Simone Emanuelle Oliveira
E que todas as boas intenções que pairam, utopicamente, sobre dezembro tornem-se um dia, de fato, realidade. Que todas as luzes que brilham frenéticas nessa época do ano sejam luzes no fim do túnel e sirvam como direção a quem de guia necessitar. Que os ventos que predizem a chegada de mais um ano sejam os bons ventos perfumados da primavera e que, nesse período, desabrochem junto às flores os nossos melhores sentimentos!
Vem dezembro, vem manso, toca teus sinos em sintonia com o pulsar dos corações enfastiados, faz dessa melodia um acalento a quem pouco ou nada crê na vida, renova a esperança em quem espera um dia ‘o milagre’ acontecer. Seja esse milagre! Que o Natal seja mais que uma troca de presentes e comida farta, mais que um bom e esquecido velhinho descendo pela chaminé, que seja fé. Somente fé.
Seja muito bem-vindo, senhor Dezembro! Pode entrar, a porta está aberta!
Eu não acredito em signos, sério! Sou uma pisciana e, de já, desmitifico essa visão que todos têm de que nós somos os seres mais piegas do horóscopo. Conheço gente bem pegajosa e romanticamente exagerada e, veja só, não nasceu entre 20 de fevereiro e 20 de março! Enfim, sou meio cética nesta questão, mas, ultimamente, os astros andam acertando muito sobre mim. Os astrólogos dizem que os piscianos são ótimos ouvintes e nisso venho pensando, me recusando a ter que dizer que concordo. Hoje tive mais certeza disso. Acho que existe uma espécie de tatuagem em minha testa, escrito: Oi, sou sua válvula de escape! Só pode! Não vejo outra explicação decente para isso. Sempre fui uma espécie de ombro amigo na vida das pessoas: “encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora e conta logo suas mágoas todas para mim”. É meu talento! De garotas a mulheres muito mais maduras, supõe-se pela idade, que eu. De garotos a homens já bem vividos. Da garotinha que se apaixona pela primeira vez, da amiga que traiu o namorado, do cara que tem problemas com mulheres, do que foi traído, do que não consegue parar de usar drogas, do amigo ambicioso e sonhador, da mulher que ainda ama o ex-marido, do marido que não aguenta mais a mulher e pretende divorciar-se! Já ouvi cada relato, uns de mais difícil resolução, outros: puro drama; já me comovi, já fui dura e já não soube o que dizer! Obrigada a quem, de bom grado, empresto meus ouvidos. Ando aprendendo muito com isso. Mas eu também me enrolo e me embaraço e até encontrar o fio da minha meada leva tempo. Saber dizer algo confortante para você não significa que sei de tudo, que me dou bem em tudo. O problema é que as pessoas têm mania de sempre achar e, como se não bastasse somente achar, dizer nossa-como-você-sabe-lidar-tão-bem-com-tudo-isso ou queria-muito-ser-bem-resolvida-como-você! Como assim? Não, eu não sei lidar tão bem com “tudo isso”! E não sou assim tão bem resolvida. E digo mais: não sou uma companhia tão agradável, nem para mim mesma. Tenho dias normais como pessoas normais. Faço dramas, tenho traumas. Acordo de mau-humor, dou risada de besteiras, sou insuportável na TPM. Namoro, tenho amigos (poucos), me divirto, trabalho, estudo e, pasmem, também choro. Às vezes sou uma pessoa estranha e, de vez em quando, alguém terrível.
Muito fácil atribuir a culpa a alguém quando não se sabe o que fazer com ela. Mais fácil ainda é tirar o peso das costas e jogar pro alto. Dane-se quem passar! Não é assim que funciona? Sabe o que é difícil mesmo? Difícil é admitir que errou e acreditar que erros são perdoados (sim, são), mas sempre deixam feridas, feridas do tipo que não fecham. Complicado. Não foi à toa que Newton constatou sua terceira lei: ‘A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade’. Questão de sequência, coisa lógica, óbvia até demais: se você rega sua roseira todos os dias ela floresce e lindas rosas desabrocharão trazendo beleza e perfume aos seus sentidos. Do contrário, se não a rega, seus botões murcham, os galhos tornam-se fracos e quebradiços, a cada folha caída uma súplica de uma gota d´água. Uma chance. Esperança que se vai a cada folha levada com o vento. Realidade que fica: nossas ações são de extrema e inconsciente unicidade e perpassam por outras vidas de forma positiva ou negativa. Nem o bibelô da mesinha de centro que você quebrou vai ser o mesmo depois de colado, o que dirá um coração.
Somos livres para escolher, escravos de nossas culpas e eternos prisioneiros das consequências!
Homens são como remédio: de marca, genéricos e similares. Muda de nome, de preço, de laboratório. Mas não se engane, meu bem, o princípio ativo é o mesmo!
(Achei menos drástico não citar os remédios clandestinos)