Siomara Reis Teixeira
PROFUNDO ARDOR
Doce mel, mel de jasmim
Homem, menino, ou anjo querubim?
Em pensamentos, em ti estou...
Em pensamentos, estás em mim!
Imaginamos sim, dedos perdidos,
percorrendo aflitos, enfim...
Nossos cabelos, caracóis de algodão.
Corpos sedentos, gemidos contidos
Desejamos sem fórmulas ou elaboração
Vagamente por tudo, é certo o temor!
Intensamente contudo, é profundo o ardor!
APENAS A VIDA
Apenas a vida que descortina-se por inteiro
Na certeza de um amanhã iluminado
Arraigada a novos valores
Ao encanto do existir
Do compreender
E unicamente, viver!
PARA UM GRANDE POETA
Sempre que venho te ler e venho constantemente
Passo meio que silenciosa. Parca anda a minha prosa
Então calo... Nada falo! Nem te trago presentes
Eles seriam a menção ao exteriorizar
Que a leitura dos teus versos me deixa contente
Mas, não sei de onde me vem este desejo
De estar de mim mesma, sempre ausente
Então venho e fico e pé-ante-pé, sorvo cada letra
Absorvo teus poemas, as tuas rimas
Que estão muito acima de quase tudo que leio por aí
Exploro tuas letras e em minha mão a caneta gira sem parar
Sinto a tua alma borbulhando anseios em devaneios febris
Tua poesia me é imã, inspiração, âmago, emoção
E nas entrelinhas reconheço os teus sonhos juvenis
Poeta que encanta e que suplanta o modo de cada um
Como agora, em que vi ir embora o meu próprio estilo
Para em ovação estilizar unicamente, o teu próprio brilho.
(Poema Dedicado ao Poeta, Ricardo Borges)
CORPO E PAIXÃO
Quem disse que é fácil não beijar tua boca
Arrancar nossas roupas e a tudo querer
Quem disse que é fácil a ti resistir
Saber que esta aqui e só te perder
Quem disse que é fácil arfar feito louca
Ficar sem o ar e teu corpo não ter
Quem disse que é fácil, a voz meio rouca
Sentidos atentos, fazendo doer
Quem disse que é fácil o amar por inteiro
Ainda que fossem só corpo e paixão
A lassidão dói, é tiro certeiro
Faz marcas profundas em qualquer emoção
O PRAZER DE SONHAR
Tu és doce, és suave, és sereno,
Nada preciso explicar,
Meu lindo menino moreno...
Ah! Deixe-me por breve momento pensar
Que o tenho aqui, ao meu lado
E apaixonado estás, a me abraçar.
Peço-te, por favor, continues calado
E conceda-me o prazer de sonhar!
ESPELHOS
Se me vejo em você e a recíproca é verdadeira
Nem quero saber se do espelho a moldura
É de plástico, metal ou madeira
Divina é toda a sua composição
Alucinante! Os budistas que me perdoem
O ego agradece e esquece a tal aniquilação
Um convite constante a total embriaguez
E se for para me embriagar
Quero sorver letra por letra de toda sua inspiração
CHAMA
Poética e intensa é esta chama
Desperta em sensualidade intermitente
Desejo penetrante desta trama
No corpo que hora arde incandescente
Coberta por cristais está a cama
Teus verdes olhos, o deleite mais urgente
Quero teus segredos como quem ama
Fazer da tua vontade, loucura indecente
O enigma em nós é quem agora clama
Arquiteta a imensidão de um amor ardente
Vastidão de paixão, martírio que reclama
Quero teu corpo, profana e eloquente
Viver o perigo de ser a tua dama
E dos teus lábios beber tua saliva quente
DESLEALDADE
Quando relembrar o quanto me doei
Pense na profundidade da deslealdade
Lembre de todas as palavras que falei
Que o preço da bondade, agora é, realidade
Quando lembrar o quanto me entreguei
Da bola que aos teus pés, rolava em suavidade
Saiba que muito, muito me esforcei
Para ignorar e relevar, tamanha crueldade
Pegue todas as lembranças, como já peguei
Sem esquecer da ação, a gravidade
Enterrando tudo, como eu, já enterrei
Termino logo o rasgo, uso a sanidade
Já que nunca respeitou os sonhos que sonhei
Verto breve, o desamor, gratuito da maldade
AMOR CÓSMICO
Não me pergunte
E não se pergunte
Como é o verdadeiro amor.
Na coexistência, é sagrado.
Em alianças cósmicas,
Previamente traçado.
Nas límpidas essências,
Suavemente delineado.
