Samir de Sena Osório
Muitas vezes, é melhor nos calarmos do que tentarmos justificar com desculpas esfarrapadas as atitudes que conscientemente não sabemos a razão de as termos tomado.
Muitas vezes, fazemos uso de um suposto senso de humor como desculpa para manifestar nossos preconceitos.
A gente se acostuma a ser "ser humano" mas não devia. Ser "ser humano" é uma experiência incrível: deveríamos estar conscientes disso todos os dias!
Não mais se preocupar com que os outros vão dizer ou pensar a seu respeito é o melhor presente que alguém pode dar a si mesmo.
Se não nos sentimos amados, nosso cérebro não produz a substância que a gente precisa pra ser feliz.
Uma das maiores contradições da vida é que, algumas vezes, as pessoas precisam ficar longe uma das outras pra que finalmente se aproximem.
Conhecer pessoas é uma aventura mas aprofundar-se em uma amizade é ainda mais. Poder conhecer um pouco da personalidade e história do Outro, do que ele leva tempo descobrindo sobre si é gratificante.
Não dá para negar que a experiência do intercâmbio está sendo incrível apesar de que não nos avisaram de que na metade dele passaríamos pela difícil experiência de nos despedirmos quase que ao mesmo tempo de muitos amigos que só estariam aqui por cinco meses.
Viajar é bom, “salir de fiestas” também. Porém são os relacionamentos mais próximos e profundos, e também os momentos difíceis que mais te fazem amadurecer. Aprendemos muito com eles nesse intercâmbio, muito mais que na universidade, diga-se de passagem.
O que acontece quando você vive com mexicano que “tem cara” de japonês, um alemão que “parece mexicano”, e um francês que não corresponde ao que você tinha escutado sobre um francês? Ou então quando você é um brasileiro que não joga bem o futebol e tampouco sabe “bailar” como os estrangeiros supõem que um brasileiro sabe? Você quebra estereótipos e faz com que os outros quebrem os seus também. Você aprende que as pessoas são quem são independente dos países de onde vêm. Tudo bem, depende da cultura, sim. Mas você se aproxima de alguém ou se afasta não porque é desse ou de outro país, mas porque se identificou com ela.
O que acontece quando você se torna irmão de um francês mais novo que você, de 19 anos, que te dá uma aula de maturidade? Você para e se pergunta: por que eu não posso fazer isso sem esperar que os outros façam primeiro? Por que não posso dar sem ficar esperando retribuição?
E quando você faz um amigo da Alemanha (país desenvolvido, de primeiro mundo) que "comparte" (compartilha) com você sua história e suas dores, suas alegrias e amores? Você aprende na prática a frase que diz “que as dores humanas ultrapassam as divisões de classe e cultura”. Não importa se seu país é rico ou pobre, se você é rico ou pobre, você é ser humano e viver às vezes vai doer do mesmo jeito.
Agora está terminando um ciclo. Doi dizer adeus, não saber se vai ver mais. Mas a gente sabe que a vida é assim, cheia de idas e vindas, chegadas e partidas, saudações e despedidas. A gente tem que se acostumar, dizer para si mesmo “deixa ele ir”, deixá-los partir. Mas na verdade, com despedidas a gente nunca se acostuma. O que a gente faz é se resignar, deixar ir porque não há o que fazer, não podemos aprisionar o outro e impedir que ele siga sua vida. E a gente tem que seguir a nossa também... Ninguém vai estar perto da gente a vida toda. É preciso saber deixar partir, abrir mão, desapegar-se. Vai haver dor, de qualquer maneira, então o que se há de fazer é chorar, viver o luto e conviver por algum tempo com o vazio da despedida. Até que finalmente a dor passa e estamos abertos para viver novos relacionamentos, conhecer novas pessoas, e deixar que os novos amigos conheçam, através de nós, através do que a gente carrega dos que se foram, um pouco da personalidade deles também, que um pouco já se tornou parte da nossa. Um pouco do trejeito, ou uma frase que eles falavam e a gente não esquece e já toma como nossa, a forma de se vestir, de sorrir, quem sabe... E aí o ciclo recomeça.
Quanto mais pessoas conhecemos mais percebemos quanto devemos valorizar nossos bons amigos, porque o processo de identificação não é um encontro banal que acontece todos os dias. Pode ser até que aconteça poucas vezes durante uma vida inteira. Porém, se aconteceu pelo menos uma, ou seja, se conseguimos ao menos uma vez conquistar alguém apenas sendo nós mesmos, e ser conquistados sem que o outro tivesse que fingir ser quem não é, valeu a pena ser autêntico e deixar que a vida se encarregasse de colocar ao nosso lado quem devia estar.
É tão bonito quando damos um passo numa relação e passamos a falar um pouco sobre nós mesmos, sobre nossos pensamentos e sentimentos, nossa história de vida com outra pessoa, e é tão interessante ver como nossa percepção muda em relação ao outro... O caminho em direção a esse "outro" pode parecer difícil, estreito, esburacado, ninguém quer dar o primeiro passo, ninguém quer ceder e se mostrar vulnerável primeiro... Mas pode ser muito melhor percorrê-lo do que nos permitirmos passar anos, quando não uma vida inteira, com relações que não nos acrescentam em nada e nos fazem nos sentir vazios de tão superficiais.
