Roseana Murray
Tateando Caminhos
passo as mãos no rosto
debaixo da minha pele
quem é esse ser que me habita
tão envolto em penumbras
qual cigana em seus panos?
que mulher é essa
fazendo de mim labirintos
como um peixe no oceano?
passo as mãos no rosto
feito um louco em seu passado
e nem me decifro nem me devoro
abro a janela e bebo a manhã
em grandes goles
Quero asas de borboleta azul
para que eu encontre
o caminho do vento
o caminho da noite
a janela do tempo
o caminho de mim
Bem-estar
É como uma brincadeira,
experimente:
faça à sua volta
um círculo encantado,
iluminado de amor:
quem chegar perto
se ilumina também.
Aí dentro, sempre cheias,
as teias que guardam
palavras delicadas.
Algumas são fogo sagrado
e fabricam luz.
Água de palavras
Às vezes desanimo
e me sinto inútil
portadora de estranha
doença
de que servem esses
poemas
água de palavras
frutos nascidos
de loucas sementes
de que me servem
se são menos
que estrelas cadentes
se são volúveis
se são voláteis
se fogem das mãos
como pássaros de renda
melhor seria esvaziar
as gaiolas com que tento
apreender o tempo
melhor seria derramar
no mar
as minhas gavetas
tão cheias de fios
de noites cerzidas
melhor seria arrancar
de mim como erva daninha
essa linha que me descostura
e que me faz prisioneira
de miragens
Invisível
A alma é invisível,
um anjo é invisível,
o vento é invisível,
o pensamento é invisível,
e, no entanto,
com delicadeza,
se pode enxergar a alma,
se pode adivinhar um anjo,
se pode sentir o vento,
se pode mudar o mundo
com alguns pensamentos.
Os anjos
Os anjos,
criaturas de encantamento
habitam meus pensamentos.
O que podem os anjos,
de mãos azuis,
fazer por nós,
simples humanos?
O que podem,
com seu hálito de estrelas,
o céu nos olhos,
e uma enorme compreensão
para com nossos corações fatigados?
Que um anjo durma
sempre ao meu lado
e faça com seu silêncio
o tecido dos meus sonhos.