Soren Kierkegaard
Semelhante àquele cavaleiro, tão falado nas lendas, que subitamente vê uma ave rara e teima em perseguí-la, julgando-se de imediato prestes a atingi-lá. Mas a ave novamente se distancia até o cair da noite. Então o cavaleiro, distante dos seus e perdido na solidão já não sabe o caminho. Assim é o possível do desejo.
Frustar alguém no amor é a mais terrível decepção; é uma perda eterna para a qual não há compensação, na vida ou na eternidade.
A mulher é sonho. Ela apenas desperta ao contato do amor. Mas nessa existência do sonho, podemos distinguir dois tempos; Primeiro o amor sonha com ela, depois ela sonha com amor.
A espiritualidade da mulher tem um caráter vegetativo. Encontra-se sob determinação da natureza e consequentemente só esteticamente livre, num sentido mais profundo, apenas se torna livre através do homem.
Aquele que se amou a si próprio foi grande pela sua pessoa; quem amou a outrem foi grande dando-se. Mas o que amou a Deus foi o maior de todos.
Não importuno Deus com mesquinhas inquietações; fixo os olhos unicamente no meu amor, cuja chama clara e virginal, guardo dentro de mim. Confia a fé em que Deus cuida das mínimas coisas.
Amar a Deus sem fé é refletir-se sobre si mesmo, mas amar a Deus com fé é refletir-se no próprio Deus.
O "eu"é uma relação que não se estabelece com qualquer coisa alheia de si, mas consigo própria. Mais e melhor do que na relação propriamente dita, ele consiste no orientar-se dessa relação para própria interioridade. O "eu" não é uma relação em si, mas sim o voltar-se sobre si própria depois de estabelecida.
O homem é uma síntese de infinito e de finito, de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade, é, em suma, uma síntese. Uma síntese é a relação de dois termos. Sob este ponto de vista o eu não existe ainda.
A coisa crucial é encontrar uma verdade que seja verdade para mim, encontrar a ideia pela qual eu esteja disposto a viver e morrer.
É preciso uma coragem puramente humana para renunciar a toda a temporalidade a fim de obter a eternidade.
A deceção mais comum é não escolhermos ou não podermos ser nós próprios, mas a forma mais profunda de deceção é escolhermos ser outro antes de nós próprios.
Mas quando alguém prega o cristianismo de tal forma que o eco responde: "Fora com esse homem, ele não merece viver", saiba que esse é o cristianismo do Novo Testamento.
Há duas maneiras de ser enganado. Uma é acreditar no que não é verdade; a outra é recusar a acreditar no que é verdade.