Saulo Nascimentto
Fragmento IV - Conação
Entre corpo e alma, eu.
Um entre-espaço, dito maneira, que tange a esfera transcendental da mística à relação lógica e contemplativa do abstrato.
Assim, o corpo existe apenas como relação meramente espacial da afirmação, ao passo que, a mente flutua, introspectivamente, em busca de sua intuição.
Nesse radiante e permeável oaristo, de um ao outro, eu.
Alfétena V - Nebulocognição
Cada tentativa de compreensão resvala em um silêncio denso, um mutismo que pulsa com um desconforto primordial, quase tangível, como se a essência própria da verdade se relacionasse naquilo que não pode ser dito, mas apenas sentido. Pois é no silêncio que a alma encontra sua voz mais verdadeira, e sem desconforto, a chama da consciência arde mais intensa. Cada palavra proferida é uma traição ao mistério, uma sombra do seu real significado, uma nebulocognição.
Mudanças
É possível que o homem se esqueça... Temos a tendência de achar que nos igualamos a Deus de alguma forma, mas essa foi a mentira que ouvimos e aprendemos, certo? No entanto, há uma verdade, e ela sempre será: Deus estará sempre presente em toda e qualquer mudança, como causa e consequência. Ele é a chave, a fechadura, a porta e o outro lado!
Alfétena III - Ómma
Eis a profunda tristeza que o tempo, sob sua forma melancólica, impõe a estes olhos envelhecidos e opacos: uma névoa opressiva e inexorável que encobre o caos primordial como uma cortina obscura. A cada instante, o vislumbre de outrora se desvanece, como um grito silenciado, perdido nas sombras abissais.
Diante de tal agonia, o silêncio é um testemunho desta calamidade que permeia os limites da existência, onde, por fim, também jaz, deixando muito pouco. Não restam vestígios, apenas a mera lembrança de um esplendor há muito extinto.
Assim, o tempo esvai-se, e o silêncio amarga seus segredos, como um abismo inerte.
IX
Há de se considerar, seja pouca ou muita a certeza, vê-se de todo maldade, ou breve em todo o finito.
E de mim, derramo-me, banhando o punhal,
regando a terra estéril com o licor do exílio,
pois as lágrimas falharam em conter-me, e minha alma,
em seu triste abrigo, não mais é refém.
Nella città II - Identidade
O homem, por mais que se erga sobre inúmeras sobreposições, não se afasta de si mesmo, pois é projeção de sua própria essência. Com respeito às sobreposições, não são estas desvios de quem ele realmente é, mas sim manifestações da mesma identidade, como reflexos de uma virtude essencial que se desdobra de diferentes formas sem perder-se.