Sumã Pedrosa
É te vendo que te desvendo.
No teu silêncio escuto ecoar teu grito...
É amargurado, solitário, dolorido.
Não percebes a mão ali, pronta, ao teu lado, à espera.
Queres que alguém te puxe daí desse teu abismo.
Anseia por uma mão que possas chamar de amiga e reclamas:
_ Não há uma só!
Deveras, não há só uma mão a tua espera. São muitas!
E elas aí estão, frente ao véu de tua cegueira.
Por que não me puxam, então? _ perguntarás.
Porque teu abismo é um raso degrau;
Porque ao te puxarem não sairás do lugar;
Porque é de ti que deve partir o encontro das mãos.
Tantas vezes já tentaram e não te alcançaram!
Quando acreditavam te agarrar,
Atravessaram um espectro que não se deixa palpar.
Vejo-te clamar em silêncio sem aceitar resposta.
Sinto teu olhar suplicante fincado no chão.
Queres abrigo, mas enjeitas o amigo.
Alma em noite escura,
Espreito teu amanhecer.
Ao menor sinal de abertura,
Estarei aqui para te acolher.
Humilde aprendiz
A poesia me salvará, Adélia diz.
Salvará aquele desconhecido poeta
e a mim, humilde aprendiz.
Só Jesus salva, constrange-se ela.
Mas de muitas formas ele fala!
É Palavra poética.
Harmonia, alegria, remanso, descanso, salvação.
Pronto, já me acalmei!
Regulados estão coração e respiração.
A quem pergunte:
Onde poesia nessas linhas há?
Respondo: Na inspiração.
Inspiração do ar,
Que antes da garganta não passava;
Inspiração do pensamento,
Que refúgio soube buscar.
Sim, a poesia me salvará!
Dar vida à letra...
É preciso tristeza para dar vida à letra.
- Ouvi dizer.
Digo que não é assim.
Na alegria também com a pena se brinca.
E o traço é bonito, bailado...
Afastar-se do cálamo vem do perder-se de si.
Nada se ouve que não o rebombar da superficialidade;
Para o olhar, falta clareza;
Tudo é turvo, opaco, obscuro.
Sentidos carregados de pressa, urgências, emergências.
Incoerências!
Para se escrever é preciso sentir.
Um sentir mais abstrato que os sentidos...
Um voltar a si de forma concreta
O íntimo cuidadosamente vasculhar.
Sentir, olhar, ouvir com vagar
O passar do momento, do espaço, do tempo.
Mas se me perco até de mim,
Que coisa posso eu oferecer?
Se não mais escrevo, não é por faltar tristeza;
A falta é de profundidade!
O que pode haver de mais triste?
Não é inspiração que me falta,
Falto-me de mim.
Há tão pouco, sentia falta apenas de ti.
Agora perdi-me de mim,
E tu ainda não estás aqui!
Aperfeiçoa teu amor
Quisera saber como chegar;
Quisera perder o medo.
Medo do olhar de repulsa,
Mas também do apenas civilizado;
Do mero acenar de cabeça,
De toda cerimoniosa formalidade.
Medo de a palavra engasgar,
De obrigar-me a reprimir a euforia,
De ter de o abraço amordaçar;
De, depois de tanto aguardar,
Permanecerem entrelaçadas uma com a outra
As minhas próprias mãos.
Ah, por que tão grande temor?
Se é amor que em ti permanece,
Deves essas inquietações transpor!
'O perfeito amor lança fora o medo', ensina a Palavra;
Aperfeiçoa, pois, o teu amor!
O que pode o mundo mudar.
Aquilo que você tem a dizer e não diz
É isso mesmo o que eu quero ouvir.
Aquilo que está aí entalado
Quase conseguindo seu corpo sufocar,
É precisamente o que
Pode o mundo mudar!
A milagrosa Palavra que o criou
Também no seu ouvido um mister sussurrou,
O seu quinhão para tornar nossa azul esfera
Em harmoniosa atmosfera...
Mas você só pondera: será?
Sim! A voz assim engasgada é estéril!
Como seu fruto desabrochará?
É oração, já febril, sedenta de seu rumo tomar!
Ah, por favor, não diga: mas eu não sei falar.
Exclama! Clama! Ama!
Sua missão é comunicar!
Diante da fraqueza
Diante de circunstâncias em que penso ou digo:
'Tudo o que estava ao meu alcance foi tentado.'
