Tiago landeira
O verão traz consigo seus dias abertos e ardentes. Dias laranjas de um sol que parece estar a pino desde muito antes, até muito depois do meio dia. Se denuncia na cor da pele.
- verão é vapor.
A primavera traz consigo seus dias delicadamente aromatizados pelo hálito das flores. O canto dos pássaros é uma prece matinal cheia de gratidão. Romantismo e libido se encontram nos abraços.
- primavera é cio.
O outono traz consigo os dias largos de tardes eternas que combinam com chá. Os ventos cirandam nos parques despindo as árvores de suas folhas. Os últimos frutos não resistem mais em cair.
- outono é vertigem.
O inverno traz consigo seus dias brancos. Dias que pedem mais cor, que combinam com lenha e nostalgia. A solidão é mais um pretexto pra abraçar a si mesmo. O frio cala a cigarra.
- inverno é olhar pra dentro.
Cabem estações no infinito que é cada um. Cabem em mim tantas fases sistemáticas e cheias dessas marcas silenciosas q não param de acontecer nunca; sendo que, em mim, as próprias estações é que dizem quando vão chegar!
E de repente vc descobre que faz sua mãe feliz. Só por existir.
Parece que a coerência sobre a frase que diz que o “amor é cego” tbm está óbvia nesse elo de mãe e filho.
Elas destacam suas imperfeições, ou imperfeições que consideram, mas que não tem força para permanecer no coração. São expulsas do pensamento quase que no mesmo momento em que são ditas. É uma forma linda de perdão gratuito, de aceitação sobre o que quer que seja. Nada tem maior relevância do que alcançar a compreensão mesmo que seja incompreensível o caso em questão.
Com a vida passando, regada a muito sofrimento por vezes, ela nunca deixa morrer aquela primeira impressão, aquele primeiro amor sempre vivo; o mesmo amor q nasceu no dia em que soube da gravidez, ou que te segurou pela primeira vez após um parto sacrificante, que mesmo assim, não impede um sorriso de felicidade plena ao ver a cria.
Mãe é a certeza que se tem na vida independente do rumo que se siga, ou que aventuras se viva. Esse amor dispensa certezas. Ele simplesmente existe.
Se conheça
Somos tempo e vidas.
E existir é novidade sempre.
Procure o local onde o gosto se faz dentro da sua boca. Onde o som da sua voz ecoa.
O que o vento diz quando chama a sua atenção. O que você ouve quando fica sem palavras. O que a lua te mostra no escuro.
Fechar os olhos ajuda! Mas não grave a sensação; redescobrir pode ser melhor!
Acontecemos como uma construção.
Nunca morremos, só renascemos.
Somos tempo e vidas.
Se conheça.
E porque não?
As coisas mais simples nem sempre são fáceis. Exigem um momento pra acontecer.
Estamos em busca do que apraz, mas de onde tiramos a certeza do que queremos?
Não somos capazes de responder. Nem seremos.
Brilhar, não é acertar sempre.
Estar disposto ao que nos reserva, sim. Sem esperar, sem entender.
Viver é, acima de tudo, acontecer no momento como ele deve ser. Por vezes sem regras, sem planejamento. Viver é simplesmente uma questão de estar respirando enquanto a atitude se faz; independente de qual seja ela.
Amigos, risos, perdas, ilusões, e decepções; essa foi a noite; e mesmo assim a felicidade regada a descobertas do acaso, sobrepujou o que me tornava vulnerável e triste.
Ainda fui feliz, mesmo que tenha sido menos.
- “Viver é tudo isso que costumo esquecer”- eu disse uma outra vez.
E assim durmo e acordo pra tentar crescer sem freios ou dúvidas do que me resta em cada dia. Sou grato por saber receber os instantes e rezo pelos que ainda estão por descobrir isso.
- Meu deus que sejamos todos capazes de cumprir a missão.
Amém.
Sabe quando a casa se torna parte de nós?
As Paredes mudas e móveis imóveis guardam um segredo em cada canto.
