Rubens Figueiredo
Existe um limite para tudo. Não é medo, não é convenção. Pelo menos, não é só isso. Marcas invisíveis deslizam no chão, atravessam nosso caminho. Uma fronteira, um litoral, nem sabemos em que nossos pés tropeçam, nem imaginamos em que parede nosso ombro esbarra.
Só um louco pode supor que o céu tem o tamanho dos seus olhos. Só uma criança pode acreditar que o mundo inteiro cabe no prato da sua fome.
Conforta acreditar que o passado é um inimigo que derrotamos de uma vez para sempre, que cada minuto é uma formiga que esmagamos com o pé em nosso avanço implacável. Ao contrário, minha sensação é de que o passado respira todo o tempo às minhas costas, anda sempre no meu encalço e, se acelero o passo, ele também aumenta o ritmo de sua marcha, disposto a me tragar de uma vez na sua corrente.
Tudo é mentira, qualquer coisa é verdade: só nos resta deixar-se levar, deixar-se cair nesse vazio.