Servamara
A criança que habita em mim, todos dias, ora, clama pedindo que a distância finalmente se acabe; que o meu sonho de infância aconteça realmente, pois ela jamais se esqueceu dele--olhando o céu, as estrelas, da janela do meu quarto, e enxergando Jesus Cristo de braços abertos, sorrindo pra mim; prenunciando que o Senhor jamais me deixaria só-- mas a criança impetuosa que habita em mim, não aceita, por que Ele demora tanto de voltar e me abraçar de novo???
Em outros braços, a criança que habita em mim, apenas quer treinar e aprimorar o seu amor, pois o amor é exercitado amando, praticando; ela sabe que é apenas um pequeno nuance, pequeno vislumbre da eternidade; aí sim a criança será plenamente feliz, pois não haverá mais distâncias, desencontros, dores, saudades, carências, nem mais esperas, nem adiamentos, nem mais mortes.
Não espere a tua inspiração chegar; sou extremamente colorida, a cada momento represento uma nuance do arco-íris, a te alegrar, contagiar!
Eu sou da cor que se pinta...
Se é a cor branca, eu sou a paz que te acalenta, portanto me tens, como tesouro precioso, bem guardado dentro do teu coração;
Se é a cor vermelha, eu sou a alegria que eclode espontaneamente em tua vida, motivo constante do teu sorriso;
Se é a cor azul, eu sou o mar a te banhar, deleitar; eu sou o céu, com toda a sua amplitude e beleza, sendo os lampejos da eternidade a te tocar, te exortar e te aprimorar;
Se é a cor verde, eu sou a esperança inata que te estimula a manter a tua fé ágil, bem operante e bastante praticada;
Se é a cor rosa, eu sou a flor que floresce no teu jardim e que te inebria com o meu perfume;
Se é a cor amarela, eu sou o sol a te aquecer, te estimulando a viver, sonhar, transcender!
Se é a cor preta, eu sou a ausência de cor, um pequeno descanso, apenas uma pausa, pra você ser luz no meu viver!!!
''Simplicidade está impregnada na pele, ela é o suor abundante escorrendo pelo rosto de uma pessoa humilde que apenas quer ser feliz...''
Simplicidade é uma escolha, um estilo de viver a vida como ela, diariamente, se apresenta; existe coisa mais singela e simples do que ver uma criança sorrindo, brincando, sendo ela mesma?
Ou a simplicidade inata de um gatinho se lambendo, tomando banho sem água, ficando tão limpinho e cheiroso, por seu próprio zelo e cuidado?
Simplicidade não se vende, nem se empresta; simplicidade é um jeito só teu, só meu, só nosso, de compartilhar um sorvete, não importando se ele suja e se derrama pelos nossos rostos e pelas nossas roupas.
Simplicidade é ter um diário, e a cada dia, rabiscar e escrever uma nova história, não se importando em rasgar inúmeras folhas dele, sempre se esmerando em transcender as situações desfavoráveis; sendo uma pessoa mais sábia e generosa.
Simplicidade é também sonhar e concretizar aquela viagem almejada a Gramado, para novamente passear no Lago Negro, andar de pedalinho e ficar esquecida da vida, só observando e se deleitando com a estrondosa beleza das orquídeas.
Simplicidade é cantar sem ser cantor; simplicidade é declamar uma poesia sem ser poeta; simplicidade é ser você, uma outra pessoa, e ao mesmo tempo, ser uma parte complexa da outra, decodificada e revelada na simplicidade de existir!
Simplicidade é um sorriso que contagia sem sorrir; simplicidade é uma palavra de amor, jamais pronunciada, mas eternamente lembrada por outro ser; Simplicidade das simplicidades é galgar os passos de Cristo, com um sorriso contagiante, sem jamais vacilar, nem reclamar, nem tampouco desistir, prosseguindo pelos desertos da vida.
A vida é uma sucessão de renúncias; a cada dia, que se descortina diante de mim, eu renuncio a algo que almejo; sendo um prenúncio de abundância, sem mais ânsia de querer, desejar, ter ou realizar...
Renunciei a solidão e fui agraciada com uma amizade inesperada e verdadeira!
Renunciei o casulo e voei como uma borboleta em plena liberdade.
Renunciei o roteiro e encontrei o caminho a galgar sem mais delongas.
Renunciei o vazio existencial mundano e fui preenchida totalmente pela presença de Cristo; eternidade a me agraciar.
Renunciei ao sonho e vivi a realidade plenamente suportável.
