Swami Paatra Shankara
Imaginamos que pessoas mudam, queremos isso até. Será que mudam mesmo ou nós que ficando mais velhos, mais sapientes, sabedores que o tempo corre e a vida vai se esvaindo aos poucos, simplesmente aceitamos as coisas como elas são?
Sentimento pleno de gratidão por todas as coisas seria o ideal para todas as criaturas. O sentimento de gratidão é que possibilita o fechamento dos ciclos de prosperidade e recebimento, sem este sentimento o ciclo fica interrompido e a energia se perde ao invés de se renovar.
Viver cada momento como sagrado, é reconhecer que todas as coisas são interligadas numa grande teia cósmica. O aprendizado é viver completamente agora mesmo: carpe diem. O aqui e agora é o ponto no qual o poder existe; é o único ponto do qual se pode fazer escolhas e mudar seu mundo.
A palavra "respeito" significa "olhar novamente”, ou do latim respicere que significa “olhar para trás”, olhar além da primeira impressão e estar disposto a ver o que não está óbvio. Nós mesmos precisamos de respeito para limpar nossos egos. Quando estamos dispostos a olhar para uma nova luz, sem julgamento, adquirimos uma maior confiança e coragem em nossas vidas. Aprendemos a aceitar nossas limitações e ficamos dispostos a ampliar nossos horizontes e limites para viver a vida mais completamente. Respeito para com os outros no aprendizado é fundamental. Quando vemos as pessoas sob uma nova luz, damos a elas o espaço que precisam para crescer e não as limitamos pelas nossas expectativas ou julgamentos.
No nosso atual estágio evolutivo, a forma (físico, tangível, concreto), que por necessidade ou simples desleixo em procurar e realizar a verdadeira espiritualidade e que por infeliz consequência, torna-se mais importante do que a essência (sutil, intangível, abstrato), por exemplo, quando rezamos o "Pai Nosso", no trecho: "perdoai as nossas ofensas/dívidas, assim como nós perdoamos os que nos tenha ofendido/devedores", acho mais prudente e sincero dizer "perdoai as nossas ofensas/dívidas, assim como me esforço em perdoar os que me tenham me ofendido/aqueles que me devem". Pelo menos estaremos sendo mais honestos conosco, pois de resto, o astral percebe quando a ação não comunga com a intenção.
Acredito que a maior falta de respeito seja a fuga ao diálogo. É óbvio que as divergências existem, mas o debate serve para isto, para colocar o limite das aceitações próximas da fronteira, sem ultrapassar. É como ter medo do mar sem nunca o ter conhecido. Só saberemos a diferença entre terra e mar, quando chegamos ao limite da areia com a primeira onda.
A melhor e mais eficaz oração é aquela que falamos ou dizemos através de nossos pensamentos, sentimentos e, por consequência, de nossas ações. Se uma imagem representa mil palavras, uma boa ação em relação ao nosso ambiente, envolvendo pessoas e coisas, representará mil orações.
Uma coisa é observar as pessoas executando gestos estilizados e cantando canções enigmáticas que fazem parte da prática dos seus rituais, e outra é tentar alcançar a adequada compreensão do que os movimentos e as palavras significam para elas.
No caminho espiritual temos muitos entraves e testes, mas os maiores são manter a calma para esperar o momento certo para cada coisa, pois tudo é lento e tem sua oportunidade, reconhecimento e muita coragem para não nos decepcionar com o que encontraremos, se encontrarmos.
A paciência é a maior defesa que alguém pode desenvolver. Ela serve para que tudo seja colocado no seu devido lugar antes de se tirar conclusões ou fazer julgamentos. Às vezes é preciso ficar em silêncio, recuar antes de voltar à cena e dar um passo adiante. Paciência, no entanto, não é omissão e sim a determinação do tempo ideal para cada coisa. É a pessoa saber tratar do seu inimigo interior antes de lidar com as adversidades externas. Trata-se de um conceito difícil de entender pois a cultura capitalista cultua a pressa. É fato que as pessoas vivem cada vez em maior velocidade, comem cada vez mais rápido, fazem mais coisas ao mesmo tempo e dormem menos. É como se estivéssemos todos em busca de algo que nunca vem e pressa virou sinônimo de eficiência. Pessoas entre nós que se mostrem tranquilas e pacientes são considerados omissas e passivas. No entanto, paciência é compreender que as melhorias gradativas são as verdadeiras e que as mudanças rápidas não passam de fachada.
A verdade sempre será relativa e perceber que não há axiomas inquestionáveis e tentar enxergar as situações sob todos os ângulos antes de tomar uma atitude é fundamental. Isso leva tempo e requer exercícios pois a mente humana tem tendência de elevar as próprias ideias à condição de verdades inexoráveis. Diante de uma situação de discórdia as pessoas se enchem de argumentos que as levam a tomar determinadas atitudes a partir do seu ponto de vista unilateral, desconsiderando a trajetória dos outros envolvidos, mas o que é a verdade?
A compulsão de querer controlar a vida alheia é fruto do nosso orgulho. O ser amadurecido não controla, mas sim coopera com o amor e com a liberdade das leis naturais.
