Samia Lourena

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Um beija-flor no meu jardim


⁠Todos os dias, de manhã cedo,
um beija-flor chega a sorrir,
voa em direção à minha alma,
e beija as flores a reluzir.


Minhas flores, pequenas e amarelas,
como estrelas que o sol despertou,
e o beija-flor, com graça, cintila,
num abraço que a vida ofertou.


O voo é leve, quase um suspiro,
um beijo que não se vê, mas se sente inteiro,
e em cada flor, um toque que embalsama,
um gesto de amor no mais puro segredo.


Ele vai e vem, sem jamais pedir,
sua presença é como a aurora, deixa o jardim a sorrir,
e eu o vejo, mas não posso tocar, apenas,
guardo nos olhos o beijo que o beija-flor deixa a pairar.

Inserida por samia_lourena

⁠Morrer é voltar

Da natureza tu viestes, um sopro, um ser,
Feito de pó, de água, de vida a florescer.
Das mãos da terra, moldado ao vento,
Ecoas a essência, leveza, e tempo.


Em tua jornada, a terra teus pés toca,
Caminhas por rios, florestas, e rocha.
Respires o ar, floresces no chão,
E dentro de ti, pulsa o coração.


Mas quando o tempo te chamar de volta,
O ciclo se fecha, a terra te solta.
Da natureza viestes, e para ela irás,
Como folhas caídas, no vento, em paz.


Na dança eterna, retornarás ao lar,
Feito de pó, de água, de brisa, de mar.
E assim como viestes, tu também voltarás,
No abraço da terra, teu repouso terás.

Inserida por samia_lourena

⁠O único de cada amor

Quantas vezes amamos, quantas vidas em uma só
carregamos, amores que vieram, que foram,
que pensamos eternos e completos,
únicos como a primeira luz da manhã.


Cada vez acreditamos, com fervor sereno,
que aquele era o mais puro amor que existia,
como se o mundo coubesse apenas naqueles olhos,
naquela voz, na mão que segurava a nossa.


Mas então vem o tempo, que dobra esquinas,
que dissolve promessas, apaga contornos,
e abre espaço no peito, já marcado e ainda fértil,
para um novo rosto, uma nova chama.


E cada vez nos entregamos, ainda inteiros,
ainda crentes, com os olhos fechados e o coração aberto,
como se amar fosse sempre pela primeira vez,
uma história escrita sem sombra de passado.


Assim seguimos, de amor em amor,
como quem atravessa oceanos sem mapa,
sabendo que a cada encontro
a profundidade muda, a cor das águas se altera.


Amamos e acreditamos, deixamos partir e renascemos,
e a cada novo começo,
o amor surge imenso, inesperado,
como se sempre fosse, de novo, o único.

Inserida por samia_lourena

⁠O silêncio do eu te amo


Há um vazio onde o "eu te amo" morava,
um espaço suspenso, entre um ontem próximo
e um hoje de silêncio, onde as palavras
se desvaneceram como névoa ao sol.


Era uma certeza, doce e frequente,
o som que se repetia em cada manhã,
em cada despedida breve, cada retorno.
Agora é uma ausência, fria, que ecoa.


Às vezes parece que ainda vou ouvir,
como quem espera uma onda que nunca chega,
mas o tempo insiste em seu modo firme
de calar o que antes fluía livre e leve.


No começo, dói fundo e inesperado,
como se o peito se apertasse ao lembrar,
o que antes era simples só um "eu te amo",
agora é uma falta que grita no silêncio.


Mas a realidade se acomoda, lenta e dura,
onde antes havia promessas, constância,
agora há espaço e um eco de saudade,
um aprendizado em caminhar sem palavras.


E seguimos, na vida que insiste em calar
tantos "eu te amo" que julgávamos eternos,
aceitando o silêncio como parte de nós,
um espaço vazio, sem eco, sem voz.

Inserida por samia_lourena

⁠O silêncio do eu te amo II

Há um silêncio que pesa,
um intervalo vazio onde antes cabia o mundo,
onde antes repousavam as palavras doces
como um abrigo onde o coração se aquietava.


