Suzana Monteiro
Acontece que eu me esforcei. Eu fiz o que deveria. Tentei trocar de foco, tocar a vida, é como dizem, seguir adiante. Eu desisti de toda vida que planejei ao teu lado, e tentei me concentrar na minha vida que me aguarda e desde o dia que te conheci, não fiz mais questão de conhecer. Eu lutei, eu me esforcei, eu tentei ser feliz. Mas não consegui sem você.
Cheia de planos, cheia de esperanças, cheia de sonhos. O problema é que todos eles envolvem você, e quem disse que você quer fazer parte deles? Então eu fico assim, com a cabeça cheia de memórias de beijos que não vão acontecer, de lugares que eu não vou conhecer ao teu lado, de uma nova eu que não existirá sem você.
Tenho que parar de me envolver com esse poder que algumas pessoas têm. O de iludir muito fácil e rápido os outros, e acabar destruindo o sentimentos dessas pessoas. Como eu.
Uma dica: Não é porque estou sorrindo é porque estou bem, quem dirá feliz. As vezes meu sorriso é só uma máscara para esconder realmente tudo o que sinto.
Vem aqui pro meu lugar, vem. Vem sentir o que eu sinto todos os dias, vem passar por tudo que eu passo. Vem ler coisas lindas que não são pra você, vem ver eles juntos, vem ouvir dele tudo que ele sente por ela. Vem ver se é fácil o que eu passo, pra depois vir me julgar.
Eu sou tão atrapalhada e distraída que afeto a vida de outras pessoas com isso. É por essas e outras que elas se afastam de mim.
— Sou tola, Zé.
— Porque diz isso, pequena?
— Porque sou fraca… tão fraca que chega a ser engraçado.
— (risos) Aonde queres chegar?
— (…) Sofro de amores irreais, Zé. Muito engraçado dizer isso, em consideração as milhões de vezes que jurei perder essa fé devastadora no amor. Mais engraçado ainda é ver como sou boba e clichê: Bata conhecer um rapaz interessante…
— Interessante?
— É, interessante. Não me simpatizo a gente bonita, beleza óbvia óbvia é um saco, o tempo passa e leva embora. Gosto mesmo é do que vem de dentro.
— (risos)
— Soube bem assim, Zé. Basta conhecer alguém que me aspire confiança e me arranque sorrisos bobos que me derreto toda. Já acho que é amor, e invento aquilo que não é, transformo essa afinidade em grandezas sentimentais por medo de acabar sozinha. Puro medo. Sou fraca, Zé…
— E consideras isso fraqueza, menina?
— Talvez. Pra que faço isso, Zé? Pra que acho de criar esses laços se no fim acabo sozinha, emaranhada neles? Tão sufocada. Pra que fazer tanto caso em puro encanto?
— Encanto?
— É. Isso não é amor, nunca foi. Amar não passa nunca, Zé. Amor não acaba. Amar é bom, amor é a coisa mais linda desse mundo. Amar não dói, amor é pra poucos.
— E é?
— É sim, Zé. Quem sabe amar tem a pureza mais bonita desse mundo. E eu achava que tinha essa pureza, viu? Fazia dessa vontade de viver, sorrir, cuidar - essa mera ilusão que sabia amar - minha fé pra tudo.
— E isso é errado, pequena?
— É sim. Porque ninguém nunca precisou me ver sorrir pra sorrir também, Zé. E até que eu encontre esse alguém, os poetas que me perdoem, mas considero esse tal de amor uma grande besteira.
— Então espere! Tenha fé, não pare de acreditar, pequena. Tu mesma disse que amar é bom…
— Não Zé, não. Por agora não, to melhor assim. E talvez pra sempre, viu? Amor não é pra mim, nunca foi. Amar não, amar nunca! Agora me traga mais uma dose de desilusão por favor. Eu só quero esquecer (…)