Os outros podem ver as fotos dos lugares que vamos, das festas que participamos, da comida que a gente come, mas o que nos entristece, nossas desilusões e expectativas frustradas, os sonhos que não realizamos, os desejos não satisfeitos que alimentamos, as pessoas por quem nos apaixonamos ou com quem brigamos, as vezes em que nos decepcionamos ou nos desesperamos, tudo isso é só nosso e é com poucos que compartilhamos.
Muitos se preocupam tanto em fazer que suas vidas pareçam algo que não são, que se esquecem de tentar melhorá-las e serem felizes de verdade.
Antes de sair do Brasil e me meter nessa aventura inimaginável em minha vida, assisti a uma palestra sobre autodesenvolvimento em que a psicóloga dizia que fazer um intercâmbio era como amadurecer cinco anos em um. Agora, faltando menos de dois meses para que eu volte pra casa, tenho que concordar com ela.
Esse semestre conheci pessoas especiais como no primeiro semestre. E umas das mais especiais eu conheci um pouco menos de dois meses antes de que eles voltassem para o país deles, Romenia. Talvez eu os tenha conhecido um pouco tarde. Mas pode ser que, se os tivesse conhecido antes, a amizade não teria sido tão boa como foi. Sabe aquelas pessoas que você conhece e com as quais em pouco tempo você se identifica e percebe que com elas você não precisa fazer esforço para fingir ser quem não é, e a amizade flui, e cada um acaba buscando a companhia do outro natural e reciprocamente? De modo que você se expõe, se torna vulnerável, mostra o que você tem de pior, e isso, em vez de te distanciar delas, acaba te aproximando? Então, minha amizade com eles foi assim, até que um mês e meio depois que os conheci, eles foram embora.
Porém se tem algo com que eu me resignei nesse intercâmbio é a dura verdade de que viver é despedir-se. Despedir-se do dia que passou, do amigo que foi e não volta, despedir-se da gente mesmo, de quem a gente era e agora já não é mais. Despedir-se da cidade da qual vamos embora e pra qual não sabemos se regressamos. Até que um dia chega a última despedida, que é o dia em que a gente tem que se despedir é da vida mesmo.
Mas viver também é reencontrar-se. Reencontrar-se com um amigo que há muito não se via. Reencontrar-se com a família que saudades de você sentia. Reencontrar-se com sua cidade natal, de onde você quase nunca saía até que uma experiência de intercâmbio te força a sair dela para, quem sabe, saindo da zona de conforto, você possa reencontrar-se consigo mesmo.
Ao voltar para o Brasil em algumas semanas, vou reencontrar minha família e amigos e vou precisar de muito tempo para tentar passar pra eles o que foi esse intercâmbio, mesmo sabendo que só saberão mesmo o que é um quando fizerem um. Vou ser cuidadoso, vou tentar não transformar tudo que passou em um conto idealizado, vou dizer que conheci lugares novos, pessoas especiais, fui a festas divertidas, mas vou dizer também que às vezes foi difícil, sabe, que tive momentos de estresses, momentos em que queria voltar para o aconchego da casa dos pais, voltar a comer a comida da mãe. Ou momentos comuns, em que não tinha nada para fazer, ou não queria fazer nada, e ficava “aburrido” (entediado) em casa navegando na internet. Que teve momentos que comparei o Brasil com os países da Europa e disse que queria viver aqui para sempre e outros momentos que achei que tudo no Brasil era melhor e queria voltar logo para casa.
Estou ansioso pelo reencontro. Pela troca de experiências, por saber também por quais dificuldades passaram durante esse ano e quais alegrias tiveram. Um reencontro com quem já não são mais os mesmos, ainda que o sejam. Eu também não sou o mesmo, mesmo que seja. Cinco anos mais maduro, embora só tenha passado um ano fora. Eles, também mais maduros, ainda que tenham passado no mesmo lugar.
A desigualdade social transforma a vida dos cidadãos em uma corrida cuja distância a percorrer e obstáculos não são os mesmos para todos.
Julgando-nos livres acabamos vivendo subjugados pelos nossos vícios, paixões e até mesmo por outras pessoas. Nos metemos em prisões nas quais nós próprios escolhemos viver.
A melhor estratégia pra que um futuro relacionamento dê certo é trabalhar o autoconhecimento e o amor próprio, porque, se não der certo com alguma outra pessoa, pelo menos vai ser melhor o relacionamento que a gente tem com a gente mesmo.
A morte de um ente querido, uma doença como o câncer ou a aids, a morte precoce de um jovem, o suicídio de um amigo ou conhecido, a perda de um filho antes do nascimento, são todos exemplos de eventos que passamos a vida inteira rezando para que não aconteça conosco ou perto de nós. Mas quando acontecem, toda nossa ânsia e ilusão de riqueza material, sucesso, fama, poder e status, ainda que temporariamente, caem por terra e nos tornamos só o que somos na essência, meros humanos.