Tiago Curralo
"Rapaz vejo cada mentira. Vejo pessoa A dizendo que ama pessoa B, mas quando a pessoa B não está presente a pessoa A trai a B com o restante do alfabeto com todas as letras num verdadeiro rodízio. Aí me pergunto: é churrascaria gratuita e pública?"
PESADO
Porque o peso
de desejar alguém
nunca é coeso;
convite suntuoso
ao experimentar
teu beijo sinuoso.
Amigo de verdade é aquele que mesmo não tendo seu sangue nem seu sobrenome se torna nosso írmão pelos caminhos da vida e pela vontade de Deus.
Amar parece ser a coisa mais simples da vida. E, de fato, é! O amor não é complicado. De modo algum! Ele é sereno demais para perder tempo se complicando. O amor não é uma desventura. Longe disso. Ele é responsável e dedicado, não se importando se o momento é ruim ou doloroso; ele luta por si e por quem o sente até esgotarem as suas forças. O amor, mesmo sendo forte, jamais se usa de força tendo em vista que ele não gosta nem de forçar nem de ser forçado. Aliás, acredito que onde há esforço não existe amor. Amar é espontaneidade, é ser arrebatado de surpresa, amar é sentir a leveza do amor ao unir dois corações apaixonados.
O amor também não é obrigação. Exceto quando torna-se na ação de agradecer a quem se ama tudo de maravilhoso e de agradável que a pessoa amada proporciona. O amor não é uma prisão, tão menos exclusividade. A convivência como um par é, sim, importante, no entanto, se se tenta retirar a vida individual do outro é o mesmo que seguir adiante na falência do amor. Amar jamais é possuir. Amar é estar, fazer-se presente sempre que for da vontade de quem se ama e de quem é amado, até mesmo na ausência.
Amar não é ser nem estar egoísta. Amar é ser e estar compreensivo, especialmente, nos momentos mais turbulentos. O amor não se consolida por exigências. O amor se edifica na cumplicidade, na reciprocidade de sentimentos, de pensamentos, de palavras e, principalmente, de atitudes. Amar não é ser nem estar intransigente. Pelo contrário. Amar é ser e estar complacente, saber e entender que o outro não foi, não é nem nunca será nossa posse. O amor não é inflexibilidade. O amor é a disponibilidade de respeitar e entender os defeitos e as qualidades da pessoa amada ao mesmo tempo e sem julgá-la ferozmente. Nosso umbigo já é sujo o bastante para perdermos tempo em querer limpar o umbigo alheio tendo o nosso próprio a ser limpo.
O amor não é verdade nem mentira. O amor não é grandeza nem pequeneza. O amor não é unidades de medidas. O que podemos dizer ou pelo menos tentar dizer dele é que ele é um substantivo masculino (o amor), é um verbo transitivo direto (amar), é um adjetivo substantivado masculino ou feminino (amado/amada) e é um adjetivo masculino ou feminino (amoroso/amorosa). Além disso, podemos dizer que o amor é um grande mistério, um verdadeiro enigma.
Amar não é impor. Amar é compartilhar experiências (sejam quais forem) e extrair delas aquelas que o casal entende serem as mais benéficas para o par. Amar não é ameaçar. Atentar contra a própria vida e/ou contra a vida do outro é uma clara demonstração de que essa relação o amor já abandonou. O amor não é prisão. Onde há a necessidade de trancar o amor numa sala escura e inóspita à vida geralmente projetada como ciúme aí, também, não existe amor. O amor é liberdade, é ser e estar livres, é caminhar lado a lado praticando - sempre - o apoio mútuo, mas, nunca, andar atrás ou à frente de quem se ama. O amor não é explicação visto que explicar é uma tentativa de racionalizar. O amor é um sentimento e amar é sentir e sentí-lo com espontaneidade não é para qualquer um, não. É preciso - quem ama e quem é a pessoa amada - estar plenamente disponível a ele (amor), atento para ele, compreender ele, ser e estar inteiramente cúmplice a ele. O amor é um sentimento e, portanto, ele existe para ser sentido (na ambiguidade mesma que o termo 'sentido' aí expressa) em sua totalidade e sinta-o quem é corajoso o suficiente para cuidá-lo.