O “eu te amo” era certeza, era solo,
ditas sem hesitação, no toque mais leve,
nas despedidas sem drama, na rotina de existir,
como quem respira sem pensar.


Agora, apenas o silêncio se estende,
imenso e frio, como uma noite sem estrelas,
e o vazio, antes inimaginável, se instala
na ausência daquela voz que já foi casa.


Por um tempo, o peito espera, teimoso,
acreditando que o som familiar voltará,
que a falta é breve, que logo se ouvirá
o eco de um amor ainda em espera.


Mas os dias passam, o eco não vem,
e a vida, em sua crueza, ensina
que os "eu te amo" também morrem em silêncio,
que o tempo desbota até o que parecia eterno.


E aceitamos, a contragosto, o vazio deixado,
a voz que se cala e não retorna mais,
como uma despedida que nunca foi dita
e permanece, sussurrada, na alma.

Inserida por samia_lourena

⁠Caminho sem pegadas

Crescer sem pai é caminhar sem sombra,
sem a voz que orienta nas noites de dúvida,
sem a mão firme que segura na queda,
sem o olhar que aprova, que acolhe.

É aprender a ser forte antes da hora,
sentir o peso do mundo com as próprias mãos,
e buscar nos próprios passos
um caminho onde nunca houve pegadas.

Na ausência de um abraço, a alma se encontra,
fazendo de si mesma um abrigo seguro,
mas no silêncio, o coração pergunta:
onde estava o pai, quando o mundo se fez tão grande?

Inserida por samia_lourena

Ecos de você

⁠Ando pela casa vazia,
de um lado ao outro, sem destino certo,
como se cada passo pudesse preencher
o espaço que você deixou em mim.

Seu nome ecoa na minha mente,
a cada segundo uma lembrança tua,
e eu me pergunto onde você está,
se pensa em mim, se ainda sou algo em você.

Ou se já sou apenas ausência,
uma sombra distante, esquecida,
enquanto talvez você esteja em outros braços,
onde meu lugar já não existe mais.

Inserida por samia_lourena

O passo do tempo

⁠O tempo corre, silencioso e certeiro,
ontem eu era criança, com os olhos abertos.
O riso fácil fazia o tempo parecer uma promessa sem pressa,
com um caminho longo e intocado.

Hoje, os traços da inocência me escaparam,
numa lembrança que o presente não alcança.
Tudo se vai, como folhas levadas ao vento,
e o que antes era leve, agora pesa.

Como se cada momento vivido deixasse marcas
que o tempo cuida de entalhar na alma.
E enquanto o espelho reflete quem sou,
dentro de mim ainda habita quem fui.

O tempo passa sem pedir licença,
transforma o que somos, apaga vestígios,
e tudo se vai — os rostos, os dias, as certezas,
como se a vida fosse apenas um sopro breve.

Inserida por samia_lourena

Peso invisível

Sou a filha que precisa ser presente,
a estudante que precisa saber tudo,
a profissional que precisa acertar sempre,
a esposa que precisa cuidar,
a pessoa boa que precisa ser gentil,
a dona de casa que não pode falhar.

É uma dança incansável entre expectativas que nunca se esgotam,
um ciclo que se repete entre paredes invisíveis.
Há uma pressão silenciosa que me dobra,
me torce e exige que eu seja tudo para todos,
sem nunca me dar a permissão de ser apenas… eu.

Não é o esforço que pesa,
mas o constante peso de não poder largar.
Eu só queria, por um instante,
a leveza de não esperar nada de mim mesma,
de não ter que carregar os olhares dos outros
ou os julgamentos que me cercam.

Um dia de liberdade pura e despreocupada,
onde posso existir sem expectativas,
onde não preciso ser perfeita,
não preciso ser forte,
não preciso ser mais do que sou.

Apenas um dia onde posso esquecer esses papéis,
onde a responsabilidade se dissolve no vento
e sou apenas um ser
solto no mundo,
sem amarras,
sem rótulos,
sem pressa,
livre de tudo o que pesa.

Exílio da amargura

Há um peso nas pessoas que arrastam o próprio céu para o chão,
um cinza constante que cobre qualquer raio de sol,
não importa o quanto ele brilhe,
não importa a beleza do dia.

