Rodrigo Noval
SONHO DETALHADO
Sou o prognóstico do teu sorriso,
a leve agulha da tua tatuagem,
tua doce versão selvagem.
Te eternizo no pensamento
do meu amanhecer,
apalpo em sonho teus detalhes
sem uma palavra te dizer.
Tua saia emana
o maná da minha fome,
a energia do teu olhar me consome.
Duas eternidades
não me compram a paz do teu abraço,
tua voz nos meus ouvidos
ecoa como a luz que corta o espaço.
Quero nascer a cada dia
nos lençóis da tua companhia,
mergulhar na tua essência de calmaria,
que avermelha o meu desejo e me irradia.
Nunca vi poder, tampouco violência ou coragem que fizessem um homem ser mais homem que o outro, o que define o homem é atitude e razão.
Utilidade e Lealdade correm juntas por um tempo sobre a mesma linha férrea. Quando a Utilidade descarrila, a Lealdade abandona a razão de ser, se tornando desleal, primeiro desprezando a Utilidade que outrora lhe ajudou, depois apontando dedos, e exercendo com injustiça, o julgamento que não lhe cabe executar.
AS TENDÊNCIAS DA VERDADE
O homem tem o poder surpreendente de adiar o aparecimento da verdade, e faz deste artifício uma Lei. Deus permite que o homem se utilize deste poder para que a verdade apareça com a força de um furacão, um Vulcão, ou um Maremoto. E ela não aparece para libertar, mas, para desmascarar. Logo, o que liberta é a exposição da nudez profana da mentira que é cativa das trevas. A verdade tem uma tendência enorme de ser atraída pela luz e emergir da escuridão, uma espécie de Íman, que segue uma lei estabelecida, onde de maneira involuntária, insiste em se mostrar. A luz puxa a verdade a todo instante com um magnetismo inexplicável ao entendimento humano.
Assim como a gravidade, a fé, e a ética, tem suas leis, a verdade também tem a sua, regida pela Luz, que a energiza e fortalece, alimentando a verdade de uma vontade de rebento sobre humano, buscando - a como uma agulha em um palheiro, e sempre, cedo ou tarde, a encontrando e alimentando. A verdade não obedece as trevas, que é a ausência de luz, e insiste em aprisiona –lá. Nunca estudou teatro, nunca se maquiou, nem tem prazo de validade, não naufraga, ao contrário, emerge o tempo todo, não vê o tempo como senhor, e sim como seu aliado, tudo isso pelo simples fato de ser verdade, então aparece reluzindo numa claridade visível até aos olhos de cegueira mais incauta.
É a impermanência das coisas que me dá a certeza de que eu não preciso entrar na fila da normalidade.
No mágico universo das palavras, os verbos "Reconstruir" e "Remoer" são antagônicos, inimigos, razão de heresia verbal. Ninguém reconstrói nada remoendo alguma coisa.
Ninguém é um templo de retidão, somos sempre um pouco daquilo que condenamos. Temos nosso lado ora hipócrita, ora arrogante, mentiroso, pervertido, uns mais outros menos, mas aquilo que a gente condena coletivamente, individualmente está enraizado em nós. Somos uma mentira adornada, sempre. Nos bastidores ninguém é belo de alma.
Se você fica na frente da máquina de lavar olhando ela centrifugar, procure um médico, você chegou ao limite da ansiedade.
É tanta senha, tanta meta estabelecida, tanta agressão mental, é tanta desconexão conectando tudo, que a vontade que dá, é de buscar o enclausuramento interior para tentar desacontecer e ressurgir em outra esfera, algo que seja mais inocente, e ao mesmo tempo blindado contra o ego, a zona rural de um outro universo, talvez...
Todo altruísmo é vão, por mais que se tenha afeto, pois o sentimento do outro, é universo virgem. Empatia é fantasia tentando ser realidade, é um sentimento vaidoso que quer chamar toda atenção para si mesmo, é uma forma insana de subjugar o latente egoísmo de cada um.
As incertezas de um futuro tão mutável e veloz aumentam a minha gastrite. Rota de colisão com depressão e outras patologias que me nego a aceitar. Tento passar com uma certa classe pela síndrome do mundo contemporâneo me enganando. Sou passado parnasiano, saudoso, com luz de lampião na alma, e fogão de lenha aquecendo o coração antiquado que determina minhas convicções. Ao meu redor só vejo avatares, conexões, sentimentos digitais determinando o padrão do novo eu de cada um. Não caibo nessa formatação. Nunca fui santo, mas não tenho senha nesse login de maldades.
Fé digitalizada, Cristo pregado em cruzes 5G, preces on line, e meu envelhecimento acompanhando tudo isso. Quero partir dessa existência antes que o valor da minha alma seja calculada em Bitcoins.
Vendo os postes correrem em direção contrária rumo ao fim da vida, penso na desimportância que tudo deveria ter sem despedidas. Converso com o meu ego lembrando porres do passado, num bar com Nietzsche e Schopenhauer, sonhando de olhos abertos as filosofias que nunca disseminei, guardo rancores na gaveta das vaidades, onde escondo lá no fundo minhas escassas verdades. Os momentos que vivi, os amores que amei, vão pro saco de lixo, junto com latas de cervejas amassadas, junto com tudo o que plantei de bom, que foi quase nada.