Amar não é condenar, não é culpar, não é julgar e também não é menosprezar. Nada disso condiz com o amor; ele não é um juiz. Nossa juíza é outra e atende pelo nome CONSCIÊNCIA. Amar, ao contrário do que se pensa, é papear, conversar, dialogar por mais dolorosa que a conversa seja. Venho compreendendo que por ser um mistério para todos nós o amor só existe e subsiste sob um fundo de dor (me baseando na metapsicologia do amor proposta pelo psicanalista francês contemporâneo Juan-David Nasio em seu livro A DOR DE AMAR) e que em tal condição o amor é a dor (necessária) de amar. Nós, homens e mulheres, enquanto espécie humana somos uma espécie dolorida. Todos nós nascemos, simultaneamente, do amor e da dor; do amor que uniu nossos pais e nossas mães os quais somos os frutos dessa junção familiar e da dor visto que o parto ou o dar à luz de nossas mães é o primeiro ato de amor de um sujeito para conosco bem como é um ato extremamente doloroso (quando é parto normal) para nossas mães. Amar é um processo mútuo de fala e de escuta. Discussão, aqui, só é válida quando compreendida como o que conhecemos por conversa civilizada. Se passa a ser uma agressão (física e/ou verbal) então é melhor transferir o diálogo para um momento mais tranquilo.
O amor também não é culpar o outro nem se vitimizar. Culpados e vítimas só existem em casos de crimes: roubos, assassinatos, estupros, latrocínios e por aí vai. O que existe no amor são R-E-S-P-O-N-S-A-B-I-L-I-D-A-D-E-S mútuas entre os componentes do casal. O casal é, sempre!, um par, uma dupla e ambas as pessoas tem suas parcelas equivalentes de responsabilidades pela relação. Mais uma vez o diálogo é a melhor oferta. O amor não é calúnia nem difamação. Amar passa longe disso. O amor é (tentar) mostrar a quem se ama, com respeito e com serenidade, o que essa pessoa vem fazendo de errado e que, gradualmente, está matando tanto o amor quanto o relacionamento. Nem sempre é fácil manter o respeito e a tranquilidade, contudo, se o amor deixou de existir o melhor é conversar sobre a possibilidade dos dois seguirem caminhos diferentes. O amor não é uma gaiola dourada. O ouro, a princípio, encanta. Com o passar do tempo esse mesmo encanto se transforma em ilusão e essa fantasia provoca uma falsa felicidade já que a dupla permanece aprisionada e enfeitiçada pelo brilho do ouro.
EFEMERIDADE DOS AMANTES
A efemeridade não combina
entre dois sujeitos amantes,
é passear sobre uma mina
no caminho de dois errantes.
Ela despreza qualquer bom sentir,
faz de tudo para omitir
de quem supõe nada querer
o verdadeiro sabor de viver.
Ser efêmero é como o vácuo:
tê-lo do lado de dentro
sem, no entanto, adimití-lo;
com ele não há sentimento mútuo,
só há o inexplicável nada-ser,
um imperceptível morrer...
SAUDADE
A saudade é um punho de aço
que ao tocar minha face
atormenta-lhe em dor crônica
e voraz.
A saudade só comprova
a falta de quem ama
perante quem se ama
tendo como interlocutor
o amor.
A saudade ácida,
corrói até mesmo o inquebrável
tirando a imunidade
de quem a sente através
da ausência.
A saudade é ambígua:
não se decide entre
fazer bem ou fazer mal;
em sua própria indecisão
deixa quem a sente em confusão.
Saudade da presença e
saudade na ausência,
só mesmo ela para causar
tamanha desordenação
num único coração.
AMUADO
Divagando em sua agrura
Uma alogia o desperta:
Sua imensa ferida aberta
Não dá sinais de cura.
Sua bêbada amaritude
Desgasta já intrépida
O pouco de sua sanidade:
Sua vontade está impedida,
O que o tornou anafrodita
E estando bem amuado
Seu ser não apetecível
Mostra o quanto grita
Seu coração humilhado:
"O amor é um desgosto irrisível.
Um bom caráter pode até ser, em parte, herdado; contudo, para que seja uma constante deve-se edificá-lo todos os dias.
Amigo de verdade é aquele que mesmo não tendo seu sangue nem seu sobrenome se torna nosso írmão pelos caminhos da vida e pela vontade de Deus.
REFLEXÃO
Dos teus olhos: o brilho.
Das tuas mãos: a sensibilidade.
Dos teus dedos: o toque.
De tua boca: a melodia.
De teus lábios: o beijo.
De teus modos: a feminilidade.
Da tua vida: uma mulher.
De uma mulher: a paixão.
De uma paixão: o encontro.
Do encontro: o amor.
Do amor: a felicidade.
Da felicidade: nós dois.
Não é a verdade que dói. O que dói, realmente, é não querermos enxergar o que ela, incessantemente, nos mostra.