A única certeza que um ser humano pode ter é a de que vive o momento presente e de que pode morrer a qualquer momento. Por mais catastrófica que essa ideia possa parecer ela é uma verdade incontestável e um motivo de alegria. Significa que se as coisas boas podem ficar ruins de um momento para o outro, as coisas ruins também podem ficar boas de repente. Essa certeza também serve para que preparemos o que ele chama de "boa morte" - a tentativa de manter um saldo positivo na própria existência - ou pelo menos zerar a contabilidade entre as atitudes boas e más de que inevitavelmente se compõe uma vida.
A incerteza do que pode acontecer no próximo momento - o sujeito pode perder a vida ou o emprego, a mulher ou a fortuna a qualquer momento - ajuda-o a sofrer menos com os revezes da vida. E a se apegar menos às coisas e às pessoas que ama, dependendo menos delas para ser feliz. Por outro lado, a noção da própria impermanência faria com que o workaholic que passa 16 horas por dia no escritório revisse suas prioridades ao perceber que o seu cargo não vai durar para sempre. E que o marido que há mais de ano não reserva tempo para namorar a esposa percebesse que ela não vai ficar do seu lado para sempre. E que o sujeito que há décadas tem um pedido de desculpas entalado na garganta finalmente verbalizasse o seu arrependimento, porque nem ele e nem o seu antigo desafeto vão durar para sempre.
A serenidade caminha ao lado do imparcial e não do apático. Ter serenidade é pensar antes de agir. Algo que num estágio mais avançado nada mais é do que a meditação. A sabedoria está em não colocar a imaginação no meio do processo de análise e em saber esperar sem ansiedade. Na prática, a pessoa serena criaria sempre um espaço de tempo entre a ação e a reação. Tempo para analisar a situação com parcimônia, pensar nas consequências da sua reação e encontrar formas de resolver o problema e não de piorá-lo.
Nada garante que no futuro teremos uma vida melhor e mais feliz do que a que vivemos hoje. O que garante isso é apenas uma observação do passado sem revivê-lo e uma vaga ideia do futuro sem a ansiedade de vivê-lo no presente.
Sempre que apontamos um defeito alheio é porque é alheio em nós mesmos esse defeito. Somente com a compreensão de nós mesmos, desintegra-se aos poucos esse mau hábito.
Esopo escreveu no seu conto: "Pensando em conseguir de uma só vez todos os ovos de ouro que a galinha poderia lhe dar, ele a matou e a abriu apenas para descobrir que não havia nada dentro dela". Assim nos é: podemos não ter ouro dentro de nós e essa latência não nos impede de tentar mostrar o que não somos. Somos sempre um nada a ser preenchido. A vida nos preenche. As ideias nos preenchem. O problema não está como estamos preenchidos, mas a forma como isso sai. Ouro ou o quê? Cada vez que damos nossa opinião, cada vez que escrevemos o que pensamos, começamos a ser interpretados. Nem mesmo o ouro é compreendido, que dirá outra coisa.
Na duvida em fazer alguma coisa lembre-se que o "não" já está dentro de si. Se fizer e dar certo, parabéns. Se não der certo fica com o que já tinha. Como se pode ver, ninguém perde nada por tentar. Pode não se ganhar o que queria, mas ganha experiência que é um caminho da sabedoria. A ação sempre tem um ganho. A sabedoria popular é inteligente: "Pedra que não rola cria limo". A pedra fica cheia de limo quando permanece apegada a um lugar. O mesmo se aplica a nós. Quando permitimos que o apego a pessoas, coisas e sensações prevaleça, a mente fica contaminada pelo limo dos pensamentos e das memórias, que passam a governar nossa vida. As percepções se turvam, tornam-se estreitas e limitadas. Blavatsky recomenda: “Luta com teus pensamentos impuros antes que eles ganhem poder sobre ti, pois se lhes deres folga e eles crescerem e tomarem raiz, sobrepujarão a ti e te matarão.” Mesmo assim sair da zona de conforto que o limo produz alguma experiência vai adquirir, queira ou não. Não só de sucessos se constroi um caráter e nem define a personalidade. Somos e sempre seremos uma síntese de sucessos e fracassos. Esqueça o "não".
Não esqueça convenientemente das coisas que já praticou. Não faça uma interpretação errada de si mesmo. As pessoas podem apenas aturar quem você é. Deitar-se em cima de louros duvidosos, cedo ou tarde, as máscaras caem. A cama de louros pode se transformar em espinhos. Entenda de uma vez por todas que quem tem que mudar é você. A aceitação alheia que vem com uma parte de piedade nem sempre vem revestida de compreensão. Aquela velha máxima de "tem que me aceitar como sou" não ajuda muito, pois se "você é o que é", as outras pessoas "são o que são". O limite de cada um termina exatamente quando começa o limite do outro. Não ultrapasse nunca. Os espinhos podem estar esperando. A compreensão de si mesmo não serve apenas para si e sim para conviver pacificamente. Na falta disso, o resto é teatro. Quem assiste sabe que não é verdade e apenas uma encenação. Seja capaz de ver quem realmente é. Mude. Estamos de passagem nesse mundo e ser felizes da melhor maneira possível, mas também proporcionar a maior felicidade possível para outras pessoas. A vida é muito curta. Não desperdice o tempo com o seu ego. Ele vai preencher somente você. O mundo precisa mais que isso.
Se você usa a sua religião ou o seu "deus" para odiar o próximo pelo que acredita ou te fizeram acreditar... Pare de usar isso como justificativa. Deve ser mais difícil para quem não tem um escudo que existe apenas na mente, mas pelo menos será mais humano que certos seres humanos.