'Nada mais posso fazer!'
'Resta, apenas, confiar em Deus!'
Chego até a sentir um alívio diante da minha fraqueza!
Lembro-me da fala de São Paulo:
'Quando sou fraco, é que sou forte.'
Tão límpido isso depois que tiramos o véu da descrença!
Não tenho mais forças!
Sou então 'forçada' a deixar a questão nas mãos de Deus.
Ora, mas quem é Deus?
Ninguém menos que o Todo-poderoso!
Aquele ao qual eu já deveria ter recorrido
Desde o início das minhas batalhas.
Aquele com quem eu já deveria ter falado
E consagrado, de coração, as minhas lidas.
Não é incrível que Ele seja o Todo-poderoso
E que, ainda assim, esteja tão perto de mim?
Não é extraordinário que tenhamos a Ele livre acesso?
Não é incompreensível que dele nos esqueçamos?
Não é adorável que Ele nos ame tanto e espere por nós?
Bendita seja a fraqueza que me faz lembrar do Pai!
Bendito seja o fracasso que me leva para Deus!
Bendita seja a esperança que brota da queda!
Bendito seja Deus, que nos reergue sempre por sua misericórdia!
Que o tempo não esmaeça o sorriso;
Que cândida permaneça a esperança;
Que a existência seja senda ao paraíso;
Que a fé tenha idade de criança.
E que eu sempre me lembre de saudar a vida!
Sim, ao soprar mais uma vela,
Que eu reverencie a vida!
Que seja eu continuamente agradecida!
Verbalize
Declare seu pensamento
Proclame seu amor
Exponha bom argumento
Revele seu valor.
Demonstre uma probabilidade
Compare conhecimentos
Clame pela verdade
Da Palavra faça alimento.
Verbalize!
Ressalte uma importância
Denuncie incoerências
Destitua a ignorância
Supere deficiências.
Professe a alegria
Declame o admirável
Derrote a fantasia
Componha a liberdade.
Verbalize!
Espera o mundo por sua voz
Contorce-se e geme, preso à escravidão.
Que o seu brado venha veloz
Pleno de ardor, virtude e paixão!
Caniço rachado
Às vezes tenho vontade de acabar de quebrar
O galho que só se sustenta pela casca.
Nem mesmo sua aparência dissimula mais.
Mente que está ligado à raiz,
Mente que dele algo ainda brotará.
Então me lembro do caniço rachado
Na Bíblia citado...
"Ele não quebrará o caniço rachado,
Nem apagará a chama que fumega..."
É hora de recordar as tantas vezes
Em que o caniço era eu
Em que minha chama era só fumaça.
Melhor deixar o galho pela casca atado
Quem pode saber o que vem do tempo e da graça?
Se aguçar com jeito o olhar,
Possível será, bem na rachadura,
Ver o novo broto a despontar!
Houve um tempo em que eu era forte
Coisa alguma abalava meu porte
Proibia lágrima e medo
E o riso encobria o enredo
Verdade descortinada
Força existe em aceitar a dor
É preciso coragem para ser vulnerável
Cavalgar a onda, pedalar na corda bamba
É preciso coragem para mostrar a paixão
Fortaleza é não fingir
Revelar o coração, saber gostar de si
Orgulhar-se de Ser
Engolir a empáfia e estender a mão...
Houve um tempo que em que eu era forte!
Confessei-me e fui absolvida
Saúdo com gratidão minha sorte
Agora estou promovida
Hoje sou só gente!
Estranha pretensão
Quem me dera saber cultivar um verso,
Plantar a palavra e vê-la nascer...
Quem me dera ganhar dela seu significado
Entendendo-a num contexto totalmente particular...
Quem me dera ter o dom da espera!
Rabisco o que é próprio do efêmero
Traço o que a alma sente e eterniza em um segundo
É como se pudesse prender, por um instante, o momento que passa.
Assim presa, posso observar, com outros olhos, uma realidade antes já vista;
Eram outros os olhos, ainda que meus.
Não é estranha essa pretensão de prender o tempo, o espaço, o contexto?
Enquanto cá estou a mudar os meus pontos para ter melhor vista,
Já está ele lá ao longe, sem se preocupar com a minha crença em tê-lo aqui grafado.
Nem de mim se apercebeu!
Aqui já esteve, cumpriu o seu fim e se foi.
