Sidiney Breguêdo
Quando entrei nos eixos do Plano Piloto vi a caixa preta da política brasileira escondida no painel do senado tendo seu selo quebrado.
Que pena o Brasil ser
Como relógio de mendigo.
Atrasar e parar justo quando
O frio e a desgraça começa
A apertar.
O tempo é um irresponsável, dirá aquele que se deixou levar. O tempo mata quem não quer viver, destrói quem não abre páginas na história. Mas aos que colaboram com a realidade plastificada atrás da memória o tempo premia com a lembrança do futuro, já concretada nos livros.
Fazendo caras tristes os palhaços conseguem gargalhadas. O povo consegue o mesmo fazendo cara de que está tudo bem, nos dias de eleição.
Eu não suporto pensar que um dia acreditei que o mundo não fosse perfeito, mas que as pessoas só existiam para melhora-lo. Hoje sei que o mundo é perfeito, e as pessoas só existem para destruí-lo.
Se o mundo te abraça
Não tem nada melhor
Que mergulhar no nada
E ficar só.
Descendo o abismo
Encontramos Deus
E uma flor
E o ar se renova.
A maioria sempre convence a ela mesma que sua burrice é a melhor opção para a minoria. É assim que é aprovada a grande parte de nossas leis.
Quem não tem a capacidade de apaixonar-se todos os dias ao final da tarde pelas crianças não sabe o que é sonho.
Fazer poesia é fazer casulos de cobertores e sofás e brincar dentro deles fazendo comidinha. Ah, é lá dentro que apaixonamos a primeira vez.
Na Estrutural uma fumaça negra de pneu desenhou no céu de Brasília a ignorância do povo. Padecem por não saber sequer onde levar seu grito.
Não houve formação de quadrilha, na verdade houve formação de partido. E a cada dia formam mais um e ninguém faz nada.
Houve um tempo que eu achava que o voto não era importante. Agora eu tenho certeza. O melhor retrato do voto é um caminhão de boias frias.
Qualquer poeta sabe que o que mais importa na vida é aquele tum tum tum, de um trambolho de carne sambando dentro da gente.
Existe um lugar onde palavras não tem importância nenhuma. É quando elas vão embora e ninguém olha. Aí as palavras ressentidas voltam e ficam.
Sou como os pés de uva que nos dias de chuva, trançado no jirau, ainda guardo no doce de meus frutos o recado de meus sentimentos.
Políticos podem tomar o povo pelo laço. Pode trata-lo como gado manso. Mas devem saber que não se brinca com rés desgarrada. Ela não vota mais.
A poesia mudou senhores, uma nova escola nasceu. Estamos no tempo dos poemas que cabem em bilhetes de bolso.
O preso deu fuga, através do seu túnel, para a cambada toda. Mas na hora de ir, descobriu que já havia criado raízes. Estava preso.