Sildácio Matos
Os grandes amores, os que mexem com nossos corações, criam-se nos conflitos, multiplicam-se ante a desordem e fortalecem-se no caos, renascendo no insólito e inesperado. Não esperem ver brotar amores nos jardins da calmaria, da ordem e da sensatez.
Sintonias improváveis
sem qualquer explicação
olhares que se visitam e falam
como um caos na escuridão.
Reencontro de almas nuas
que remetem à paixão
te arrastam sem piedade
sem remorso e sem razão.
E o enigma se instala
num sentimento pagão
perde-se a cor e a fala
bate asas, coração.
A mãe veio ao mundo
Pra fazer valer a pena...
Ensinar que uma dor grande
Pode se tornar pequena.
Que a vida vai aprontar
Que as quedas vão ocorrer,
As lágrimas, escorrerão...
Mas ela vai sempre estar lá
Grudadinha em você.
Sorrindo ao nosso lado
Para a gente perceber
Que embora ela chore por dentro
Vai sempre te defender.
Que o amor que ela entregou
Jamais vai cobrar de você,
Nem as dores que ela sentiu
Você irá conhecer.
A culpa é sempre má companhia!
Nela, só se enxerga a noite, nunca há dia.
É irmã siamesa, que vicia,
contamina a alma e silencia.
É água que, por mais que se beba, nunca sacia!
Poetizar a vida
é cumplicizar-se,
estremecer, sorrir e chorar
com a mesma intensidade.
Apertar-se, espremer-se,
anistiar-se de tudo.
A vida tem o "dom" de nivelar...
Cedo ou tarde, seremos todos nivelados
Com a justa aceitação dos destemidos
Ou a resistência fugaz dos condenados.
Aí, aprendemos a decifrar os sorrisos
compreender melhor os olhares
interpretar os gestos e atitudes sutis,
tanto, que as palavras quase não importam.
Algumas mulheres "elegem" seus algozes para toda a vida. E como ovelhas, se entregam ao "abate" diariamente. E nada pode ser feito para mudar isso.
Prostitutas
São mães no anonimato
Sem piedade são caçadas
Suas famílias renegadas
Sem nenhuma compaixão.
A mentir, são obrigadas,
Fogem da hipocrisia macabra
Que em tudo ver punição.
Na calçada e ruas escuras
Surgem tímidas figuras
Que aprendem cruel lição.
Seu inferno é diário
Indefesas, mudam o cenário,
Pois amam sem condição.
Fingem a felicidade
Bebem, sem ter vontade,
Faz parte da encenação.
Seu único amor a aguarda
Sua cria debilitada
Espera sem entender
Que sua mãe é uma heroína
Espécie de chama divina
Que morre, pra ela viver.
Essa coisa de não mais ver
de não poder, ou de perder
ou dormir, pra esquecer...
A saudade gasta a gente
nos derrete lentamente
e nos queima, sem acender.
Tudo em volta é desalinho
a mente procura um cantinho
pra fugir, pra se esconder.
Mas nada parece curar
dormir, vai te fazer sonhar,
mudou a forma de sofrer.
As vezes a sanidade me foge
- a pouca que me restou -
e fico alheio, quase mudo...
como um cão faminto,
que revira o lixo e se alimenta,
apesar de tudo.