Suzanne Leal
Nos passos inquietos de uma menininha, me pus a observar.
Piscava e suspirava a cada gota de água da chuva que caia.
Depois de tanto contemplar o mundo lá fora, ela chegou me contando baixinho próximo
aos ouvidos que a chuva era o céu chorando de tristeza pelos homens.
Contou ainda, que ele derrama lágrimas para tocar os corações, algumas vezes em vão.
E disse confusa que não entendia o porquê de tantas lágrimas, mas que preferia
molhar-se nelas para compreender algo sobre como deixar o mundo melhor.
Não fale demais.
Não fale.
Faça tudo ou quase tudo
em silêncio.
Barulho demais
desperta a atenção
e a inveja alheia.
Existem controvérsias e estágios na vida que tiram o rumo, as expectativas, os sonhos.
Nos limitamos ao imaginário e com sua ajuda criamos uma data mística no futuro, um
ponto ideal, onde imaginamos a libertação, o prazer, a realidade bem vivida. Teus
sonhos te chamam, gritam com vozes cada vez mais sufocadas. Os momentos de
contemplação vão diminuindo e você recua cada vez mais, submete-se a situações e
pessoas destruidoras de vidas e almas. O tempo vai passando, a vida vai seguindo, o
amanhã nunca chega e os objetivos se dispersam como pó. E assim, ao poucos,
contribuímos para a morte da nossa alma. Aprender a aceitar o momento, não é
aprender a lidar com o que é ruim. É aceitar ser escravo das nossas fraquezas e
medos. A vida pede o inusitado, coragem para não se deixar fincar os pés no chão de
lama.
Temos tendência a nos focarmos no negativo.
A dificuldade é só um lado da coisa.
A maior e mais clara luz surge na maior escuridão.
Tudo depende de como e quanto nos deixamos tocar pelas sensações.
Os raios de sol (com quem tantas vezes tenho atrito)
hoje tocaram profundo a minha alma.
Uma beleza surreal.
Trouxe as nuvens densas e negras.
Paisagem mais linda que já vi.
A chuva que cai, faz deste momento a melhor parte do meu dia.
Que estranheza boa essa ventania me causa...
deixa eu voar e ir embora junto com você!
As pessoas estão se afastando rápido demais por qualquer eventual desentendimento. Encontram na separação e no distanciamento um meio de resolvê-lo. Quando aproximam-se de outra, deparam-se com mesma situação, cometem o mesmo erro. Elas estão esquecendo de entender que o sentimento verdadeiro e honesto supera qualquer eventual desentendimento, sem necessitar do "cada um no seu canto" repetidas vezes.
Você sente uma necessidade.
Uma necessidade que só fica dentro de ti.
Algo que o mundo não te oferece.
Na falta de uma companhia de espírito
olho as estrelas
sinto-as aqui dentro
brilhando em mim
para que eu sinta mais esperança
e prazer pela vida
Eu sei que há em mim
algo que quer se libertar
crescer, mudar
correr para o mundo
para as mãos livres da vida
sonhar, viver
sentir, desejar
e busca os campos verdes
admirar as estrelas
e desejar o infinito...
Liberte-me das correntes
me deixe sentir...
ME ENCONTRAR!
Que o tempo me leve
E me eternize num só querer
Puro, íntimo e breve
Aquele que não faz meu coração sofrer.
Que as horas passem assim
Eternas em cada segundo
Sem pudor dentro de mim
No mais belo pensamento profundo.
Que o sonho possa minha alma purificar
Ir até o recôndito do meu inconsciente
Me inspirar no estranho de modo silente
E assim eu possa me molhar no azul do mar.
Sonhei que meu coração
era o mar
não o mar terno e calmo
de dias quietos e serenos
mas o mar cheio de fúria
de noites tempestuosas...
e seu desalento continuava
por noites sem fim...
O mar, já então calejado
debatia suas águas em angústia
espalhando gotas chorosas pelo ar...
Esse era o mar do meu sonho.
Esse era o mar do meu coração.
[Tocar a consciência]
Me vi sentada entre as paredes do quarto. O olhar perdido como quem tenta a todo
custo enxergar o horizonte mais distante ou adivinhar o futuro.
Foi nesse momento, que uma brisa passou pelos meus olhos e por um instante perdi
meu olhar. Me dei conta daquele embrulho meio amassado, com laços discretos e uma
cor tão desafinada.
Ao me aproximar para ver o que havia dentro do embrulho, observei a tampa meio
aberta e fui tomada pelo medo, uma sensação intensa de perigo.
Por um relance, parecia um tanto assustador chegar à tamanha profundidade e
aparentemente tão desconhecida.
Foi como chegar à beira de um penhasco e arriscar jogar-me às profundas e escuras
águas do oceano, que batem agressivamente nas pedras encostadas sobre a terra.
Quando recobrei a consciência, pensei ter fantasiado e por alguns segundos, percebi
que só estava tentando ver a mim mesma.
Eu quero um ombro sobre o meu travesseiro,
um carinho terno e demorado,
que me faça suave o rosto,
o sorriso, a face inteira.
Quero uma mão que
delicadamente toque os meus cabelos,
sem choro,
sem lágrimas,
sem pitadas de rancor no coração.
Que apague a luz
e deixe que as estrelas
iluminem a penumbra do quarto.
Que cuide do meu sono e do meu sonho,
me cobrindo com um lençol de esperança...
Até assim...
pegar no sono
e depois poder acordar,
sem a desilusão de ter sido fantasia..
A racionalidade exagerada
é nada menos que a neurose
muito bem disfarçada.
São as nossas máscaras
que criamos para nos esconder
(e evitar) de nós mesmos.]
Me deixem ficar aqui apenas
sozinha no meu quarto
a contemplar as folhas secas do outono
que se amontoam pelo chão
levadas e trazidas pelo vento...
Deixem-me ouvir o som das nuvens
e admirar suas formas negras...
Deixem-me suspirar pela vida
que reflete no meu ser
assim, penso nas horas
que não posso mais perder
e nas que eu perdi...
Ah noite
que não consola,
apavora.
Chega a fazer versos
de cada pedaço
de silêncio,
dando 'nós'
em cada vento sussurrado,
inventado.
Esse negócio de querer fazer sentido... parei faz tempo, o mundo acontece e não
acontece... continuemos!
Universo: acho que nunca te pedi nada, mas hoje te peço... conspire a meu favor! Eu
aguardo, obrigada!
Mas não demore, a esperança a longo prazo me mata mais do que a certeza de não
conseguir.
Não é tristeza,
é uma vontade de agarrar o sonho,
virar e revirar os lençóis do desejo.
Por isso quero sempre dormir!
Quase a noite inteira
eu pude ver a ilusão.
Ah mundo real que me queima!
Deixe-me ver a luz que te permeia.
Há que se decidir.
Este meio termo de estar
atrás das costas é um lugar árido.
Quando se vê,
já se queimou os pés, o rosto, a alma...
Eu tenho em mim o silêncio
sábio e secreto
incrédulo e inspirador
uma companhia às horas
mudo e gritante.
E nele
fujo do caminho errante
é meu templo de sonhos
uma viagem irreal
a todos os cantos
mais que um amigo, leal
a mim.
E mesmo no fim
É meu último laço
que me dá a mão
e me apóia o corpo
sobre o frio chão.