Suzanne Leal
Aluga-se um amor!
Que capricha,
afaga,
respeita,
envolvida por alguma
discussão boba,
seguida de beijos quentes
e desejos ardentes.
Aluga-se um coração!
Sonhador,
pulsante,
vibrante,
que aquece em
noite fria,
faz charme,
abraça forte
e nada mais...
Aguarda o momento. Dorme e não se preocupa, porque qualquer sentimento mesquinho é pequeno demais diante da vida.
Eu devia creer
nas possibilidades
nos sonhos
na saudade
nas verdades.
Eu devia creer
no amor
no calor
no coração a saltitar
e nas pernas a bambolear.
Eu devia creer
nas esquinas a revelar
nos desejos a mostrar
nos momentos a guardar.
Eu devia creer
no sorriso
na surpresa
na certeza
de um momento desejado
de um beijo roubado.
Eu devia creer
na vida
na paixão
na solidão
e tudo mais
que fizer bater o coração.
Eu devia creer
no desejo
na esperança
e nos meus sonhos de infância.
Eu devia creer
e somente creer
ter credulidades
e fazer de tudo realidade.
_ O que faz uma pedrinha ficar parada ali no meio tempo? _ Perguntou a curiosa criança.
_ Não sei minha querida!
_ E ela sabe?
_ Pedras não pensam minha querida!
_ E que sentido tem ela?
_ Acho que nenhum!
_ Hummm... (silêncio)
_ Eu acho que sei!
_ Sabe?
_ Sim! Elas estão ali pra que alguém que tropece.
_ Que jeito de pensar menina. O que te faz pensar isso?
_ É... porque quando as pessoas tropeçam, elas aprendem a se levantar e a limpar a poeira.
Quando é noite, eu sonho.
Quando é dia, eu sonho.
Quando é realidade, eu sonho.
Aponto tantas estrelas
que me imagino
criando nuvens de ilusão.
Primeiro, os sonhos.
Depois, sentir os pés tocarem o chão.
Pelo menos, é assim que eu tento subir escadas...
Costumo ouvir o som dos meus passos como sinos de esperança, uma busca pelo inalcansável.
Sinto cheiro de doces perfeitos, cada passo me lembra um cheiro bom de chocolate.
E com olhos afáveis, o mundo se transforma.
Particularmente, gosto do céu azul escuro enevoado, azul de cores borradas e traços marcados por luminescências.
E mais... gosto de ventos que embaraçam o cabelo e que parecem atravessar a pele causando um arrepio inexplicável.
Quase não reparo no céu azul ao meio dia, apesar do esforço de saborear todas as cores, as luzes muito fortes não me atraem os olhos.
Acredito nos absurdos da vida,
mas só naquilo que não se passa
em nosso pensamento.
É a contradição entre o
desejo e a mágica da vida.
Eu sinto, eu sei. Luzes piscam lá no fundo como vagalumes insistentes no escuro.
Essa forma de calar é cobrir os olhos, a pele, a vida.
Acalentar a alma, acalmar o coração, é um risco... é eu sei, eu sinto.
Cartas duplas, viradas, uma história, escolhida, acomodada.
Tocar as luzes, soltar as rédeas, permitir a dor de um novo nascer.
Não toco, mas vejo... é eu sei, eu sinto.
Imobilidade, ombros amarrados, rosto fechado.
Esperar o dilema, adiar a cicatriz, é eu sei... tudo está aí, sentindo-se, remexendo-se, revirando-se.
Que o mistério tenha fim.
Que o sonho seja real.
Há tanta pureza
tantos sonhos
tanta leveza.
Desejos secretos
guardados
camuflados.
Um olhar desconsertado
um coração balançado
um sorriso acalmado.
Suspiros constantes
olhos flertantes.
Coração vivo
acelerado
aliviado.
Ah eu quero voar
correr
me esconder
viver
e não despertar.
Era sonho, eu sei. Todo aquele cheiro e ousadia, aquela forma de se mover e olhar.
Tenho raiva e ao mesmo tempo sou grata por sonhar.
É um descontrole e não me culpo.
Uma semente que cresce e se enraíza, envaidece, ilumina-se.
É doce, é amargo, um emaranhado de sabores, amores e desamores.
Sopra com o vento, firma-se com a ilusão, constrói-se em folhas e esvai-se pelas águas escuras dos rios.
Não é real, de fato, eu sei. E mais uma vez não me culpo.
É só um resultado, um descontentamento momentâneo de sensações não vividas.
De todas as coisas que prometi a mim mesma...
ainda não cumpri nenhuma delas.
Meu instinto finge e me atropela,
minha coragem foge e desvia de todas as portas que a impulsionam.
Existe uma diversidade de céus construídos pelas pessoas.
Tem gente que constrói um céu tão claro, que só se consegue olhar para os próprios pés.
Tem gente que constrói um céu tão baixo, que não consigo pensar em como não se curvar para conseguir andar.
Tem gente que constrói um céu tão alto, que passa a vida inteira tentando construir asas e não percebe as correntes que lhe prendem ao chão.
Eu particularmente gosto de céus bem largos, com gosto e cheiro de chuva, com nuvens grandes desenhadas pelo vento.
Confesso que às vezes tem trovoadas, mas nada que seja tão aterrorizante quanto a possibilidade de ficar aqui para sempre.
Antigamente, admirava tudo o quanto podia. Agora, só caminho sem olhar muito. Com passos apertados, a estrada parece nunca ter recomeço.
Corro o risco de me sufocar. Não é um risco comum, mas um risco iminente, que transborda os limites de qualquer margem, que toca em qualquer calmaria, transformando-a numa correnteza aterrorizante, num amontoado de ocasiões engolidas e entrevadas em cada fio da alma.