Rosemary Chaia
Já tua presença
é muita
e de certa medida,
embora ainda
no ventre que te abriga.
Enquanto está aí,
procuro definir tua face,
mas perco-me na profusão
das origens e gerações.
Quando chegares,
vai calar minhas palavras,
pois és mais que poesia:
é fonte e euforia,
é vida a mais!
Como ave
Quando teu corpo
se encontrar
em noites sufocadas
de solidão e angústias,
mergulharei em teus abismos,
como ave em vertical voo,
para que faças de mim
abrigo,
travessia.
O amar
Desfaz a textura dos dias
e desafia o tempo.
Sua busca é seu itinerário:
sempre segue sem bússolas
pelos atalhos da vida.
Mas não se perde,
encontra-se em cada elo.
É sem prévias partituras,
se a melodia principia.
Se semente e seiva,
sempre é templo de maduração.
É tempestade e estio inesperado.
Paisagem vária.
Travessia.
Metamorfose
Minha poesia é um
mapa aberto em alusões,
onde minha identidade é trocada.
Nela saio de mim
e ultrapasso meus limites,
num ritual que sempre
celebro o avesso.
Quando chegar minha hora.
Quando chegar minha hora
de fazer minha viagem definitiva,
quem dera fosse num dia
de ressaca do mar,
para mais rápido
flutuar meu barco
para a outra margem.
E no balanço pra-cá e pra-lá,
como num berço,
sentiria voltar para
meu próprio começo.
Sem nenhum lamento
e como se tivesse asas,
rasgaria o céu...
E delineando retas e curvas
abraçaria a primeira estrela.
Onde irei
nesta fria manhã?
Ascenderei ao céu um verso
ou acenderei no vago olhar
a solidão?
Tanto brilho lá fora,
mas manhã clar(a)marga.
Como diluir vazio
no caminhar hora tensa?
Tarde venha,
venha maritimamente,
(re)alimentar a fonte
e da fonte eu me alimente!
Licença de solidão
Assim que escurecer,
eu quero licença de solidão,
uma rede sólida,
onde minha alma debata-se,
se revele,
como uma rosa a se abrir,
com seus espinhos e seu perfume...
Quero o que antes o mundo,
(com ruídos estridentes
que ferem e denigrem)
arrebatou:
a paz, a quietude, o silêncio
Original.
Todo Escritor (veja: com "E") é ético, ou seja, deixa argumentos poeirentos de lado, reconhecendo assim a sua missão de interferir positivamente na formação de seu leitor.
- Onde está a piada?
- A piada não é haver alguns cidadãos (de outra religião ou ateus) a fazer comentários de mal gosto ou trocadilhos ou deboches ou brincadeirinhas sobre o conclave, os católicos e Francisco I. É acharem que sua religião deve ser a única ou a verdadeira, é acharem que são únicos.
Alguns chamam "intenções negativas, ataques e ofensas" de argumentos, desconhecendo as premissas, a tolerância e o respeito aos pares, subordinando-os ou submetendo-os. Chamo-os (aos alguns) de almas pequenas.
Ao abrir a janela,
curiosa, espio as
cores da manhã e
encanto-me com o
cenário da vida,
tecido pela luz do sol.
Olhar para o passado não é procurar o tempo perdido, mas reconciliar o futuro, isto é, para orientar o desejo do que está para vir.
Aqui planto minha vida,
Nos princípios, valores e sonhos,
Nas virtudes, esperança e liberdade.
Ancoradouro e barco,
Minha família.
Onde a maioria dos escritores buscam segurança?
O desejo de segurança é um impulso normal do ser humano, e está mais predominante na maioria dos escritores, que, em vez de buscá-la numa intuição direta e pessoal, buscam-na na adesão coletiva às tendências de prestígio, encontrando alívio e proteção no sentimento de estar em dia com a opinião de seus leitores (ou com aqueles que tal lhes parece), não aceitando ser replicado ou que discordem de suas ideias. Isto é angustiante, porque fazem da inteligência uma mera soma de opiniões, ao invés de colocá-la na ordem da razão, perdendo oportunidades de contribuir na formação dos leitores.
A estes escritores, meu silêncio é imenso!
Não vou me anoitecer,
prezo as manhãs.
Bem cedo, alimento
os pássaros com o mesmo
pão de que me alimento.
Depois, nas asas de um deles,
vou-me, para não ter
no sono pesadelos...
Entretenho-me, sonhando.
Se há lógica nisso,
sou um arco-íris no céu,
apesar do animal que sou.
O teu silêncio
explode feito solidão
no meu coração...
enquanto lá fora inebriante
brilha a lua no céu.
Então apanho os cacos de mim
e prossigo, "enfim".
"Mágoas de ontem, migalhas de hoje."
Juntando os cacos meus.
Reconstruindo-me,
para voltar a ser quem sou,
sem voltar ao ventre da mãe,
mas renascendo do meu próprio,
para dar a luz a mim mesma.
Sedução
Porque é hoje à noite
que seja intensa
se vendavar _ tanto faz.
Quero seduzi-lo
com a força do coração
e não negar
o que explode em mim.
Ultrapassar a atração do corpo
sentir plena, juntos...
- que seja avessa
ou que me embriague,
mas que eternize
este nosso primeiro encontro.