois de um dia inteiro de trabalho onde as melhores e mais simples coisas estão ali colecionadas e ao alcance; a alegria do seu cachorro; o banho demorado; mais um episódio da série; a receita, o fogão e todos os ingredientes...
Tem aquele jeito de ser feliz construído, como uma arte que se aprimora. E você descobre a sua arte, se realiza ao mostrá-la como um carimbo de reconhecimento próprio e entende que pode ir adiante ao seu tempo.
Tem o jeito de ser feliz de saudade, como daquele veraneio que se repetiu por anos, tinha o mar todo dia, os primos distantes, as conversas de assombração, picolé na praça e o dia inteiro de sunga.
Tem também aquele jeito de se ter felicidade que chega numa explosão de euforia, como acontece logo depois que se aprende a dirigir e no carro da mãe você junta a galera pra sair, ouvindo música alta e rindo com pouco. Todo mundo fala alto sem se incomodar e a parece que a liberdade nunca esteve tão perto.
Tem o jeito suave de se ter felicidade, como adormecer na rede da varanda refrescado pela brisa que trás sonhos levemente alaranjados vindos da pouca luz do entardecer.
Tem aquele jeito de se ter felicidade que com o tempo se torna comum, mas ninguém quer que se acabe nunca, como quando o trabalho que se faz é um prazer diário e dá muito mais sentido e segurança sobre o que se é.
Tem o jeito de ser feliz vindouro; chega num futuro bom, como descobrir que aquele seu conhecido “joga no mesmo time” que o seu e por isso passam a freqüentar muito mais a vida um do outro ao ponto de serem amigos.
Tem ainda o jeito de arriscar a felicidade, como quando vemos em alguém uma aproximação que tem as melhores chances de amor e brincar com o destino se vendo mais forte pra tentar tudo de novo.
Pensando nisso tudo, penso em ter mais atenção na ordinária vida. Pode ser até só o que se precisa.
Com ciência
Preciso frear o carro.
Chegou o momento de falar com você.
Só a consciência é quem vai seguir agora.
Vamos sair daqui dessa roupa. Crus.
Só assim que se pode lembrar o vento.
Como vai tocar meu corpo? (Havia esquecido essa intimidade).
Bem, pergunto pra minha inteligência estúpida, carente da atenção dos livros depois.
Agora te vejo meu eu que nunca nasceu, mas que sempre foi o miolo da coisa toda.
Venha pra fora! Saia do seu átrio! O mundo é só um cômodo.
O nascimento acontece uma vez da mesma forma que cada idade.
Ambos são puramente descobertas.
Vai ter de tocar nelas e às vezes vai sangrar.
Venha aprender a julgar o belo.
Partir corações, Discordar dos pais, e brigar com os amigos. Nessas horas o amor cuida de você.
É preciso existir e não se preocupe; você não será percebido.
Apenas pelas árvores do passeio e pela grama pisada.
Vão te olhar e ver uma máscara, estará bem disfarçado de si mesmo.
Você vai gostar, só não se acostume a gostar; lembre que não dá pra voltar quando a coisa toda começa. Vai ter que ver o fim acontecendo e pode causar certo incômodo.
Melhor ser cauteloso.
Praticamente é sempre assim: Subida. Tempo gera experiência e experiência eleva sempre. Oxigênio, por motivos óbvios. E água, muita água. 1litro e ½ ao dia no mínimo.
O resto também tem de sobra. Supérfluo não falta lá fora.
Ah... Posso procurar em algumas gavetas, são elas que guardam os segredos.
Deve ter algum método guia esquecido pra te ajudar.
Vou precisar ascender a luz. Dói, mas é só apertar um pouco os olhos e a vista vai acostumar.
Nossa! Quantos brinquedos egoístas colecionados com devoção, eu bem devia saber que aqui estaria propício a isso mesmo, mas também sei que não se vence a surpresa quando ela vem. Pelo menos gostei daquele ali, o palhaço traído de riso gratuito.
Dentro do cômodo entupido de tantos anos passados;
Parede, chão e teto são o que mais se tem de cansado.
Ali só a janela se renova e é isso que você nunca entendeu. Mas é porque vem de fora pra dentro. Logo tudo estará esclarecido.
Vê-se o mundo, mas não dá vontade de sair eu sei. No começo é assim.