São aquelas almas que amarram as mãos da alegria,
que bloqueiam a porta do riso e a trancam por dentro,
sempre com olhos vazios e palavras pesadas,
que destilam o azedo sobre tudo que tocam.

Como é cansativo estar perto de quem nunca vê a flor
e se perde nas pedras, nas sombras, nos galhos secos,
quem respira o mundo com desdém e despeito,
e transforma cada instante em um lamento.

Há uma exaustão em suportar o eterno suspiro de quem se sente vazio,
de quem planta desgraças e colhe ingratidão,
de quem rejeita a leveza como se fosse uma afronta
e abraça a escuridão como velha amiga.

Eu me afasto, pois há um limite para o peso que se pode carregar
quando a alma quer leveza e se recusa a afundar.
Prefiro voar longe dos que se recusam a ver o céu
e me exilar na paz de uma mente aberta,
onde a vida se reflete sem filtros amargos,
e o belo encontra, enfim, espaço para existir.

Inserida por samia_lourena

⁠O Idioma dos vencedores

O sorriso é mais que um gesto,
é a bandeira dos que superam.
Ele carrega em si a força silenciosa
dos que enfrentaram a tempestade
e encontraram, no meio do caos,
a paz de quem não carrega mágoas.

O sorriso é o idioma dos que caem,
mas levantam, com feridas que ensinam,
não com dores que aprisionam.
É a marca dos que transformam cicatrizes
em histórias, não em prisões.

Ele fala de coragem,
não de ausência de lágrimas.
Mostra que vencer
não é passar ileso,
mas seguir, mesmo partido,
refeito pelo tempo e pela fé.

O sorriso é o idioma dos vencedores,
a luz que surge entre os escombros de uma alma despedaçada,
o caminho da reconciliação consigo mesmos.

Sorrir é vencer,
é abraçar o presente,
é dizer à vida:
“Eu continuo aqui.”

Inserida por samia_lourena

⁠A ilusão das princesas

Nos contos de fadas, dizem,
há um "felizes para sempre"
cravado em ouro nas páginas,
como se o tempo parasse,
como se a felicidade fosse estática.

Mas a vida não é isso.
Ela é um mar inquieto,
onde as ondas beijam a areia
e, sem aviso, recuam,
levando pedaços do instante.

A ficção nos oferece castelos,
promessas de eternidade,
um refúgio onde nada muda,
onde os finais são feitos de vidro
e não se quebram.

Aqui fora, a areia se molda
sob cada novo passo,
as ondas desenham o que o vento apaga,
e a felicidade é um sopro,
leve, fugaz, real.

Aceite: a vida é movimento.
É hoje, não amanhã.
É a gargalhada que explode
entre lágrimas,
o instante roubado à rotina,
o suspiro no meio do caos.

Não existe "para sempre".
E está tudo bem.
Seja feliz agora,
pois o agora é tudo
o que a vida
te oferece.

Inserida por samia_lourena

⁠No silêncio que eu queria

Queria menos pressa,
mais toque.
Menos euforia,
mais presença.

Enquanto o momento corria veloz,
meu corpo pedia calma,
um espaço onde o tempo não pesa,
onde o sentir é leve,
profundo,
sem mapa,
sem hora pra acabar.

Eu queria te olhar sem pressa,
sentir tua pele sem o ruído da urgência,
me perder no detalhe,
e não apenas no clímax.

Mas fiquei aqui,
entre o vazio e o desejo não dito,
me perguntando por que o amor, às vezes,
corre tanto…
quando eu só queria que ele parasse um pouco
e respirasse comigo.

Inserida por samia_lourena

⁠Eu só queria ficar

Não era sobre pressa,
nem sobre chegar logo ao fim.
Era sobre estar,
sentir,
respirar junto.

Enquanto você corria,
eu só queria que o tempo parasse ali,
na pele, no toque,
nos olhos que quase não se encontraram.

Eu queria profundidade,
calma,
aquele silêncio confortável onde o corpo fala
sem precisar gritar.

Mas veio o turbilhão,
rápido, intenso,
e me deixou aqui
com o coração cheio de vontade
e o peito meio vazio.

