Rosemary Chaia
Eu não nasci para ser infeliz...
Quando as lágrimas insistem
Dos olhos sair,
Logo o riso desabrocha em minha boca.
Neste dia, 4 de maio, meu aniversário. Não estou pensando em quantos anos faço, mas no quanto sou boa e posso ainda ser para o mundo. Afinal: o que adianta a minha existência se eu não deixar alguma coisa para a eternidade?
No peitoral da mais alta janela da minha casa,
Debruço-me, a sonhar...
Que importa que a noite fria chegue,
Sem cessar?
Solidão
Posso ter mil e um amigos,
Mas estou sempre sozinha
Em minhas horas de decisão.
Conflito, veneno latente
Corrói-me a alma em silêncio.
O mais glorioso encontrar-se
Floresce na solidão.
Incógnita
Venho de caminhar por esta estrada,
Tecendo da ilusão um último alento,
Desta vida que vai acelerada,
Chegando ao fim, com um triste lamento.
Muitas sementes plantei em solo ingrato;
Amor e esperança, inatingidos...
Tudo, agora traz-me à lembrança do que fui ontem,
Não a certeza do que sou agora.
É duro viver sem meta,
Sem rumo e sem carinho,
Como ilha, sozinho,
Angustiado... a sonhar, como poeta!
No fundo, como adoro um abraço palpitante!
Um abraço com todos os seus traços...
Um corpo bem apertado nos meus braços...
Abraçar, ser abraçado... e me abandonar.
Envolver, se envolvido... e me render
A um amor! - e deixar acontecer
Tudo quanto se possa imaginas!
Bella
Quantas lembranças eu guardo
E carrego comigo agora,
Do seu vai e vem
Passando a toda hora.
Menina finginda quietinha
Mas serelepe que só
Não perdia nada de vista
Nem um pé de meia no meu sapato!
Saudade, doce saudade
Dos nossos momentos tão juntas
Dos passeios da manhã
Das sonecas a tarde...
Eram momentos muito bonitos
Às vezes de céu fechado
Mas seu jeito era tão fascinante
Que nada se molhava.
Por tamanho teu amor por mim
Nos meus versos você sempre estará
E dentro do meu coração
Você vai sempre morar.
Nunca pensei
Que bom que você comigo quis se encontrar!
- Nunca pensei que pudesse merecer
Esta felicidade que veio me trazer
Quando sorrindo vi você chegar!
Ver você pela porta entrar
E nos meus brços se render!
No abraço palpitante sentir e perceber
Seu coração, com o meu coração, se enrolar.
E agora, apaixonados,
Deixamos o amor rolar... acontecer!
E a lua brilhar num novo anoitecer!
Aiuruoca
Aiuruoca: Nasceu no tempo da colônia
E foi crescendo a cada dia.
Hoje: tesouro níveo, florido,
Tão rico quanto a poesia.
Aiuruoca: “Casa dos papagaios”,
Nossa intemporal guardiã,
Assim Você é aclamada pelos seus.
Sol de Minas, nossa anfitriã.
Querida morada na Serra,
De gente de força e ação
Que ama e trabalha na terra,
Com fé, suor e emoção.
Lugar de natureza soberana,
Impune e encantadora.
Do seu tapete verde emana
Verdadeira apoteose inspiradora.
Aiuruoca... De rica cultura
Emergida de teu próprio deleite.
Dádiva preciosa
Que ecoa por este mundo a fora.
Canta Aiuruoca: é teu aniversário!
Nunca irei da mente apagar
Esses momentos tão lindos
Que com Você vim festejar.
Amargo abandono
Meu amor me esqueceu! Estou sozinha
envolta num imenso mar de lama...
Procuro-o, em vão, na minha cama.
Reclamo: Quão vida enganosa e mesquinha!
É alta a madrugada e nem consigo
fechar os olhos e pegar no sono...
tudo dele ficou comigo
e está comigo neste amargo abandono.
Estou como a roseira desarmada
que ficou solitária, sem aroma,
sem dar brilho a ninguém e abandonada.
A saudade cresce em forma abrupta
e começa então a minha luta
para enfrentar o mundo sem meu amor.
