Sérgio de Paula Reis

Prefira rejeição a arrependimento.

Nas horas tensas da minha vida, eu a imagino a me observar e avalio se ela sentiria orgulho de mim.

O pecado, latente, aguardava uma desculpa.

Queriam desistir, mas um temia o que o outro diria.

O pior não é a queda, mas a angústia que a antecede.

Adão culpou Deus de tê-lo criado, e Deus retribuiu a acusação.

Aguardaram o perdão até o último instante e além – nem a morte destrói o sonho de quem espera uma nova chance.

Bem e mal dependem da conjuntura, rádio causa câncer e o cura.

Se a vida existe, o resto é plausível.

No abismo não resta nem mesmo a ilusão do céu.

O que ele sentiu não tem nome nem pode ser descrito: estava livre da tirania das palavras.

Cada gentileza elimina uma maldade do mundo.

Algo sem sentido aceita qualquer explicação.

A experiência espiritual é incomunicável, de certa forma ela aprofunda o isolamento.

Trilhar caminhos demarcados é fácil, os passos vacilam em terrenos inexplorados sem opção de recuo.

Ele erguera um castelo precário sem consciência disso, e a realidade levou o alicerce de seus sonhos.

Agora que eu vivi, estou apto a viver.

O imprevisto é um gesto de grandeza da morte.

Toda frase é uma simplificação do mundo.

No fim de uma longa viagem, tudo parece mais encantador do que foi, até as marcas deixam saudade.

O rei gritara aos seus: “Isso não é um jogo!” Finda a guerra, entendeu que lutara para encenar um jogo.

Um sonho já te induziu a amar alguém?

A miragem se desfez da ilusão.

Não foi ela que me rejeitou, fui eu que não aceitei ser amado.

Aceitar o mundo não é concordar com ele.