Suzanne Leal
Eu descobri um baú de infinidades
cheio de cartas, amores, desamores, esperanças, dúvidas... e outros mil sonhos e
desencantos...
Todos os dias abro-o por curiosidade
exceto os dias em que mereço descanso.
Às vezes, quando penso que já não há mais nada
abro novamente e me deparo com criaturas vivas, cheias de palavras, laços, embaraços
inconscientes, espelhos e almas tocantes...
O baú da minha alma
Fonte inesgotável...
Mas o que eu não havia percebido é que,
sem querer, todos os dias, coloco coisas novas nele...
Renovo-o!
Agora entendi, o porque da sua infinidade... repleto de pensamentos e sentimentos...
Uma verdadeira contemplação!
E a noite me chama
pra falar de ti
da imagem do espelho
abatida, cansada
com os olhos tristes
e a expressão amargurada.
Quem és tu que me espanta a alma?
Quem és tu que esfria e adormece meu coração?
Quem és tu que não vais embora?
Sento-me à janela de olhos fechados,
imaginando o estalar distante da música que vibra em meu coração.
Vejo no pensamento os encantos a que gostaria de tocar numa noite qualquer. No
enxergar dos meus olhos,
a paisagem desajustada é desinteressante e seca.
Não seca de calor,
mas de infelicidade que é olhá-la e não sentir um mínimo de prazer.
E o que não vejo,
está destituído em um momento longe,
um encontro nunca encontrado.
E o que vejo são os restos de um retrato que nunca me despertou encanto.
Aprimorar esse instante em versos e cantos seria afundar na melancolia,
um exagero por demais incômodo pra mim.
Mas o que me resta disso tudo é respirar profundo e emudecer meu grito.
E quando me olho verdadeiramente,
me sangro com tantos incômodos vazios e sem propósito que se deslocam verozmente
em minhas veias.
Depois que os pingos
de chuva se foram
a noite silenciou.
Não se ouvia vozes
nem passos.
Só se ouvia,
perdido aqui e ali,
o som de almas
a pulsar.
Vou confessar!
Tenho um desejo escondido,
bem guardado,
lá no fundo do que dizem ser alma.
É meu
e é secreto!
Guardo-o até de mim mesma.
Se eu me contar,
poderei causar um desastre
ao que chamo de
"sossego camuflado".
Mas posso contar que
apreciá-lo seria único
e incrivelmente esplendoroso.
E mais uma vez confesso,
pouco me importaria
com o desastre
a mim pré-destinado.
Triste lírio do campo
carrega a dor de pétalas arrancadas
perdeu seu encanto
o brilho de jasmim
e agora só lhe resta o pranto.
Perdeu o amor
a púrpura cor
que radiava ao infinito
nada era mais bonito.
Até o perfume que exalava
dissipou-se ao vento
e deixou todo o tormento
de tristes dias a respirar.
Quase sem vida
com pedras às suas pétalas tocar
roubaram-lhe a plenitude
e os sonhos que tinha a desejar.
Não é mais o mesmo lírio do campo
naufragou na vida e no delírio
e ali, encravado ao chão
sucumbido naquele escuro jardim
teve seu triste fim.
Sim, eu já ouvi...!
Pare de gritar na
minha mente
porque ela faz
meu corpo inteiro
se apertar
em um espaço
que não me cabe...
És tão linda e tão doce
tão veemente preciosa
de forma expressivamente delicada.
Então...
Como pode deixar tocar-te de forma tão agressiva?
Como podes deixar roubar teu brilho de vermelho púrpura que retrata o teu encanto e
sensibilidade?
Como podes deixar ferir teu rosto, roubando teus dias de glamour e contemplação?
Como podes em teu simbolismo mais perfeito teres representado um rio tão
tenebroso?
Como podes permitir a maltratar-te a alma?
Não deixes tua inquietude e fraqueza serem o alvo central da tua vida, tornando-te
em puramente tristeza.
Tens mais que isso...
Tens alma!
Tens paixão!
Tens vontade de dar sentido a tudo que a toca!
A ansiedade causa 'nós'
e 'entrenós' na garganta,
um mar de reboliço
no estômago,
como se estivesse sempre a velejar.
O enjôo é constante
e a terra nunca está à vista.
Ouça,
há tanto silêncio no medo.