Mas as suas lembranças estão lá viajando e rápido.
Só passando sempre. Sua história também está por lá e infelizmente vai precisar de ambas. Não se existe sem a própria história e lembranças.
Infelizmente não encontrei o guia, mas lembro que lá dizia pra deixar tudo rolar. Ou será que escutei alguém dizer isso? Enfim... De qualquer forma, assim tenho feito algumas vezes e acredito que valeria pra você também.
E quando acontecer alguma coisa procure só assistir.
Participar quase sempre é mais caro e nem sempre compensa. Enquanto não souber avaliar, assista. Não se pode desperdiçar quando não se sabe o que tem.
E sim. Vai ter sempre de esperar tudo; tanto a vez, quanto a véspera.
Engraçado nunca foi, mas dá pra achar a graça de repente.
Partir sempre obriga carregar muito e perder algo. Nada que impeça de atravessar os lados.
Vamos hoje, te acompanharei até na solidão.
Vamos hoje, mesmo eu não tendo dormido direito.
Não estou reclamando, mas desculpe se me tornar um pouco ausente pelo cansaço de algum momento; além do mais, o pensamento me chama a atenção pras coisas de lá do lado de fora.
Uma última coisa; grita! Dança! E corre sempre que puder; é um bom sinal pra encontrar seu rumo. Não se vai apenas caminhando e pra tudo isso também existe estrada. Segue, segue e segue mesmo que lhe falte a sorte.
Lembro bem que veio dela todo o motivo da tristeza do nosso palhaço traído. Ainda assim ele nunca deixou de sorrir. Penso que a felicidade dispensa a sorte. Ela é dona de si e voa livre.
Tive que aprender isso antes de vir aqui te buscar.
Passos
Recebo um espaço pra criar mais de mim.
Encontro as quinas, dimensiono as bordas em palmos e imagino o desenho.
Mas já no começo do traço chego perto demais de outra idéia e agora, usado já está o espaço.
Passado não apaga e sei que logo tenho um novo espaço por instante.
Recomeçar é fácil quando tenho apenas que repetir o traço, retomar de onde parei e só seguir por um fim.
Traço pensado; palavras nascidas. Imagino o desenho.
Passo dado que no contato, já busca o seguinte que pede pelo próximo...
Então me encontro percebendo que a ninguém sigo e que sou eu o caminho. A frente só vai à espera de um fim.
Já sou outro rumo quando parte o passo dado.
Assim o sonho está refeito e a ideia mais próxima é o que de mim está ainda para ser.
Emudecer
Murcha a voz
Despetala dentro da alma
Sussurrando delírios e sem olhar
Calando...
Tristeza poente
Partindo em esquecimento
Distante na noite do deserto
Sob o azul
Conto sobre o azul por sobre pautas azuis.
Enxergo alto, de onde vem a cor do mar e assim falo de lá.
Se falo do mar, molho meus medos, já o céu me leva com eles esquecidos.
Deitado, navego seguro.
Firme no meu chão adentro abismos, espumas, vastidão.
Mesmo ambos sendo o mesmo; perto de mim está o mar. Mas sempre em meus melhores sonhos, estou a voar.
Primeira Manhã
Lá em cima vai estar lindo...
Já me encontra o sol.
Sim, aqui em cima tem a primeira manhã.
Espelhando as nuvens por cima.
Acordando, antes das palavras, o canto.
Trazendo a cor para apagar a luz acendida quando me vejo tarde.
Repensar a esperança no significado que chegou.
Me sentindo cedo de vontade amanhecida que vem na vida da primeira manhã.
Imediatômico
Pensamento
A precisão de dizer mesmo as urgências da necessidade.
Comer; beber; contar.
Antes, pensar. Pensar água e copo. Pensar seco e sede.
Água se bebe. Copo se enche. Cheio por não transbordar.
Pensar o gole, como dormir sem esquecer-se de respirar.
Ir longe se vendo de volta.
Pensamento
Voltas repassando as ordens para acontecimentos. Iniciativas reais, de jura ou de desejo.
Pegadas, velozes trilhas e extensos campos abertos estendidos em quilômetros no olhar.
Sendo o agora, momento que mais cedo está posto; cobra-me antes, por viver e ser urgente, o pensamento.