Cá fiquei, eu sim, preso em minhas reflexões!
Quem sabe se um dos seus objetivos não era mesmo em pensamentos me aprisionar!
Intrigante esse estar preso em meio a meditações
São elas que me libertam
É mesmo embalado em ensaios e devaneios
Que vou me tornando livre
Que vou me desvencilhando de prisões até então desconhecidas.
Ah... Quem me dera saber cultivar um verso!
Quem me dera ter o dom da espera!
Felicidade é só uma escolha
Aquilo que dizemos e o modo como dizemos, cada palavra e cada gesto ou comunica, ou desintegra. E é bem necessário pararmos para analisar como estamos ecoando no cosmos. Se nossas palavras e gestos são de generosidade, misericórdia, alegria e ânimo, isso ressoará e se expandirá como aquelas ondas circulares que vemos quando jogamos uma pedra na água. Estaremos nos comunicando, e podemos aqui definir a comunicação como amor. O amor é pura comunicação!
Mas se nossas palavras e gestos forem negativos, pesados, cheios de rancor, a onda também acontece e infelizmente também se expande. Porém, isso não pode ser chamado de comunicação, pois é o seu avesso. Gera divisão, destruição, choro e sofrimento que se repete e se prolonga em cada nova onda. É a "palavração" e gesticulação do mau. Também reverbera pelos ares e causa um dano pavoroso. Mas jamais pode ser chamado de comunicação; é o que há de mais distante dela; é a sua negação.
Ser feliz é o anseio mais profundo de todo homem e de toda mulher em qualquer idade de sua existência. Só que essa felicidade não é uma realidade a ser procurada, encontrada; é uma realidade que se constrói. Cada pessoa irá contribuir a favor dessa construção ou contra. É sempre uma escolha e escolha feita todos os dias, frente a cada um que encontramos em casa, no trabalho, nas ruas, e em todo e qualquer lugar em que estejamos.
Todos queremos um lar aconchegante, um ambiente de trabalho harmonioso, amizades duradouras, amores para a vida inteira, e histórias reais com o viveram felizes para sempre; mas é mesmo necessário cada um fazer a sua parte no enredo. A felicidade é uma construção que tem por argamassa as palavras e por tijolos e vigas, os gestos. E nesses tijolos e vigas, todas as expressões corporais e faciais; e todos os olhares. E nessa argamassa, toda entonação, pausas e intensidades que acompanham as palavras.
Podemos escolher nossos gestos. Podemos escolher nossas palavras. Podemos nos aplicar ao que fazemos com amor e dedicação. Podemos olhar para as pessoas com empatia. Podemos ser melhores do que temos sido. Podemos fazer as coisas de uma forma melhor do que temos feito. É só fazer uma revisão sincera de nós mesmos para constatar que isso é verdade sim. E se assim é, também é verdade que se podemos, isso é uma escolha.
Está em nosso poder ecoar o bem e a felicidade. É claro que esse é o desejo! Todavia, para que os desejos se tornem realidade são necessárias atitudes, boa vontade. Vontade: aquela disposição de espírito para o agir; aquela energia que nos firma nas decisões, aquele empenho em se conquistar aquilo em que acreditamos... Está em nosso poder. A escolha é nossa! O material de trabalho para essa construção, para esse empreendimento, já o temos. O convite agora é: Mãos à obra!
Amor presente
Não, eu não vivo de passado.
Valorizo o agora, o já,
O que comigo aqui está.
E é agora que eu te amo!
Sim, também te amei em tempos idos:
Amei, amava, amara
Em todos os pretéritos do indicativo.
Hoje eu te amo!
Amanhã, e depois, e depois...
E ainda depois, a certeza é te amar.
Mas pouco importa o que foi ou o que será.
Interessa o que tenho agora: o amor presente.
E é tão presente, e tão veemente...
Que é como se estivesses aqui.
Aquele abraço!
Tão especial é a amizade que tem data comemorativa celebrada em vários países do mundo e, é claro, muito comemorada no Brasil. As Nações Unidas convidam todos os países a celebrar o Dia Internacional da Amizade no dia 30 de julho, inspirando-se na Cruzada Mundial da Amizade, uma campanha para fomentar a cultura da paz, em 1958. Outra versão vem de 1969, quando, em 20 de julho, o homem fez uma visitinha à Lua. Essa versão considera que a chegada do homem à Lua é, para além da vitória científica que representa, um convite à união.
