Rodrigo R. Silveira
"O gosto amargo da derrota, vem sempre disfarçada da vitoria, e sem percebermos perdemos, e o que era aqui e agora, se vai, e vira outrora achando que vencemos."
E é claro que eu erro, caio, falho, peco e minto, sou humano, e ainda que eu quisesse, não sei ser perfeito. Mas eu gosto do feito, do carinho, da compaixão. Sinto saudade, amo, desamo, corro atras, e de repente faço falta. Meu vazio é de incompletude, de existência ausente, de alguém de perto por perto, aqui dentro talvez.
Fiz de mim um poço, tão profundo tao feito, mas sei la, sou assim, se gosto, gosto, se amo, amo, não sei ser metade, pouco e pior, me incomodo em ser nada. Não ha espaço que eu não me caiba, mas o pouco é apertado demais para mim, faço de mim gigante, gigante amor, gigante.
Se estou, estou, se me fui, me esqueça, não sou de voltar, por isso, nunca jamais em hipótese alguma, me deixe partir, por que como um grão de areia, eu também me esvaio, e sem pesar me perco no deserto, e o longe fica também perto.
Depois de um tempo, a onda abaixa, o mar se acalma. A brisa do vento é leve, tranquiliza.
Pouco ou quase nada te faz falta. Tudo está completo. De dentro pra fora.
A paz reina no peito. Sentimentos bons florescem.
Ao acordar, luz. Ao dormir, plenitude.
Palavras são ditas bem baixinho, frases longas já não existem. Dai você aprende, que menos é sempre mais.
Aprende que as responsabilidades alheias são alheias, e não cabe a você mudar o mundo. Mas respeita o mundo que existe em você.
Entende que nem tudo que vai, volta. E tudo bem, e tudo bem. Tem coisas que não precisam voltar.
Aprende que silêncio também é resposta, e que pode haver muitas palavras em um suspirar baixinho.
E aprende a aprender, às vezes, até desaprendendo...
Eclesiastes 1.14
Atentei para todas as obras feitas debaixo do sol,
e eis que tudo era vaidade e aflição do espírito,
Falei ao meu coração dizendo: sim, me engrandeci realmente,
permiti ao meu coração conhecer a grandeza, a loucura e o devaneio,
e percebi que isso também era aflição de espírito
Pois em muita sabedoria habita muito sofrer
e o que aumenta o saber, aumenta a tristeza.
Repousava bem perto um do outro, a matéria e o espírito.
Bem aventurado, pensei eu comigo, aquele em que os afagos de uma tarde serena de primavera no silêncio da solidão produzem o torpor dos membros; porque nessa alma dormem profundamente as dores no meio do ruído da vida.
[...] e de repente nos vemos deparados a grande necessidade de um fim épico, que traga sentido e memória a nossa insignificância. O fim então posto que já não justifica mais os meios, da razão ao início, ao começo e a centelha de nossa criação.
Entre o ego e o caráter existe um mundo, que simplesmente é ligado por um simples fio de cabelo. Na dúvida, não coce muito a cabeça, sua sanidade pode ir ao chão.
É fadado ao esperto, a rápida saída do amor. Pois onde descansa um coração cansado, pode não haver sobra pra insistente e dolorosa vida em razão.
Foram várias tentativas até aqui, e mesmo quebrado, eu conseguia me quebrar em mais e mais pedaços. Estamos sempre em busca da resiliência, e não sabemos o quão duro é suportar certos trincos em nosso tão cristalino coração.
De caquinho em caquinho o coração volta, e aquela paz vai chegando. E mesmo com todas as cicatrizes, bom mesmo é saber que fui verdadeiro em todos os corações alheios, e minha completude era muito mais do que muitos mereciam, mas ainda assim o fiz, pois oferecemos sempre o melhor que existe em nós. Mesmo que nem sempre seja tão bonito.
Vestido Girassol
[...] sentado ali, pensando na chuva que possivelmente atrapalharia minha volta pra casa enquanto decidia mentalmente qual filme iria assistir naquela noite, simplesmente aguardei. Até que vestida num maravilhoso vestido amarelo que instantaneamente me lembrou girassóis, num salto que me surpreendera e ao mesmo tempo confirmara sua vontade de me cativar - ela sabia que eu admirava mulheres de salto. Ao se aproximar, de maneira sútil colocou seu cabelo para trás da orelha direita, e vestindo um sorriso encantador me cumprimentou com um abraço e um beijo no rosto. Por um breve momento, dentro de mim algo gritou, e soube naquele instante que era ela a escolhida.
Talvez equilíbrio e resiliência, seja o grande x da vida. Sejamos deparados por imbecis que nos testam essas qualidades sempre que possivel.
[...] e no fundo só queremos ser compreendidos e compreender sem muito esforço, e o que seria o amor se não a paz dentre as pausas dramáticas e melancólicas do silêncio. Entre o contar os segundos, sem muitos anseios e perturbações, encontramos um mundo, que sem perceber, descobrimos que só é possível viver de olhos fechados.
A descoberta, de talvez um universo que nos habita, faz com que sentidos se aflorem ou por vezes se aquietem. Entendemos então o quão ensurdecedor pode ser o silêncio, quantos sons nossos corações podem emitir num mesmo segundo, num mesmo instante, e principalmente o que gritamos tão alto, mas que diante de uma vida inquieta e barulhenta, somos impedidos de ouvir.
[...] E no final é isto, é essa incompletude incompleta, é acordar no silêncio e dormir quietinho com um peito barulhento, é criar expectativas e se encher de esperanças, de um mundo melhor, de um grande amor, de uma vida agitada e cheia de pessoas incríveis. Esperamos então um singelo ato de afeto, pra sem pensar entregarmos nossos corações de bandeja, muitas vezes servido em pedaços, porque nem nós sabemos como colar os caquinhos. Fazer acontecer e ir além, é uma parte cansativa do processo. Depois de um tempo criamos a sútil preguiça de sair do lugar, de se movimentar, de lutar - por algo ou alguém, e ficamos parados aguardando a confirmação do universo de que alguém está aqui ou a caminho pra nossa salvação, e nem nos damos conta de que esse alguém pode estar a nossa frente, no espelho.
É reconfortante fazer planos, traçar um linha do que seria o futuro, escapar um pouco da crueza da realidade. Tudo isso faz parte de um motor que nos leva adiante. Pois, no mesmo dicionário, expectativa é sinônimo de perseverança.
[...] e entramos tardiamente em reconstrução, porque na maioria das vezes nem sabemos qual parede erguer primeiro. Mas é de bloquinho em bloquinho que a vida vai acontecendo, e de repente, sem percebermos, somos surpreendidos com um imenso castelo. Muitas vezes decorado com as pedras do caminho, alguns tocos e pedaços aleatórios de aprendizados.
A vida, mais simples do que a gente pensa, tem aquele gosto imaturável de coisa boa, sabor que fica horas na boca, e faz de uma boa memória, eternidade.