Ouça,
a noite se calou e se recusa a soprar o vento.
Ouça,
a alma que saltitava emudeceu-se em suas trevas.
Ouça,
não há pessoas, não há pássaros, é só uma cidade morta.
Ouça,
a inexpressividade do rosto que não sabe mais brilhar.
Ouça,
não escuto nada, nem em mim, nem no mundo.
Quando durmo os fantasmas aparecem
se apresentam em imagens opacas,
tons e cores sem forma...
São eles que povoam
o mais profundo da minha mente
que apresentam o que está submerso
o que está supostamente perdido
revive tudo que está em aberto
que está ferido.
São eles, que tiram o meu sono,
minha alegria, meu viver
e me prendem a uma invenção
a um 'eu' de mistérios
e portas fechadas.
São eles, a quem
preciso derrotar!
_ Me peguei pensando...
(E milhões de estrelas escapuliram fugazmente do meu pensamento. Upsss... Esperem!
Não fujam! Voltem para os seus acordeões, para os campos mais belos do espaço,
ocupem cada uma seu cantinho e encaixem-se como cada planeta e brilhem em direção
ao lugar certo).
_ Ops, um awarennes!
Quando dizes que me amas
invade meu coração
sem pudor, nem calma
com um bem querer
que me faz renascer
uma jura que me devora
no acordar da aurora
e depois me deixas sozinha
a desejar sonhos distantes
sofrendo a cada instante.
Exagerada
(em tudo, ou quase tudo),
mas acima de tudo,
intensa.
Por vezes,
é na solidão que eu me encontro.
E é na noite
que as sensações
(imaginadas ou reais)
brotam livremente.
Repare como os rostos nas ruas estão sempre longe de si mesmos.
Repare como o caminho percorrido tem algo a mais do que somente imagens vagas
passando.
Repare que o seu olhar não está focado em nada.
Repare que o botão do automático está ligado.
Repare que a energia está se consumindo de forma errada e inadequada.
Repare naquele ponto que sempre ignorou.
Repare no lixo das gavetas e na poeira dos sótãos.
Repare no que se aproxima e vai embora sem nada causar.
Repare nos sinais pelo caminho.
Repare no cachecol apertado e no peso que sustentas.
Simplesmente, repare!
Faz um pouco de silêncio!
O quarto está escuro,
a cidade está dormindo,
mas essas vozes não param...
Faz um pouco de silêncio,
por favor!
Deixe-me dormir!
Saia um pouco de perto de mim,
vá dar uma volta
e por um instante
me esqueça!
Deixe o silêncio aqui,
por um momento,
cuidando do meu sono
e tocando minha mão.
Me deixe só
por um instante!
Apague a luz
desligue o som
deixe o vento entrar
deixa meu corpo
respirar...
e meus olhos
descansarem...!!!
Não me poupe da vida
nem da alegria
nem da solidão.
Não me poupe do sono
do calor
e da paixão.
Não me poupe de sofrer
levantar
e ser guerreira.
Não me poupe de sonhar
nem do amor
nem de sentar
à beira da fogueira.
Deixe que o momento silencie
toque a mim
e me desperte para o mundo.
A felicidade é tão breve
que por vezes brinco de amar.
Invento um amor, um
nome, um sorriso...
Invento uma paixão, um
olhar, um afago...
Invento um beijo ao luar
ao embalo de uma música...
E assim, quem sabe,
nesse brincar de amar
eu chegue até o dia
que não precisarei mais
inventar um amor.
Quantos desencontros já tive
becos sem saída
sentada sozinha em uma
mesa de café.
No bar, um só drink.
No baile, uma dança separada
um anel solitário
e pulseira sem par.
Uma estadia do encontro
de uma única pessoa.
O olhar estático.
O pensamento solto.
O rosto estagnado em
uma só expressão.
Sombras e corpos separados
vida de momento.
De dia, um abraço ao vento.
À noite, ao travesseiro.
Copos quebrados.
Papéis rabiscados.
Sonhos e retratos espalhados
pela casa.
Espaços nunca preenchidos
perdidos no tempo do nada
no véu do mundo
em eterno desencontro
que sempre me leva a outro.
Gostaria de contar algo ao mundo, algo que tivesse tamanha grandiosidade, algo que
(talvez nem precisasse ser importante) fosse intenso, algo que fizesse com que as
pessoas percebessem algo de si... mas não consigo inventar, um trechinho sequer,
algum tipo de sensação ou algo parecido...