Cerca de cem países adotam a data de 20 de julho para comemorar o Dia da Amizade, incluindo o Brasil. Estou aqui comemorando a amizade, fazendo memória de minhas amizades mais distantes no tempo, de quando eu era pequenininha lá em Brasília, lembrando de uns nomes, tentando lembrar de outros de que lembro só dos rostos... De quando minha família e eu saímos de lá e ganhamos outros rumos... e mais amigos... Aliás, que amizade linda e plena a que temos em família! Que dom, que presente maravilhoso!
Estou aqui a lembrar dessas amizades todas. Muitas que vão ficando para trás, por tantos motivos, mas que estão sempre aqui presentes, mesmo que veladas; pois fazem parte do que sou hoje. Tem um pedacinho de mim que é como é por ter vivido aquela amizade. Não é lindo isso: um permanecer para sempre no outro?
Passeando por tantos rostos, por tantos nomes, por tanta gente querida, olho com amor e gratidão para aqueles que hoje me acompanham, os meus amigos antigos e recentes. Ternura imensa me invade enquanto penso em vocês; e lembro da passagem bíblica: 'Quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro." E que valioso tesouro eu tenho! Quanta riqueza!!! Sinto-me então como a pessoa mais abençoada do mundo!
Com esses pensamentos, volto a atenção para o futuro, para todos aqueles que ainda virão. Ainda não lhes conheço o rosto ou o nome. O que sei é que serão muitos. O que sei é que serão extraordinários! Sei que, de alguma forma, ficarão em mim e eu neles. Sei que viveremos cordialidade, benevolência, fraternidade, estima, apreço, entendimento... E agradeço a Deus por todos os amigos que ainda colocará em minha vida e que também me levarão para mais perto dEle.
Porque amizade que é amizade de verdade é mesmo isto: um levar para mais perto de Deus, um viver um pouco do Céu aqui na Terra. Às vezes a pessoa nem sabe que está levando a outra a ser mais de Deus, às vezes nem tem essa intenção consciente. Mas faz isso, porque a amizade é um centelha divina que nos induz a sermos anjos uns dos outros e estar ali para quando o outro precisar.
Então, para vocês, meus amigos tão queridos, aqueles que há tanto tempo não vejo mais; aqueles que têm caminhado hoje comigo nesta parte da jornada; aqueles que me darão as mãos numa curva mais à frente... AQUELE ABRAÇO!
Conjugar o bem.
Em nossa vida, temos inúmeras oportunidades de abrir caminhos para o bem. Utilizamos umas tantas; outras deixamos passar; algumas, nem as percebemos. Mas é possível sim, se quisermos, de fato, promover o bem. O bem gera o bem... e se torna uma reação em cadeia, resultando num mundo mais fraterno. É verdade que, às vezes, temos a impressão de que os esforços pessoais empreendidos não têm um efeito maior do que os de uma formiga que carrega um grão de areia para longe da praia; mas, como sugere a teoria do caos, ativada essa partícula de bem, desencadeia-se a ativação de outras tantas partículas que estão ao redor, liberando forças inacreditáveis!
Pode ser que você e eu sejamos bastante cordiais, pode ser que cumpramos adequadamente todas as nossas obrigações, pode ser que nos olhemos com a alegria de saber que somos boas pessoas. Isso tudo é realmente maravilhoso! Mas talvez ainda não tenhamos começado a nos preocupar com os menos afortunados. Talvez ainda não tenhamos percebido que a nossa própria felicidade fica um tanto menor quando os outros estão um tanto infelizes. É mesmo preciso que cada um de nós façamos aquilo que está ao nosso alcance! Não é justificável que vivamos em meio a tanta miséria, a tanto sofrimento, crueldade, injustiça.
Mais do que viver, precisamos de sentido em nossas vidas! Descobrir o sentido de nossas vidas passa por ajudar outros seres humanos; passa por despertar o bem nos outros a partir do bem que fazemos. Impulsionar o bem alegra a vida; a sua, a minha, a de todos nós! Além de ser o amor em verdade. Muitas são as vezes em que nos deparamos com uma situação de frio, fome, necessidade na qual poderíamos fazer algo, mas passamos como se nada tivéssemos visto, ou como se tal situação não nos dissesse respeito.