Por que tanta pressa,
se o que eu queria mesmo
era só ficar um pouco mais
no momento?

Inserida por samia_lourena

⁠Quando a vida silencia

Há um dia em que a gente acorda,
e tudo parece igual, mas é diferente.
O café tem o mesmo gosto,
o sol nasce no mesmo canto,
mas algo em nós já não espera.

De tanto esperar e se frustrar,
aprendemos a não esperar mais.
Não é tristeza, nem dor,
é um silêncio que se instala.
Um jeito de caminhar olhando o chão,
não porque se teme o horizonte,
mas porque o horizonte deixou de prometer.

E então, a vida vira rotina.
Os passos seguem por onde devem ir,
as palavras saem porque precisam sair,
o sorriso aparece porque se aprendeu a mostrá-lo.
Mas dentro, tudo é morno.

Não é amargura, é aceitação.
Aceitar que as pessoas não são o que sonhamos,
que o mundo não é justo,
e que o tempo leva mais do que traz.

E é estranho, porque há paz nisso.
Uma paz áspera, que não conforta,
mas alivia.
Como se o coração dissesse:
"Eu entendi. Agora, só sigo."

E seguir é tudo o que se pode fazer.
Até que chegue o fim.
Até que a vida silencie.

Inserida por samia_lourena

⁠Ela, Mulher imparável

Ela acorda com o peso do mundo nos ombros,
mas o carrega como se fosse pluma.
Uma trabalhadora que tece seu caminho com linhas de ferro,
sozinha, sem esperar que alguém lhe estenda a mão.

O machismo é um peito duro,
mas ela o rasga com as unhas,
com o olhar, com a voz que não se cala.

Cada passo é uma conquista,
um espaço que não lhe foi dado,
mas tomado, arrancado,
porque sua força não pede permissão.

Indomável, ela avança,
um vulcão que não se apaga,
uma tempestade que não se curva.

Dez leões caem sob seus pés a cada dia,
e ela os enfrenta sem hesitar,
sem tremer, sem recuar.

E ainda assim,
no fim da batalha,
ela sorri.

Brinca com a leveza de quem sabe o valor da luta,
deixa o bom humor dançar em seus lábios,
escreve poesias nas brechas do tempo,
como se as palavras fossem seu refúgio,
sua arma secreta.

E entre tantas vitórias,
ainda há espaço para o amor,
mesmo que fraco,
mesmo que decepcione.

Ela chora, sim,
mas não se quebra.
Porque essa mulher,
imparável, é mais que os leões que mata,
mais que os amores que a traem,
ela é o próprio fogo que a sustenta.

Inserida por samia_lourena

⁠O homem de gelo

Ele caminha pelo mundo sem sentir o vento,
sem notar o toque suave da vida sobre a pele.
Os dias passam como sombras,
as noites são apenas ausências de luz.

Ela estende as mãos,
um gesto simples, um olhar cheio de sol,
mas ele as recolhe, como se fossem punhais,
como se carinho fosse ameaça,
como se amor fosse fraqueza.

Ele acredita que ser forte é ser pedra,
que ser homem é não precisar de nada,
que doçura é invenção dos fracos,
e romantismo, bobagem sem propósito.

Mas sua alma está trincada,
como vidro exposto ao frio do tempo.
Não sabe que a força real não está na dureza,
mas na coragem de se deixar tocar.

Ele não entende que o amor não é um inimigo,
que o cuidado não diminui, apenas preenche,
que um gesto de afeto não exige retribuição,
mas pede espaço para existir.

Porque ninguém nasce de gelo,
ninguém foi moldado para o vazio.
O que ele chama de força é apenas escudo,
o que ele chama de fraqueza é só um nome que deram ao medo.

Frieza se trata com calor,
insensibilidade se cura com toque,
a solidão não se impõe,
se dissolve,
quando alguém insiste em ficar.

Inserida por samia_lourena

Ele e a falta de amor

⁠Ele não sabe o que fazer com o amor.
Quando chega perto, ele endurece.
Quando alguém lhe oferece, ele recua.
Não por maldade, mas por não entender.

Nunca lhe ensinaram que amor não pesa,
que carinho não aprisiona,
que o toque não fere.
Para ele, tudo isso é estranho, desconfortável, inútil.

