Thiago Augustto
No passado, eu projetei o hoje.
Agora, conserto algumas projeções mal calculadas.
Ainda assim, sei que mais à frente estarei novamente reescrevendo o que eu já corrigi.
Sim, eu sou um contador de estórias.
Um contador da minha própria vida.
E ando criando minha própria lenda.
Criei vários cantos e contos.
Enxuguei vários pratos e prantos.
Inventei personagens para viver o que eu não poderia sofrer.
Passei por lugares inexistentes a procura do entender.
Fechei meus olhos e vi que não é preciso ver pra sentir.
Com eles vendados percebi que a alegria é ponto de vista, e que estando cego não pude distinguir.
Ousei a felicidade.
Abri mão da comodidade.
Ganhei mais responsabilidade e menos liberdade.
Mas quanta contrariedade.
Certeza só tenho de que verdade nem sempre é verdade.
Enfim...
Se é que existe um fim.
Seja depois do meio.
Ou quando chega o estopim.
Acredita em mim...
Seremos felizes sim.
Basta esperarmos pelo fim.
Enfim...
Quem és tu, Tempo?
O que tu queres de mim?
És, de fato, um amigo ou um mero espectador?
Eu sei do grandioso poder que tu tens da mudança.
E o que estás esperando?
Não podes começar logo com esse seu trabalho?
Eu já estou exausto.
Não aguento mais.
Faz tempo que lhe espero.
O que é um tempo, para quem esperou por muito tempo?
Tempo, às vezes não te compreendo, eu quero o sim, e o senhor me balança a cabeça e me grita o não.
Por que tanta divergência?
Eu vivo a me questionar.
Mas, por dentro, aceito e acredito nas tuas ordens.
Sei que fazes da melhor maneira...
Tempo, até parece que meu relógio está desajustado ao seu.
Vamos lá, tu sozinho.
O exercício do pensar eu não posso executar por você.
Não fique pensando se é válido pensar.
Apenas pense!
Ei, Solidão!
Agora somos só eu e você.
Há quem não goste de você.
Há quem chame você de tediosa.
Há quem diga que você é um castigo.
Mas, prefiro lhe ver com bons olhos.
Ei, Solidão!
É quando me sinto só, que você entra em cena e se junta a mim.
Ei, Solidão, é você que me faz pensar em coisas que certamente não pensaria se estivesse com um outro alguém - há não ser você.
Ei, Solidão!
Meu melhor amigo sou eu.
E abraçando a você, me aproximo cada vez mais dele.
A solidão, que a dois é um castigo, a um é um presente.
Estou com saudades do futuro.
Saudades do que ainda vou viver.
Do que vou sorrir.
Com quem vou sorrir.
Bateu uma saudade de quem eu nunca vi.
Estou com saudades de ti.
Por onde você andou?
Vai dizer que se perdeu?
Ou tu és conto de fadas, que só existe pra quem um dia leu?
a verdade que eu conto;
a verdade que eu escuto;
na verdade, ela nem sempre é verdade.
Né verdade?
Ela nem sempre é verdade.
- Você faz o homem que eu sou.
Você escolhe o que fazer de mim.
Você tem esse poder de decisão e poderá dizer quem eu devo ser.
Que personagem eu devo vestir.
Quais atitudes devo tomar.
Então, procure fazer bom uso do homem que eu sou.
Se, em mim, só procuras as coisas fúteis e inúteis, serei com um espelho e refletirei apenas futilidades e pequenez.
Automaticamente mostrarei para você apenas meu lado oco.
Meu Eu insignificante.
Então, não se sinta presa a si mesma, e procure ir além nessa sua descoberta.
Acho que eu tenho muito a aprender com você. Mas também muito a ensinar.
Vamos lá, descubra as coisas que, realmente, são relevantes para você e para mim.
Julgue. O pré-julgamento também é importante. Faço julgo a todo momento, mas não faço dele a minha conclusão. Melhor que julgar, é conhecer.