Muitas, ainda, são as vezes que até rezamos para que Deus venha em auxílio dessas pessoas que tanto têm sofrido. É preciso entender que somos nós mesmos a resposta das orações desses nossos próximos. Podemos ser os anjos enviados, entendendo que as orações são bem-vindas sim, mas serão ainda mais eficazes quando vierem acompanhadas de alimentos, agasalhos, carinho, emprego, palavra, estudo, olhar de bem-querer...
Há uma música italiana que fala sobre o pranto de Francisco, que julgava não dever amar nada nem ninguém para poder amar 'só a Deus'. O Senhor sorri e responde dizendo que ele não precisava chorar, já que Francisco amava tudo o que Deus, de forma plena, ama. Feliz será aquele dia em que entenderemos que o amor a Deus e às pessoas é um só amor. Feliz será cada dia em que as oportunidades de eclodir o bem sejam todas desfrutadas por nós!
Decisão
É o momento!
Aquilo que era fica agora para trás.
Está fora, cortado!
Diferente, ora em diante, o modo de ser
Os jeitos de caminhos abrir
O ritmo do caminhar.
É o momento!
O alvo será alcançado.
Coragem emanando do coração
Planejamento engendrado pela razão
Corpo e mente se dando as mãos.
É o momento!
Nenhum passo se desviará
Ainda que pareça faltar o ar
O Senhor há de abençoar
Mais uma vez enviará o maná.
Querer será mesmo poder.
A trilha acontecerá com fé
Envolvida em oração a marcha
E a meta?
Já pode ser vista
Bem ali... no próximo ato.
Sempre aqui
Não vai passar
Estará sempre aqui
Nem sempre leve
Nem sempre um peso
Mas perpetuamente aqui
E a todo momento sentido
Às vezes doído
Às vezes garrido
Mas jamais se retira
Peito aperta
Mente reza
Peito alivia
Mente agradece...
Sai ano, entra mês
Vontade e medo do abraço se entrelaçam
Qual é maior: a dúvida ou a espera?
Certeza uma só: Não vai passar!
Estará sempre aqui
Pulsando internamente no meu lado esquerdo
E quando não houver mais pulsar,
Aperfeiçoar-se-á.
E comigo transcenderá!
Vai! Segue teu caminho!
Alegra o semblante, dá passos resolutos.
Não olhes para trás,
É o teu chamado. Responde: Presente!
Desnecessário despedidas.
Acostumar-me-ei com tua ausência física.
Já te tenho gravado na alma.
Estranharei o não repousar dos meus olhos nos teus,
Mas tua imagem é tatuada em íris, retina e cristalino.
Todo o meu ser vê os contornos teus.
É certo: superarei também o não ouvir tua voz.
Vou imaginar que ensurdeci,
Parecerá que todos os órgãos do sentido encontram-se em desordem.
Mas sei: serás feliz!
É claro que também serei feliz!
A alegria é minha raiz etimológica.
Entanto, por ora, estão aflorados todos os sentidos.
Saudáveis, latentes, irracionais.
Não foram feitos para compreender;
Conhecem com seu jeito subjetivo, sublime...
Sinto já! Sinto agora!
Um líquido quente escorre;
Cachoeira salgada torrente sobre minha face
Alcança meus lábios (que insistem em tremer).
O que te faz feliz no Natal?
Tempo de Natal...
Clima de Natal...
Luzes de Natal...
O que tem o Natal de especial?
Solidariedade que brota no coração das pessoas?
O perdão, que mais facilmente é concedido
E mais humildemente pedido?
Intenção de, por ora em diante, cultivar a ação boa?
O que tem o Natal de imaterial?
Amizades que a saudade rememora?
Apertado e longo abraço que é dado como penhora?
A reunião em cada família, chamando à verdadeira união?
As memórias, cheiro de chuva, de assado e de pudim de pão?
O que tem o Natal de essencial?
Uma criança que nasce!
Repleta de alegria a casa se torna.
Já antes, os preparativos a faziam alegre!
A ativa espera havia posto fora a antiga madorna.
O que tem de feliz o Natal?
Uma criança!
Amor no olhar de quem a vê...
Sorriso nos lábios daquele que nela crê...
Coração aquecido de quantos a pegam nos braços,
e a afagam, e a apertam carinhosamente contra o peito!
O que tem de feliz o Natal?