Na união, a consciência
E por Deus Pai, abençoado.
NOITE
Apenas,
Noite...
E a lua cheia,
Vagueia...
A espreitar
Serena,
No altar
Majestosa
A olhar
Suntuosa
O amarrar,
Da prosa...
ABRIGO
Quero meu casulo quente e confortável
me esconder desta imensa multidão
passar despercebida com minh'alma instável
sem toque, sem beijos ou apertos de mão
Quero ponderar o que pode ser viável
conhecer os limites da inexatidão
discernir o falso do amigável
rechaçar qualquer amostra de compaixão
Quero aflorar um lado audaz e amável
perdoar, esquecer, assimilar emoção
fazer jus a denominação, adorável
Quero agora, apenas o vazio desta solidão
calar em mim mesma de forma inviolável
até que o silencio suscite respostas, a razão
ENTREGA
Apenas venha, não sinta receios
traga nos teus versos a leveza
mas prenda-me logo, sem volteios
sacie nossas fomes e incertezas
Faça do meu corpo o teu esteio
com teu toque de fúria e aspereza
revire nossas vidas, ache um meio,
do sonho, transformar-se em certeza
Na entrega, na luxuria, não terei defesas
gema em meus ouvidos, sacie meus anseios
Atrevido, esqueça o galanteio e a delicadeza
Ao mundo lá fora estaremos alheios
vem e, com teus dedos, abuse da rudeza
p’ra depois, repousar cansado, em meus seios
ENAMORADA
Nesta madrugada quando aqui chegar,
Não bata na porta, entre sem pedir
não hesite, venha logo, venha me beijar
traga teus desejos, vem me possuir
Todos os meus medos, hei de abandonar
palavras reprimidas, comedidas, irei diluir
cada parte do teu corpo, acarinhar
teus lábios em meu corpo, vou sentir
Te espero ansiosa p’ra nossos sonhos aflorar
transparência vaporosa e rendas, vou vestir
enamorada é a palavra, não posso mais negar
No reflexo dos teus olhos vou submergir
entregue aos teus caprichos, o que desejar
paixão que só o tempo poderá nos traduzir
COM O TEMPO
Com o tempo aprendi
A esconder meus sentimentos.
A usar da amargura que comove
E fazer dela a força que me move.
Com o tempo aprendi
A ser mais de uma.
A calar mesmo sem desejar.
A conviver com a solidão que oprime.
Com o tempo aprendi a dar tempo!
A fazer das agruras, alimento.
Com o tempo forjei a serenidade.
Conheci a tranqüilidade
E a paz em muitos momentos.
Com o tempo continuo a aprender
E assim, em um lento gestar,
Tento entender o que não pode ser
E a lutar pela alegria que comigo deve estar.
Tomo as dores das quais pereço
Como degraus do meu andar
E enquanto exemplos que bem conheço,
Lentamente o ser, engrandeço!
SANTA ESQUIZOFRENIA
Pior, que a maldição da inconstância
Ou a peçonhenta língua que muito fala
É a incoerência da boca que sempre cala.
Tolo Poeta que então, mergulha em trevas
Que se corrói, que se autodestroi!
Fere-se em insanidade cruel.
Ah, excêntrica demência poética!
O surto arquitetado da impotência.
Surtados em si mesmos,
Descem aos submundos da razão.
Santa esquizofrenia revelada,
Extravasada através da composição.
Não importa quantas poesias
Em uma única hora do dia, são.
Uma após outra, escrevem ensandecidos
Em movimentos repletos de emoção.
Interiorizados, choram, blasfemam
É dor, é amor, é ódio, é rancor.
São poemas concisos,
Precisos e hábeis versos,
Casamento perfeito entre a fúria
E a sutileza lírica dos verbos.
MEDO
De onde vêm tantos medos
Que não te permitem, amar?
São decepções do passado
Que bloqueiam teu despertar?
Sabores de amores forjados
São acres em teu paladar
Quantos blefes agora usados
Acusa p’ra se safar
Mordaz, vestido de ácido
Receia o íntimo revelar;
Teme por estar enredado?
Assimile, são tempos idos
Acredite, sem duvidar
Ame, pois faz sentido
[RE] ESCRITO
Hei, sabe o que acho esquisito?
A forma que usa p’ra atrair minh’atenção
Perspicaz, instiga meus versos em composição
P’ra logo depois, simular que não existo
O que faço então? Tristemente...Desisto!