Ele aprendeu que homem não sente,
que homem não se rende,
que homem não precisa de afeto.
Mas ninguém lhe disse que isso era mentira.

Nunca teve braços que o acolhessem sem pedir nada,
olhos que o enxergassem além da casca dura,
mãos que lhe mostrassem que o mundo não é só espinhos.
Então, construiu muralhas dentro de si.

E agora, quando ela o olha com ternura,
ele desvia o olhar.
Quando ela o toca com leveza,
ele se afasta.
Quando ela insiste,
ele a fere,
porque foi isso que aprendeu.

Mas o que ele não sabe,
o que ninguém lhe ensinou,
é que o amor não é fraqueza,
é refúgio.
Que não precisa ser temido,
apenas sentido.

Porque quem nunca foi amado
não sabe amar.
Mas pode aprender.

Inserida por samia_lourena

Pés descalços, alma livre

⁠Pés descalços tocam a terra,
o frio da manhã, o calor do meio-dia,
o áspero, o macio, o real.

Andar assim é ouvir a vida sussurrar,
é não temer o que tem no chão, nem o olhar dos outros.
Minha mãe dizia: liberdade não é ausência de julgamento,
é caminhar sem se importar com ele.

O mundo observa,
mas o vento não carrega pesos,
só aqueles que seguramos dentro de nós.

Ser livre é deixar que falem,
é pisar firme sem pedir licença,
é sentir o chão e saber:
eu sou.

Inserida por samia_lourena

Espinhos

Oferecer flores a quem é feito de espinhos
é como regar o deserto com a esperança de um oásis.
As pétalas caem, murcham, antes mesmo de tocar o chão,
e o que resta são apenas os vestígios de uma intenção vazia.

Os espinhos não pedem para ser suavizados,
eles existem para demarcar territórios,
para proteger o que já nasceu árido,
para lembrar que nem tudo se deixa tocar.

Talvez a gentileza não seja sempre a resposta,
talvez algumas existências só queiram ser o que são:
fortes, ásperas, impenetráveis.
E não há mal nisso.

Não insistas em transformar o que já se definiu.
Não carregues o peso de mudar o que não te pertence.
Às vezes, a maior sabedoria está em reconhecer
que algumas terras nunca foram feitas para florescer.

Inserida por samia_lourena

⁠A queda é a resposta

A queda nem sempre é castigo, às vezes, é resposta.
O eco dos erros volta, sussurrando em meio à poeira,
contando segredos que as bocas negam.

Alguns passos tropeçaram não porque o caminho era torto,
mas porque o orgulho era alto demais para olhar onde pisavam.
Nem toda lágrima lava a culpa, nem todo lamento pede perdão.
Há quem chore não por arrependimento, mas por ter sido pego pelo peso da própria ingratidão.

Aquele que está no chão não caiu por acaso.
Alguns desceram degrau por degrau, erguendo muros de descaso,
plantando ausências e escolhendo silêncios onde cabiam abraços.

No chão, há histórias que não se contam apenas com olhares de pena.
Cada queda carrega o peso das escolhas, um rastro de palavras não ditas,
de gestos que ferem mais que facas.

Não é o acaso que dita a profundidade de onde alguém se encontra.
São as suas próprias mãos que se fecham, seus próprios passos que se desviaram,
Seu coração que esqueceu de agradecer, de ver, de sentir.

As marcas no corpo e na alma não são apenas cicatrizes,
são lembretes de que a ingratidão é um abismo que se abre devagar,
engolindo quem não percebe o valor do que tinha, do que perdeu.

Não se deixe levar pela aparência de quem parece pequeno demais.
A queda não é um acidente, é um espelho.
E nele, muitas vezes, o que se reflete é o que faltou:
gratidão, cuidado, um olhar que soubesse enxergar além do próprio umbigo.

Então, antes de estender a mão, pergunte-se:
quem realmente merece ser levantado?

Não se deixe enganar pela cara de coitadinho.
Nem toda dor redime, nem todo pranto merece compaixão.
A queda nem sempre é injusta.
Às vezes, é apenas a resposta!