Antes me calava. Envelhecendo e subindo degraus de consciência humana, não me calo mais. Me enxergo. Me enalteço. Não lido com o racismo de forma fácil. isso me retém ódio, angústia, falta de esperança... A real é que estou cansado de me ver através dos olhares dos outros. Eles me veem como uma ameaça e isso é uma ameaça para mim.
Confesso, não tinha esse entendimento quando criança e adolescente e achava normal colocar uma ''roupa de sair'' para ir à padaria, que sempre ficou a uns dois quarteirões de casa. Achava normal ter que estar sempre ''bem vestido'' - em qualquer ambiente que fosse - para não ser confundido com um maloqueiro ou um ladrão.
Nesse tempo, evitava falar sobre isso. Eu queria mesmo era sentir essa igualdade que todos falavam. Tirava por menos. Achava que podia ser coisas da minha cabeça. Mas no fundo o sentimento de inadequação existia. Sempre existiu. O povo preto sabe do que estou falando.
Sem fim, pois hoje é dia de celebrar o resgate diário da nossa identidade. Poder para o povo preto!
(Dia da Consciência Negra)
Faz pouco tempo que deixei de viver sob o mesmo teto dos meus pais, mas o suficiente para saber o que é caminhar com as próprias pernas. E o suficiente para me fazer refletir sobre todo o privilégio de alguém que tem - ou teve um dia - mainha e painho no quarto ao lado.
No meu caso, esse privilégio é ainda maior. É infinito. Pois, um dia, estive muito perto de não ter essas figuras ao meu lado para me ajudar a crescer. Mas fui escolhido. Fui adotado. Ganhei uma rainha, um super pai e uma família maravilhosa, que são os maiores responsáveis por tudo aquilo que sou.
E o que seria de mim sem vocês? Tentar dar uma resposta a essa pergunta é falhar miseravelmente. Eu nada seria. Obrigado, família, por essa oportunidade de viver.
(relato de um filho negro adotado).
Preto, bem preto!
O mais raiz possível.
E a conclusão: tudo pode ser um ato político.
E não consigo pensar diferente.
Visto a negritude da cabeça aos pés.
Meu corpo fala.
O meu cabelo fala.
E as roupas que visto também.
Olar! Deixa eu escurecer pra tu que racismo não é somente coisa de gente racista! Racismo também é coisa de gente do bem, de gente querida, de pessoas que dão oportunidade, que respeitam, que nem sabem que estão sendo racistas... O racismo não é uma questão moral, é uma questão política. E aí é que tá! Não é simplesmente o que se vê, ele se reproduz involuntariamente.
No jogo da vida, tu cresce e ganha um brinde de grego: o racismo velado. Pior, o reproduz diariamente - sem intenção. Numa postura, num olhar. No viés do inconsciente
.
Maaaaas, existe tratamento pra cura, vamos exercitar a empatia. Entenda seus privilégios e brigue contra o seu racismo!
Relacionamento entre negros é também um ato político.
A gente aprendeu (não sei aonde) que o amor não tem cor.
A frase é linda. Tem um impacto forte. E até acredito que ela tem que existir.
Porém, é importante refletir que na prática o êxito dela é diferente.
O amor tem cor sim e não é a nossa.
O gostar é uma construção social.
E se você também cresceu internamente entendendo que não se enquadra no padrão de beleza, você procura ser discreto. Sente-se inadequado. Começa a se esconder. E passa a amar o oposto. Escuta de todos os lados e reproduz que os negros preferem os brancos e vice-versa.
E como conforto, grita aos quatro cantos que os opostos se atraem. Num é a verdade?
Somente com o amadurecimento e autoconhecimento começamos a ter orgulho das nossas raízes. Enaltecemos a beleza que enxergamos em nós mesmos e começamos a amar os nossos. A se apaixonar. E isso nos empondera.
Massss, esse textão aqui não é para falar que não pode existir relacionamento entre raças diferentes. Nem o que é certo ou errado. Muito menos apontar a culpa por amar. A missão é refletir sobre a barreira que o racismo coloca no campo afetivo. O relacionamento entre negros implica em você desconstruir muito daquilo que a sociedade lhe “ensinou”.