Renunciei a chuva e apreciei o arco-íris esplendoroso surgindo.
Renunciei a fartura para compartilhar a escassez, o despojamento e o desprendimento mais uma vez.
Renunciei a cegueira e enxerguei, com muita mais clareza, a antevisão de mim mesma.
Renunciei a razão para conceder o perdão.
Renunciei ouvir outras vozes para ouvir somente a Tua Voz, Senhor...
Renunciei a emoção e imediatamente ajudei o meu próximo; pratiquei a compaixão não só em palavras, mas também em atitudes.
Renunciei ao medo e a coragem e a fé me cingiram de força pra seguir em frente.
Renunciei a bonança só pra que aprendesse com a tempestade-- o valor que tem uma presença amiga ao meu lado-- no momento, que se instalou o terrível caos!
Escrever pra mim é uma forma de escavar o meu passado; cada vez que eu escavo mais fundo e trago a superfície um punhado de terra, revolvo dentro de mim nutrientes, húmus essencial, que perdi ao longo das enxurradas da vida...
Em cada escavada...volto a ser aquela menina que contava os anos pra crescer rapidamente, que já não apreciava mais brincar com as bonecas, que queria começar a trabalhar cedo, tendo o seu próprio salário, para comprar as suas coisas, e desafogar meu pai, ajudando-o de alguma maneira; que amava conversar com as pessoas mais velhas, e conseguia plenamente manter as conversas no mesmo nível que elas, ao ponto delas duvidarem quando eu dizia a minha real idade; eu também era a garota mais amadurecida da turma, no Ensino Fundamental, já aconselhava a todos nos intervalos das aulas, ao ponto dos meus colegas me aconselharem a ser uma psicóloga quando eu crescesse.
Eu era aquela adolescente que ansiava ter logo dezoito anos pra assistir o filme ''Romeu e Julieta'', e poder constatar mais de perto o amor que eu só lia nos livros que tanto apreciava; o romantismo dentro de mim brotava como um rama de girassóis sempre irradiando para o alto, querendo alcançar o céu e ser aquecida pelo sol; aquela adolescente risonha, alegre e faceira que saía de mãos dadas com o meu pai, com o maior orgulho, como se ninguém, na face da terra, tivesse um pai mais maravilhoso do que o meu, nunca me sentir tão amada como naqueles momentos, que íamos passear, assistir os filmes que ele nem me dizia os títulos deles, só pra me ocasionar expectativas, surpresas e alegrias, como por exemplo ''E o Vento Levou'' ...Ou então ir com ele pra aprender a jogar Boliche, mas as bolas eram tão pesadas e eu conseguia só derrubar um obstáculo; mesmo assim meu pai batia palmas e me incentivava a tentar mais uma vez; ou quando ele me levava ao Iate Clube, desde a tenra idade, pra me ensinar a nadar, a cada dia perder o medo e a pular num trampolim mais alto, e ele sempre estava de braços abertos me esperando lá embaixo na piscina; e ele também me ensinava e me deixava pescar e mesmo quando eu só pescava um peixinho e me sentia toda orgulhosa por tal façanha e realização, ele me aplaudia e ainda ganhava de prêmio o seu sorriso tão maravilhoso!
E eu cresci e quando me dei conta a maturidade já tinha me revestido com uma capa muito pesada de existir, que já não podia me desvencilhar, porque já era a minha realidade, e sem mais a leveza e alegria de viver, somente como uma menina, com o frescor da infância; velozmente eu me transformei em uma mulher madura, cheia de responsabilidades, profissional exemplar, mãe extremamente cuidadosa e zelosa com os seus rebentos; mulher não tanto como eu imaginava e tanto sonhava, não conseguia reproduzir na realidade o amor que tanto sabia de cor e decorado, e que eu tanto já conhecia nas leituras dos meus livros.
Sempre pulei as etapas da minha vida, e foi quando exaurida percebi que o meu sonho tinha se realizado (eu já era adulta demais) e tinha sido uma criança e uma adolescente extremamente precoce e madura!
Faltam apenas dois dias para eu completar 53 anos de existência e que lições eu aprendi e assimilei em ser tão precocemente adulta???