A janela que oferece seu apoio em momentos de solidão.
Saudade dela.
Tristezas afugentadas no chuveiro. Pecados confessados no espelho. Filmes no inverno.
Tudo ali é você, é seu. Guardado. Dentro. Seu lar.
É parte e é todo você.
Entre idas e vindas é ali que se está ligado. O endereço é nome.
Penso numa caixa de música onde cabem suas coleções.
Onde estão os tesouros e castelos descobertos no caminho.
Entre as visitas, telefonemas, refeições e cochilos, se exerce uma crença sem desculpas.
Sem qualquer tipo de mágica ou milagre, se materializa a relevância do conforto, a liberdade imensa de descansar o corpo nu e de deixar a alma a perambular. Sente-se dentro de si.
Estar fora do jogo, longe das atenções e ocupado consigo. Quanta honestidade ocupa um abrigo.
Um viva a todas as pessoas; as aglomerações, e a tudo que reúne e que faz aproximar.
Salve o exercício da criatividade que revela a beleza e a riqueza que é o universo humano. Viva os impulsos, a troca de informações, as agremiações, as iniciativas, os conjuntos, os corais, as coleções, os comprimentos, os compromissos, os cultos, os intercâmbios, as danças de salão, as raves, os debates nos comitês, todos os sotaques, todas as palestras, os brindes, as visitas, os feriados.
Pratiquem-se os jogos mais variados, utilizem bolas, cordas, redes, dedos, dados, prêmios, troféus, vontade, lágrimas.
Aproximem-se os que não se amam, os egoístas, os de orgulhoso cego, os iludidos e os rancorosos, porque estes são o próprio exemplo do que não deve ser semeado e a mudança nas suas vidas ensina sem palavras.
Destaquem as diferenças porque é a única coisa que todos temos em comum e o que deixa a vida tão colorida e em constante aprendizado.
A lei é clara: Para que nasça um, dois se fazem necessários com ou sem presença física.
Existir é coletivo.
O coletivo de pessoas é cultura. Cultura é universal.
Morte
Se encherga muito sobre a vida menos que morte é seguir em frente tanto quanto.
Saudades e difícil conformação sobre o que julgamos deixar de existir.
Pensa-se na existência como sendo aqui e só.
Como se "partir" fosse deixar de pertencer.
Quando podemos mesmo é não ser daqui.
É louco ! Mas certa compreensão existe.
Se concebem tantas ideias,
Se defendem facinantes ideais.
Mas a convicção não é simples de se convencer.
Eu penso sobre ...
Vago lento nesse abstrato em busca de revelações discretas próprias da curiosidade.
Talvez considere algo tão próximo como são os sonhos onde vozes eternas ecoam sugestões e contam sobre mistérios e milagres enquanto dormimos.
Nada sei.
Só acredito que não é simplesmente o fim.
Pérolas em silêncio; assim são as letras criadas para ninguém agora e nunca.
Frutos maduros caídos nunca apreciados.
Entes da criatividade; lembranças de alguém não lembrado.
Seu conteúdo: algum castigo, algum sofrimento, algum amor em algum lugar.
Mente de um poeta não nascido. Sobras de luxo.
Também nada. Também nunca.
Sem rastros para se seguir, navegam a deriva sem pressa, em um mar sem tempo.
Absurda lástima nunca se saber de sua riqueza despretenciosa.
Sem saber do mundo em outras palavras.
Está lá.
Mesmo que para única espectadora: A vaidade, sua semente.
No amor se corre cego tendo a expectativa de acertar o abismo. Despencar em direção ao céu.
No profundo de si se resumir em solidão e eterno.
Ser leve não é se bastar com sorrisos,
O simples também tanto exige,
E viver significa demais o tempo todo.
As antenas estão pescando os sinais dos pensamentos.
A rede de sentimentos voa livre sem interferir os passos no chão.
Em cima de mim estão todos, mas ninguém pra alcançar,
Os abraços se encontram nos quartos e salas sem precisar do outro pra encarar.
