Saint-Clair Mello
Se, por acaso, um dia, eu entrar na Academia, podem ter a certeza de que sairei, pela mesma porta, daí a pouco, como um reles mortal e talvez com a saúde até um pouco mais debilitada.
Não é que haja muito corrupto na política brasileira; é que aqui há pouca política para atender a todos.
Quando um imortal do porte de Sarney constrói um mausoléu para si, imaginando um dia poder morrer, isto dá um desespero em todos os outros reles mortais, que tomam consciência de que não terão a mínima chance de sobrevivência.
Chega certa idade que ler o Kama Sutra é assim como um diabético folhear um livro de receita de doces: é comer com os olhos e lamber com a testa.
Quando chegar a sua hora, de nada adiantará o fato de você viver sempre atrasado para seus compromissos, nem alegar que esqueceu o relógio sobre a cômoda.
Nesta hora, onde estão as pessoas no Cazaquistão? Naturalmente que é em casa que estão! Até porque lá deve ser de madrugada. Já o que fazem as pessoas do Curdistão é coisa que me eximo de dizer.
Do jeito que vai indo o espírito de tolerância entre os intolerantes, daqui a pouco não haverá mais nada para intolerar.
A diferença entre uma crise no governo e uma crise renal é que, nesta última, um chá de quebra-pedra pode resolver tudo; naquela, só um transplante de ministros.
Quando, em meados do século XIX, o Brasil passou a tomar banhos regularmente, apareceu logo um espertalhão que inventou a prática da lavagem de dinheiro.
Osvaldo Cruz, num tempo mais difícil, com tecnologia menos desenvolvida e com a descrença geral da população, conseguiu debelar do Rio de Janeiro a febre amarela e a varíola. Hoje, com recursos infinitamente maiores, nossas autoridades não conseguem fazer frente ao mosquito da dengue. Ai que saudades do Osvaldo Cruz!
Será que Fernando Botero, o pintor dos gordinhos, ao ouvir falar em regime alimentar, perde a inspiração?
Nem mesmo o câncer suporta políticos. Quando suas células detectam que o hospedeiro é alguém da classe, elas dão logo um jeito de sair de fininho.