Suzanne Leal
Queria muito ter devolvido tudo aquilo que não era meu. Mas me ocupei muito pensando em como destravaria minha garganta. E tristemente, engoli-os sem deixá-los sair.
Às vezes a vida te toma tanto tempo ou você que toma o tempo dela e pouco faz. Você se consome, se deixa levar por atropelos e vai deixando pelo caminho tudo que tinha sonhado ou começado a construir.
Tenho a impressão que nós mesmos nos enterramos num círculo vicioso de não dar certo. E vício é pra largar.
Eu procurava fazer as coisas ao modo que achava ser correto. Agora procuro fazer as coisas ao meu modo.
Quando começo a me compenetrar de realidade,
não penso mais no que transmitir aos outros,
mas no que posso transmitir a mim.
Submeter-se cegamente a linguagem do admirável e do ideal é com certeza irresistível. Mas o real insiste, persiste e espera a oportunidade de mostrar-se avidamente.
Ter esperança é como sentir o vento no estômago te levar para aqueles lugares secretos e cheios de magia onde tudo é conforme os nossos desejos.
Quando for dia de culpa, me ponho embaixo de um guarda-chuva e espero todas as falas se calarem e escorrerem pelas ruas.
O fiozinho que da corda a muitos sonhos
devia lembrar que segurá-lo
tb exige força e te faz carregar muitos pesos.
De tanto observar a posição dos ventos e o balanço das folhas, eu cismei que tinha que me mudar, em todos os sentidos do mundo. Mudar de roupa, de casa, de cidade, essas são coisas mais simples. Mudar de olhares, de sorrisos, de movimentos, essas são coisas mais complexas. Não exatamente ser outra pessoa, mas ser eu. Mudar no sentido de ser eu, aqui não posso ser. Isso me enche de palpitações e todo o tipo de complexo de ansiedade, pois mudar é permanente. Eu seria permanente. Eu seria toda uma longa e boa viagem de mudanças.
Às vezes, a gente vai com tanta pressa ao momento que se quer chegar,
que se esquece de se levar junto.
E enquanto sua alma caminha e sonha,
seu corpo se prende aonde não deve estar.
É uma "frustilusão".
Em cada estrela depositei um sonho meu.
Assim que terminar a construção da minha escada,
poderei trazê-los todos de volta ao céu da minha vida.
Às vezes acho que não aguento esse negócio todo, de procurar, dessa inconformação. Eu penso em desistir e me acostumar com esse nó na alma. Mas então acontece uma tragédia no mundo e bate um súbito temporal nos meus pensamentos, com vozes gritando: essa angústia não é minha não, meu irmão, larga desse negócio besta de querer carregar lixo.
Vivo procurando o sabor das cores e a alma das essências. Tentando ver um caminho em cada objeto sem vida.
Quando alguém te aponta o dedo é porque sente tanta vergonha que precisa desviar a atenção para não encarar o monstro em si mesmo.
Hoje abri os olhos e senti dor. Dor de ver, dor de sentir. Não sei se quando se acorda é tarde demais ou quando se dorme é tempo não vivido. Só sei que me perco nesse meio tempo entre o acordar e o viver, procurando saídas por este labirinto dolente.
Dizem que o inconstante é um ‘estado’, mas pra mim inconstante é ‘ser’. Minha vida se resume em cada segundo na sua inconstância. Um eterno estado de ser. Chuvas de mais, sóis de menos.