Rozelene Furtado de Lima
A vida é altamente recompensadora e para cada situação que vivemos ela devolve, no mínimo, uma vez e meia em dádivas, portanto a vida é dadivosa.
Somos poeiras de estrelas; portanto, somos estrelas e pertencemos a uma constelação. E temos um céu para brilhar em noites escuras.
No Ritmo do Passacale
Sou natureza
Tua presa
Com planícies e montanhas,
Cerrados, ilhas e lagoas.
Na sedução tu não me ganhas
Eu oferto e tu me doas
Escalas os picos, passeias no vale,
Mapeias no ritmo do passacale.
Descortinas o véu
Exibo meu céu
Nadas em mim
Exalo jasmim
Deitas nas pedras
A seiva medra
Sorves nas fontes
Gritas nos montes
Ecoa num rio de paz
Cavaleiro audaz
És minha presa
Sou tua natureza
A vida se realiza em milhares de momentos e cada momento é uma vida. Reconhecer a felicidade como companheira em todos os momentos é uma arte. Sou feliz!
O amor preenche todos os vazios, realiza todos os sonhos, vence todas as batalhas, afasta todas as mágoas e é dado a todos, mas poucos o reconhecem.
Para nós dois somente
Tem um amor no teu olhar
Um amor todo para mim
Eu tenho um amor assim
Que há muito quero te dar.
É um amor como cristal
Tem que ser bem cuidado
É preciso ser muito desejado
Uma paixão ardente incondicional.
Não quero um amor insosso e morno
Preguiçoso na posição do espero
Se tu quiseres, eu também quero
E só aquece se for para o forno.
Esse amor tão fraquinho e frio
Tipo carvão apagado sem acender
Querendo sem vontade de querer
Um amor assim deixo no vazio.
Quero um amor prazeroso e verdadeiro
Sem culpas e sem culpados
Sem doer nem viver machucado
Que traga paz e ocupe o coração inteiro.
Faça o corpo eletrizar com calafrios quentes
Seja absoluto, alegre, livre e sem medidas
Sem tempo contado nem regras proibidas
É para sempre e para nós dois somente.
Por um momento de amor
Rozelene Furtado
Como a lua cheia dança no orvalho e em poças de lama
Como a chuva chega porque precisa chegar chovendo
Por uma lembrança acendo o desejo ardente da chama
Para reencontrar o elo perdido no manso envolvimento
Como o brilho da luz clara do olhar terno e apaixonado
Como a pureza e a candura das carícias das mãos macias
Por um suspirar do tempo dar todo meu amor ao ser amado
Mesmo que seja só por uma única vez cumprindo profecia
Como o anoitecer que vem pleno de secretos anseios
Como a música atrai os sentidos e ecoa a voz a cantar
Por uma labareda de muita paixão vou curtir sem receios
Mesmo que seja só por um instante de amor me largar
Como a essência vaporiza perfume na flor ao relento
Como a mão conduz a pipa nas planuras para vê-la bailar
Quero ser pipa e dar toda linha por um único momento
E nos seus braços me fazer de vento e voar até evaporar
Por que insistir?
Não sou a madrugada
Que insiste em aparecer do nada
Nem o sol que se obriga a clarear
Nem as trevas que não gostam do luar
Por que insistir na companhia
Que nem olha para mim e nem se alia
Ficar esperando que algo se modifique
Ou aconteça um milagre e justifique
Por que insisto em caminhar neste descaminho
Sem ser sendo, sem querer querendo, assinzinho
Com as mesmas pedras e pedregulhos
Dia após dia no sangramento do orgulho
No descompasso da dança e no desafino da canção
Gastando a vida largando sonhos lacrimados no chão
Não entendo meu enredamento neste entrelaço
Vou desfazer cada nó e me refazer passo a passo
Tardinha de verão
Fui à fonte beber água
Matar a sede de vida e de conexão
Vi a natureza fazendo um ato de gratidão
Que lavou e levou a minha bacia de mágoas
A fonte de água cristalina iniciou a exibição
Um espetáculo sem ensaios nem projeto
Acontece no palco tendo o céu como teto.
No momento do dia que é só de fascinação
Não sei se tem algum maestro a dirigir
As mãos em concha sorvo água e me delicio
Fim de tarde de verão a hora que mais aprecio
Uma magnífica apresentação, parei para aplaudir
Não sei se cantam ou tocam, sei que é divino.
Agradecendo ao Criador com uma bela sinfonia
Uma orquestra de cigarras entoa sonora melodia
A vibração final é o voo de um colibri dançarino
Pela graça de receber esse afago que descortina
O marulhar da água fresca e pura da fonte
O sol que morre de mansinho no horizonte
A música que nana o dia que em paz culmina
Concluí que
Somos uma célula de um só corpo vibrante
Tudo é de todos e viver é cuidar e depender
Ser é um estar presente e pertencer
Que estamos por aqui sempre e durante