Já vai longe o tempo em que entreguei emoção
A quem por mim, não tinha consideração
Sigo em frente, reticente; mas não insisto
Maldoso foi o causador de tudo isto
E maldito seja o dia da rejeição
No entanto, a fêmea, desacreditou do paraíso
A mulher cala e melancólica fala ao [in] finito
Anseia carinhos em ímãs, nas rimas do coração
Solitária, beija um doce poema a ser [re] escrito.
CONSAGRAÇÃO
Eu poderia morrer neste momento
Levaria comigo a intensa luz do teu olhar
E os mais belos versos que me fazem te amar
Quão belo e imenso é teu encantamento
Eu poderia morrer neste momento
Em que os teus sonhos estão soltos pelo ar
Que teus lábios desejam meus lábios beijar
Quão lindo e denso é este arrebatamento
Eu poderia morrer neste momento
Aonde em meus sonhos vem me abraçar
Quão nobre e intenso é este movimento
Eu poderia morrer neste momento
Mas quero viver sem nada indagar
Quão elevado e sagrado é este sentimento
HOMEM MENINO
No homem que se diz menino
Um gentil cavalheiro, herdeiro da paz
Inebriada, deixo as dores lá atrás
Colorida surpresa, um real desatino
Uni [verso] de [in] versos, descortino
Da mansidão doce, que envolve tenaz
A lírica ternura do canto, audaz
Incita desejos, com olhar de felino
Exposta em resposta, a tudo imagino
Urgente meu corpo, suplica mordaz
Atiça e provoca; vem ser inquilino
Pertinaz, me mostra teu ser libertino
O prazer delirante em apetite voraz
Esqueça a candura, te quero ferino
JARDIM DO AMOR
De atos murchos, hoje estou cansada
esquivo nos carinhos que preciso
veste roupagens de homem indeciso
pareço então, terra seca e maltratada
A flor p’ra florir, precisa ser regada
cansei do teu jeito vago e impreciso
na mesma hora que oferece o paraíso
terra árida, já me fazendo descartada
não quero mais em ti estar atada
ou da tua casca de passado ressequido
tentar quebrar p’ra outra vez ser rejeitada
mas, queria mesmo era arar a tua estrada
trocando gotas de amor lindo e irrestrito
saberias então, que enfim, fui conquistada
DUALIDADE
Não acredite em meus versos mentirosos
Usualmente escrevo o que me convém
Arte de palavras em jogos de vai e vem
Moldam fácil, pensamentos enganosos
Se é dos fatos que todas as idéias provêm
Os sentimentos profundos e carinhosos
Podem resultar de mil gestos ardilosos
Que só o egocentrismo dos poetas contém
Sim, sou feita de vários compostos
E componho ouvindo vozes do além
Inventando amores volúveis e melosos
Agora, ao ler, assimile e julgue; porém
Sem esquecer dos meus atos amorosos
Lembre que sei amar intensamente, também!
AMOR MEDIEVAL
Seus olhos... Espelhos d’alma mais bela
Em que mergulho suave e bem fundo
São meus sonhos na mais linda aquarela
Retratando o que sinto, refletindo meu mundo
Paixão sincera sublimada na esfera
Fecho meus olhos por breves segundos
Vejo então, pergaminho, tinta e vela
É real em sentimentos fecundos
Esta escrevendo p’ra sua donzela
Envolto em mistério mantém o assunto
Distante da plebe e suas mazelas
Exalta a emoção de um amor oriundo
De anseios estros glorificados na espera
Cavaleiro cortes, cordato e profundo.
AUTOESTIMA
Seja presente ou ausente teu aperto de mão
Não importando se abre ou fecha a porta
Sigo adiante guiada pela intuição
Penso somente no que minha alma suporta
Hoje valorização é o nome da minha emoção
O resto deixo pra trás, o muito, pouco importa
Cuido com carinho de um maltratado coração
E evito veemente mais dor que só corta
Elevo em mim a lucidez do ato e da ação
Com toda a transparência que meu ser comporta
Agora sei que propicio o julgo, em errônea dedução
Mas ágil, a mente consciente, ao outrora reporta
Dizendo que o que mais vale é se amar com paixão
Se na troca o valor inexiste, a realidade, exorta
O PREDESTINADO
Aquieta-te e segreda indulgente
exprime aqui, em meu ouvido
sobre esta introspecção inerente
já que em tempos idos
Nascer poeta; teu pior castigo
perfil improvisado, inconsistente
passagem hercúlea; solitário esquivo
qual estrela vítrea e transparente
Carrega templos; tempos esquecidos
vida e morte dos sobreviventes
que muito sente, arrependido
Na poesia, palavras pungentes
insatisfação em coração contrito
fadado aos versos, eternamente