--Que quanto mais diminuo, sou criança, eu cresço... eu vou te explicar esse meu pensamento, só com a pureza e a leveza de uma criança podemos enxergar a nossa verdadeira realidade; só com a sensibilidade de uma criança podemos amar sem reservas, perdoar a qualquer momento, a brincar mesmo quando está o dia chuvoso, não tendo nenhum receio de tomar chuva, brincar nas poças de lama, ter os cabelos desgrenhados, a roupa toda suja, sem se preocupar com a sua aparência ou se vai agradar alguém--você quer ser você, apenas você, CRIANÇA FELIZ--ficar por horas construindo um castelo de areia na praia e quando vem a onda e derruba a sua obra de arte, você sorri e começa tudo de novo...
--Aprendi o quanto devemos amar as pessoas ''como se não houvesse amanhã'' conforme a letra da música de Renato Russo, devemos beber sofregamente todos os momentos, sem sequer cogitar que amanhã poderemos morrer sedentas e de inanição; creio que os momentos que vivi ao lado de meu pai foram assim, plenos demais, inesquecíveis, e só ontem percebi que ele me considerava uma parceira de brincadeiras e segredos, eu era ''o filho homem'' que ele nunca teve, aquela que ele efeminizou o seu nome,. aquela, que na sua presença, ele conseguia resgatar a criança que ele foi um dia...nós éramos apenas crianças felizes quando estávamos juntos.
--Aprendi que amar é ter leveza, ter humildade pra se entregar totalmente, ser o que você foi e é quando era criança; descobrir'' o por quê ''eu tanto desacertei em amar no passado; eu nunca conseguia reproduzir, em meus relacionamentos amorosos, as palavras do Senhor Jesus que ninguém consegue galgar o Reino dos Céus sem o olhar, sem os sentimentos, a pureza e a leveza de uma criança. Conforme Mateus 18:4 e Marcos 10:15
--Aprendi também o quanto faz falta um simples bolinho de aniversário, ficar ao lado de minha mãe, observando-a preparando os docinhos, os salgados, o bolo, ah, o bolo! Que delícia! Lamber os dedos com o recheio grudado na panela, me lambuzar no glacê do bolo tão almejado...nunca pensei que sentiria tanta falta de um simples bolinho de aniversario!
--Nunca pensei que sentiria tanta falta de presenças, de cheiros, de abraços, de sorrisos, de uma simples ligação, só pra dizer: você existe, eu me lembrei de você, Feliz Aniversário!
--Aprendi...que a criança comemora o seu aniversário'' como se fosse o seu primeiro aninho'', como na minha foto guardada, com muito carinho e saudade, que retrata esse inesquecível momento; sem se importar a idade que se tenha atualmente!
Somos aqueles(as) que atiram pedra; aqueles(as) que são movidos(as) pela raiva, pelo repúdio a dura realidade vigente; mas ao mesmo tempo também somos aqueles(as) que se contorcem de dor ao percebermos que lesamos alguém; pensamos que tal gesto insano serve de alerta e de alguma maneira irracional detenha o mal.
Já imaginou se a cada momento que você presencie uma cena que te desagrade, você atire uma pedra na vidraça da casa de alguém ou em qualquer lugar onde impere o mal; como se o fato de atirar uma simples pedra detenha o mal; ou que seja uma forma de alerta, de chamar a atenção da sociedade ou de alguma pessoa...
Também pode ser num momento de raiva você quer expressar o seu repúdio dessa maneira irracional; achando e tentando se justificar que é apenas uma maneira de extravasar a sua dor, pensando aliviá-la com esse gesto muitas vezes impensado; pode até ser uma forma de revide, de vingança, represália, ''olho por olho'', ''dente por dente''; sendo um (a) justiceiro (a) implacável.
No filme ''A Árvore de Vida'' tem uma cena muito interessante que me chamou atenção quando o filho mais velho de um casal, ''Jack Obrien'', ainda um garoto, tenta extravasar a sua raiva e o repúdio que ele sente ao ver de longe, como um simples espectador, as brigas entre um casal de vizinhos, ele não aceita ficar passivo em assistir o sofrimento daquela mulher, e um dia acaba atirando pedras na vidraça do fundo da casa deles, como se de alguma maneira com o seu gesto ele conseguisse deter o mal, acabando a desarmonia entre aquele casal.
E quantas vezes queremos agir da mesma maneira desse garoto revoltado, mas se agimos assim, nos sentimos muito mal, pois se a nossa consciência ainda não estiver cauterizada, nos acusa e nos alerta, que jamais extermina o mal praticando-o, perpetuando-o; e sim detém o mal, praticando o bem, a não violência, o não revide, a não agressão, praticando, no nosso dia a dia, as palavras de nosso amado Mestre Jesus. Doando de graça a graça que fomos agraciados. Mateus 5:38-44