O amanhã
Lá fora a chuva cai
trazendo recordações de antigos vendavais
no cais os pescadores
preparam as redes e esperam
As noites mais profundas obrigam um novo olhar
a lua debruça na janela
a esperança antes imperceptível
faz consertos na casa.
No quarto a cama
onde tantos carinhos amor e sonhos
viraram rezas e choro
não há mais lençol de seda.
A memória vai polindo os momentos
restaurando o passado com as cores das lembranças.
O amanhã?
O mundo dá voltas.
Pausa
Momentos de pausa,
madrugada fria, agonia,
e eu em clausura mofada:
com pensamento empoeirado,
perdendo os fios da poesia,
travando comigo uma guerra...
Angústias por se lavar,
mas um bucado de fadiga, mental.
Aindassim recaio
no colo fraterno da Musa,
como bicho de pelúcia,
sem vontades, sem emoções,
sem espanto,
quase morta.
E enquanto ela me acalanta,
vou chorando,
agonizando,
amargando os versos
que estão presos
e não querem vir à baila.
Mas, sobremodo,
entendendo
que meus versos,
por hora,
emudecem,
talvez,
porque eu não estou
pronta para eles.
Até ontem
Até ontem seguíamos separados,
vagando pelo mar das ilusões,
afogando-nos nas tantas recordações,
com os corações visivelmente ilhados.
Eu a lembrar dos erros cometidos
durante o meu passado efervescente;
você a pensar insistentemente
dos corações, por você destruídos.
E agora nos reencontramos
e pra tentarmos evitar mais dor,
vamos fingir que não nos conhecemos.
Mas nossos olhos por exprimir ardor,
logo vão nos dizer que ainda
temos aquele velho e louco amor.
Nossos olhos expressam ou guardam nossos sentimentos e podem ser ponte entre o nosso coração e a nossa alma.
No silêncio, te amo constante;
Na mente, gravado o teu nome;
No coração, os desejos que o tempo consome;
No caminhar, sou aquilo que passa e você não vê.
Se soubesse do que sinto e penso,
E se soubesse como é grande e extenso
O sofrimento que atinge o fundo de minha alma,
Compreenderia porque perco o sono
E porque sofro tanto este abandono:
-É porque te amo meu querido!
A procurar
As horas vão passando sonolentas
nas minhas dezenas de páginas da saudade...
Estou vivendo nesta eternidade
debaixo de mil e uma tormentas.
Até o céu que muitas vezes eu via
com o mais bonito luar que me sorria,
hoje de tão pálido, vazio e sem graça,
se tornou uma aquarela sem força.
Eu pergunto a mim mesma: Por que estou
descrente e indiferente a tudo,
o olhar triste, vago e mudo?
Eu estou sempre a procurar respostas
para esta vida que tanto me desgosta,
onde eu vivo querendo me encontrar.
Entrei a nado
Entrei a nado pelo rio adentro,
beijando fontes, abraçando correntezas.
A manhã era ensolarada.
O rio era de prata.
Uma mangueira soberba e alegre
ficou, de longe, me sorrindo.
O céu era esperança.
O rio era possibilidades.
Nadei em águas daqui distantes.
Cachoeiras formosas deram-me pouso.
Agora, exausta, de volta à margem,
sinto-me alegre como a amplidão.
Meus lábios secos beijaram fontes,
meus braços curtos romperam as curvas
das fortes correntezas na imensidão.
Agora volto de novo à margem,
tenho nos lábios o doce da certeza.
Trago nos braços a compreensão.
Anoitece
Anoitece.
O manto da noite cobre o meu corpo,
o silêncio deita o meu sono
e as estrelas ofuscam os meus sonhos...
E eu mergulho na lembrança.
Anoitece.
A lua vai bailando,
aos poucos invadindo o meu sono
e acariciando o meu corpo.
E eu mergulho na saudade.
É o sereno invadindo o meu quarto;
é sobra da solidão na minha alma;
é um gosto de saudade na minha cama...
... E beijando a minha esperança,
os lábios de um breve retorno teu.
Eu acredito que somos uma força no mundo, e podemos alcançar novos patamares em nossa vida acreditando mais naquilo que fazemos - se extraordinariamente bem feito. Isso muda nossa vida e a dos outros.
A vida é uma interpretação, e no meio desta interpretação há experiências muito fortes que devem ser testemunhadas para o crescimento mútuo.