Susanna Almeida
'Doce duelo'
[minha mãe e eu]
Vara de marmelo,
havia aos montes!
Fazia, ela, estoque delas!
E nas paredes
as pendurava!
Eu? Eu me esgueirava,
e sorrateira...,
a todas, quebrava!
E as exibia como um troféu!
Acreditando que ganhava
o duelo...!
'...na corda bamba,
beirando sempre os limites,
perco-me em labirintos dentro de mim.
Navego entre fragilidade,
força
e fé!'
Estou saindo dos trilhos;
Estou descarrilando...
Plano B, cadê você?
Outro meio de transporte
Eu viso...!
Quero estar esperando em um cais
imaginário,
Ainda que seja a ver navios, que jamais
atracarão para levar-me daqui.
Se possível for, até um rally,
Seria providencial!
Andar em círculos, que fosse!
Sumir daqui, dali, de lá...
Sumir de todos os lugares,
das vistas das incertezas,
Que não me revelam nada,
Das clarezas que preciso!
Que eu não sirva de exemplo; que não me elevem, jamais, a nenhum nível em que qualquer outra pessoa se encontre, seja bom ou ruim... Eu me represento em minhas antíteses; eu me perco, ora em minhas pequenas grandezas, ora em imensa pequenez...
Palavras bonitas o vento leva se as deixarmos jogadas. Ele não se importa com o que está carregando. E, elas se vão como as folhas secas caídas das árvores. É preciso dar lhes um porto, para que não fiquem à mercê do vento, ou se perderão...
A Razão deteriora o Homem em seu comportamento... Se ele agisse pelo instinto, seria menos nocivo...
O amor que eu não não vivi
teria um quê de magia?
seria etéreo,
seria eterno,
seria intenso,
seria incauto e verdadeiro?
Teria as cores do arco-ìris,
para cobrir o cinza que me nubla os dias?
O abraço que dissipa o medo,
a água da fonte que me mata a sede?
As flores na primavera vindoura nas asas do tempo?
O azul do mar...
A lava do vulcão...
Incandescente lava!
Depois o magma que perpetua
Nossos corações, em um só...?!
A vida nos reserva coisas boas na mesma proporção das coisas tristes. Não precisamos supervalorizar os maus momentos, mas devemos agradecer sempre, cada momento bom... Lembrando que, cada um tem uma maneira peculiar de enxergar as coisas.
Prefiro os loucos aos sãos. Os sãos procuram lógica onde não existe, enquanto os loucos se deliciam na insensatez, sem precisar sequer defini-la.
Ainda estou à procura de mim nessa equação... Devo estar em algum ponto qualquer de um segmento qualquer...
Talho-te uns versos
De ausentes rimas,
Não "rimas pobres",
mas pobres rimas!
Talho-te uns versos
de rimas soltas...
Falo da flor,
porque o poeta, dela se encanta,
Misturam-se tanto!
Que fazem um pacto,
misturando as seivas...
Ele com sangue, ela com néctar!
Ele, ao colhê-la, ela se vinga...
Espeta-lhe os dedos.
o sangue lhe pinga.
E ali, se misturam, e dá-se a fusão!
Tornam-se um só...
Talho-te uns versos,
porém, pouco posso...
Pois sempre me fogem os ventos
da inspiração...
Aprendi a amar o deserto... Hoje, lamento os passos - involuntários - que me levou à civilização... Nunca mais pude estar a sós comigo.
Não deveria ser um mal entendido...
Nada entendo de mal entendidos...
Deveria ser um bem entendido,
descomplicado,
livre como o vento que desalinha meus cabelos,
tão certo como o sol de cada manhã...
Necessário como os pingos da chuva;
vital como o ar que me dá a vida!
Não deveria ter deixado este vácuo onde me perco!
Mil interrogações, onde deveria haver apenas reticências...
Ou ainda, na pior das hipóteses,
um ponto final...
'Efêmero'
Não devemos ir com muita sede ao pote,
Por mais límpida e convidativa seja a fonte.
Há o perigo de nos afogarmos...!
Não juremos amor eterno,
quando seja, talvez, apenas,
uma brisa passageira.
Com tempo certo para ir embora,
tão logo mude a estação...;
Sabemos como são mutáveis as estações
e, efêmeros os calendários...!
No ir e vir do tempo, levam e trazem
nossos sentimentos,
Quando frívolos e ordinários!
O que tem que ser já está fadado...
De resto, só nos restam tentativas
e não raras decepções...
'Becos'
Os becos sem saída,
nos prendem a dores
longínquas,
acumuladas,
extravasadas
por todos os poros,
querendo sair...
O silêncio é um prêmio do qual o tolo nunca desfruta. Que todo o silêncio seja usado sem moderação... Que ele não destrua, mas mantenha o que se construiu no exercício de bem viver. Se tivermos que abrir mão de usá-lo, que seja, então, para transmitir apenas o que a alma grita.
O tempo! O tempo é mesmo pura invenção...
Antes de ser marcado o que era?
Apenas a espera,
sem definição...
A tendência é nos encharcarmos da luz que PENSAMOS ter... E ficamos tão EMBEBIDOS e EMBEVECIDOS dela, que permitimos que fiquem atravancados os caminhos ao nosso redor impedindo a passagem da verdadeira luz! Aquela, que TODOS somos capazes de gerar... Na verdade somos como NARCISOS, nos mirando em cacos de espelhos...
Tem minha admiração e meu carinho sinceros, aquelas pessoas que partem em busca dos seus sonhos, que não medem esforços no afã de conseguir realizá-los, como se deles dependesse a vida. Que não se escondem em suas conchas, antes se arrisca. Pessoas que partem do princípio de que já tem o não, e saem na luta pelo sim, todos os dias...
Às vezes é como sair de um quadro e ousar ocupar um lugar que não existe no plano físico. Então percebemos que precisamos voltar para o quadro e retomar o nosso lugar na pintura, no desenho, na garatuja, na parede...