Quem conheço desses que transitam por dentro de mim sem perceber?
Conheço minha imaginação e suas companhias!
Se tivesse de eleger o meu Deus, glorificaria a música em minha adoração.
Capaz de realizar milagres quando é simplesmente sentida. De uma redenção bem vista nos semblantes, já desde recente entrega.
Tem poder sensível que não exclui, bastando viver.
A vejo isenta de referências, liberta de qualquer causa, vasta de infinitude. Nem som, nem beleza, nem o comunicante peso das palavras. É mais.
A vejo como coabitante da alma, que nos faz ecoar o infinito dentro, elevando a imaginação.
O que justifica a existência desde sempre. Liga os universos todos e os seus mundos sem qualquer tempo.
A vejo como a legítima intuição. A complexidade acessível como porta aberta para um labirinto vivo. E concebe a vida como sendo das suas últimas novidades.
Está em tudo, mesmo no silêncio e no vazio. Mesmo nunca sabendo disso.
Palavra II
Porque não escrever? Se no fim resta a palavra como a última força.
Força de um último pensamento; de uma última fala.
Sai carregando a vida como o peso da coroa retirada do rei.
Honesta como foi concebida.
Nessa importância da palavra está o respeito do poeta e escrever assim revela sua íntima inspiração. Atinge como uma fagulha que acende o facho, desafia como a aposta temerosa que decide o jogo e constrange a devoção que faz ajoelhar. Convence!
Palavra que chama e faz-se valida. Viva.
Mãos doloridas.
Mãos cruas e magoadas da véspera.
Mãos de castigar o atabaque.
Percutindo e fazendo arder a festa.
Um Sonho.
Lugar revisitado com sensação de ter voltado à casa de um bem distante.
Coisas a fazer lá com importância distribuída entre rostos familiares não conhecidos.
Se vestir, comer e dividir as notícias das vésperas de onde se vem.
O tempo acontece numa parte de noite e tudo brilha ardente e suave como felicidade de reencontros saudosos.
Sorrisos que abraçam e desejam um amor tão próximo que ensinam ao seu próprio.
Conforto de ser guiado para fins simples que vão servindo pra sempre.
Despertar com o esforço de trazer aquela consciência junto comigo. Mas não resta muito além de sensações, vultos em fade out e a certeza de que tudo aconteceu.
Quadro Abstrato
O grande e gracioso peixe perolado com olhos de cristal está contornado por folhas e gavinhas,besouros solitários azuis e vermelhos, flores desabrochadas e maduras frutas cítricas.
A coroa em sua cabeça é uma roda gigante de sensação comum deitada num giro anti-horário de jornada eterna e descançada.
No céu, uma ilha flutuante de montanhas rochosas distantes e adormecidas, abriga uma paisagem de alguns coqueiros e matagal, e um balão arco-íris paira alto fixado por cordas fincadas na praia branca nunca antes visitada e entrega às areias o fim de sua desenrolada escada de cordas.
Seguindo o rastro de pegadas solitários ao largo da praia o outro extremo aponta onde se finda. Ali há um martelo deixado ao lado de fincadas estacas que sustentam outra escada de cordas que se derrama desde a ilha até a entrada da roda gigante.
A estrutura em madeira de pintura desgastada em amarelo e vermelho tem escrito acima "entrance" e "exit" e fincada ao chão uma catacra enferrujada de entrada e saída liberadas.
Alguém reveza os últimos degraus da escada em direção a roda-gigante. Desce vestindo verde, tênis e jeans com o olhar para cima mesmo sem ainda tocar aquele chão.
Chorare
Gosto das coisas que me fazem chorar
Me mudam imprevisivelmente.
Como se depois de tentativas, ali eu tentasse o silêncio.
Olhos fechados. Mudo.
Honesto convívio com os piores sentimentos. Com descontrole de alegrias.
Sempre um ponto final ou... De partida.
Em qualquer sentido me cai bem renovação.