⁠Fúria

Hoje sou vento de tempestade,
um grito sufocado na escuridão.
O sangue ferve em minha carne,
feito lava queimada no chão.

Trago no peito um nó impossível,
um peso que o tempo não leva.
Mágoa afunda como âncora fria,
e a raiva, feroz, me envenena.

Queria rasgar o silêncio com fogo,
destruir as mentiras e a dor,
mas só me resta o gosto amargo
do que se quebrou sem remorso, sem cor.

O passado grita em ecos distantes,
um nome que já não posso tocar.
A saudade me afoga sem trégua,
me mata sem me deixar sangrar.

E no fim, sou só cinzas e vento,
um vulto perdido na escuridão.
Com ódio, com raiva, com tudo,
mas sem ter de volta meu coração.

Inserida por samia_lourena

⁠Efêmero

Eu conhecia você, mas não desse jeito,
seu nome, sua voz, sua presença eram familiares.
Por outra moldura eu te via,
profissional, correto, sem margem para devaneios.
Sempre dentro de limites bem desenhados,
até que, por uma noite, resolvemos ignorá-los.

Então a noite veio sem avisar,
um convite simples, sem promessas.
Aceitei sem pensar muito, ou talvez pensando demais,
e o cenário se desenhou no improviso.

Só um vinho escolhido sem pressa.
Uma música que preencheu os espaços,
e foi pano de fundo para palavras que deslizaram fáceis.
Como se sempre estivessem esperando para serem ditas.
Como se soubéssemos que não precisavam de futuro.

O terraço nos abraçou com sua brisa quente,
e a madrugada se desenrolou lenta, embriagada de nós.
Risos espaçados entre goles, olhos que se encontravam,
e demoravam mais do que antes.
Mãos que, antes discretas, já não se continham.

E quando os corpos finalmente disseram o que a boca já não precisava,
não houve surpresa, apenas encaixe.
O vinho podia ter acabado,
mas o gosto que ficou era nosso.

Foi bom. Intenso. Exato.
Sem margem para arrependimentos,
sem necessidade de depois.
Porque sabíamos, desde o primeiro gole,
que aquela noite terminaria com o amanhecer,
e ficaria onde deveria ficar.

Inserida por samia_lourena

⁠Areia nos olhos

As despedidas têm gosto de vento seco,
um sopro que arrasta o que foi sem pedir licença.
O fim se veste de silêncio,
um manto pesado que cobre os restos
do que um dia chamou de lar o peito.

Amar é deserto, vasto e sem mapa,
onde os temores brotam como espinhos,
cravando-se na sola dos pés descalços.

Cada passo é um salto cego,
uma ponte estreita, oscilante,
tecida de fios que não vemos.

De olhos vendados, tateamos o ar,
o coração apertado entre o querer e o temer.
Será chão firme o próximo instante?
Ou o abismo, lama, esperando
para engolir o que sobrou de nós?

Os fins nos despem, nos deixam
diante do espelho quebrado das promessas.
E ainda assim, no meio da areia e da dúvida,
o amor insiste, miragem teimosa,
um oásis que nunca sabemos se é real.

Inserida por samia_lourena

⁠⁠Ser confiável

Ser amado é sentir o calor do afeto,
é receber olhares que iluminam,
é ser lembrado em dias bons e celebrado em momentos felizes.
Mas o amor, às vezes, vem com exigências,
com expectativas que mudam ao sabor das emoções.

Ser confiável é diferente.
É ser a rocha onde alguém pode pisar sem medo,
é ser a palavra que não se desfaz com o vento,
é ser o silêncio que não trai segredos.
Ser confiável é ser porto seguro quando as marés se revoltam,
quando o amor hesita, se confunde ou se esvai.

O amado pode ser esquecido quando o encanto se apaga,
mas o confiável é procurado quando tudo desmorona.
O amor pode ser um fogo intenso,
mas a confiança é a terra firme que permanece.

Entre ser amado e ser confiável,
prefiro ser aquele cuja presença traz paz,
cuja ausência se sente na incerteza,
cujo nome se pronuncia com certeza,
porque ser confiável é um laço que não depende de emoção,
mas de verdade.

Inserida por samia_lourena