Hoje o canto
seria mais feliz
- cadê Elis?
Canto do mais
fundo desassossego
- viagem sem volta
céu sem nuvens -
no campo, as marcas
de outra geada
o sol queima
as alfaces na horta
- frio danado!
o menino pisa
num tapete gelado
- hora da escola
nem o sabiá
animou-se a cantar
- madrugada fria
o velho fusca
teimou em não pegar
- traz água quente !
Imensidão
do mar, neste azul
- seu olhar
Poeta negro troca
versos com polaco
- é balacobaco
(para Paulo Leminski e Itamar Assumpção)
Saudosa e fria
Curitiba grita e cala
- poeta não fala
Brilho, estrela cai
feito colírio no olhar
- vira haikai
No vestido é visível
aquele rubro vestígio
- pulsar do coração
Grilo faz dueto
com minha insônia
- encanto noturno
Nenhuma dor
do ator dói à toa
- alma dorida
Sorri amarelo
o gato na janela
- jarro quebrado
o pequeno Batman
rouba um beijo da Cinderela
- chuva de confetes
um camisa 9 do Santos
abraçadinho com a palmeirense
- Meu coração é corintiano!
as melindrosas de azul
e suas mal cuidadas barbas
- olha a cabeleira do Zezé!
pouca gente no
salão, no grito de carnaval
- Mamãe eu quero!
um bin-laden magrinho
corre atrás do Super-homem
- batalha de confetes!
ainda é lua cheia -
entre prédios e pinheiros
o canto do sabiá
lua na madrugada -
o primeiro canto do sabiá
desperta a vizinhança
quem amanhece
com os sabiás e bem-te-vis?
- o menino e o poeta
alvoroço na palmeira -
entre coquinhos e bem-te-vis
o bico do tucano
tucanos e araçaris
não são bem-vindos
- bem-te-vis furiosos