Talvez um sonho. É! Um Sonho nítido, daqueles que a gente acorda no meio da
madrugada com sentimentos e vibrações intensas, que parece mesmo ter sido real...
daquele que a gente diz "droga, foi só um sonho" ou então "ainda bem que foi só um
sonho".
Quem sabe eu só precise escrever o "tim lim tar" dos meus dias. Mas ao mesmo tempo
eu penso, o que teria de interessante em descrever as expressões dos meus dias?
Seria chato, enfadonho...
Ops! Tenho vivido uma chatice então?
Deve ser por isso que me sinto tão cansada. Sentir-se enfadonho o tempo todo deve
ser muito cansativo, suga a alma a um ponto de deixá-la sem entusiasmo, melancolia...
O estado de melancolia também é muito cansativo. Contaram-me uma vez que ninguém
gosta disso. É... devem não gostar mesmo...
Também me disseram uma vez que tudo é questão de opção, mesmo que eu escolha
fazer nada... ainda assim está sendo opção minha não fazer nada...
Só que o nada leva a nada, a lugar nenhum...
Esse tal de lugar nenhum deve ser entediante. Imagino até como possa ser, um pouco
rústico, velho, desconfortável e de cor marrom. Opa, eu não gosto de marrom, é opaco,
fechado, não combina com coisa alguma, é sem graça... deve ser por isso que o marrom
me lembra o nada...
Espera!
Eu voltei ao mesmo ciclo, voltei ao nada.
Então, está na hora de fazer um caminho diferente.
Como descrever você? Eu a descrevo como 'eu'. Soa estranho, mas é assim que a
descrevo, porque ela se encaixa em mim, ou seria o contrário, eu que me encaixo nela?
Quanto a isso não me preocupo em saber, pois basta sentir que eu sou ela e assim nos
entendemos...
Deixe-me tentar senti-la e então poderei explicá-la melhor...
É algo imenso, intenso, confuso. Quando menos espero, suas letras estão eufóricas,
agitadas, mexem-se, dançam, pulam, gritam...
Fiquem quietas um pouco! Comportem-se! Que agitação mais ansiosa! Essa ansiedade às
vezes me adoece, porque o meu corpo acaba se concentrando somente nela.
Já estou vendo uma letra balançar a perna e olhar para os lados impacientemente... o
que estaria procurando? Talvez só esteja esperando as duras palavras irem embora,
porque elas não gostam que suas letras a amarrem, nem ameacem, elas gostam mesmo
é de liberdade...
Às vezes ela me parece cansada, mas só podia estar, depois de tanta energia à solta...
Lembra-me também algo um pouco escuro, mas também um pouco claro, com tons e
contrastes avermelhados. Seria então o pôr-do-sol com a noite prevalecendo? Não,
com certeza não, porque o pôr-do-sol é calmo, a Inquietude é inquieta...
Eu tenho apenas uma coisa pra dizer à você:
Não Inquietude, não estou pedindo que pare, é da sua natureza ser assim, parar seria
angustiante, você é um tanto avassaladora e não comportada. Também não estou
dizendo que não posso tê-la comigo...
Só te peço pra gastarmos essa energia de outra forma, pois o modo como vem sendo
feito está me desgastando, me sufocando, porque senão Inquietude, como poderei
levá-la aos mais intensos e vívidos momentos, se na metade do caminho já tivesse me
desconstruído toda?
Eu a ajudo e você me ajuda... e assim vamos seguindo...
Não quero mais esse disfarce,
de estar atrás das lentes,
da roupa,
da cor pintada à força,
da imagem moldada...
Quero um sorriso desbocado,
mãos avulsas
e olhar desconsertado,
deixar as migalhas
e não mais voltar para pegá-las.
Me falta calor,
sabor,
corpo presente,
nesse momento ausente.
Horas a sós,
a dois,
respiradas num abraço,
num sopro,
num descompasso.
E uma dança,
sem música,
dança de amor,
de paixão
e não de solidão.
Carinho ao tocar,
mãos a acalentar,
gosto a despertar,
arrepio a sentir,
quando o cabelo esvoaçar.
O chão a estar presente
o relógio a observar
o íntimo e tocante
o segredo ardente
de um desejo ausente.