Um menino!
Renasce nos corações a esperança.
Deus um de nós se faz.
E todos os anos nos chama a essa lembrança.
O que tem o Natal de feliz?
Ao nosso encontro Ele vem;
Pede que nos lembremos de nossa raiz.
Humana carne Ele assume;
Em nós, ainda confia; Ele diz!
Salva-me, Senhor!
Suave é ainda o vento
Pouco se agiganta, ou nada;
Já me encontro desestabilizada.
Tão pequena a minha fé!
Dividido o coração,
Um perfeito campo de batalha!
Instável ser,
Misto de luzes e sombra,
Dos dEle os meus olhos desvio,
Já me afogo nalgum drama.
Num pensamento, meu grito O alcança
Pronta, Sua mão salvadora a minha toma:
_ Por que vacilaste?
Feliz e envergonhada exclamo:
_ Ainda sou uma criança!
Acalmada pela certeza de Sua presença
Alegre e confiante segue minha existência.
Lembro-me uma vez mais de que
As preocupações posso entregar-Lhe.
É mesmo Ele quem sabe
do meu caminho cada detalhe!
Importa é ser pequeno; se inteiro.
Se verdade, se concreto, se perene.
Importa é ser miúdo; se pulsa.
Se explode, se arrasta, se aprende.
Importa é ser real!
Importa é ser simples; se vivo.
Se elevado, se digno, se nobre.
Importa é ser comum; se anima.
Se envolve, se floresce, se alegra.
Importa é ser ser!
A efemeridade pode se retirar.
É dispensável!
Dispensam-se firulas,
Lisonjas estão banidas.
O que é, é o que basta.
O que de fato é, é reto, é puro, é íntegro.
É existência, é essência, é consciência
Sendo imóvel,
Ecoa e os seres comove.
Importa é ser!
Amigos distantes
Chegam suavemente,
Arautos de vivacidade e alegria
Vêm, trazem seu canto, seu encanto,
Suas manias e uma dose de magia...
Alguns ficam pouco tempo.
Tendo sopro andarilho
Acompanham os chamados do vento.
Outros se demoram mais,
Metamorfoseiam a existência ao seu redor.
Tornando-se muito especiais
Mas quase sempre se vão.
Uns retornam de tempos em tempos.
Contam das maravilhas e dos embaraços,
Riem das aventuras e dos tropeços,
Trazem ternura e afetuosos abraços.
Todavia, têm espírito viajante e se vão mais uma vez...
Mas o contentamento do reencontro é o que permanece.
Fica também a esperança do próximo retorno.
Em nós penetra o sentimento de alma ressurgida.
Misterioso regalo de jovialidade renasce!
Querubins sem asas, portadores de graça;
Fontes de bênção, de inspiração que jamais passa;
Dons que nos são por Deus concedidos
E pelos quais meu coração é sinceramente agradecido.
Despertar do amor
Redescobri meu amor por mim te amando.
À medida que compreendia o que é te amar,
te querer bem, alegrar-me com teu crescimento,
com tuas realizações, fui relembrando como me amar também.
Por tempos, andei suplicando por fragmentos,
confundindo-os com amor.
Por tempos, aceitava migalhas para enganar, momentaneamente,
a enorme fome persistente da alma.
Por tempos, apenas gotas de afeição
foram suficientes para me manter viva,
sem, no entanto, reavivar-me.
Agora não mais.
O antigo amor, aquele que já existia em mim,
foi despertado de seu longo sono.
O seu despertar tirou minha alma do estado de coma.
E me amando novamente, também aperfeiçoo o amar a ti.
Não quero mais fragmentos. Não preciso deles!
E me amando finalmente, também não sou mais capaz
de amar em frações.
Assim mesmo, sem se despedir, foi que ela partiu.
Não quis dar o definitivo adeus
Não lançou olhares de lamento
Porque era chegada a sua hora.
Somente se foi.
Não precisava dizer aos que amava
Que assim os queria.
Seu olhar meigo e penetrante
Sempre essa mensagem transmitia.
Desnecessário pedir que dela se lembrem
Não há quem a tenha visto sorrir
Que possa esquecer-se de tanto brilho.
E foi assim, com a suavidade própria de uma diva
Que recebeu seu chamado para ir fazer poesia no céu
Deleitar-se com os harmônicos musicais dos anjos.
Agora é mais um com eles!